Geraldo José de Paiva - Instituto de Psicologia
- USP
Versão de Comunicação apresentada
na 2nd International Conference on Social Representations, Rio de Janeiro,
RJ, 1994, com auxílio da FAPESP.
Terão os docentes-pesquisadores universitários
uma representação social (RS) da religião e das
relações entre religião e ciência? Foram
entrevistados cientistas avançados das áreas de ciências
exatas, biológicas e humanas, da Universidade de São Paulo,
Brasil, acerca das relações que estabelecem, ou não,
entre ciência e religião. Os resultados mostraram inexistência
de conflito consciente entre ciência e religião; pouca
ou nenhuma intersecção entre ambas; rejeição
tanto do caráter dogmático do cristianismo como das pretensões
ilimitadas da ciência; respeito pelas religiões históricas
e abertura para novas formas de religiosidade. Os resultados são
discutidos com o conceito de RS, de Moscovici.
1. O conceito de Representação Social
Representação Social (RS)
é um conceito heurístico, reflexo do conceito durkheimiano
de representação coletiva, que se revelou frutuoso para
identificar, descrever e articular aqueles "sistemas de valores,
idéias e práticas" que permitem as pessoas "orientar-se
em seu mundo material e social, controlá-lo e comunicar-se umas
com as outras através de um código de denominação
e de classificação dos vários aspectos desse mundo
e de sua história individual e grupal" (Moscovici,
1983, p. 593). O conceito é correntemente utilizado em
grupos menores, taxionômicos ou estruturados, conforme foram chamados
(Harré, 1984 citado por Spink, 1993),
grupos que refletem a atual fragmentação da sociedade.
O conceito não pretende a exclusividade, uma vez que o evento
psicossocial pode ser descrito em diversos níveis (Doise,
1982) e mesmo a ênfase que se dê a processos intrassubjetivos
ou intersubjetivos não desconhece a matriz social que fornece
o conteúdo e, por vezes, a forma desses processos (Heider,
1958; Paiva, 1993). De resto, a relação entre RS
e conceitos como esquema, categorização, atribuição,
atitude e outros, é amplamente discutida na atualidade, no sentido
tanto da convergência como da divergência entre eles. Deve-se
reter, dessa discussão, principalmente a qualificação
integralizadora de "teoria" do senso comum, dada à
RS, em contraste com aqueles outros conceitos (Spink,
1993).
A peculiaridade do conceito reside em focalizar explicitamente a intersecção
das referências fornecidas pelo grupo acerca de um objeto social
com a apropriação ativa dessas referências pela
pessoa. A prioridade que cabe a um ou outro nível de agentes
é aqui, como em outros lugares, uma questão ociosa, pois
jamais se encontrará o indivíduo fora do grupo nem o grupo
fora dos indivíduos. A qualidade interativa do conhecimento destaca
o caráter construtivo do mesmo, desconhecido pelo positivismo,
para o qual a verdade se encontra na realidade.
É, pois, a RS um conceito psicossocial em sentido pleno. Embora
inicialmente tenha sido destacada sua dimensão cognitiva, hoje
também se acentua sua dimensão afetiva, carregada pelas
referências simbólicas do grupo, dimensão, aliás,
fielmente durkheimiana, pois que o afeto intenso esteve na origem da
primeira representação coletiva, a religião ou
a própria sociedade (Durkheim, 1985).
Distinguindo entre universos reificados e universos consensuais, para
distinguir os grupos que produzem conhecimento segundo a lógica
formal dos grupos que produzem conhecimento segundo uma conaturalidade
baseada na verossimilhança, é possível contrastar
o grupo científico de outros agrupamentos humanos: apesar de
haver complementaridade entre esses grupos, pela qual os conhecimentos
gerados pela ciência passam a fazer parte do novo senso comum
e esse orienta os objetos, quando não os objetivos, da ciência,
a distinção acentua a diferença entre eles, resumida
algo dramaticamente nas conhecidas fórmulas que caracterizam
a RS, "a conclusão comanda as premissas" e "o
veredito é dado antes do julgamento."
Essa diferença conduz a vários desdobramentos, evidentemente
nem sempre cronológicos, como a distinção entre
conteúdo e processo, muito mais significativa na produção
das RS do que na produção do conhecimento científico,
ou a distinção, dentro do processo, entre objetivação
e ancoragem, que descobre, na produção das RS, a mediação
do imaginário, a materialização do conceito e a
familiarização da novidade. Essa mediação,
materialização e familiarização parecem
ocorrer muito intensamente na produção das RS, embora
as discussões atuais sobre a natureza da ciência questionem
a lógica desprovida de intuição, de imaginação,
de sentimento e do senso de familiaridade (Potter
& Mulkay, 1985; Santos, 1989; Spink, 1993).
É importante chamar-se a atenção para o lugar da
lógica formal e da conversação na produção,
respectivamente, do conhecimento científico e da RS. Como esse
é um ponto relevante na discussão que se fará em
seguida, cabe citar Moscovici, que se refere à "arte da
conversação," que "cria gradualmente núcleos
de estabilidade e maneiras habituais de fazer coisas, uma comunidade
de significados entre aqueles que dela participam" (Moscovici,
1981, p. 187), e que afirma: "a conversação
está no epicentro do nosso universo consensual porque ela molda
e anima as representações sociais e assim lhes dá
vida própria;" e ainda, "as representações
são resultado de um contínuo burburinho e um diálogo
permanente entre indivíduos, um diálogo que é tanto
interno quanto externo, e durante o qual as representações
individuais ecoam ou são complementadas"
(Moscovici, 1984 citado por Spink, 1993, p. 99).
2. Representação Social e Religião
Dada a distinção entre universo reificado
e universo consensual, e dada a ênfase nos processos de objetivação
e ancoragem na produção das RS, é interessante
estudar a RS no grupo dos acadêmicos. Este, de fato, não
é apenas um agrupamento de cérebros mas um agrupamento
de pessoas, num certo tempo e lugar, envolvidas na tarefa científica
e em relações interpessoais, institucionais e amplamente
sociais, tarefa e relações essas que certamente se complementam.
De um lado, pode-se pensar que o empreendimento científico, basicamente
lógico, que caracteriza esse grupo, excluiria a formação
de representações sociais, cuja gênese ocorre em
sentido inverso à da ciência. De outro lado, existem diversos
objetos sociais que interessam ao grupo acadêmico, como a arte,
a política, o esporte, o papel da universidade na sociedade,
e existem também objetos sociais que parecem alheios aos interesses
acadêmicos, como o comércio e a religião.
3. A pesquisa
Discutem-se, a seguir, à luz do conceito de RS,
alguns resultados de pesquisa realizada com docentes-pesquisadores da
Universidade de São Paulo, Brasil, acerca das relações
que estabelecem entre ciência e religião (Paiva,
1993).
Metodologia
Sujeitos: 26 professores da Universidade de
São Paulo, 15 do sexo masculino e 11 do sexo feminino, com o
titulo mínimo de doutor, em regime de dedicação
integral à docência e à pesquisa. Desses, dez eram
da área de ciências exatas (Física), oito da área
de ciências biológicas (Zoologia) e oito da área
de ciências humanas (História). Os sujeitos compuseram
uma amostra de conveniência, constituída pelos professores
que, contactados em seu local de trabalho, concordaram em participar
do estudo. O background religioso dos Sujeitos, com exceção
de um caso de educação atéia, era cristão,
algumas vezes com influxo do espiritismo e/ou da umbanda.
Instrumento: o instrumento consistiu de uma
entrevista semi-estruturada centrada nas relações que
os Sujeitos estabelecem ou deixam de estabelecer entre ciência
e religião, na ordem do conhecimento e no arranjo da vida. O
instrumento foi composto a partir da literatura, de pesquisas análogas
em outros países e de entrevistas-piloto. Ao redor do núcleo,
solicitaram-se informações relativas à família,
à educação científica e religiosa, a modalidades
de conflito pessoal ou institucional, ao clima universitário
em relação a Religião, à educação
dos filhos, a interesses religiosos de qualquer natureza. Dada a fundamentação
teórica que presidiu a pesquisa - o conceito de conflito de Lewin
e o conflito edipiano de Freud - a entrevista estava aberta para acolher
conteúdos tanto do consciente como do inconsciente dos entrevistados.
Procedimento: os Sujeitos foram entrevistados
em seu local de trabalho. Com seu consentimento, as entrevistas foram
gravadas em fita cassete. A transcrição das fitas foi
submetida aos entrevistados, que operaram as modificações
que julgaram convenientes. As entrevistas tiveram a duração
média de 61 minutos, dentro de uma amplitude de 35 minutos a
2 horas.
4. Resultados
Os resultados foram extraídos do teor das entrevistas
mediante a análise de cada uma delas, o que forneceu a configuração
dos modos como cada sujeito estabelece, ou não, relações
entre ciência e religião. Os conteúdos de ordem
cognitiva foram examinados e comparados uns com os outros, aceitando-se
as declarações de cada sujeito em seu valor de face. Quanto
aos conteúdos da ordem do inconsciente, procurou-se "ouvir
com o terceiro ouvido" (Reik, 1948),
levando-se em conta, além dos elementos plenamente verbais, os
elementos pré ou paraverbais, tais como pausas, vacilações,
retardamentos e acelerações, risos, acentuações
tônicas, repetições, composições híbridas
de palavras, e semelhantes, e especialmente irrupções
súbitas e deslocadas de temas. A seguir, cada entrevista foi
comparada com as demais entrevistas da área e, finalmente, as
entrevistas de cada área foram comparadas com as das duas outras.
Diversos resultados não foram homogêneos
nas três áreas de conhecimento. Os acadêmicos das
áreas de ciências biológicas e de ciências
exatas, nesta ordem, mais que os historiadores, mostraram-se receptivos
às religiões históricas, confirmando, entre nós,
o gradiente de distância acadêmica da religião sugerido
por Beit-Hallahmi (1979) e por Lehman e Shriver (1968). Também
na tendência à secularização houve notável
contraste entre a área de ciências humanas e a de biociências.
Interessam, no entanto, aqui os elementos mais compartilhados pelos
entrevistados e diretamente passíveis de análise sob o
enfoque das representações sociais.
Os depoimentos reconheceram nitidamente à ciência e à
religião âmbitos de competência legitimamente distintos.
Todos os entrevistados mostraram-se cônscios da feição
distintiva de sua atividade profissional, do caminho teórico
e metodológico que percorreram até chegar à maestria
atual, da interação freqüente com os colegas de área
no tocante ao trabalho acadêmico. Estão, é certo,
informados do convencional das fronteiras científicas; podem
ser céticos quanto ao alcance social e, mesmo, epistemológico
da ciência; esperam, às vezes, em algum lugar no futuro,
completo acordo entre ciência e outras fontes de conhecimento,
como a religião; podem afirmar a união entre uma e outra
na pessoa do pesquisador, porém não pensam a ciência
contida na Bíblia, ou implícita na Torá ou no Alcorão,
e nem propõem, ao contrário, a religião como um
destilado da ciência.
A religião, segundo os entrevistados, diferentemente da ciência,
é opção de foro íntimo e, por isso, respeitável;
não possui a linguagem comum, racional, da ciência mas
responde aos reclamos afetivos e aos desejos da pessoa; é necessária
para estabelecer, com suficiente amplitude, as delimitações
éticas; habita o emocional e faz parte global da vida, inclusive
social. Entenda-se, porém, a religião as mais das vezes
não como o cristianismo ou o catolicismo da infância e
do meio familiar, do qual quase todos se afastaram, por ter sido vivido
sob o signo da culpa, do pecado, do autoritarismo e da repressão,
mas como rearranjo seletivo e personalizado de elementos religiosos
tradicionais, ou composição de elementos tradicionais
e adventícios, ou como abertura para as energias cósmicas
e/ou psíquicas e para uma forma nova de transcendência.
As relações entre ciência e religião serão,
pois, sempre segundo os entrevistados, as que existem entre esferas
separadas ou com pouca intersecção. Subjetivamente,
isto é, no arranjo da vida, a mera existência de cientistas
religiosos sugere a possibilidade de convivência entre religião
e ciência, pois o hábito, a pressão social, os estados
psicológicos são outras tantas variáveis, além
da ciência, que influem concretamente na vida do cientista. Objetiva
ou epistemologicamente, persistem incompatibilidades de conceitos,
métodos, linguagens e atitudes entre ciência e religião,
embora talvez mais aparentes do que reais, uma vez que o objeto científico
é, por definição, o relativo, o "como,"
e o objeto do conhecimento religioso é o absoluto, o "por
que." Essa incompatibilidade é, talvez, menos gnoseológica
do que política, pois historicamente foi a instituição
religiosa, e não a religião, que criou dificuldade para
os cultores da ciência.
Resumindo: todos os acadêmicos pesquisados reconheceram limites
nítidos entre religião e ciência e julgaram ciência
e religião subjetivamente compatíveis, principalmente
por ser a religião algo do foro íntimo; a maioria deles
não reteve a religião da infância e da família,
pejada de forte carga negativa, e elaborou combinações
várias entre elementos religiosos tradicionais e recentes; quase
todos se apresentaram abertos para a dimensão transcendente,
por admitirem seja a incompletude cognitiva da ciência seja as
vicissitudes da vida individual e social.
5. Discussão
Teriam, então, os acadêmicos uma representação
social da religião e de suas relações com a ciência?
Para responder à questão, será
necessário destacar os elementos que compõem a descrição
de uma RS e, a seguir, discutir os resultados da pesquisa à luz
dos elementos descritivos.
Uma RS parece incluir, essencialmente, os seguintes
elementos delineados por Moscovici:
a. um grupo caracterizável, que compartilhe de
b. um conjunto de valores, idéias e práticas
relativas a um objeto social, o que enseja às pessoas
c. estabilidade no trato com seu mundo, e
d. facilidade na comunicação com as pessoas
de seu grupo.
Entende-se, obviamente, que a estabilidade no trato
com o mundo e a facilidade na comunicação com o grupo
apontam para a função de tornar o estranho familiar, e
que o conjunto de valores, idéias e práticas se obtém
por meio da conversação.
Examinando-se os elementos da descrição
de RS, parece possível dizer que:
a. existe um grupo caracterizável, a saber, o
grupo de professores universitários, integralmente dedicados
à docência e à pesquisa;
b. existe um conjunto de valores, idéias e práticas
relativas a um objeto social, a saber, a religião e suas relações
com a ciência: valores como a liberdade de opção
e a elaboração personalizada das referências religiosas;
idéias como o juízo negativo das formas religiosas tradicionais
e a admissão da transcendência; práticas como não
confundir as áreas de competência científica e religiosa
e reconhecer a capacidade científica independentemente da convicção
religiosa;
c. existe estabilidade, por parte dos acadêmicos,
no trato com seu mundo, pois que as questões religiosas são
deixadas para decisão pessoal e não se permite, por princípio,
que a opção religiosa interfira no objeto e no método
de pesquisa;
d. existe facilidade ou, melhor, não ocorre dificuldade
na comunicação com as pessoas do grupo, pois a religião
não interfere na posição científica, deixando
de produzir ruídos ou falhas na comunicação.
O exame dos elementos descritivos da RS permitiria afirmar
a existência de uma RS da religião, e de suas relações
com a ciência, entre os acadêmicos estudados. No entanto,
se se atentar para a função de familiarização
e para a gênese do conjunto de valores, idéias e práticas
do grupo acadêmico concernentes à religião, surgirão
dúvidas acerca de uma RS da religião no meio dos pesquisadores
e docentes universitários.
Considere-se primeiramente a gênese. Moscovici insistiu
no processo de geração das RS, a conversação,
o burburinho, o diálogo permanente. Ora, o que dizem desse processo
os depoimentos? "O ambiente universitário não é
de hostilidade ou de discriminação; porém, diferentemente
de esporte ou de política, religião não é
assunto de conversa;" "de modo geral, os colegas são
agnósticos ou indiferentes" (Física); "não
há interesse (pela religião), o que existe é silêncio
no tocante a um assunto de índole pessoal" (Zoologia); "no
meio acadêmico a questão da religião é uma
questão delicada; as pessoas se inclinam a esquivar-se de falar
do assunto, embora hoje os professores não mais se sintam envergonhados
de sua crença;" "a posição dos colegas
quanto à religião conhece-se superficialmente" (História).
Está-se longe daquele burburinho que agita um tema de interesse
grupal, um objeto propriamente social. O que se evidencia é a
irrelevância do assunto para o grupo acadêmico enquanto
acadêmico. As pessoas podem ter interesse pela religião
enquanto pertencem simultaneamente a outros grupos, de parentesco, amizade,
vizinhança, política, intervenção social,
e semelhantes. No entretanto, a estabilidade no trato com o próprio
mundo acadêmico e a facilidade na comunicação entre
as pessoas do grupo universitário não são ativadas
pelos valores, idéias e práticas relativas à religião,
porque a religião não é referência para esse
grupo. A contribuição desses valores e práticas
para a estabilidade e a comunicação do grupo é
meramente negativa enquanto, não entrando eles na conversação
e no imaginário do grupo, não se constituem como elementos
potencialmente desagregadores. Ainda assim, não deixa de ser
intrigante esse imaginário distante da religião. Respeito,
opção, caráter íntimo da decisão,
privatização, ceticismo ou rejeição do religioso
histórico-social, como é que vieram a associar-se com
a Academia?
Verificada a ausência do tema na conversação, pouco
resta da função reconhecida à RS de familiarizar
o estranho. O que no grupo universitário familiariza a estranheza
são os pressupostos epistemológicos, teóricos e
metodológicos da ciência, que prometem a submissão
do desconhecido: é sobre isso que versa a conversa acadêmica.
Coerentemente com essa análise, deve-se concluir que, embora
se verifiquem em apreciável medida os elementos descritivos da
RS no discurso que sobre a religião produziram os acadêmicos
estudados, não se pode reconhecer por detrás desse discurso
uma RS propriamente dita, por lhe faltarem não só a condição
essencial da conversação como também a função
de familiarizar o diferente.
Certamente não é essa uma situação inevitável
quando se considera a possibilidade de uma representação
social da religião no meio acadêmico. Brooke (1991) e Marsden
e Longfield (1992), por exemplo, demonstraram que por longo tempo ciência
e religião andaram juntas no ambiente universitário, tendo
a religião pugnado não raro pela autonomia da ciência.
Em países de tradição científica e teológica
mais consolidada, como a Europa e os Estados Unidos, cientistas e teólogos
têm estabelecido ocasiões de encontro, fóruns de
debate e até associações permanentes voltados para
a discussão das relações entre religião
e ciência. Sem falar das permanentes Gifford Lectures
da Universidade de Edimburgo, entre os frutos recentes dessa tradição
contam-se, por exemplo, as posições da Gnose de Princeton
(Ruyer, s.d.), de Fennema & Paul (1990), de Jones (1994),
de Ladrière (1987), de Sappington (1991), de Sperry (1988), de
Wasserman, Kirhy, e Rordorf (1992). Esses autores propõem análises
epistemológicas que permitem a convivência e a mútua
fecundação da ciência e da religião como
dois sistemas de conhecimento. Essa aproximação epistemológica,
de resto, como observa Sappington (1991, p. 119), "pode reduzir
a tensão [psicológica] entre os modos científico
e religioso de olhar o mundo."
No Brasil, contudo, não tem sido esse o caso. No âmbito
público inexistem instâncias permanentes de diálogo
entre ciência e religião. No caso da Universidade de São
Paulo, em particular, o modelo francês, que plasmou a Faculdade
de Filosofia, matriz das três áreas estudadas, legou-1he
o caráter laico histórico da atividade intelectual, que
não admite a religião, como tal, na esfera institucional
e pública, recolhendo-a ao âmbito privado e confessional.
Se essa descrição é correta, entende-se por que
não se encontrou uma representação social da religião
entre os docentes-pesquisadores estudados.
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Fonte:
Psicol. USP v.10 n.2 São Paulo 1999
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65641999000200015&lng=pt&nrm=iso
PAIVA, Geraldo José de. Representação
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Psicol. USP, São Paulo , v. 10, n. 2, p. 227-239, 1999.
Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65641999000200015&lng=pt&nrm=iso>.
acessos em 06 mar. 2016. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-65641999000200015.
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