Reginaldo
Prandi
> Nas pegadas do Voduns : um terreiro
de tambor-de-mina em São Paulo
Introdução
As mais diversas modalidades
das religiões afro-brasileiras, senão todas elas, podem
ser encontradas na São Paulo de hoje. Provenientes das mais
diferentes regiões do Brasil, onde se originaram a partir da
herança cultural do escravo, essas variantes religiosas convivem
e disputam entre si, e com as demais religiões da metrópole
paulista, adeptos, clientes e reconhecimento social, mas a diversidade
religiosa afro-brasileira em São Paulo é recente, não
tendo mais que trinta anos.
A Umbanda, de seu nascimento no primeiro quartel deste século
até os anos 60, foi a grande e praticamente única religião
afro-brasileira em São Paulo. Seu surgimento e expansão
estão historicamente associados à industrialização
do Sudeste e à formação das grandes cidades brasileiras
no século XX, enquanto o Candomblé, a partir do qual
a Umbanda constituiu-se em contato com o Kardecismo, mantinha-se restrito
aos seus territórios originais, sobretudo a Bahia e outros
Estados em que é conhecido por denominações locais:
o xangô em Pernambuco e o batuque no Rio Grande do Sul, além
da macumba no Rio de Janeiro, estreitamente ligada ao Candomblé
da Bahia.
Candomblé, xangô e batuque são variantes rituais
da religião dos orixás no Brasil. A religião
dos orixás, divindades da cultura iorubá ou nagô,
consolidou-se em território brasileiro entre os meados do século
XIX e o início do século XX como expressão cultural
de escravos, negros livres e seus descendentes. A Umbanda também
cultua os orixás, mas seu panteão foi muito ampliado
com entidades que são espíritos desencarnados, os chamados
caboclos, pretos velhos, boiadeiros, baianos, marinheiros e outros.
Na década de 1960, quando a Umbanda já se consolidara
em São Paulo, o Candomblé trazido por migrantes nordestinos
foi sendo introduzido na cidade e se instalando rapidamente nesse
novo território. Muitas casas de Candomblé importantes
de Salvador abriram filiais em São Paulo; líderes religiosos
de origem baiana anteriormente estabelecidos no Rio de Janeiro mudaram-se
ou passaram a permanecer em São Paulo parte do tempo. Não
tardou muito para que a Umbanda perdesse sua hegemonia como a religião
afro-brasileira da metrópole industrial. Assim como a Umbanda,
que já se formou como religião universal, o Candomblé
no Sudeste deixou de ter o caráter de religião exclusiva
de uma população de afro-descendentes, religião
étnica, para vir a ser uma religião aberta a todos,
não importando a origem racial (Prandi, 1991; 1996, cap. 2).
Além dos orixás, outras divindades foram trazidas da
África pelos escravos: os inquices dos povos bantos, praticamente
esquecidos e substituídos pelos orixás nagôs nos
Candomblés bantos, e os voduns originários de povos
ewê-fons, de região do antigo Daomé, hoje república
do Benim, designados jejes no Brasil. O culto aos voduns sobreviveu
na Bahia e no Maranhão. Em Salvador e cidades do Recôncavo,
a religião dos voduns é denominada Candomblé
jeje-mahim. No Maranhão recebeu o nome de tambor-de-mina. Na
Bahia é pequeno o número de grupos de culto jeje em
comparação com o número de casas de orixá.
No Maranhão os voduns estão presentes em praticamente
todas as casas de culto afro-brasileiro e os orixás ali cultuados
nas casas de vodum são igualmente chamados de voduns, às
vezes com a referência de que se trata de um vodum nagô
e não jeje.
Os orixás tornaram-se bastante populares em São Paulo,
como de resto em quase todo o Brasil, e sua popularidade pode ser
medida por sua presença expressiva na cultura popular brasileira
(incluindo literatura, teatro, cinema, telenovela, música popular,
carnaval, culinária), mas os voduns são praticamente
desconhecidos nessa cidade, onde mesmo os adeptos de religiões
afro-brasileiras pouco sabem desses deuses tão cultuados em
São Luís.
Em 1977, um jovem líder da religião dos voduns, Francelino
Vasconcelos Ferreira, ou Francelino de Xapanã, como prefere
ser chamado, trouxe para São Paulo o culto dos voduns tal como
se constituiu em São Luís do Maranhão. Vinte
e oito anos depois, a religião dos voduns conta com a casa
já bem consolidada de Pai Francelino, a Casa das Minas de Tóia
Jarina (que Francelino prefere escrever Thoya Jarina) e com vários
terreiros dela derivados. A religião dos voduns assim vai se
espalhando por São Paulo e, de São Paulo, para paragens
mais além.
Voduns do Maranhão
Em
São Luís e outras cidades do Maranhão, a religião
dos voduns recebeu o nome de tambor-de-mina, alusão à
presença constante dos tambores nos rituais e aos escravos
minas, como eram ali designados os negros sudaneses. Vários
pesquisadores têm se dedicado ao estudo do tambor-de-mina, especialmente
Sérgio Figueiredo Ferretti (1996), Mundicarmo Ferretti (1985)
e outros autores contemporâneos, além dos precursores
Octavio da Costa Eduardo (1948), Manuel Nunes Pereira (1979) e Roger
Bastide (1971, v. 2, cap. 1). Trata-se de religião iniciática
e sacrificial, em que os sacerdotes são ritualmente preparados
para "incorporar" as divindades em transe. As entidades
manifestadas, que podem ser voduns ou encantados (espíritos),
vêm à terra para dançar em cerimônias públicas
denominadas tambor. As entidades são assentadas (fixadas em
artefatos sacros) e recebem sacrifício, com oferta de animais,
comidas, bebidas e outros presentes. Segundo tradição
africana que se manteve no Brasil, cada humano pertence a um vodum,
sendo para ele ritualmente consagrado em cerimônias iniciáticas,
como ocorre no candomblé dos orixás. O tambor-de-mina,
assim como outras modalidades religiosas afro-brasileiras, apresenta
forte sincretismo com o catolicismo e suas festas têm um calendário
colado ao da Igreja Católica (Ferretti, 1995). No Maranhão,
festas e folguedos populares de caráter profano, como o bumba-meu-boi
e o tambor-de-crioula, estão muito associados ao tambor-de-mina.
Dois dos antigos terreiros de São Luís, fundados por
africanas em meados do século passado, sobreviveram até
os dias de hoje e constituem a matriz cultural do tambor-de-mina a
Casa Grande das Minas (Kuerebentan Zomadonu) e a Casa de Nagô
(Nagon Abioton).
A Casa das Minas, de cultura jeje, é um terreiro de culto exclusivo
dos voduns, os deuses jejes, os quais, entretanto, hospedam alguns
voduns nagôs, ou orixás, não havendo culto a encantados
ou caboclos. Seu panteão é bastante numeroso e bem organizado,
sendo os voduns reunidos em famílias. Tendo alcançado
enorme prestígio, a Casa das Minas encontra-se hoje em processo
de extinção, pois há muitos anos não se
faz iniciação de novas dançantes, ou vodunsi,
nomes dados às devotas que incorporam os voduns em transe.
As dançantes remanescentes estão reduzidas hoje a menos
de meia dúzia de mulheres já idosas e mesmo elas não
contam com iniciação completa. Em carta para mim, disse
Sérgio Ferretti: "Há mais de 80 anos (1913 ou 1914)
não se faz iniciação de vodúnsi-gonjaí.
Entre as vodúnsi atuais, embora em número reduzido,
há pessoas que começaram a dançar na Casa desde
inícios da década de 1930 até 1950. Todas elas
têm um nome africano privado que lhes foi dado por uma tobóssi.
Foram portanto iniciadas como vodúnsi-he." Nenhum outro
terreiro se originou diretamente dessa casa, mas sua influência
no tambor-de-mina é enorme, havendo estudos detalhados sobre
seus deuses e ritos, merecendo suas sacerdotisas grande respeito na
sociedade local (Ferretti, 1989, 1995, 1996).
A Casa de Nagô, de origem iorubá, cultua voduns, orixás
e encantados ou caboclos, que são espíritos de reis,
nobres, índios, turcos etc. Desta casa originaram-se muitos
terreiros, proliferando-se por toda São Luís e outras
localidades da região um modelo de tambor-de-mina bastante
baseado nessa concepção religiosa de culto a voduns
e encantados, encantados que em muitos terreiros têm o mesmo
status de divindade dos voduns, com eles se misturando nos ritos em
pé de igualdade.
Entre outras casas de mina de São Luís, igualmente antigas,
destacam-se o Terreiro do Egito (Ilê Axé Niamê)
e o Terreiro de Manuel Teu Santo, os quais deram origem a cerca de
vinte terreiros, multiplicados em muitos outros (Santos e Santos Neto,
1989). Do Terreiro do Egito originou-se o Terreiro de Iemanjá,
que tem papel destacado na história do tambor-de-mina em São
Paulo, pois seu fundador, Pai Jorge Itacy, é o pai-de-santo
de Francelino de Xapanã, pelas mãos de quem os voduns
do Maranhão vieram para São Paulo.
O panteão da Casa das Minas
Embora a Casa das Minas não tenha originado outras casas de
culto, sua estrutura e panteão tem sido um modelo para outras
casas.
Os voduns, deuses do povo fon ou jeje são forças da
natureza e antepassados humanos divinizados. Os voduns cultuados na
Casa das Minas estão agrupados nas famílias de Davice,
Dambirá, Savaluno e Queviossô (Ferretti, 1989, 1996).
Alguns voduns jovens chamados toqüéns ou toqüenos
cumprem a função de guias, mensageiros, ajudantes dos
outros voduns. São eles que "vêm" na frente
e chamam os outros. Têm cerca de quinze anos de idade, podendo
ser masculinos ou femininos, pertencendo a maioria à família
de Davice. Nos clãs de Quevioçô e Dambirá
são os voduns mais jovens que desempenham esse papel.
Além dos voduns, fazem parte do panteão da Casa das
Minas as tobóssis, divindades infantis femininas, consideradas
filhas dos voduns, recebidas pelas dançantes com iniciação
plena, as chamadas vodúnsi-gonjaí. As princesas meninas
não vêm mais na Casa das Minas. Com a morte das últimas
vodúnsi-gonjaí, parte do processo de iniciação
se perdeu, de modo que as dançantes remanescentes não
tiveram iniciação no grau de gonjaí, de senioridade.
E as tobóssis não vieram mais na Casa das Minas. Diferentemente
dos voduns, que podem manifestar-se em diferentes adeptos, a tobóssi,
na Casa das Minas, é considerada entidade única, exclusiva
de sua vodúnsi-gonjaí, e que desaparece com a morte
da dançante que a recebia, não se incorporando depois
em mais ninguém.
Os voduns e suas famílias
Conforme estudos exaustivos
de Sérgio Ferretti já citados, assim se configura o
panteão dos voduns na Casa das Minas, família por família:
A Família de Davice reúne os voduns
da família real do Abomey, no antigo Daomé, atual Benim,
e é composta dos seguintes voduns:
Nochê Naê, Mãe
Naê - a vodum mais velha e ancestral mítica do clã.
Zomadônu - o dono da Casa das Minas e chefe de uma das linhagens
da família de Davice. Rei e pai dos toqüéns Toçá
e Tocé (gêmeos), Jagoboroçu (Boçu) e Apoji.
Zomadônu é filho de Acoicinacaba.
Acoicinacaba (Coicinacaba) - pai de Zomadônu e filho de Dadarrô.
Dadarrô - chefe da primeira linhagem da família; vodum
mais velho da família de Davice. Casado com Naedona e pai de
Acoicinacaba, portanto, avô de Zomadônu. É pai
de Sepazim, Doçu, Bedigá, Nanim e Apojevó. Representa
o governo e é protetor dos homens de dinheiro.
Naedona (Naiadona ou Naegongom) - esposa de Dadarrô e mãe
de Sepazim, Doçu, Bedigá, Nanim e Apojevó.
Arronoviçavá - irmão de Naedona, é cambinda
(mas considerado jeje por outras casas).
Sepazim - princesa casada com Daco-Donu, com quem teve um filho chamado
Tói Daco, que é toqüém.
Daco-Donu - marido de Sepazim, pai de Daco.
Daco - filho de Sepazim e Daco-Donu. Toqüém.
Doçu (Doçu-Agajá, Maçon, Huntó
ou Bogueçá) - jovem cavaleiro, boêmio, poeta,
compositor e tocador. Pai dos três toqüéns Doçupé,
Nochê Decé e Nochê Acuevi.
Doçupé - filho de Doçu. Toqüém.
Nochê Decé - filha de Doçu. Toqüém.
Nochê Acuevi - filha de Doçu. Toqüém.
Bedigá - também cavaleiro como o irmão Doçu.
Aceitou a coroa do pai Dadarrô que Doçu tinha recusado.
Protetor dos governantes, advogados e juízes.
Apojevó - filho mais novo de Dadarrô. Toqüém.
Nochê Nanim (Ananim) - filha adotiva de Dadarrô, criou
Daco (neto de Dadarrô) e Apojevó (seu irmão mais
novo).
Família de Savaluno.
É uma família de voduns amigos da família de
Davice. Não são jeje e são hóspedes na
Casa das Minas.
Topa - um vodum solitário, o qual tem mais dois irmãos,
Agongono e Zacá.
Zacá (Azacá) - vodum caçador.
Agongono - vodum que se relaciona com os astros; amigo de Zomadônu
e pai de Jotim.
Jotim - filho de Agongono. Toqüém.
Família de Dambirá.
Reúne os voduns da terra, ligados às doenças
e às curas.
Acóssi Sapatá (Acóssi, Acossapatá ou Odan)
- curador e cientista, conhece o remédio para todas as doenças.
Ficou doente também por tratar os enfermos. Pai de Lepom, Poliboji,
Borutoi, Bogono, Alogué, Boça, Boçucó
e dos gêmeos Roeju e Aboju.
Azile - irmão de Acóssi. Também é doente.
Azonce (Azonço, Agonço ou Dambirá-Agonço)
- irmão de Acóssi e Azile, o único que não
é doente. É velho e é nagô. Pai de Euá.
Euá - filha de Azonce, também é nagô.
Lepom - filho mais velho de Acóssi. Vodum velho.
Poliboji - também vodum velho.
Borutoi (Borotoe ou Abatotoe) - vodum velho. Usa bengala.
Bogono (Bogon ou Bagolo) - diz-se que se transforma em sapo.
Alogué - diz-se que é aleijado.
Boça (Boçalabê) - mocinha alegre, está
sempre com o irmão Boçucó. Toqüém.
Boçucó - outro dos irmãos mais novos. Toqüém.
Roeju e Aboju - irmãos gêmeos. Ambos toqüéns.
Família de Quevioçô.
É família de voduns considerados nagôs, embora
não sejam orixás (entre eles, apenas Nanã é
cultuada nos candomblés de orixá, tendo sido incorporada
ao panteão iorubá desde a África, assim como
seus filhos Omulu e Oxumarê). Quase todos são mudos para
evitar que revelem os segredos dos nagôs ao pessoal da Casa
das Minas, onde são hóspedes de Zomadônu.
Nanã (Nanã Biocã, Nanã Burucu, Nanã
Borocô ou Nanã Borotoi) - diz-se que é de Davice
mas auxilia Quevioçô. É a nagô mais velha,
a que trouxe os outros.
Naité (Anaité ou Deguesina) - mulher velha que representa
a lua.
Vó Missã é a velha que resolve tudo entre os
nagôs.
Nochê Sobô (Sobô Babadi) - considerada mãe
de todos os voduns de Quevioçô (Badé, Lissá,
Loco, Ajanutoi, Averequete e Abé). Representa o raio e o trovão.
Badé (Nenem Quevioçô) - representa o corisco.
Equivale a Xangô entre os nagôs. É mudo e se comunica
por sinais.
Lissá - vodum dos astros. Representa o sol. É vadio
e anda muito. Também é mudo.
Loco - representa o vento e a tempestade. Também é mudo.
Ajanutoi - é surdo-mudo e não gosta de crianças.
Abé - vodum dos astros, como Loco. Representa o cometa, uma
estrela caída nas águas do mar. Vodum jovem e mulher.
Uma dos poucos do clã que falam. É toqüém.
Corresponde ao orixá Iemanjá dos nagôs.
Averequete (Verequete) - Também fala e é toqüém.
Há dois voduns amigos da família
de Quevioçô que tomam conta dos filhos de Dambirá.
São eles:
Ajautó de Aladá (Aladanu) - amigo da casa. Pai de Avrejó.
É velho e usa bengala. Ajuda Acóssi, que é doente.
Mora com o povo de Quevioçô. É rei nagô,
protetor dos advogados.
Avrejó - Filho de Ajautó. Toqüém.
Não se pode esquecer de Avievodum,
Deus Supremo, a quem os voduns estão subordinados. Como Olodumare
ou Olorum, Deus Supremo dos iorubás, Avievodum está
distante e inalcançável, sendo pouco lembrado pelos
devotos e não merecendo culto específico.
Legba ou Legbara, figura comum nas religiões afro-brasileiras,
conhecido em outras "nações" pelo nome de
Exu, é a divindade que assume a função de trickster
ou trapaceiro. Não tem culto organizado na Casa das Minas,
onde é identificado com Satanás, o Mal. Não é
aceito como mensageiro, mesmo porque quem realiza essa função
são os toqüéns. Apesar de não ter culto
organizado, verificam-se uns poucos gestos rituais ligados a Legba,
como por exemplo, certos cânticos pedindo para que Legba se
afaste, que são cantados ao início de todo tambor. Ocupa,
entretanto, lugar importante em outros terreiros influentes de São
Luís.
Há outros voduns do tambor-de-mina que não aparecem
nesta classificação por não serem referidos na
Casa das Minas, mas que são cultuados em outros terreiros,
como Boço Jara, Xadantã e Vondereji presentes na Casa
de Nagô.
Encantaria
O culto dos encantados é parte
muito importante do tambor-de-mina, estando ausente apenas na Casa
das Minas. Como os voduns, os caboclos ou encantados estão
reunidos em famílias, algumas delas características
de certas casas, como o centenário Terreiro da Turquia, onde
caboclos turcos ou mouros são as entidades mais importantes
do culto. O nome caboclo, usado genericamente para se referir a um
encantado, não significa tratar-se de entidade indígena
(Ferretti Mundicarmo, 1993, 1994).
Enquanto as danças para os voduns são realizadas ao
som de cânticos (doutrinas) em língua ritual de origem
africana, hoje intraduzível, os encantados dançam ao
som de música cantada em português.
Entre as muitas famílias de encantados destacam-se as seguintes,
com os seus encantados principais, embora possa haver variação
de um terreiro a outro. Observe-se que a classificação
dos encantados aqui apresentada está de acordo com pesquisa
de campo na Casa das Minas de Tóia Jarina, complementada com
algumas informações dadas por Mundicarmo Ferretti em
Desceu na guma. Há casos em que a classificação
da Casa de Tóia Jarina pode não coincidir com a de fontes
maranhenses de Mundicarmo Ferretti.
Família do Lençol. O nome é
uma referência à Praia do Lençol, onde se acredita
teria vindo parar o navio do Rei Dom Sebastião, desaparecido
na Batalha de Alcacerquibir. É uma família de reis e
fidalgos, denominados encantados gentis. Dona Jarina é a princesa
encantada do Lençol que dá nome ao terreiro de mina
de São Paulo, a Casa das Minas de Tóia Jarina. Seus
principais componentes são:
a) os reis e rainhas: Dom Sebastião, Dom Luís, Dom Manoel,
Dom José Floriano, Dom João Rei das Minas, Dom João
Soeira, Dom Henrique, Dom Carlos, Rainha Bárbara Soeira.
b) os príncipes e princesas: Príncipe Orias, João
Príncipe de Oliveira, José Príncipe de Oliveira,
Príncipe Alterado, Príncipe Gelim, Tói Zezinho
de Maramadã, Boço Lauro das Mercês, Tóia
Jarina, Princesa Flora, Princesa Luzia, Princesa Rosinha, Menina do
Caidô, Moça Fina de Otá, Princesa Oruana, Princesa
Clara, Dona Maria Antônia, Princesa Linda do Mar, Princesa Barra
do Dia;
c) os nobres: Duque Marquês de Pombal, Ricardinho Rei do Mar,
Barão de Guaré, Barão de Anapoli. As cores da
família são azul e branco para os encantados femininos
e vermelho para os encantados masculinos.
Família da Turquia.
Chefiada pelo Pai Turquia, rei mouro que teria lutado contra os cristãos.
Vindos de terras distantes, chegaram através do mar e têm
origem nobre. Seus principais componentes são: Mãe Douro,
Mariana, Guerreiro de Alexandria, Menino de Léria, Sereno,
Japetequara, Tabajara, Itacolomi, Tapindaré, Jaguarema, Herundina,
Balanço, Ubirajara, Maresia, Mariano, Guapindaia, Mensageiro
de Roma, João da Cruz, João de Leme, Menino do Morro,
Juracema, Candeias, Sentinela, Caboclo da Ilha, Flecheiro, Ubiratã,
Caboclinho, Aquilital, Cigano, Rosário, Princesa Floripes,
Jururema, Caboclo do Tumé, Camarão, Guapindaí-Açu,
Júpiter, Morro de Areia, Ribamar, Rochedo, Rosarinho. São
encantados guerreiros e sua cantigas falam de guerra e batalhas no
mar. Dizem que nasceram das ondas do mar. Uma doutrina de Mariana,
a cabocla turca que comanda a Casa das Minas de Tóia Jarina,
em São Paulo, diz: Sou a cabocla Mariana / Moro nas ondas do
mar/ He! faixa encarnada/ Faixa encarnada eu ganhei pra guerrear.
Alguns dos encantados turcos têm nomes que lembram postos de
guerra ou de marinheiro, outros, nomes indígenas. Algumas dessas
entidades, como na Família do Lençol, estão ligadas
às narrativas míticas das Cruzadas e das gestas de Carlos
Magno, muito presentes na cultura popular maranhense. São suas
cores: verde, amarelo e vermelho.
Família da Bandeira. Família de guerreiros,
caçadorese e pescadores chefiada por João da Mata Rei
da Bandeira, tendo como componentes Caboclo Ita, Tombacé, Serraria,
Princesa Iracema, Princesa Linda, Petioé, Senhora Dantã,
Dandarino, Caboclo do Munir, Espadinha, Araúna, Pirinã,
Esperancinha, Caboclo Maroto, Caçará, Indaê, Araçaji,
Olho d'Água, Espadinha, Jandaína, Abitaquara, Jondiá,
Longuinho, Vigonomé, Rica Prenda, Princesa Luzia, Princesa
Linda, Tucuruçá, Beija-Flor, Jatiçara, Pindorama.
São encantados nobres e mestiços. Suas cores: verde,
branco, amarelo e vermelho.
Família da Gama. São encantados nobres
e orgulhosos. Seu símbolo é uma balança. São
os encantados: Dom Miguel da Gama, Rainha Anadiê, Baliza da
Gama, Boço Sanatiel, Boço da Escama Dourada, Boço
do Capim Limão, Gabriel da Gama, Rafael da Gama, Jadiel, Isadiel,
Isaquiel, Dona Idina, Dona Olga da Gama, Dona Tatiana, Dona Anástácia.
Cores: vermelho e branco.
Família de Codó ou da Mata de Codó.
Município do interior do Maranhão, Codó é
um importante centro de encantaria do tambor-de-mina. Seus caboclos,
em geral negros, têm como líder Légua-Boji. Segundo
Mundicarmo Ferretti, "são entidades caboclas menos civilizadas
e menos nobres, que vivem, geralmente, em lugares afastados das grandes
cidades e pouco conhecidos e que costumam vir beirando o mar ou igarapés"`(Ferretti
Mundicarmo, 1993: 112). São eles: Zé Raimundo Boji Buá
Sucena Trindade, Joana Gunça, Maria de Légua, Oscar
de Légua, Teresa de Légua, Francisquinho da Cruz Vermelha,
Zé de Légua, Dorinha Boji Buá, Antônio
de Légua, Aderaldo Boji Buá, Expedito de Légua,
Lourenço de Légua, Aleixo Boji Buá, Zeferina
de Légua, Pequenininho, Manezinho Buá, Zulmira de Légua,
Mearim, Folha Seca, Maria Rosa, Caboclinho, João de Légua,
Joaquinzinho de Légua, Pedrinho de Légua, Dona Maria
José, Coli Maneiro, Martinho, Miguelzinho Buá, Ademar.
Cores: mariscado de Nanã, marrom, verde e vermelho.
Família da Baia. São os caboclos baianos
também popularizados através da umbanda, mas o tambor-de-mina
não os reconhece como originários do Estado da Bahia,
mas de uma baia no sentido de acidente geográfico ou de um
lugar desconhecido existente no mundo invisível. São
eles: Xica Baiana, Baiano Grande Constantino Chapéu de Couro,
Mané Baiano, Rita de Cássia, Corisco, Maria do Balaio,
Zeferino, Silvino, Baianinho, Zefa e Zé Moreno. Brincalhões
e muito falantes, os baianos mostram-se sensuais e sedutores, às
vezes inconvenintes. Cores: verde, amarelo, vermelho e marrom.
Família de Surrupira. Família de caboclos
selvagens, como índios. Feiticeiros e "quebradores de
demanda": Vó Surrupira, Índio Velho, Surrupirinha
do Gangá, Marzagão, Trucoeira, Mata Zombana, Tucumã,
Tananga, Caboclo Nagoriganga, Zimbaruê.
Outras famílias de encantados: Família do Juncal, de
origem austríaca; Família dos Botos; Família
dos Marinheiros, cujo emblema é uma âncora e um tubarão;
Família das Caravelas, que são peixes do oceano e não
devem ser confundidos com a embarcação; Família
da Mata, à qual pertencem muitos caboclos cultuados também
na umbanda, como Caboclo Pena Branca, Cabocla Jacira, Cabocla Jussara,
Sultão das Matas, Caboclinho da Mata, Caboclo Zuri e Cabocla
Guaraciara.
A Casa das Minas de Tóia Jarina
Em 1964, Francelino, um jovem paraense
de 15 anos, nascido na Ilha de Marajó, foi iniciado para vodum
no tambor-de-mina na cidade de Belém, capital do Pará,
por Mãe Joana de Xapanã (To Azonposiboji), originária
do tambor-de-mina de São Luís e falecida em 2 de julho
de 1971. Pai Francelino (To Akósakpatá Azondeji) tem
como seu vodum de cabeça o mesmo de sua mãe, Xapanã,
divindade ligada às doenças e sua cura. Seu segundo
vodum é Sobô, divindade do raio. A encantada Dona Jarina
é o guia que mais tarde será a dona de sua casa em São
Paulo, casa governada pela cabocla turca Dona Mariana, que presidirá
a maior parte dos ritos no terreiro paulista. Mãe Joana celebrou
as obrigações de Francelino até a do sétimo
ano.
Com a morte de Dona Joana, Francelino foi adotado por Pai Jorge Itacy
de Oliveira (Ka Dam Manjá), do Terreiro de Iemanjá,
de São Luís do Maranhão. Pai Jorge foi iniciado
em 1956 no Terreiro do Egito e sua casa tem grande prestígio.
Com Pai Jorge, em 1978 e 1985, Francelino deu as obrigações
de 14 e 21 anos.
Em 1974, Francelino saiu de Belém e mudou-se para o Rio de
Janeiro, transferido a pedido pela SUDAM para o escritório
do Rio. Entre 1978 e 1980 residiu em Curitiba, Paraná, onde
iniciou uma casa-de-santo, mas foi em São Paulo que acabou
se fixando. Em São Paulo, em 1977, estabeleceu-se como Tói
Vodunnon, isto é, pai-de-vodum ou pai-de-santo em língua
ritual jeje, mas continuou a residir em Curitiba até 1980,
quando se mudou definitivamente. Seu terreiro recebeu o nome de Casa
das Minas de Tóia Jarina (Kuêbe Axé To Vodum Odam
Azonce), em homenagem ao seu primeiro guia espiritual, Tóia
Jarina, ou Mãe Jarina, a jovem princesa encantada da Família
do Lençol, que Francelino recebeu quando tinha 12 anos de idade.
Assim os deuses africanos do Daomé aclimatados em São
Luís do Maranhão, partindo de Belém do Pará,
vieram a se estabelecer em São Paulo.
O terreiro de Dona Jarina, que se define como casa de culto mina-jeje,
mina-nagô e encantaria, esteve em vários endereços
(bairros de Casa Palma, Vila Campestre, Jardim Luso) até instalar-se
no Jardim Rubilene em 1983, onde permaneceu por dez anos. Em 1993
mudou-se para a Rua Itália, 462, no bairro Jardim das Nações,
município de Diadema, com instalações especialmente
construídas para o terreiro, onde se encontra até o
presente.
A exemplo dos candomblés, as instalações físicas
do terreiro lembram um compound africano, com um barracão central
para as danças, seis pequenas casas reservadas para as diferentes
famílias de divindades (onde os assentamentos das divindades
são mantidos fora do alcance da curiosidade dos não-iniciados),
uma pequena capela com altar católico e uma construção
com cozinha, sala de estar e quartos para dormir e vestir, além
das dependências em que os iniciados ficam recolhidos durante
suas obrigações, a clausura. Há também
o quarto de Legba, o quarto reservado ao culto dos antepassados da
casa e um pequeno jardim em que se cultivam plantas sagradas.
Em São Paulo Francelino iniciou seus filhos, ensinou aos tocadores
de tambor os ritmos da mina, construiu uma grande rede de clientes,
estabelecendo contato com lideranças da umbanda e de várias
nações de candomblé. É Coordenador em
quarto mandato da Coordenação Paulista do INTECAB (Instituto
Nacional da Tradição e Cultura Afro-Brasileira), instituição
que reúne as nações de candomblé e umbanda,
milita em federações de umbanda e está presente
em rádios e publicações religiosas. Com o tempo
tornou-se personalidade conhecida e respeitada entre o povo-de-santo
paulista.
Os voduns e suas festas
Os voduns hoje assentados na casa,
isto é, os voduns cultuados como principais ou adjuntós
dos membros iniciados são: Xapanã, Naveorualim, Navezuarina,
Abê, Naê, Acóssi, Lepom, Polibogi, Azile, Azacá,
Doçu, Doçupé, Sobô, Badé, Averequete,
Dadá-hô, Zomadonu, Vondereji, Xadantã, Agüê,
Lissá, Euá, Boçalabê, Boço Jara,
Nanã, Alogué, Dangbê, além dos orixás
Ogum, Odé, Xangô, Oxum e Oiá-Iansã. Também
têm assento na casa Idarço, Oruana, Arronovissavá,
Bedigá, Ajê e Iemanjá. O culto a Legbara está
presente, sendo propiciado nas grandes obrigações e
estando assentado para a casa e para muitos dos filhos.
Considerando o pouco tempo que marca a presença dos voduns
em São Paulo, os simples nomes deles já sugerem um enorme
mistério a decifrar. Mesmo sendo tão pouco conhecidos
na cidade, a relação que cada um guarda com os orixás
do candomblé e da umbanda ajuda muito, creio, na sua assimilação
pelos devotos que se aproximam do tambor-de-mina. Na maioria dos casos
estabelece-se alguma correspondência entre voduns e orixás.
Na tradição da mina, que é mantida na maioria
das situações rituais na casa de Pai Francelino, os
voduns não usam roupa específica e, quando incorporam,
apenas amarram uma toalha em torno da cintura, se vodum feminino,
ou em torno do tronco, se vodum masculino, mas não é
incomum ver o vodum, em dia de sua grande festa, dançar paramentado
com roupas e adereços inspirados nos usados por orixás
do candomblé.
A correspondência entre vodum e orixá, já trazida
do Maranhão, mostra-se também na relação
sincrética com os santos católicos. Assim, por exemplo,
há correspondência entre o vodum Sobô e o orixá
Oiá-Iansã, ambas sincretizadas com Santa Bárbara.
O mesmo se dá entre Boço Jara, Logun-Edé e Santo
Expedito; entre Abê, Iemanjá e Nossa Senhora da Conceição,
assim como entre Lissá, Oxalá e Jesus Cristo; Dangbê,
Oxumarê e São Bartolomeu etc. (ver Quadro 1.)
Contando-se os voduns que foram assentados no terreiro de Dona Jarina,
isto é, os voduns principais e adjuntós de cada filho
iniciado na casa, além dos voduns do próprio chefe da
casa, pode-se chegar aos dados mostrados no Quadro 2. Assim, os voduns
assentados com maior freqüência correspondem aos orixás
do candomblé que também têm mais filhos, que são
mais populares, pode-se dizer. Orixás mais raros correspondem
a voduns com menor número de iniciados. De modo geral, o conjunto
do panteão de voduns com filhos feitos adere em número
à distribuição dos orixás que se pode
usualmente encontrar num terreiro de candomblé de qualquer
parte do País. Isso certamente ajuda na assimilação
desse novo panteão de deuses africanos numa cidade que recém-
completou seu conhecimento do panteão dos orixás.
As atividades religiosas seguem um
extenso calendário com obrigações e tambores
a cada mês do ano, em datas correspondentes às festas
católica, confome a seguinte programação:
Calendário da Casa das Minas de Tóia
Jarina
1. Festas fixas
Janeiro |
|
dia 6 (Santos
Reis) |
Doçu, Bedigá
e Zomadônu |
dias 19,
20, 21 |
Azonce,
Lego Babicachu Xapanã |
dia 20 (São
Sebastião) |
Xapanã e
Azacá - Mesa dos Inocentes e Banquete dos Cachorros |
dia 21 (Santa
Inês) |
Oruana -
Encerramento dos 9 dias de Xapanã com Bancada das Tobôssis e Princesas |
|
|
Fevereiro |
|
dia 2 (N.S.
das Candeias) |
Presente
de Abê |
dia 8 |
Caboclo
João da Mara e sua Família da Bandeira |
dia 11 (São
Lázaro) |
Acóssi e
Acóssi Sapatá |
|
|
Março |
|
dia 19(São
José) |
Xadantã,
Loco e Zezinho de Maramadã |
|
|
Abril |
|
dia 21 |
Jotim e
Jotam |
dia 22 |
Dona Jarina
(a dona da casa) |
dia 23 (São
Jorge) |
Ogum |
|
|
Maio |
|
dia 24 (Santa
Rita) |
Nanã Biocô |
|
|
Junho |
|
dias 12,
13, 14 |
Cabocla
Mariana e Família da Turquia |
dia 13 (Santo
Antônio) |
Agongone,
Vondereji e Caboclo Ita |
dia 24 (São
João) |
Bancada
das Tobóssis e tambor dos Nobres (Reis, Rainhas, Nobres) |
dias 28,
29, 30 (São Pedro) |
Badé |
|
|
Julho |
|
dia 16 (N.
S. do Carmo) |
Euá e Naveorualim |
dia 26 (Santana) |
Vó Missã
e Nanã Bulucu |
|
|
Agosto |
|
2º Domingo |
Averequete |
dia 15 (Assunção
de N. Senhora) |
Navezuarina
e Naveorualim |
dia 16 (São
Roque) |
Lepom |
dia 23 |
Caboclo
Rompe Mato e Família da Mata |
dia 24 (São
Bartolomeu) |
Dangbê |
dia 25 (São
Luís de França) |
Dadarrô |
dia 30 (Santa
Rosa) |
Nanã Bassarodim
e Rainha Rosa (Codó) |
dia 31 (São
Raimundo Nonato) |
|
|
|
Setembro |
|
dia 16 |
Polibogi |
dia 27 (S. Cosme e S.
Damião) |
Família da Baia |
dia 29 (São Jerônimo) |
Badé Zorogama |
dia 30 (São Miguel) |
Dom Miguel Rei de Gama
e Família de Gama |
|
|
Outubro |
|
2º domingo (N. S. de
Nazaré) |
Rainha Dina (Codó), Fina
Jóia |
dia 15 (Santa Teresa) |
Boçalabê |
dia 28 |
Boço Jara, Caboclos Tabajara
e Balanço |
|
|
Novembro |
|
dia 1 para 2 (Finados) |
Obrigação de Ancestrais |
dia 15 (N. S. dos Remédios) |
Aguê e Família Caboclo
Roxo e Encantarias |
dia 28 (Santa Catarina) |
Naê e Naedona |
|
|
Dezembro |
|
dia 4 (Santa Bárbara) |
Sobô, Oiá, Dona Servana
e demais Nochês (voduns femininos) |
dia 8 (N. S. Conceição) |
Abê, Naité e Iemanjá |
dia 13 (Santa Luzia) |
Navezuarina e Família
de Marinheiros |
2. Festas móveis
Quarta-feira de Cinzas
Arrambã (Bancada das Tobóssis) e encerramento anual
das celebrações dos voduns
Sexta-feira, 15 dias antes da Sexta-Feira
Santa
Obrigação da Cana Verde. Ritual da plantação.
Cobertura dos assentamentos dos voduns, orixás e encantados
e das imagens católicas. Interrupção de todas
as atividades religiosas da casa.
Sexta-Feira Santa
12:00 horas: Obrigações durante toda a tarde para Lissá
e voduns da Criação (Abieié)
Noite: Renovação: os assentamentos são descobertos;
ossé (limpeza) geral da casa, troca das águas das quartinhas.
Renovação dos axés.
Sábado de Aleluia
Primeiras horas: Abieié, Cerimônia do Renascimento. Sacrifícios
para todos os voduns e encantados assentados na casa. Levanta-se a
“bandeira do vodum”.
12:00 horas: Bolo da Felicidade. Cerimônia da punição
em que cada membro recebe palmadas.
20:00 horas: Tambor de Abertura da Casa. Início do ano litúrgico
(roupa branca).
Domingo de Páscoa
20:00 horas: Segundo dia da Abertura e Tambor de Pagamento (Mocambo),
quando os alabês, vodúnsis poncilês e outros dignitários
não-rodantes recebem presentes dos voduns e encantados (roupa
verde).
Segunda-feira após a Páscoa
Tambor de abertura do terreiro com os encantados (roupa estampada).
Cada comemoração divide-se
em obrigação, ou ritos sacrificiais reservados aos iniciados,
e em festa pública, que se realiza no barracão, com
presença de amigos, clientes e simpatizantes, com a dança
dos voduns e encantados manifestados no transe.
O tambor, como é chamado o rito público, a dança,
desenrola-se por muitas e muitas horas, às vezes numa seqüência
de um, três, ou sete dias. As dançantes apresentam-se
com seus trajes alvíssimos de bordado Richelieu ou de belos
tecidos estampados nas cores dos santos, com seus pesados colares
de contas, os rosários da mina. Com a chegada da entidade,
uma toalha é envolta na cintura ou no tronco e isto é
o indício de que uma nova personalidade tomou conta daquela
cabeça. O encantado dança, canta suas doutrinas (cantigas),
cumprimenta os presentes, conversa com os amigos, bebe da bebida de
sua predileção e volta a dançar sempre, enquanto
os tocadores se revezam nos batás, gã e xequerês.
No final do tambor, todos comem a comida preparada com as carnes dos
sacrifícios. Cansados, os filhos-de-santo voltam para casa
para descansar poucas horas, para enfrentar um novo dia de trabalho.
Mas podem voltar na noite seguinte ao terreiro para a continuação
do tambor, pois são muitos os voduns e em maior número
ainda os encantados, e todos precisam dançar e dançar
para assim conviver com os mortais seus filhos.
Os iniciados
Na Casa de Dona Jarina os filhos
são iniciados para seu vodum principal e para o vodum adjuntó,
isto é, para um segundo vodum. Como no candomblé, os
voduns de um iniciado formam um par correspondente à idéia
de pai e mãe, sendo, assim, um deles masculino e o outro feminino.
A iniciação compreende uma celebração
preliminar à cabeça, denominada aperê, como o
bori do candomblé, com posterior recolhimento em clausura por
alguns dias, raspagem da cabeça e sacrifício de animais
ao vodum, além de outras oferendas. O ciclo é completado
com a festa de saída do novo vodúnsi (iniciado para
o vodum, filho-de-santo), quando o novo dançante e seu vodum
são apresentados à comunidade durante um tambor. Com
sete anos o vodúnsi recebe sua tobóssi, sua princesa
menina, quando sua iniciação se completa e ele ganha
a dignidade da senioridade iniciática, sendo chamado de vodúnsi-gonjaí.
Pode ocorrer desta obrigação ser antes dos sete anos
ou bem depois, por exemplo, de 15 anos de sua feitura. Não
há um prazo fixo, pré-determinado, pois quem escolhe
a nova “rama dos Agonjaí” é sempre o vodum
chefe e não o pai-de-santo.
Antes mesmo da iniciação para o vodum, os filhos podem
começar a receber os voduns e encantados. Em geral, um filho-de-santo
de Pai Francelino com o grau de vodúnsi-gonjaí recebe
dois voduns, a tobóssi e alguns encantados, cujo número
cresce com os anos de iniciação.
Até o presente foram iniciados 98 filhos de voduns, dos quais
28 ocupam cargos relacionados à organização do
culto, como os tocadores de tambor e as equédis, os quais não
recebem as entidades através do transe. Os demais 70 são
dançantes, isto é, devotos que entram em transe de vodum
e encantado. Destes, 18 já atingiram o grau de senioridade,
estando aptos, portanto, a receber as meninas princesas, as tobóssis
jejes. O nome dos iniciados, seus voduns e encantados estão
dados nos Quadros 3, 4 e 5. Além dos filhos iniciados (feitos)
por Pai Francelino, fazem parte da casa, evidentemente, os que estão
pleiteando sua iniciação, tendo já, em geral,
passado pela cerimônia do aperê de sacrifício à
cabeça, e também aqueles iniciados em nações
de candomblé e que na Casa de Tóia Jarina receberam
obrigações de 7, 14 e 21 anos, por exemplo. Os aspirantes
e os que apenas têm obrigação de adoção
não foram incluídos nos quadros.
Entre os seguidores dos voduns em São Paulo, parte veio da
umbanda e houve casos de chefes de terreiros que foram iniciados na
mina e que passaram pouco a pouco a tocar a religião dos voduns,
de modo que, hoje, os voduns estão presentes em várias
casas paulistas e de outros Estados ligadas à Casa das Minas
de Tóia Jarina por iniciação de seu pai ou mãe-de-santo.
A maioria, porém, veio do catolicismo. Na composição
demográfica do terreiro é grande a presença de
migrantes nordestinos ou seus filhos, com a participação
de negros, mulatos e brancos, de extração social bastante
modesta. Como nas outras modalidades afro-brasileiras da metrópole,
não há o corte da cor, a religião negra não
se prende mais à origem racial dos adeptos. Alguns dos iniciados
vivem em outros Estados, onde são chefes de terreiros, vindo
a São Paulo por ocasião de suas obrigações
e das festas mais importantes. É grande o trânsito de
pessoas de uma cidade para outra, através de grandes distâncias.
O próprio pai-de-santo viaja constantemente a São Luís
para as festas na casa de seu pai e também para outras partes
do Brasil para dar obrigações a filhos e atender clientes.
O grupo de culto organizado em torno de Pai Francelino é mais
que uma família-de-santo. O parentesco entre muitos membros
da casa é também o de família de sangue e as
relações familiares, que envolvem também compadrio
e namoro, agregam a comunidade do terreiro numa ampla teia de deveres
e reciprocidades não religiosos, que estreitam e multiplicam
os laços de solidariedade impressos no parentesco religioso
e na hierarquia do culto. Vejamos:
Enedina é casada com Pedro. São os pais de Sandra, a
mãe-pequena, que aos quatro anos recebeu a encantada Princesa
Flora, e de Édson, consagrado para tocar tambor, assim como
Carlos, marido de Sandra, e pais da equede Sônia, cuja filha
Graziela já foi escolhida para ser equede como a mãe.
Sandra e Carlos têm quatro filhos: Karla Alessandra, de doze
anos, Victor Eduardo, de onze anos, que passa a maior parte do tempo
com o "avô" Francelino e já é iniciado
como axogum de Sobô, olubatá e alabê de Tóia
Jarina, Andressa de cinco anos e Kaique de poucos meses. Oraci é
irmã de Pedro. Enedina, Pedro, Édson, Sônia e
Graziela mudaram-se para Curitiba, onde abriram casa-de-santo. Vêm
ao terreiro para as festas, onde a família volta a se reunir,
onde brincam os netos.
Márcio, o pai-pequeno, é irmão de Marcos, que
foi casado com Suely, com quem teve os filhos Ilanajara e Danilo,
que será tocador.
Jandira de Nanã, já falecida, foi casada com Dinho,
alabê de Sobô. A filha Cristiane é vodúnci
poncilê de Xapanã casada com o Alabê Edimar de
Vondereji e pais de João Victor, Alex é confirmado huntó
de Boço Jara, Fábio já é feito para Nanã.
Reinaldo é irmão de Jandira, como Nelson, que é
alabê suspenso.
Kátia, poncilê de Xapanã é irmã
de Edson feito para Toy Azonçu.
Nica de Odé já é agonjaí e é casada
com Toninho de Badé, Alabé, irmã de Vitória
de Oyá, também feita e mãe da poncilê Karla
de Agüê.
O Professor Jorge Adalberto confirmado Babá Egbé da
parte nagô da Casa é casado com a agonjaí Damiana
de Sogbô e pais do Alabê Fabyo Adalberto de Poliboji,
da vodunsi-hê Cristiane de Dangbê e da vodunsi Cisleyde
de Naveorualim. Sua irmã Jorgete é feita para Oyá
e os filhos desta são do axé: o Alabê indicado
Alcides de Lissá, Victor de Aden, a poncilê indicada
Andressa de Azaká e a rodante Joyce de Badé. Também,
João de Verekete, irmão do professor Jorge, é
borizado e casado com Adriana de Abê, borizada e genro de Vitória
de Oyá.
Leonardo é casado com Elizabete e seu filho Leonardo foi iniciado
tocador. O irmão de Leonardo, Vicente, é casado com
Vera, que já fez o aperê e recebe encantado. Eles são
os pais de Talitha e Tábatha, já presentes na roda-de-santo.
Faz parte da família Alex, um sobrinho que também já
dança com encantado, e seu irmão Fábio e sua
irmã Amanda, ambos aspirantes. A aspirante Iracema, já
"borizada", é irmã de Leonardo e Vicente e
suas filhas devem ser também iniciadas: Danielle, equede, e
Tatiane, rodante. Leonardo dirige o terreiro de sua família.
Vera tem a irmã Ana Maria, mãe de Michelle, "borizada",
e José Roberto Júnior, que também toca.
Maria da Glória é mãe de Kátia, casada
com Sérgio. Antônio Aramízio é cunhado
de José Divino, ambos feitos, e tem outros parentes que já
fizeram o aperê. Alzira de Sogbô é mãe do
huntó de Xadantã Luciano de Xadantã e de Lucimar
de Abê, borizada, ex-esposa do vodunsi Rogério de Boço
Jara.
As famílias interligam-se, os laços de parentesco multiplicam-se,
o terreiro é o lugar da religião e do encontro, é
o lugar do lazer e a praça onde todos se apresentam.
Na vida cotidiana de cada iniciado, tudo gira em torno do terreiro
e seu calendário exaustivo: como fazer os preparativos da obrigação,
como deixar em ordem as inúmeras roupas rituais, quando encontrar
um tempo livre para qualquer outra coisa? Muitos dos filhos moram
longe do terreiro, alguns em outras cidades, a cidade é grande,
é grande o esforço de cada um. São pobres, às
vezes de classe média baixa, e as obrigações
são financeiramente onerosas, de modo que uma obrigação
de iniciação muito desejada pode ter que esperar por
anos. A obrigação de tobóssi, quando o iniciado
recebe o posto de vodúnsi-gonjaí, é totalmente
gratuita e de responsabilidade da casa, com ajuda dos gonjaí
mais velhos, obrigação que é determinada pelo
vodum da casa. Nas demais obrigações, o iniciado gasta
com a compra de animais, roupas, comida, objetos rituais etc., podendo
contar com a ajuda de parentes e amigos.
Durante o tambor, os filhos parecem cansados, pois as festas públicas
são precedidas por obrigações sacrificiais que
freqüentemente viram a noite, mas também sempre parecem
contentes. E quando os tambores tocam e as entidades chegam, eles
são capazes de dançar por muitas horas sem descanso.
Quando não há tambor, num dia de vodum, todos se reúnem
na sala do altar católico para o ritual da avaninha, rezas
de voduns acompanhadas pelo gã e xequerês.
As crianças, muitas, estão sempre presentes no tambor.
Entram na roda, tocam tambor, correm de lá para cá,
conversam com os encantados. E têm sua predileções
entre os caboclos e voduns. Victor, o então garotinho enrabichado
por Dona Mariana na cabeça de Francelino, sempre pedindo colo,
sempre querendo sua atenção, mal se aproximava do mesmo
Francelino quando virado no Caboclo Zè Raimundo e hoje já
está com seus 11 anos, tocando e desempenhado funções.
As crianças do terreiro vão sendo socializadas no cotidiano
da mina e aprendendo os ritos como aprendem tudo o mais.
Em todas ou em quase todas as celebrações da casa, obrigações,
tambores, estará presente Dona Mariana, a princesa cabocla
filha do Rei da Turquia. Cedo ou tarde ela chega e comanda todo o
ritual, assumindo a chefia da casa de Dona Jarina, que ela chama de
irmã. Xica Baiana, encantada de Márcio, o pai-pequeno,
é sua principal acólita.
Dona Mariana é sempre o centro das atenções e
nenhum dos filhos de Pai Francelino disfarça a enorme devoção
que todos têm por ela. Dança, canta, conversa, chama
a atenção dos filhos, corrige o ritmo dos tambores,
recebe as visitas e faz até discurso, quando a solenidade o
exige. Quem freqüenta o terreiro apenas durante os tambores dificilmente
convive com o pai-de-santo, pois seu corpo e sua cabeça estão
sempre tomados pela personalidade de Mariana. Ela fala por ele e pelo
tambor-de-mina, é a grande porta-voz dos voduns e encantados
do Maranhão em terras de São Paulo.
O tambor-de-mina em São Paulo
A história da Casa das Minas
de Thoya Jarina inclui-se no processo de expansão e diversificação
das religiões afro-brasileiras em São Paulo, em curso
a partir dos anos 60. Componente de um movimento de migração
do Nordeste e Norte, que trouxe para o Sudeste as mais variadas formas
de cultos a orixás, voduns, inquices, encantados e antepassados,
e que encontrou em São Paulo, assim como em outras grandes
cidades da região, condições culturais e econômicas
muito favoráveis, num processo de mudança sociocultural
que incluía a valorização do que se considerava
então as verdadeiras raízes da cultura brasileira, a
chegada dos voduns do tambor-de-mina expressa uma demanda nova no
contexto da sociedade secularizada. É o pluralismo religioso,
com a possibilidade da livre escolha da religião num leque
de possibilidades sacrais e mágicas, como num mercado religioso,
que inclui, no limite, a formação da empresa religiosa,
a multiplicação de templos através da franquia
e a constituição do adepto como consumidor religioso.
A sociedade diversifica-se em mercado, consumo, identidades, e assim
também diversifica-se a religião (Pierucci e Prandi,
1996).
No tambor-de-mina paulista, como nas demais modalidades religiosas
de origem negra presentes na cidade, misturam-se adeptos negros, pardos
e brancos, sem distinção de origem racial, como mais
um elo da cadeia que transformou a religião étnica em
religião para todos. Através da atuação
do seu líder, Pai Francelino de Xapanã, a mina em São
Paulo convive com modalidades da umbanda, do candomblé, do
xangô do Nordete e do batuque em contatos que são, ao
mesmo tempo, burocráticos, religiosos e culturais, sugerindo
novas formas de influência e sincretismo: a diversidade construindo
espaços de expressão de interesses comuns e dificuldades
afins das religiões afro-brasileiras.
Pai Francelino tem vários oyês em casas de candomblé
como o de Balogun na Casa das Águas, do Babalorixá Armando
de Ogum (Itapevi), Araibatan n’Ilê Alakêtú
Axé Ibualamo, do Babalorixá José Carlos de Ibualamo
(São Paulo), e Mogbá Xangô no Ilê Alakêtú
Axé Airá, do Babalorixá Pércio de Xangô,
além do cargo de Babá Kekerê do Ilê Axé
Yemowá, de seu pai, hoje falecido, em São Luis do Maranhão.
Pai Francelino cultiva laços de relacionamento e amizade com
todas as religiões afro-brasileiras nos mais diferentes pontos
do País. Dedica-se ao diálogo inter-religioso e político-religioso,
participando de inúmeras instituições voltadas
à defesa das tradições de origem africana, sendo
membro da URI (United Religions Initiative) – Iniciativa das
Religiões Unidas, do Conselho Parlamentar pela Cultura de Paz
da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, do
Comitê Paulista pela Ética na Programação
de Rádio e TV, e também do CONER – Conselho Estadual
de Ensino Religioso do Estado de São Paulo, ao lado de bispos
católicos, sheiks muçulmanos, rabinos, monges budistas,
espiritualistas, espíritas, umbandistas, afro-brasileiros,
metodistas, prebisterianos, anglicanos etc. entre outras funções.
No terreiro, as relações entre os seguidores da religião
dos voduns e encantados, que envolvem complexo conjunto de obrigações
hierárquicas, interdependência, reciprocidade e formas
de solidariedade muito bem delineadas, ampliam-se e se fortalecem
com as redes de parentesco das inúmeras famílias de
sangue que se emaranham no grupo de culto. Parentesco de santo e parentesco
de sangue misturam-se e se enredam: ninguém está sozinho
no tambor-de-mina. O controle social é generalizado e o grupo
praticamente vai se fechando sobre si mesmo, como um núcleo
duro que elabora respostas coletivas para a vida individual no cotidiano
da sociedade além grupo de culto, para a vida de seus membros
fora do terreiro. A religião é assim, ao mesmo tempo,
o espaço dos deuses, da família, do lazer, da socialização
das crianças, da construção da identidade psicológica
de cada um.
A organização dos voduns e encantados em famílias,
cada uma com suas características e símbolos, datas
de comemoração, obrigações e preceitos,
exprime a necessidade de ordenação deste mundo a partir
da ordenação do mundo sobrenatural. Nada está
solto, isolado ou sozinho. O sentido da religião envolve a
possibilidade de expressão de múltiplos egos, ninguém
é uma coisa só. A possibilidade de um filho-de-santo
receber mais de uma dezena de entidades é emblemática.
E ao mesmo tempo que a mina promove essa capacidade de expressão
individual múltipla quase ilimitada, ela organiza e regula
as manifestações possíveis através da
estrutura das famílias de entidades e do calendário
das festas, fazendo da diversidade sinônimo de ordem e disciplinando,
através da hierarquização iniciática,
a possibilidade do caos antevista na variedade quase sem fim de manifestações
de deuses, espíritos, encantados, numa multidão de representações
sobrenaturais, anulando e redefinindo cada personalidade individual.
Como se a regra fosse: somos um e somos tudo; é preciso experimentar
cada possibilidade de sermos o outro, experiência que a sociedade
nos nega na definição das classes e papéis sociais.
A religião tradicional que migrou e que se refez na cidade
moderna vai assim se mostrando como imagem caricatural da sociedade
atual, que é a sociedade da diferença e da multiplicidade.
Nessa sociedade secularizada, onde não há mais lugar
para a religião única e hegemônica, capaz, como
no passado recente, de ditar regras para a sociedade como um todo,
nessa sociedade que não precisa mais de deuses, que seguem
cultuados em vista agora das necessidades dos indivíduos, nessa
sociedade o tambor-de-mina vai se expandindo como uma das infindáveis
religiões da metrópole contemporânea. Como aconteceu
com os orixás pouco antes, agora também os voduns vão
se fazendo deuses metropolitanos.
* * *
Quadro 1. Voduns assentados na Casa
das Minas de Tóia Jarina
Família |
Vodum |
Nação |
Orixá
correspondente |
Santo
católico sincretizado com o vodum |
Dambirá |
Azonce |
Jeje |
Omulu-Obaluaê |
São
Sebastião |
|
Acóssi |
Jeje |
Omulu-Obaluaê |
São
Lázaro |
|
Alogué |
Jeje |
Ossaim |
- |
|
Azile |
Jeje |
Omulu-Obaluaê |
São
Roque |
|
Boçalabê |
Jeje |
Euá |
Santa
Teresa |
|
Dangbê |
Jeje |
Oxumarê |
São
Bartolomeu |
|
Eowá |
Jeje-nagô |
Euá |
N.
S. do Carmo |
|
Lepom |
Jeje |
Omulu-Obaluaê |
São
Roque |
|
Naveorualim |
Jeje |
Oxum |
N.
S. da Glória |
|
Oruana |
Nagô |
- |
Santa
Inês |
|
Idarço |
Nagô |
Oxumarê |
São
Bartolomeu |
|
Xapanã |
Nagô |
Omulu-Obaluaê |
São
Sebastião |
|
Polibogi |
Jeje |
Omulu-Obaluaê |
São
Manoel |
Davice |
Doçu |
Jeje |
Ogum |
Santos
Reis |
|
Naê |
Jeje |
Iemanjá |
- |
|
Sepazim
|
Jeje |
- |
- |
|
Zomadônu |
Jeje |
Omulu-Obaluaê |
Santos
Reis |
|
Doçupé |
Jeje |
Ogunjá |
Santo
Antônio |
|
Arronovissavá |
Jeje |
Oxalufã |
Jesus
Cristo |
|
Bedigá |
Jeje |
Ogum |
Santos
Reis |
Savaluno |
Agüê |
Jeje |
Oxóssi |
Santa
Helena |
|
Azacá |
Jeje |
Oxóssi |
São
Sebastião |
|
Boço
Jara |
Nagô |
Logun-Edé |
Santo
Expedito |
|
Boço
Vondereji |
Nagô |
Xangô |
Santo
Antônio |
Queviossô |
Abê |
Jeje |
Iemanjá |
N.
S. da Conceição |
|
Averequete |
Jeje-nagô |
Xangô
Aganju |
São
Benedito |
|
Badé |
Jeje-nagô |
Xangô |
São
Pedro |
|
Lissá |
Jeje-nagô |
Oxaguiã |
Jesus
Cristo |
|
Nanã |
Jeje-nagô |
Nanã |
Senhora
Santana |
|
Navezuarina |
Nagô |
Oxum |
Santa
Luzia |
|
Sobô |
Jeje |
Oiá |
Santa
Bárbara |
|
Xadantã |
Jeje |
Xangô
Airá |
São
José |
Orixá |
Ogum |
Nagô |
Ogum |
São
Jorge |
|
Odé |
Nagô |
Oxóssi |
Santa
Helena |
|
Xangô |
Nagô |
Xangô |
São
Pedro |
|
Oiá |
Nagô |
Oiá |
Santa
Bárbara |
|
Oxum |
Nagô |
Oxum |
N.
S. da Glória |
|
Ajê |
Nagô |
Ajé
Xalugá |
- |
|
Iemanjá |
Nagô |
Iemanjá |
N.
S. das Candeias |
Quadro 2. Freqüência dos voduns assentados na Casa das Minas de Tóia
Jarina e dos correspondentes orixás
Vodum |
Núme-ro
de casos |
Orixá
correspon-dente |
Núme-ro
de casos |
Naveorualim
Navezuarina
Oxum |
22
10
5 |
Oxum |
37 |
Doçu
Doçupé
Bedigá
Ogum |
12
1
1
11 |
Ogum |
25 |
Abê
Naê
Iemanjá |
17
2
1 |
Iemanjá |
20 |
Sobô
Oiá |
17
11 |
Oiá-Iansã |
28 |
Badé
Averequete
Vondereji
Xadantã
Dadá-hô
Xangô |
11
3
2
2
2
1 |
Xangô |
21 |
Xapanã
Acóssi
Lepom
Zomadonu
Polibogi
Azile |
3
10
3
1
2
2 |
Omulu-Obaluaê |
21 |
Agüê
Azacá
Odé |
7
1
5 |
Oxóssi |
13 |
Lissá
Arronovissavá |
4
1 |
Oxalá |
5 |
Euá
Boçalabê |
2
1 |
Euá |
3 |
Boço
Jara |
4 |
Logun-Edé |
4 |
Dangbê
Idarço |
2
1 |
Oxumarê |
3 |
Nanã |
2 |
Nanã |
2 |
Ajê |
1 |
Ajé
Xalugá |
1 |
Alogué |
1 |
Ossaim |
1 |
Quadro 3. Iniciados Dançantes
e seus Voduns e Tobóssis
Ordem
de iniciação |
Iniciado |
Ano
de inicia-ção |
Cargo
sacer-dotal |
Vodum
Principal |
Vodum
Adjuntó |
Tobóssi |
Dos filhos dançantes |
Pai
Francelino |
1964 |
Pai, Tóy Vodunnon |
Xapanã (Azonce) |
Sogbô (*) |
Assuabebê |
1 |
Norma |
1979 |
Afastada |
Doçu |
Abê |
|
2 |
Oraci |
1979 |
|
Naveorualim |
Acóssi |
|
3 |
Enedina |
1981 |
com casa em Curitiba |
Eowá |
Lissá |
Agamavi |
4 |
Ernesto |
1982 |
falecido em 1993 |
Badé |
Eowá |
|
5 |
Ariovaldo |
1982 |
Falecido |
Oiá |
Doçupé |
|
6 |
Márcio
Adriano |
1984 |
Toy Hunji (pai-pequeno) |
Boço Jara |
Sogbô |
Idojasi |
7 |
Sandra
Aparecida |
1984 |
Izadioncoé (mãe-pequena) |
Xadantã |
Naveorualim |
Sindoromin |
8 |
Joaquim |
1984 |
falecido em 1992 |
Averequete |
Sogbô |
Berebosi |
9 |
Marcos
Antônio |
1984 |
|
Badé |
Oruana |
Elacindê |
10 |
Ana
Maria |
1985 |
|
Lissá |
Abê |
|
11 |
Manoel |
1986 |
falecido em 1989 |
Poliboji |
Navezuarina |
|
12 |
Fernando |
1987 |
|
Doçu |
Naveorualim |
|
13 |
Sueli |
1987 |
|
Agüê |
Sogbô |
Delobê |
14 |
Solange
Maria |
1987 |
com casa em Belém |
Abê |
Lepon |
Azondolabê |
15 |
Vitória
Maria |
1987 |
Afastada |
Sogbô |
Doçu |
|
16 |
Cidinéia
Maria |
1987 |
falecida em 1993 |
Naveorualim |
Doçu |
|
17 |
Jandira |
1987 |
falecida em 2000 |
Nanã |
Agüê |
|
18 |
Maria
Rosa |
1987 |
Afastada |
Oxum |
Xangô |
|
19 |
Reinaldo |
1988 |
|
Agüê |
Oiá |
|
20 |
Nelson |
1988 |
Afastado |
Abê |
Badé |
Dandalossim |
21 |
Airton |
1989 |
com casa em Ibiúna |
Boço Jara |
Navezuarina |
|
22 |
João
Batista |
1989 |
com casa em Santo André |
Naveorualim |
Lissá |
Anarodim |
23 |
Alberto
Jorge |
1990 |
com casa em Manaus/AM |
Badé |
Sogbô |
|
24 |
Maria
da Glória |
1990 |
com casa no Paraná |
Abê |
Doçu |
|
25 |
Carlos
Eduardo |
1990 |
|
Ogum |
Oxum |
|
26 |
Miriam
Marlene |
1990 |
Iyá bii (Mãe criadeira) |
Doçu |
Abê |
Dagusi |
27 |
Lairton |
1990 |
Afastado |
Naveorualim |
Doçu |
|
28 |
Vera
Lúcia |
1990 |
Afastada |
Navezuarina |
Agüê |
Iralabê |
29 |
Cantora |
1990 |
Afastada |
Abê |
Acóssi |
|
30 |
Leonardo |
1991 |
com casa em São Paulo |
Doçu |
Navezuarina |
Akisilobê |
31 |
Maria
Noêmia |
1991 |
com casa em São Paulo |
Odé |
Oxum |
|
32 |
Dinorá |
1991 |
falecida em 1995 |
Abê |
Lissá |
|
33 |
Iracy |
1991 |
falecida em 2004, sua casa continua em Diadema |
Agüê |
Abê |
Huessobê |
34 |
Edilson |
1992 |
|
Badé |
Navezuarina |
|
35 |
Alzenir |
1992 |
|
Zomadônu |
Abê |
|
36 |
Elizabete |
1992 |
|
Oiá |
Acóssi |
|
37 |
Genival |
1993 |
|
Ogum |
Oiá |
|
38 |
Elza |
1993 |
|
Ogum |
Oxum |
|
39 |
Sérgio |
1993 |
|
Averequete |
Sogbô |
|
40 |
Édison |
1993 |
|
Navezuarina |
Doçu |
|
41 |
Kátia |
1993 |
|
Oiá |
Docupé |
|
42 |
Odete |
1993 |
|
Oiá |
Acóssi |
|
43 |
Antônio
Aramízio |
1994 |
Com casa em Ituiutaba/MG |
Doçu |
Naê |
|
44 |
José
Divino |
1994 |
|
Lepon |
Naveorualim |
|
45 |
Leonel
Vicente |
1995 |
|
Badé |
Navezuarina |
|
46 |
Deusane
Regina |
1995 |
|
Abê |
Lepon |
|
47 |
Maria
Aparecida |
1995 |
|
Abê |
Azile |
|
48 |
Antônio
Bernardino |
1996 |
com casa em Diadema |
Acóssi Sapatá |
Abê |
|
49 |
Hamilton
Anselmo |
1998 |
Com casa em Curitiba/PR |
Acósakpatá |
Naveorualim |
|
50 |
Nica |
1999 |
|
Odé |
Naveorualim |
Glegbenusi |
51 |
Cristiane |
1999 |
|
Dangbê |
Naveorualim |
|
52 |
Chica |
1999 |
|
Oyá |
Azaká |
|
53 |
Arminda
(Leão) |
1999 |
|
Oyá |
Ogum |
|
54 |
Vitória |
1999 |
|
Oyá |
Akóssu |
|
55 |
Marta |
1999 |
|
Naveorualim |
Akóssu |
|
56 |
Walkíria |
1999 |
Com casa em Diadema |
Ogum |
Sogbô |
|
57 |
Nilson |
1999 |
Com casa em Diadema |
Naveorualim |
Odé |
Nowin Dunsi |
58 |
Augusta |
2000 |
|
Naveorualim |
Badé |
|
59 |
Fábio
Neves |
2000 |
|
Nanã |
Badé |
|
60 |
Lucrécia |
2001 |
|
Naveorualim |
Doçu |
|
61 |
Jean
Karlo |
2001 |
Com casa em Manaus/AM |
Lego Xapanã |
Sogbô |
Azonmeunsi |
62 |
Damiana
(Cícera) |
2001 |
|
Sogbô |
Agüê |
Funzosi |
63 |
Jorgete |
2001 |
|
Oyá |
Agüê |
|
64 |
Cysleide |
2001 |
|
Naveorualim |
Badé |
|
65 |
Edson |
2002 |
|
Azonçu |
Sogbô |
|
66 |
Dirce |
2003 |
|
Oyá |
Akóssu |
|
67 |
Sérgio |
2003 |
|
Jara |
Sogbô |
|
68 |
Rogério
Cássio |
2003 |
|
Jara |
Sogbô |
|
69 |
Alzira
Maria |
2003 |
|
Sogbô |
Lego Xapanã |
|
70 |
Cláudio |
2004 |
|
Naveorualim |
Badé |
|
Quadro 4. Iniciados Dançantes
e seus Encantados
Iniciado |
Família
do Lençol |
Família
da Turquia |
Família
da Baia |
Família
da Bandeira |
Família
de Codó |
Família
da Gama |
Família
de Surrupira |
Outras
famílias |
|
Jarina
e
Ricardino |
Mariana,
Guerreiro de Alexandria e Menino
de Léria |
|
João
da Mata Rei da Bandeira e Caboclo
Ita |
Zé
Raimundo Boji Buá Sucena Trindade |
Baliza
da Gama |
|
|
Norma |
|
|
Baiano
Grande
Constantino Chapéu de Couro |
João
da Mata Rei da Bandeira |
|
|
|
|
Oraci |
Princesa
Moça Fina de Otá |
Rosário
e Tapindaré |
|
|
Joana
Gunça |
|
Vó
Surrupira |
|
Enedina |
Dom
Antônio do Juncal |
Japetequara |
|
|
Maria
de Légua |
Boço
da Escama Dourada |
Índio
Velho |
|
Ernesto |
|
|
|
|
|
|
|
|
Ariovaldo |
D.
João Soeira, Barão de Guaré e Princesa Juliana |
Tapindaré |
|
Taguacé |
|
|
|
Martim
Pescador |
Márcio
Adriano |
Rainha
Bárbara Soeira e Boço Lauro
das Mercês |
Tabajara
e Itacolomi |
Xica
Baiana |
Tombacé |
Oscar
de Légua |
Boço
do Capim Limão |
Surrupirinha
do Gangá |
|
Sandra
Aparecida |
Princesa
Flora e Tói Zezinho de Maramadã |
|
|
Serraria |
Teresa
de Légua |
|
Trucoeira |
|
Joaquim |
|
Jaguare-ma
e
Herundina |
|
|
Francisquinho
da Cruz Vermelha |
|
|
Cabocla
Jacira (Mata) |
Marcos
Antônio |
Dom
João Soeira |
Balanço
e
Ubirajara |
|
Princesa
Iracema |
Zé
Raimundo e José de Légua |
|
Mata
Zombana |
|
Ana Maria |
Moça
Fina de Otá |
|
|
Jondiá |
|
|
|
Júlio
Galeno (Marinheiro) |
Manoel |
|
|
Mané
Baiano |
|
|
|
|
Caboclo
Pena Branca (Mata) |
Fernando |
|
João
Guerreiro |
|
|
|
|
|
|
Sueli |
|
Maresia |
|
Princesa
Linda |
Dorinha
Boji Buá e
Antônio de Légua |
Rainha
Anadiê |
|
|
Solange
Maria |
Princesa
Flora e Dom João Soeira |
|
|
João
da Mata |
Expedito
de Légua |
|
|
|
Vitória |
|
Ubiratã |
Zé
Moreno |
|
|
|
|
Cabocla
Jussara (Mata) |
Cidnéia Maria |
Princesa
Indirá |
Caboclo
da Ilha |
Rita
de Cássia |
|
|
|
|
Caboclo
Sete Cachoeiras (Mata) |
Jandira |
Menina
do Caidô |
Mariano |
|
|
Aderaldo
Boji Buá |
|
Tucumã |
Caboclo
Flecheiro (Mata) |
Maria
Rosa |
|
|
|
|
|
|
|
|
Reinaldo |
|
Guapin-daia |
|
|
Lourenço
de Légua e
Aleixo Boji Buá |
|
Tananga |
|
Nelson |
|
Mensa-geiro
de Roma |
Corisco |
|
Zé
Rai-mundo e
Zeferina de Légua |
|
|
|
Airton |
Barão
de Guaré |
João
da Cruz e Herundina |
|
Caboclo
Ita |
|
|
|
|
João
Batista |
|
|
|
Caboclo
Ita |
|
|
|
Mestra
Luziária (Mestres da Jurema) |
Alberto
Jorge |
Rei
Dom Sebastião |
|
|
João
da Mata |
Manezi-nho
de Légua e
Zulmira de Légua |
|
|
Boço
Carlos Marinheiro |
Maria
da Glória |
Princesa
Moça Fina de Otá |
João
de Leme |
|
|
Rosinha
de Légua |
Boço
Sanatiel |
|
Boiadeiro
e Pedro Marinheiro |
Carlos Eduardo |
|
|
|
|
|
|
|
Caboclo
Rompe Selva |
Miriam |
Princesa
Barra do Dia |
Menino
do Morro |
Corisco |
Petioé |
Pequenini-nho |
|
Zimbaruê |
|
Lairton |
|
Mariana
e
Tupi-nambá |
|
|
Zé
Rai-mundo Bogi Buá |
|
|
|
Vera Lúcia |
Barão
de Guajá |
Juracema |
Maria
do Balaio |
Senhora
Dantã |
|
|
|
Cabocla
Guaciara
(Juremeira) |
Cantora |
|
Caboclo
Rosário |
|
|
Mane-zinho
de Légua |
|
|
Marinheiro |
Leonardo |
Príncipe
Alterado e
Barão de Anapoli |
Candeias |
|
Dandarino |
Antônio
de Légua |
Boço
do Capim Limão |
Marzagão |
Caboclo
Zuri (Mata) e Marinheiro Gumercindo |
Maria Noêmia |
|
|
João
Baiano |
|
|
|
|
|
Dinorá |
|
|
|
|
|
|
|
Martim
Pescador |
Iracy |
|
Guaraci |
Severino |
|
|
|
|
|
Edilson |
D.
Carlos e
Princesa Linda
do Mar |
Sentinela |
|
Caboclo
do Munir |
Mearim
e
Folha Seca |
|
|
Dona
Jurema (Mata) |
Alzenir |
|
|
|
Espadinha |
Caboclinho |
|
|
|
Elizabete |
Maria
Antônia |
Caboclo
da Ilha |
|
|
Maria
Rosa |
|
|
Cabocla
Guaraciara e Marinheiro Paulo |
Genival |
|
|
|
Araúna |
|
|
|
|
Elza |
|
|
|
|
|
|
|
Jaciara
e Lajinha |
Sérgio |
|
Rosário |
|
Pirinã |
|
Jadiel |
|
Rompe
Mato |
Édison |
|
|
|
|
|
|
|
Girassol
e Sultão das Matas |
Kátia |
|
|
Zefa |
|
Joaquinzinho
de Légua |
Isaquiel |
|
|
Odete |
|
|
Maria
do Balaio |
|
Pedrinho
de Légua |
Isadiel |
|
Jurema |
Antônio Aramízio |
|
|
|
Araúna |
|
|
|
|
José Divino |
Barão
de Guaré |
Tabajara |
|
|
João
de Légua |
|
|
|
Leonel Vicente |
|
Juracema |
Silvino |
|
Manezi-nho
de Légua |
|
|
Folha
da Manhã e Zé do Barco de Ouro |
Deusane Regina |
|
|
|
Pirinã |
Cristina
de Légua |
|
|
Marinheiro |
Maria Aparecida |
|
|
|
|
|
|
|
Marinheiro
e Cabocla Jurema |
|
|
|
Baianinho |
Vigonomé |
Aleixo
de Légua |
|
|
Caboclinho
da Mata |
|
|
Ubirajara |
|
|
Zé
Raimundo |
|
|
Caboclo
Flexeiro |
|
Moça
Fina de Otá |
|
Tonhão |
|
|
|
|
Vigia
da Mata |
|
|
Guerreirinho |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Margarida
de Légua |
|
|
|
|
|
|
|
|
Lázaro |
|
|
Olho
de Cobra |
|
|
Morro
de Areia |
|
|
|
|
|
Tatandaré |
|
|
|
Maria
Baiana |
|
|
|
|
Touro
Branco |
|
|
|
|
|
|
|
|
Marinheiro
Braum, Pena Verde |
|
Princesa
Clara |
Juracema |
|
Itaguacé |
João
da Estrada (boiadeiro) |
|
|
7
Flechas, Boço Cláudio Marinheiro |
|
|
|
Chica
Baiana |
|
|
|
|
|
|
|
Caboclo
Nobre |
|
João
da Mata |
Zé
Raimundo |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Ventania |
Chica
Baiana |
|
|
|
|
Onça
Tigre, Ze Pelintra (jurema) |
|
|
|
Maria
de Angola |
Rainha
Diana |
|
|
|
Mata
Virgem, Zezinho Marinheiro |
|
|
|
Zé
do Chicote |
|
Maria
Filó |
|
|
7
Flechas |
|
Menino
de Ouro |
Princesa
Barra do Dia, Tuoinambá |
|
|
Rose
Flor |
|
|
Jacira |
|
|
|
|
Caçaràzinho |
Maria
José (Dona Florzinha) |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Caboclo
Jamandí |
|
|
Seu
Cigano |
Zé
do Coquinho |
|
|
Boço
da Escama Dourada |
|
|
|
|
Seu
Sereno |
Jorgino |
|
|
|
|
|
|
|
|
Manoela |
|
|
|
|
D.
Jureminha, Marinheiro Borges |
|
Duque
Marquês de Pombal |
|
|
|
Seu
Vaqueiro |
|
|
|
Quadro 5. Iniciados Não-Dançantes
e seus Voduns
Iniciado |
Ano
inici-ação |
Cargo
sacerdotal (*) |
Vodum
principal |
Vodum
adjuntó |
1. Pedro |
1986 |
Huntó
de Sogbô |
Badé |
Abê |
2.
Kelvany |
1986 |
Huntó
e axogum da Encantaria |
Lepon |
Naveorualim |
3. Dinho |
1987 |
Alabê
de Sogbô |
Lissá |
Abê |
4. Édison |
1988 |
Huntó
de Xapanã |
Lepon |
Sepazim |
5. Henrique |
1991 |
Huntó
de Eowá |
Alogué |
Naveorualim |
6. Sônia |
1991 |
Vodunsi
Poncilê de Eowá |
Sogbô |
Doçu |
7. Zezinho |
1991 |
Alabê |
Ogum |
Navezuarina |
8. Toninho |
1991 |
Alabê |
Badé |
Sobô |
9. Márcio |
1991 |
Alabê
(falecido) |
Averequete |
Sobô |
10.
José Augusto |
1991 |
Agaipi |
Ogum |
Oiá |
11. Paulo |
1992 |
Huntó
de Naveorualim |
Averequete |
Navezuarina |
12. Regina Célia |
1992 |
Equede
de Xapanã (afastada) |
Sogbô |
Agüê |
13. Paulo |
1993 |
Alabê
de Sogbô |
Lissá |
Navezuarina |
14.
Carlos José |
1994 |
Alabê
de Thoya Jarina |
Boço
Vondereji |
Navezuarina |
15. Aratan |
1995 |
Agbagigã |
Dangbê |
Naveorualim |
16. Alexsandro |
2000 |
Huntó
de Boço Jara |
Abê |
Naveorualim |
17. Jorge Augusto |
2000 |
Agbajigan |
Ogum |
Abê |
18. Karla Cristina |
2000 |
Vodunsi
Poncilê de Agüê |
Agüê |
Naveorualim |
19. Edimar |
2000 |
Alabê
de Agüê |
Vondereji |
Naveorualim |
20. Cleide |
2000 |
Ekédi
de Sogbô |
Oxum |
Ogum |
21. Fábio Adalberto |
2001 |
Alabê
de Abê |
Poliboji |
Naveorualim |
22. Gildo |
2001 |
Axogum |
Ogum |
Abê
Kecê |
23. Victor Eduardo |
2002 |
Alabê,
Axogum de Sogbô e Olubatá |
Dadá-hô |
Sogbô |
24. Leonardo Jr |
2003 |
Agbajigan |
Ogum |
Abê |
25. Fábio José |
2003 |
Huntó
de Naveorualim |
Agüê |
Sogbô |
26. Luciano |
2003 |
Huntó
de Xadantã |
Xadantã |
Naveorualim |
27. Jorge Adalberto |
2004 |
Babá
Egbé Ilê Olodé |
Ogum |
Naveorualim |
28. Cristiane |
2004 |
Vodunsi
Poncilê de Xapanã |
Dadá-hô |
Naê |
29. Kátia Maria |
2004 |
Vodunsi
Poncilê de Xapanã |
Azile |
Naveorualim |
(*) Cargos: agaipi, sacrificador (jeje); alabê, tocador
de tambor (jeje); axogum, sacrificador (nagô); equede (nagô) ou vodunci-poncilê
(jeje), mulher que zela pelas entidades em transe; huntó, tocador-chefe
(jeje); agbagigã, encarregado dos assentamentos (jeje).
Referências Bibliográficas
Bastide, Roger.
As religiões africanas no Brasil, São Paulo, Pioneira,
1971.
Eduardo, Octavio da Costa, The Negro in Northern Brazil. Seatle, University
of Washington Press, 1948.
Ferretti, Mundicarmo Maria Rocha. Desceu na guma: o caboclo no tambor-de-mina
no processo de mudança de um terreiro de São Luís
- a Casa de Fanti-Ashanti. São Luís, Sioge, 1993.
____. Terra de caboclo. São Luís, Secretaria de Cultura
do Maranhão, 1994.
____. Mina, uma religião de origem africana. São Luís,
Sioge, 1985.
Ferretti, Sérgio Figueiredo. “Voduns da Casa das Minas”,
in: Moura, Carlos Eugênio Marcondes de (org.), Meu sinal está
no teu corpo. São Paulo, Edicon; Edusp, 1989.
____, Repensando o sincretismo: estudo sobre a Casa das Minas. São
Paulo e São Luís, Edusp & Fapema, 1995.
____. Querebentã de Zomadônu: etnografia da Casa das Minas
do Maranhão, 2ª edição (1ª edição:
1985). São Luís, Editora da Universidade Federal do Maranhão,
1996.
Pereira, Manuel Nunes. A Casa das Minas: culto dos voduns jeje no Maranhão,
2ª edição (1ª edição: 1947). Petrópolis,
Vozes, 1979.
Pierucci, Antônio Flávio e Reginaldo Prandi. A realidade
social das religiões no Brasil. São Paulo, Hucitec, 1996.
Prandi, Reginaldo. Os candomblés de São Paulo: a velha
magia na metrópole nova. São Paulo, Hucitec e Edusp, 1991.
____. Herdeiras do axé: sociologia das religiões afro-brasileiras,
São Paulo, Hucitec, 1996.
Santos, Maria do Rosário Carvalho e Manoel dos Santos Neto. Boboromina:
terreiros de São Luís, uma interpretação
sócio-cultural, São Luís, Sioge, 1989.
Nota:
Versão atualizada em janeiro de 2005 do
artigo publicado em Afro-Ásia, 19/20, pp. 109-133, 1997.
Fonte: MOURA, Carlos Eugênio
Marcondes de (org.) — Somavó, o amanhã nunca termina.
São Paulo, Empório de Produção, 2005, pp.
63-94, ISBN 8588944049.
____________________________________________________________
Leia de Reginaldo Prandi
>
A dança dos caboclos
>
O Brasil com axé: candomblé e umbanda no mercado religioso
>
Deuses africanos no Brasil
>
Nas pegadas do Voduns : um terreiro de tambor-de-mina em São Paulo
>
Pombagira e as faces inconfessas do Brasil
>
Por que Exu é o primeiro?
>
Religiões afro-brasileiras e sua participação na cultura
nacional não religiosa
Leia também de Reginaldo Prandi; Armando Vallado
>
Xangô, Rei de Oió
topo
|