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(trecho)
No diálogo platônico "Teeteto",
atribui-se a Protágoras uma concepção relativista
do conhecimento, por haver afirmado que "o homem é a medida
de todas as coisas". Nesse caso, cada um de nós é,
por assim dizer, o juiz daquilo que é e daquilo que não
é. Sócrates levanta então uma série de objeções
contra essa forma radical de relativismo subjetivista, tentando mostrar
a incoerência interna da suposição de que o que
parece verdadeiro a alguém é verdadeiro para ele ou ela.
Se são verdadeiras todas as opiniões mantidas por qualquer
pessoa, então também é preciso reconhecer a verdade
da opinião do oponente de Protágoras que considera que
o relativismo é falso. Ou seja, se o relativismo é verdadeiro,
então ele é falso (desde que alguém o considere
falso). Haveria, por assim dizer, uma auto-refutação (ou
uma autodestruição) do relativismo cognitivo. (Cf. Siegel,
1987)
Em nossos dias, o relativismo cognitivo tem assumido várias formas
distintas. Nas versões mais radicais, entende-se que quaisquer
opiniões são igualmente justificáveis, dadas suas
respectivas regras de evidência, e que não há questão
objetiva sobre qual conjunto de regras deve ser preferido ("igualitarismo
cognitivo" ou tese da "equipolência das razões").
Em suma, é possível dar boas razões tanto para
se admitir quanto para se recusar qualquer opinião. E, portanto,
o procedimento de dar boas razões nunca permite decidir entre
opiniões rivais, nunca nos obriga a substituir uma crença
por outra. Nesse caso, uma crítica do relativismo cognitivo pode
ser feita de acordo com a seguinte linha argumentativa (seguida, por
exemplo, por Paul Boghossian em "What the Sokal Hoax Ought to Teach
Us"): se toda regra de evidência é tão boa
quanto qualquer outra, então para que uma opinião qualquer
seja tomada como justificada basta formular um conjunto apropriado de
regras em relação ao qual ela está justificada.
Em particular, a opinião de que nem toda regra de evidência
é tão boa quanto qualquer outra deve poder ser igualmente
justificada. (E o relativista assim não consegue mostrar, mas
deveria mostrar, que a sua posição é melhor que
a de seu oponente.) Uma alternativa seria dizer que algumas regras de
evidência são melhores do que outras; mas então
deveria haver fatos independentes de perspectiva sobre o que as torna
melhores
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