Espiritualidade e Sociedade





Edmundo Pelizari


>    Um Xamã vai até os céus

Artigos, teses e publicações

Edmundo Pelizari
>   Um Xamã vai até os céus

 

 

- Uma história dos antigos curandeiros escandinavos, para os espiritualistas de hoje,recontada por Ras Adeagbo.

Uma velha história contada ao pé da fogueira pelos poderosos "skaldos" (poetas adivinhos), conta que Thorvald, um misterioso xamã, resolveu viajar até os céus onde moravam os deuses e divindades de todo o Universo.
Certa noite, ele fez suas poderosas meditações e preces, subindo como uma águia até as distantes mansões celestiais.

Primeiro ele encontrou um grande palácio, todo fortificado e protegido pelos anjos mais terríveis e fulgurantes.
Adentrando por uma fortificada porta de ouro, caminhou até a sala principal onde encontrou um deus idoso e luminoso, sentado em um magnífico trono de fogo.
Irado com aquela invasão, o deus perguntou ao xamã o que fazia ali e o ameaçou com terríveis maldições.

Thorvald respondeu que desejava conhecer a verdadeira natureza dos deuses e tirar suas próprias conclusões.

O deus então gritou, lamentou, lembrando ao mortal xamã que ali não era lugar de simples humanos.
Depois pediu que fosse rapidamente embora, voltando à terra para cumprir os deveres impostos aos seus pobres habitantes.

Thorvald, sem perder a compostura, perguntou se havia alguma vantagem em seguir os ensinamentos e os mandamentos de um deus tão bravo e exigente.
Irritado ainda mais, o deus o expulsou dali.
Tranquilamente Thorvald acenou e foi embora um tanto desapontado.


Em seguida, voando mais alto, ele avistou outro palácio celestial.
Era uma construção muito bela, florida e perfumada.
Ali morava o deus do amor.
Mais uma vez, Thorvald entrou sem ser anunciado, encontrando um deus afável e carinhoso, sentado em uma simples almofada.

O deus do amor, dando mostras de satisfação, gentilmente perguntou ao xamã quem era ele e o que desejava ali em sua modesta morada.

Thorvald respondeu que desejava conhecer a verdadeira natureza dos deuses e tirar suas próprias conclusões.
O tranqüilo deus ficou profundamente triste com tal pergunta.
Argumentou que necessitava ser amado, acarinhado, respeitado, pois sofria por todos os humanos e tinha dado tudo para a ignorante humanidade, sem nada receber em troca.
Depois disso, desabou em lamentos infindáveis.
Thorvald, sem ficar abalado, perguntou se havia alguma vantagem em seguir os ensinamentos e os mandamentos de um deus tão bom, carente e pedinte.
O deus do amor abaixou os olhos e suspirou longamente...

Thorvald, decepcionado mais uma vez, saiu daquele lugar.
Na imensidão dos céus, desta vez resolveu voar mais longe e mais alto ainda.

Viajando além das estrelas jamais vistas a olho nu, viu ao longe uma magnífica fortaleza e dentro dela uma pequena cidade.
Entrou nela, andou pelas ruas e ouviu uma grande algazarra vinda de uma espécie de taverna.
Assombrado por tão grande alarido, Thorvald abriu a porta e encontrou uma centena de deuses gritando, cantando e rindo como crianças.
Subindo em cima de uma mesa, ele valentemente indagou que espécie de espelunca celeste era aquela e que tipo de deuses malucos eram eles.
Ninguém respondeu...
Thorvald passou a gritar cada vez mais forte, mas nada acontecia.
Ele era completamente ignorado pelos divertidos convivas.
De repente, um jovem e belo deus olhou para ele e o convidou para um trago.
Thorvald, que já havia visto de tudo sob o céu e debaixo da terra também, ficou completamente atordoado com tal comportamento e sugestão.
Não suportando mais aquela ridícula cena, ele começou ofender todos os que ali estavam sem temer as conseqüências.
Os deuses pararam a brincadeira,
olharam para Thorvald e caíram em uma debochada gargalhada.
Em seguida retomaram suas canções e jogos.

O jovem e belo deus tornou a olhar para o confuso xamã e disse alegremente:
"Meu filho, você nada entende de boas maneiras.
Sabe que podemos destruí-lo agora mesmo?
Mas de que adiantaria?
Já que viajou tanto para buscar uma verdade, sente-se e beba conosco.

Contudo, escreva em seu coração:

sempre desconfie de um deus e de uma religião que não tenha senso de humor!"

O xamã, caindo em si, agradeceu a lição e foi embora pensativo.

Retornando rapidamente para junto dos humanos,
Thorvald estava completamente satisfeito.
Aprendera a verdadeira natureza dos deuses e divindades.
Encontrara, por fim, o sentido real da religião.


Centenas de anos se passaram...
E a pobre humanidade voltou a ser séria, iracunda, fanática, chorosa e egoísta em matéria de religião.

Deuses sedentos de vingança ou repletos de culpa fazem sucesso na vida moderna.

O xamã Thorvald, hoje habitando o céu dos alegres deuses e deusas,
olha para baixo e ri de todos nós...

 

Fonte: Texto escrito para o Jornal de Umbanda Sagrada do Mês de Maio de 2008

 



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