* Psicólogo
Clínico e Analista Junguiano e Transpessoal formado
pela USP, membro da Associação Brasileira de
Psicólogos Espíritas (ABRAPE)
A Psicologia Espírita compreende
a saúde mental a partir de um paradigma Holístico (ou
seja, globalizante, amplo e sintetizador) bio-psico-sócio-espiritual
(ou seja, que engloba as variáveis biológicas, psíquicas,
sociais e espirituais, em seu conceito de ser humano integral). Sua
intervenção se dá tanto em nível “curativo”
(não no sentido médico ou psiquátrico ortodoxo
de “curar doenças mentais”, mas sim de melhorar a
qualidade de vida psicossocial e ético-espiritual) quanto preventivo,
e engloba também a atenção na relação
ecológica entre o homem, a natureza e o ambiente. Essa resenha
objetiva mostrar como esse modelo pode ser útil para nos ajudar
a lidar melhor com dois grandes males modernos: o estresse e a depressão.
Inúmeras pesquisas sugerem existir relação entre
Estresse e Depressão, e embora historicamente ambos acompanhem
o homem desde o seu surgimento no mundo, é nos últimos
tempos que a civilização mais tem se submetido a situações
estressoras, criando uma sociedade altamente depressiva. Corroborando
essa hipótese, observamos que os Estados Unidos perdem cento
e cinqüenta bilhões de dólares anualmente, com problemas
acarretados pelo estresse, refletindo diminuição da produtividade,
incidência maior de doenças, perdas por morte, incapacidade,
e acidentes de trabalho. Nos países em desenvolvimento como o
Brasil, a Argentina, e no continente africano a situação
é ainda pior, devido a diversos estressores sociais como a instabilidade
sócio-econômica, insegurança empregatícia
e pública, corrupção, inflação, crises
de abastecimento, etc. Nas grandes metrópoles, milhões
de pessoas vivem juntas, submetidas aos atritos de todas as disparidades
anti-sociais, sob exigências do tempo, transporte, meio ambiente,
e pressões de toda espécie (Fajardo, 1997).
O estresse, em si, não é “bom” nem “mau”.
Um certo nível de estresse é normal, e ajuda o indivíduo
a enfrentar os desafios da vida. Porém, muito estresse faz com
que o corpo e a mente reajam de forma desagradável, perturbando
a homeostase (ou seja, perturbando o equilíbrio de funcionamento
psicossomático, e portanto, do próprio perispírito).
Sabemos que existe uma dialética entre o individual e o coletivo,
que caminham lado a lado na história da humanidade. Assim, se
por um lado, como vimos, existe uma série de fatores coletivos
e sociais que determinam situações de estresse, por outro
lado, é a atitude individual de cada um, constituindo a coletividade,
que incrementa os estressores sociais.
Pesquisas mostram que a personalidade predisposta ao estresse caracteriza-se
especialmente pela (1) destacada ambição
social e financeira, (2) exibicionismo,
(3) liderança, (4)
auto-exigência e perfeccionismo, (5)
competitividade, (6) dificuldade em relaxar,
(7) responsabilidade e pontualidade extremadas,
(8) gosto por desafios e situações
novas, etc (Fajardo, 1997).
Esse perfil geral de personalidade é típico do materialista
cético apegado a valores externos, mas não só dele.
Na verdade, algumas dessas qualidades (não todas), quando presentes
em moderação, e alicerçadas em consistentes parâmetros
pessoais de ética e moral construtiva, resultam em pessoas produtivas,
otimistas e eficazes.
O que ocorre, porém, na maioria dos casos, é o contrário.
O ser humano ainda se deixa corromper pelos exageros do egoísmo,
fonte maior de inúmeras misérias, segundo Allan Kardec.
Como disse Kardec, em suas Obras Póstumas,
como “cada um pensa em si, antes de pensar nos outros, e quer
a sua própria satisfação antes de tudo, cada um
procura, naturalmente, se proporcionar essa satisfação,
a qualquer preço, e sacrifica, sem escrúpulos, os interesses
de outrem, desde as menores coisas até as maiores, na ordem moral
como na ordem material; daí todos os antagonismos sociais, todas
as lutas, todos os conflitos e todas as misérias, porque cada
um quer despojar o seu vizinho”. Levando-se, em conta, que em
maior ou menor grau, todos expressamos tal conduta, daí resulta,
pela atitude conjunta de todos, a configuração de nossa
cultura depressiva, estressada e ansiosa, expressa nos moldes da sociedade
capitalista de consumo predominante.
A depressão, por sua vez, é um efeito definido pela sensação
de tristeza, perda da esperança e desânimo, estando freqüentemente
associada a sintomas autônomos, como distúrbios que afetam
o sono, perda do interesse nos prazeres usuais, distúrbios do
apetite e dificuldade de concentração. Apenas um especialista
(médico, psiquiatra, psicólogo clínico, etc) pode
realizar um diagnóstico preciso de depressão.
Quando o organismo é continuamente sobrecarregado por tensões,
a reação de estresse será seguida por depressão
na esfera psíquica e na física por queda da resistência
imunológica, dando origem à invasão microbiana,
virótica, ou mesmo, ao acometimento de doenças auto-imunes,
onde o organismo passa a atacar a si próprio.
Isso nos torna diretamente responsáveis pelo nosso próprio
bem-estar. Alimentação inadequada (provocando azia, gastrite,
diarréia, prisão de ventre, etc), atividades físicas
desequilibradas, repouso insuficiente, cigarro e bebida, são
todos estressores potenciais, segundo dados de pesquisas recentes, que
também relacionam o binômio estresse-obesidade. O estudo
do perispírito colabora para explicar como a inadequada atuação
sobre a matéria biológica afeta a saúde da mente
e do espírito e vice-versa.
A Psicologia, o Espiritismo e a ciência, como um todo, mostram
que a solução se encontra na transformação
de nós mesmos, em todos os níveis, inclusive no ético-moral.
Há a necessidade de determinação vital para a modificação
de hábitos, acrescentando vida aos nossos dias. A chamada Reforma
Íntima deve se fazer acompanhar por um processo contínuo
de Autoconhecimento (ver questão 919, em O Livro
dos Espíritos). Quando uma pessoa não conseguir
isso sozinha, ela não deve deixar de procurar a ajuda de amigos
e parentes, de um terapeuta especialista, e de Deus.
Em relação ao estresse e a depressão, pesquisas
mostram que as técnicas de psicoterapia em grupo e programas
educacionais conseguem as maiores taxas de sucesso, seguidas pela Acupuntura
e as técnicas variadas de relaxamento (massagem bioenergética,
Yoga, etc), e depois pela medicação alopática.
As técnicas de auto-ajuda com áudio e vídeo alcançam
menos resultados, mas combinações das várias técnicas
citadas conseguem resultados ainda melhores, pois uma técnica
potencializa a outra. Psicoterapia Individual também tem alta
taxa percentual de sucesso. Exercícios físicos, cultivo
do bom-humor e reeducação alimentar possuem comprovadamente,
efeitos terapêuticos contra o estresse e a depressão, especialmente
quando presentes em contexto interdisciplinar com as terapias psicológicas
citadas. Nesse caso, abre-se espaço de atuação
para outros profissionais como fisioterapeutas, professores de educação
física, nutricionistas e médicos naturalistas trabalharem
em conjunto.
Quanto à dimensão espiritual, estudos embasados em pesquisas
experimentais mostram que ao se buscar a verticalidade do relacionamento
com a Providência (Deus), o estresse é modificado e administrado
dentro dos parâmetros de máxima saúde e capacidade
reprodutiva (Fajardo, 1997). O interessante é que esse fato é
observado tanto por pesquisadores de orientação espírita,
quando por pesquisadores não-espíritas. A pesquisa em
ciência espírita conclui, portanto, que um serviço
de orientação espiritual - coligado aos trabalhos terapêuticos
citados nas pesquisas realizadas - é um procedimento complementar
útil à manutenção da saúde integral
do corpo, da mente e do espírito.
Referência
Bibliográfica Complementar
Fajardo, Augusto e cols. Qualidade de vida
com saúde total. Vila Prudente: Editora Health Ltda, 1997. (Pág.
403: artigo “Como enfrentar o estresse” do Dr. Irineu César
Silveira dos Reis).
*Psicólogo
Clínico e Analista Junguiano e Transpessoal formado pela USP,
Membro da Associação Brasileira de Psicólogos Espíritas
(ABRAPE)