RESUMO
Discute-se, a partir da etimologia da palavra,
mas do ponto de vista da Psicologia, o conceito de cura como cuidado
e como recuperação da doença, relacionando-o em
particular com o enfrentamento religioso, forma específica de
cuidado consigo e com outrem.
Distinguem-se várias possíveis relações
entre cura e religião, que determinam o sentido da pergunta de
Pargament acerca da singular eficácia do enfrentamento religioso
na cura da doença.
Defende-se que a Psicologia, como ciência empírica, não
é competente para se pronunciar quanto à eficácia
do religioso no enfrentamento, embora o possa fazer quanto à
eficácia do sagrado. Reconhecem-se, daí, competências
diversas ao psicólogo, ao teólogo e ao agente pastoral.
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(início do texto)
Um antigo provérbio latino dizia
medicus curat, Deus sanat, isto é, o médico cura,
Deus sara. Se o médico cura, ainda haverá lugar para Deus
sarar?
Uma reflexão psicológica acerca das relações
entre religião, enfrentamento e cura poderia começar pela
etimologia da palavra cura. Curar, em latim, significa literalmente
"cuidar". Muitos termos do português conservaram esse
sentido literal: curador, curatela, curioso. Outros termos há,
como procurar, descurar, segurar (de securus, sem cuidado), que literalmente
significam cuidar de alguma coisa ou estar dela descuidado.
Sem dúvida, no caso da saúde e da doença o verbo
curar/cuidar é muito apropriado. Cuidar da saúde, por
exemplo, sugere atenção com a saúde antes da instalação
da doença. Cuidar da doença, ou do doente, significa ter
cuidado para a saúde não se deteriorar ou o doente não
piorar.
(..)
Há um estudo notável do sociólogo
da religião Rodney Stark, "O crescimento do cristianismo"
(The rise of Christianity) (Stark, 1997),
com o subtítulo "como o obscuro e marginal movimento de
Jesus tornou-se, dentro de poucos séculos, a força religiosa
dominante no mundo ocidental". Segundo Stark, uma poderosa razão
da mortalidade dos pagãos, da sobrevivência dos cristãos
e da conversão dos pagãos ao cristianismo foi a maneira
de os cristãos e os pagãos, respectivamente, cuidarem
ou deixarem de cuidar de seus doentes por ocasião das grandes
epidemias que assolaram o império romano nos primeiros séculos
da era cristã. A caridade, ou seja, o amor ao próximo
induziu os cristãos, diferentemente dos pagãos, a providenciar
para os irmãos de fé cuidados elementares, como "simples
provisão de comida e água que permitem aos temporariamente
enfraquecidos lutar por si mesmos pela recuperação em
vez de perecer miseravelmente" (McNeill,
1976, citado em Stark, 1997, p.88). Esse cuidado, segundo Stark,
não só preservou proporcionalmente muito mais vidas de
cristãos do que de pagãos como encaminhou conversões
de pagãos ao cristianismo.
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Fonte:
Estud. psicol. (Campinas) v.24 n.1 Campinas jan./mar. 2007
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-166X2007000100011&lng=pt&nrm=iso
PAIVA, Geraldo José de. Religião, enfrentamento e cura:
perspectivas psicológicas. Estud. psicol. (Campinas), Campinas
, v. 24, n. 1, p. 99-104, mar. 2007 .
Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-166X2007000100011&lng=pt&nrm=iso>.
acessos em 06 mar. 2016. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-166X2007000100011.
Leiam de Geraldo José de Paiva
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Estado e a educação religiosa: observações
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