O espiritismo brasileiro estabeleceu
um tipo de literatura peculiar, de grande aceitação
pelo público, mesmo pelos não adeptos à doutrina
de Kardec: a literatura psicográfica.
Marco inicial deste fenômeno foi a publicação
da antologia mediúnica Parnaso de além-túmulo,
em 1932, pelo médium Chico Xavier, livro que reúne poemas
atribuídos a 56 poetas nacionais e estrangeiros. A coletânea
causou polêmica nos meios intelectuais do país devido
à questão autoral que encerra: seriam efetivamente os
poemas dos autores que os assinaram?
Esta questão é interessante no âmbito dos estudos
literários e discursivos devido aos aspectos éticos,
ideológicos e legais que representa. Atentos a esse fato e
ao quase descaso do meio acadêmico pelo assunto, nos propusemos
analisar a seção atribuída a Olavo Bilac na referida
coletânea, tomando como base estudos críticos da sua
obra e conceitos da Análise de Discurso, na busca da configuração
autoral dos textos mediúnicos.
Primeiramente foi realizado um cotejo entre os 10 sonetos mediúnicos
e poemas escritos em vida pelo poeta, no qual procuramos verificar
a existência ou não de correspondência estilística
entre os textos. Em seguida, fizemos uma análise discursiva
dos sonetos, na qual observamos pontos de intertextualidade entre
a mediunidade e a obra de Bilac.
Os dados obtidos apontam para uma grande proximidade estilística
entre os textos, o que sugere identidade autoral. Contudo, verificou-se
que o discurso do autor espiritual afasta-se em alguns pontos do discurso
de Bilac, o que se deve à ideologia espírita veiculada
pelo Parnaso e que faz dele um livro de persuasão.