- Uma história dos antigos
curandeiros escandinavos, para os espiritualistas de hoje,recontada
por Ras Adeagbo.
Uma velha história contada ao pé
da fogueira pelos poderosos "skaldos" (poetas adivinhos),
conta que Thorvald, um misterioso xamã, resolveu viajar
até os céus onde moravam os deuses e divindades
de todo o Universo.
Certa noite, ele fez suas poderosas meditações e
preces, subindo como uma águia até as distantes
mansões celestiais.
Primeiro ele encontrou um grande palácio,
todo fortificado e protegido pelos anjos mais terríveis
e fulgurantes.
Adentrando por uma fortificada porta de ouro, caminhou até
a sala principal onde encontrou um deus idoso e luminoso, sentado
em um magnífico trono de fogo.
Irado com aquela invasão, o deus perguntou ao xamã
o que fazia ali e o ameaçou com terríveis maldições.
Thorvald respondeu que desejava conhecer a verdadeira
natureza dos deuses e tirar suas próprias conclusões.
O deus então gritou, lamentou, lembrando
ao mortal xamã que ali não era lugar de simples
humanos.
Depois pediu que fosse rapidamente embora, voltando à terra
para cumprir os deveres impostos aos seus pobres habitantes.
Thorvald, sem perder a compostura, perguntou se
havia alguma vantagem em seguir os ensinamentos e os mandamentos
de um deus tão bravo e exigente.
Irritado ainda mais, o deus o expulsou dali.
Tranquilamente Thorvald acenou e foi embora um tanto desapontado.
Em seguida, voando mais alto, ele avistou outro palácio
celestial.
Era uma construção muito bela, florida e perfumada.
Ali morava o deus do amor.
Mais uma vez, Thorvald entrou sem ser anunciado, encontrando um
deus afável e carinhoso, sentado em uma simples almofada.
O deus do amor, dando mostras de satisfação,
gentilmente perguntou ao xamã quem era ele e o que desejava
ali em sua modesta morada.
Thorvald respondeu que desejava conhecer a verdadeira
natureza dos deuses e tirar suas próprias conclusões.
O tranqüilo deus ficou profundamente triste com tal pergunta.
Argumentou que necessitava ser amado, acarinhado, respeitado,
pois sofria por todos os humanos e tinha dado tudo para a ignorante
humanidade, sem nada receber em troca.
Depois disso, desabou em lamentos infindáveis.
Thorvald, sem ficar abalado, perguntou se havia alguma vantagem
em seguir os ensinamentos e os mandamentos de um deus tão
bom, carente e pedinte.
O deus do amor abaixou os olhos e suspirou longamente...
Thorvald, decepcionado mais uma vez, saiu daquele
lugar.
Na imensidão dos céus, desta vez resolveu voar mais
longe e mais alto ainda.
Viajando além das estrelas jamais vistas
a olho nu, viu ao longe uma magnífica fortaleza e dentro
dela uma pequena cidade.
Entrou nela, andou pelas ruas e ouviu uma grande algazarra vinda
de uma espécie de taverna.
Assombrado por tão grande alarido, Thorvald abriu a porta
e encontrou uma centena de deuses gritando, cantando e rindo como
crianças.
Subindo em cima de uma mesa, ele valentemente indagou que espécie
de espelunca celeste era aquela e que tipo de deuses malucos eram
eles.
Ninguém respondeu...
Thorvald passou a gritar cada vez mais forte, mas nada acontecia.
Ele era completamente ignorado pelos divertidos convivas.
De repente, um jovem e belo deus olhou para ele e o convidou para
um trago.
Thorvald, que já havia visto de tudo sob o céu e
debaixo da terra também, ficou completamente atordoado
com tal comportamento e sugestão.
Não suportando mais aquela ridícula cena, ele começou
ofender todos os que ali estavam sem temer as conseqüências.
Os deuses pararam a brincadeira,
olharam para Thorvald e caíram em uma debochada gargalhada.
Em seguida retomaram suas canções e jogos.
O jovem e belo deus tornou a olhar para o confuso
xamã e disse alegremente:
"Meu filho, você nada entende de boas maneiras.
Sabe que podemos destruí-lo agora mesmo?
Mas de que adiantaria?
Já que viajou tanto para buscar uma verdade, sente-se e
beba conosco.
Contudo, escreva em seu coração:
sempre desconfie de um deus e de uma religião
que não tenha senso de humor!"
O xamã, caindo em si, agradeceu a lição
e foi embora pensativo.
Retornando rapidamente para junto dos humanos,
Thorvald estava completamente satisfeito.
Aprendera a verdadeira natureza dos deuses e divindades.
Encontrara, por fim, o sentido real da religião.
Centenas de anos se passaram...
E a pobre humanidade voltou a ser séria, iracunda, fanática,
chorosa e egoísta em matéria de religião.
Deuses sedentos de vingança ou repletos
de culpa fazem sucesso na vida moderna.
O xamã Thorvald, hoje habitando o
céu dos alegres deuses e deusas,
olha para baixo e ri de todos nós...