Comunicação vem do latim
“comunis”, que significa comum. Quando há comunicação
é porque se estabeleceu um “ponto comum” entre
as partes intercomunicantes, isto é, houve troca de informações,
idéias ou atitudes. A comunicação no sentido
mais amplo, qual seja o da transmissão de conhecimentos, de
opiniões e instruções, visa a compreensão,
a fixação e a aceitação dos mesmos por
parte do público. Nesse sentido a comunicação
se faz, tanto de indivíduo para indivíduo, chefe para
empregado, professor para aluno, quanto de indivíduo para grupo,
como em palestras, aulas ou então do indivíduo para
a massa, para uma coletividade, como é o exemplo do escritor,
radialista ou jornalista. Comunicação, no sentido também
amplo, abrangendo desde as formas mais complexas, como o telégrafo,
o rádio, a televisão, até o simples gesto e a
expressão fisionômica que, por vezes, alteram completamente
o significado das palavras.
Deste modo o conceito de comunicação está intimamente
ligado ao de sociedade. Para existir um sistema ou grupo social é
indispensável que seus componentes se comuniquem entre si a
fim de trocarem idéias, analisar problemas, definir soluções,
pleitear colaboração. Esta necessidade já era
sentida pelos homens das cavernas, quando através de grunhidos
e gestos procuravam estabelecer a primeira forma de comunicação
consciente. Por essa época o homem penetrava na faixa do pensamento
contínuo e ampliava mais e mais a sua fotosfera psíquica
com possibilidades cada vez mais dilatadas de emitir e receber ondas
mentais, iniciando-se assim em todas as atividades de intercâmbio
com o mundo espiritual. Exteriorizando o reflexo de si mesmo através
de sua aura é que o homem começou todos os serviços
da mediunidade da Terra, considerando-se a mediunidade como atributo
do homem encarnado para corresponder-se com os homens desencarnados.
O entrelaçamento das ondas mentais que se acasalam segundo
a combinação por afinidade, determinou a intuição
como o sistema inicial de intercâmbio mediúnico.(1)
Posteriormente, saindo de sua infância histórica, o homem
procurou eternizar a comunicação de modo que pessoas
de outros lugares e de outras gerações pudessem saber
o que pensava e conhecia a seu tempo. Surgiram os primeiros desenhos
e escritas. Gradativamente, as formas de comunicação
escrita foram tornando-se populares, acentuando cada vez mais o interesse
do povo pelas idéias, informações e notícias.
E a mediunidade, por sua vez, mediante o crescimento do entendimento
humano, teve, automaticamente, os seus potenciais alargados, pois
o homem aumentou a sua capacidade mental, potencializando seu poder
emissor e receptor de ondas mentais. Na sua corrida evolutiva, à
medida que o homem animalizado avança para o homem espiritualizado,
a sua mediunidade se sublima em infinitos graus de inter-relacionamento
com as ondas supra-ultracurtas da freqüência mental dos
seres angélicos.
A mediunidade, mediante a freqüência mental do homem de
hoje, já constitui um magnífico sistema de comunicação,
não muito fácil de definir, já que transcende
de muito os meios de comunicação tão definidos,
tão catalogados, existentes no mundo formal. Não obstante
todos os recursos do mundo contemporâneo, ainda persiste o problema
da comunicação de idéias e de conhecimentos.
Considere-se agora as dificuldades de um sistema com a mediunidade,
que abrange necessariamente dois planos de vida não identificados.
Na tentativa de explicar a complexidade do intercâmbio mediúnico,
em suas nuances mais dificultosas, talvez para conseguir apenas salientar
que a mensagem espiritual quando chega ao mundo material sofre desde
a sua emissão até a recepção, uma gama
de interferências que se impõem de modo lamentável
à pureza do teor codificado.
André Luiz, espírito, ao escrever sobre a linguagem
dos espíritos(2) esclareceu que
a linguagem utilizada por um espírito é, acima de tudo,
a imagem que exterioriza de si próprio. Muitas vezes os espíritos
operam sobre o médium à base de imagens positivas que
o envolvem no transe, compelindo-o a lhes expelir os conceitos:
“Nessas circunstâncias,
diz ele, expressa-se a mensagem pelo sistema de reflexão,
em que o médium, embora guardando o córtex encefálico
anestesiado por ação magnética do comunicante,
lhe recebe os ideogramas e os transmite com as palavras que lhe
são próprias. “Reconhece, também, que
apesar da imagem estar na base de todo o intercâmbio, a linguagem
articulada” ainda possui fundamental importância nas
regiões a que o homem comum será transferido imediatamente
após desligar-se do corpo físico”.
Em seu mecanismo, o sistema mediúnico
de comunicação mostra: um comunicador (espírito,
mente emissora) que através de um código mental todo
peculiar, codifica uma mensagem (imagens, palavras, idéias,
etc.) que gostaria de transmitir a um público (os homens),
mas, para isso, necessita de um canal especialíssimo, o veículo
mediúnico (o médium).
Um espírito (codificador) consciente de sua função
e que compreende a importância do trabalho que executa, só
transmite mensagens adequadas, úteis e oportunas ao meio onde
atua. Estuda as características do canal (médium) a
ser utilizado e analisa os interesses, necessidades predominantes
e o nível intelectual do público (grupo de pessoas que
pretende atingir com sua mensagem). A mensagem deve estar preparada
de acordo com as características do médium, e em função
das possibilidades de compreensão e aceitação
do público. Em se tratando de comunicação, Emery
& Cols(3) têm considerado que
as limitações do público e do canal são
talvez os dados mais importantes a serem levados em conta na elaboração
de uma mensagem. Por outro lado, um espírito, não tão
responsável, usará, quando lhe for possível,
qualquer canal que lhe esteja ao alcance para manifestar-se, criando
várias barreiras (ruídos), tornando a sua mensagem inadequada,
inoportuna e indesejável.
Ruído mediúnico – pode ser definido como tudo
aquilo que perturba um processo de comunicação mediúnica,
dificultando a compreensão da mensagem. O próprio meio
de comunicação, ou seja, o médium, pode ser a
causa desse ruído, por se apresentar inadequado, despreparado,
indisciplinado, doente, de má vontade, sem lastro cultural
ou moral, embora o comunicador tenha todos os quesitos para produzir
e emitir uma boa mensagem. Neste caso os canais possíveis como,
por exemplo, as modalidades mediúnicas como telepáticas,
psicosensoriais ou ectoplásmicas, poderiam estar em algum ponto
deficientes, impedindo que a mensagem chegue ao público na
íntegra.
Outros ruídos não menos importantes estão no
grau de interferência da mente do médium e na vontade
firme do público sobre a comunicação através
de exigências mentais egoísticas.
Outro problema a ser enfrentado pelo espírito comunicador é
o ruído mediúnico semântico, que consiste na má
interpretação da mensagem, embora ela tenha chegado
ao destinatário exatamente como foi transmitida. Existem vários
fatores no público que podem concorrer para isso:
A) fatores de ordem cultural –
níveis de escolaridade, educação e moral;
B) psicológicos – resistência a mudanças
e a influências estranhas ao seu ambiente;
C) sociais – tabus e preconceitos;
D) fisiológicos – fome, sede, calor, frio, doenças;
e biológicos – capacidade de percepção,
sexo, idade. Esse ruído pode acontecer bem visivelmente quando
as palavras têm um significado para o comunicador e outro
para o receptor, lembrando que o aspecto cultural é muito
importante tanto para um como para o outro.
Os espíritos superiores, conhecedores
profundos da psicologia humana e das condições de receptividade
que irão encontrar, utilizam, para cada público, o vocabulário
compatível com os respectivos repertórios (conjuntos
de elementos que possuem significado para os usuários de um
sistema de comunicação), isto é, eles ajustam
o vocabulário da mensagem ao repertório do destinatário.
Em se tratando de espíritos malfazejos e enganadores, classificados
entre os obsessores coletivos ou individuais, não se preocupam
com os termos a serem empregados, inspirando geralmente palavreados
de aparência lógica, mas de conotação dúbia
e sempre contraditórias, que conseguem enganar a um público,
neste caso, mais crédulo do que lógico.
Ainda sobre esse aspecto, urge lembrar que cada pessoa possui um estoque
de experiência, que consiste, de um lado em suas crenças
e valores individuais e, de outro lado, em crenças e valores
do grupo a que pertence (família, trabalho, atividades sociais).
A mensagem que desafia essas crenças e valores poderá
ser rejeitada, deturpada ou mal interpretada, o que constitui um outro
problema a ser enfrentado pelo comunicador referente à recepção
da mensagem. Há que se anotar aqui o fenômeno de dissonância.
Ocorre quando o receptor age de modo relativamente incompatível
com o que sabe ou crê; ou age depois de considerar duas ou mais
alternativas igualmente sugestivas.
Entretanto, o certo é que a mensagem mediúnica, alcança
um público grande ou pequeno, culto ou não, dependendo
do interesse do médium e de seus acessores na sua divulgação.
A partir desse interesse, a mensagem será transmitida pelos
diversos meios como o rádio, jornal, revista, livros, impressos
ou televisão. Existem mensagens espirituais para todo o tipo
de público, pois, os espíritos comunicadores, são
os mesmos que como homens habitaram a terra no passado e portanto
têm, cada um deles, o seu campo de interesse porque continuam
sendo repórteres, religiosos, médicos, redatores, escritores,
desenhistas, atores, músicos, poetas, professores, segundo
a própria personalidade.
Parodiando, ainda, os estudos já existentes sobre a comunicação,
é fácil extrapolar e verificar pela lógica o
modo pelo qual a humanidade tem sido orientada através dos
tempos pela Inteligência Divina:
Jesus e Deus mantêm-se em perfeita sintonia em se tratando de
comunicação. Os dois têm uma só idéia,
Eles se compreendem, são dois em um: “Eu e o Pai somos
um” (Jo, 10 : 22 a 42) teria dito
Jesus, e os seus ensinamentos representam a Verdade. Jesus centraliza
a Verdade, representa o próprio Deus diante dos homens: “Eu
sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo,
14 : 6). É considerado pelos espíritas como a
Fonte de orientação espiritual, cujas mensagens têm
sido enviadas pelos espíritos (uma vez por Ele Mesmo) que são
neste caso os comunicadores que sempre utilizaram o Sistema (*) da
Mediunidade, através das diferentes possibilidades mediúnicas
(canais), logicamente sob a editoria dos médiuns. Os homens,
que constituem o público, recebem essas informações
de modo diverso, segundo a capacidade receptiva e interpretativa de
cada um.
O comunicador e o indivíduo
R do público têm o mesmo repertório; o indivíduo
R1 é apenas parcialmente receptivo; o indivíduo R2
não está apto para compreender a mensagem, e o indivíduo
R3 é dissonante, compreende a mensagem e age de modo incompatível.
Sabe-se que a verdadeira comunicação
se realiza em dois sentidos, é o fenômeno de feedback,
como se diz em linguagem técnica. Seu nome é mais popularmente
conhecido como resposta ou reação. Através do
processo de feedback que o comunicador pode verificar se foi ouvido
ou se foi entendido como desejava. E o que tem feito o Mestre, senão
repetir e repetir os seus ensinamentos através dos tempos?
Se o faz é porque percebe a resposta da humanidade, sob todos
os ângulos psicológicos. Acompanha atento a evolução
do pensamento humano, as lições trazidas por três
Revelações aí estão para atestar esse
fato. Como um comunicador experiente, Jesus está sempre atento
ao processo de volta e modifica o nível de sua mensagem sempre
que necessário, de acordo com o que observa ou ouve do indivíduo,
grupo ou comunidade – “Chamais-me Mestre, dizeis bem,
porque Eu o sou...” (Jo, 13 : 13).
Esquema de comunicação
de massa para uma dada mensagem num instante t do tempo: Jesus (a
fonte) tem a sua mensagem transmitida pelos espíritos (comunicadores),
num canal controlado pelo médium (editor); alguns elementos
do público (H) recebem a mensagem diretamente, outros indiretamente,
porém alguns não estão atentos; os efeitos
de realimentação podem ocorrer durante o processo
de comunicação.
Houve, desde o seu início,
seqüência evolutiva no sistema de intercâmbio espirítico.
Inicialmente, para se conseguir comunicações sistemáticas
dos espíritos, ditava-se as letras do alfabeto em voz alta
e os espíritos indicavam por raps, as que deveriam ser anotadas,
formando-se assim palavras, frases e textos inteiros (1848-1850).
Este processo era muito rudimentar e moroso, tanto que, por volta
de 1850, os espíritos, eles próprios, indicaram um novo
método, o das mesas girantes. Os participantes perfilavam-se
ao redor de uma mesa em cima da qual eram colocadas as mãos.
Os espíritos, levantando um dos pés da mesa, davam com
ele uma pancada quando a letra desejada fosse proferida. Evidentemente
o processo continuou muito lento, embora fossem obtidos resultados
excelentes. Já em 1853, os espíritos começaram
a usar um processo de escrita, introduzido por eles mesmos –
um lápis amarrado a uma cesta na qual o médium encostava
o seu dedo. A cesta movia-se fazendo o lápis escrever em círculo
sobre uma folha de papel. Pouco a pouco, esse método foi sendo
aceito pelos observadores e logo outras alternativas foram sendo utilizadas,
empregando-se mesinhas e pranchetas. Esse processo era mais fácil
e muito mais rápido. Outro método era o da agulha, que
girava num quadrante com letras. Processos mediúnicos como
a vidência e clarividência continuavam em pleno desenvolvimento,
inclusive a psicografia. Os médiuns, sob a ação
dos espíritos apontavam as letras dispostas à frente
em círculo. Daí para a psicografia propriamente foi
um pulo, sem nenhum obstáculo. A escrita direta, mais esporadicamente,
era obtida e bem mais tarde os espíritos materializados deixavam
seus recados diretamente.
Hoje, a psicografia, principalmente no Brasil, é o método
de preferência dos espíritos superiores. É um
meio rápido, eficaz e preciso, com a vantagem de deixar grafada
a mensagem, para que possa ser lida e analisada posteriormente. Estão
aí as obras psicografadas por Francisco C. Xavier, Zilda Gama,
Ivonne A. Pereira, Fernando Lacerda, Divaldo P. Franco, formando um
acervo de conteúdo doutrinário como nunca se viu no
mundo.
Esta evolução no processo de comunicação
mediúnica, foi surgindo à medida que os próprios
espíritos conseguiram um campo de sintonia mais favorável
com os homens, que, pouco a pouco, se adequavam com as idéias
e métodos sugeridos. As variedades das potencialidades mediúnicas
sempre existiram nas civilizações de todos os tempos,
o que facilmente pode ser observado na história.
(1) André
Luiz. Evolução em Dois Mundos. 1ª edição
– FEB - Cap. XVII - pp. 130-131.
(2) Idem – pp. 171-172.
(3) Emery, E.; Ault, P. H. & Agee, W. K. Introdução
à Comunicação de Massa. São Paulo –
Atlas – 1973.
(*) Conjunto complexo, grupo de coisas ou partes conexas, corpo organizado
de coisas materiais ou imateriais.
L. Palhano Jr.
(15.12.1946 - 14.11.2000)
Lamartine Palhano Júnior foi um dos mais brilhantes pesquisadores
do espiritismo no Brasil. Natural de Coronel Fabriciano, MG, ainda
criança mudou-se para a cidade de Vitória, ES. Adotou
o espiritismo, na juventude, a partir de uma decisão consciente,
nascida da reflexão e da convicção pessoal. Graduou-se
em farmácia, realizou seu mestrado na área de bacteriologia
e doutorou-se em ciências, pela Universidade Federal do Rio
de Janeiro, desenvolvendo intensa atividade acadêmica.
Como cientista, realizou pesquisas em diferentes áreas, onde
podemos destacar os seus estudos sobre a tuberculose, para cujo diagnóstico
desenvolveu diversas técnicas. Fruto dessas pesquisas, publicou
inúmeros artigos em revistas científicas internacionais
e apresentou-se em alguns congressos internacionais. Lecionou microbiologia
na Universidade do Estado do Espírito Santo e patologia na
Universidade Federal do Espírito Santo.
Do movimento espírita Palhano foi ativo participante,
sendo inúmeras as instituições em que atuou,
não apenas em Vitória, mas também em Niterói,
cidade em que residiu durante seus cursos de mestrado e doutorado.
Palhano deu inestimável contribuição em diversas
áreas: pesquisa científica de cunho espírita:
publicação de livros, apresentação em
palestras, cursos e treinamentos que realizava com grande freqüência.
Como pesquisador, fundou e dirigiu a FESPE (Fundação
Espírito-Santense de Pesquisa Espírita) e o CIPES (Círculo
de Pesquisa Espírita de Vitória), instituições
que se tornaram marco da pesquisa espírita no Brasil. É
conhecida e aplicada por diversos grupos mediúnicos a técnica
por ele desenvolvida que denominou "varredura psíquica".
É notável a versatilidade da
sua produção editorial espírita. Escreveu inúmeros
livros infantis, outros na área da teologia espírita,
diversas biografias de vultos espíritas (Palhano dava extrema
importância à preservação da memória
espírita, tendo, inclusive apoiado e incentivado o trabalho
de diversos pesquisadores nessa área) e mesmo a literatura
foi brindada com um excelente romance sobre José de Anchieta,
que nos surpreendeu por suas excelentes qualidades literárias.
Publicou alguns ensaios de cunho doutrinário e obras que se
destinavam à divulgação do espiritismo junto
ao público em geral. Sua grande contribuição
foi na área da pesquisa mediúnica, cujas obras são
fruto das pesquisas realizadas inicialmente na Federação
Espírita do Espírito Santo, onde foi Diretor de Doutrina,
posteriormente na Casa Espírita Cristã, em Vila Velha,
e finalmente na FESPE e no CIPES.
Obras de Lamartine Palhano Jr.
(As obras em destaque podem ser parcialmente lidas
na homepage da lachatre
(http://www.lachatre.com.br/autores.php?autid=64):
• A verdade de Nostradamus
• Aos efésios
• Aos gálatas, a carta da redenção
• As chaves do reino
• Dossiê Peixotinho
• Evocando os espíritos
• João Batista, o profeta do Cristo
• Laudos espíritas da loucura
• O livro da prece
• O significado oculto dos sonhos
• Reuniões mediúnicas
• Transe e mediunidade