A região entrecortada pelos
rios Pilões, Nhunguara, Sapatu e Pedro Cubas era a mais rica
zona de mineração de Eldorado (São Paulo), e
o local para onde foram levados os primeiros escravizados que aportaram
na região. Com a decadência da mineração,
no final do século XVIII, muitos escravizados foram abandonados
ou alforriados, transformando-se em camponeses, autônomos do
ponto de vista econômico e religioso. O poder religioso era
independente do clero oficial e concentrava-se nas mãos de
leigos. Dessa forma, desenvolveu-se um catolicismo popular marcadamente
diferente do catolicismo romano e repleto de influências africanas,
e a Recomendação das Almas era uma de suas práticas.
Porém, a partir dos anos 50 do século XX, o modo de
vida tradicional dos negros da região, caracterizado pela autonomia,
começou a sofrer fortes abalos devido às mudanças
provocadas pelo corte ilegal do palmito, pela construção
da estrada, pela implantação de unidades de conservação
e pela ameaça da construção de barragens ao longo
do Rio Ribeira de Iguape. Paralelamente, as práticas típicas
do catolicismo popular entraram em declínio, e a Recomendação
das Almas continuou a ser realizada apenas na região de Pedro
Cubas. No entanto, as comunidades negras da região mobilizaram-se
conjuntamente contra as adversidades e se auto-identificaram como
membros de comunidades remanescentes de quilombo, e originaram as
seguintes comunidades remanescentes de quilombo na região:
Pedro Cubas, Pedro Cubas de Cima, Sapatu, Nhunguara, São Pedro,
Galvão, Ivaporunduva, André Lopes, Pilões e Maria
Rosa. Dessa forma, lutam contra as barragens, pelo direito de cultivar
a terra e pela titulação de seu território.