Saara Nousiainen

>   Em Nome de Jesus
 
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Saara Nousiainen
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Numa reunião espírita, um dos presentes queixou-se pelo fato de alguns expositores não linkarem sempre as suas palestras ao Evangelho, com citações de ensinamento de Jesus, como base para sua oratória. Disse também que sendo Jesus o governador do nosso planeta é a Ele que temos de nos reportar sempre.

Intimamente senti-me contra essa idéia e comecei a refletir sobre ela, com a seguinte pergunta:

Será que tal diretriz não estaria perpetuando uma situação de idolatria criada e mantida pela Igreja católica e herdada e também mantida pelas evangélicas?

Como funciona essa idolatria, na prática? Ela estabelece uma relação de dependência entre o fiel e o seu ídolo, e essa dependência é prisão evolutiva, porque o fiel quer sempre ser levado pela mão. Como o filhote de passarinho, está sempre com a boca aberta para receber alimento, e esse alimento tem muitas feições além da própria fé, tais como questões de saúde, a solução para problemas, o desejo de bens materiais ou mesmo afetivos, até o gol tão esperado do time favorito.

Espiritismo, a meu ver, é luz que nos ilumina o caminho, mas o esforço da caminhada tem que ser nosso. Não devemos ver Jesus ou os espíritos superiores como nossas babás, mas como sábios mestres a nos orientarem os passos e a nos estenderem a mão quando isto se fizer realmente necessário.

Observa-se também que inúmeros centros espíritas ritualizaram a abertura e encerramento dos trabalhos “em nome de Jesus”. Certamente não há mal nisso, mas por que não em nome de Deus, do criador, do Pai de todos nós? Por que não em nome do amor, do bem, da luz? Assim se fugiria ao ritual e à idolatria. Ou será que Jesus vai se fazer presente pelo fato de ser anunciado como sendo o patrono do evento? Certamente Ele se faz presente onde há amor, humildade, harmonia, e onde se trabalha pelo bem, mesmo sem chamado.

Na codificação do Espiritismo os espíritos nunca disseram ser Jesus o governador do nosso planeta, mas sim que é Ele o maior modelo de perfeição que podemos ter na Terra. Modelo, sim, porque nos inspira a tentar imitá-lo, a seguir seus passos, ou seja, as suas orientações, seus ensinamentos.

Diz a Bíblia ter Ele afirmado: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai, senão por mim”. Mas a oração que ensinou a seus seguidores diz: “Pai nosso que estás no céu”, ou seja, ensinou a nos dirigirmos diretamente a Deus. Ele sempre falou no Pai, não nele próprio.

É verdade que o ser humano sente profunda necessidade de ser levado pela mão nas questões evolutivas. Talvez isto reflita a nossa pouca idade espiritual, mas só crescemos quando nos esforçamos para caminhar com nossos próprios pés, sem precisar que seres superiores nos carreguem no colo.

Mas estas reflexões, embora possam parecer, não significam uma tentativa de diminuir a importância do Evangelho ou da figura de Jesus. Longe disso!

A intenção é apenas a de pôr as coisas nos seus devidos lugares, visando os melhores caminhos para nosso crescimento.

Como devemos então nos relacionar com o Evangelho e com Jesus?

Com o mesmo respeito e amor de sempre, ou ainda mais, mas vendo na sua figura o Mestre, não o ídolo, e nos seus ensinamentos o caminho, não a muleta. O Mestre ensina e envia seus discípulos para o mundo, a fim de vivenciarem o que ensinou. Não segue junto com eles, indicando e orientando sobre tudo.

Jesus exortou a nos reportarmos ao Pai nas nossas preces, afirmando que o Pai é maior do que o Filho.

Essa mentalidade difundida nos meios espíritas de buscarmos comunhão com Jesus, em vez de buscá-la com Deus, nosso pai e de Jesus também, deve-se certamente è influencia de espíritos como Emmanuel, procedentes da Igreja católica, ou ainda, isto pode ter sido apresentado assim como um degrau entre os modelos das igrejas e os ensinos mais elevados do Espiritismo.

Essas tendências que os espíritos guardam de suas vidas passadas estão presentes até mesmo na codificação do Espiritismo, na qual, em alguns enfoques, transparecem conceitos que, se podiam ser adequados àquela época, estão carecendo de revisão.

Podemos observar isto em algumas passagens, como no capítulo em que falam sobre as penas e recompensas. A linguagem é bastante semelhante à da Igreja. No capítulo Bem-aventurados os aflitos, Lacordaire diz: “O homem não recebe nenhuma recompensa para esse tipo de coragem, mas Deus lhe reserva seus louros e um lugar glorioso”. Essa idéia de recompensas, louros e um lugar glorioso é adequada a espíritos que ainda não alcançaram certo grau de entendimento e que necessitam desse tipo de muletas para caminhar melhor. Mas hoje, em pleno trânsito para uma nova época, essa velha mentalidade deve começar a ceder lugar à do trabalho pela auto-superação, a auto-ajuda (levanta-se e anda), o crescimento da criatura como ser cósmico. Tal crescimento por si só, deve ser o seu maior fator de felicidade atual e futura. Também se observa aí um toque de vaidade na expectativa de glórias, incompatível com os ensinamentos de Jesus e as idéias transmitidas pelo Espiritismo. E mais adiante Santo Agostinho diz: “O Senhor marcou com seu selo todos os que acreditam nEle”, ou seja, passa a idéia da salvação pela fé.

Como vemos, aqueles espíritos, embora de elevada estirpe, mantiveram, até certo ponto, um linguajar e idéias compatíveis com suas últimas reencarnações ou, quem sabe, preferiram usar aquela linguagem como um degrau para entendimentos mais elevados.

Por isso e também porque o bom senso indica, é importante estarmos sempre abertos a reflexões, a reciclagens e revisões dos nossos conceitos e práticas.

O fato de nos ligarmos sempre a Jesus, nos momentos de comunhão espiritual com o mais alto, pode nos levar, mesmo de forma imperceptível, a nos atrelarmos a Ele, procurando nEle muletas ou mesmo uma “carona” para Nosso Lar, quando não, a mão de uma babá a nos conduzir vida afora. Tal atitude reflete estagnação evolutiva.

Levanta-te e anda”, “Ama teu próximo”, “Sê perfeito”, “Não julgues”, “Perdoa”, são orientações de um MESTRE.

Nazareno Tourinho, um dos maiores conhecedores de doutrina espírita, no livro Como o Espírita deve pensar em Deus, faz longa exposição sobre o que diz a codificação, concluindo: “(...) nas demais obras do codificador do Espiritismo, absorvemos invariavelmente a noção de que Jesus estava certo quando definiu DEUS como nosso pai. Todo o esquema de racionalidade da filosofia kardequiana se estrutura e desdobra nesse sentido. Os diversos ensinamentos da doutrina, versando sobre os mais variados assuntos, de feição científica ou ética-religiosa, articulam-se sempre para nos induzir à crença num DEUS-PAI, dotado de sabedoria e amor sem limites, que rege os destinos das coisas e dos seres. Não aceitar isto significa, seguramente, não ser espírita.”

Quando nos ligamos em tudo a Jesus, estamos esquecendo, ou nos desligando do Pai, da inteligência suprema, causa primária de todas as coisas, eterna, imutável, imaterial, única, onipotente, soberanamente justa e boa, de quem Jesus é filho, como nós outros também. Digo isto sem qualquer diminuição à extraordinária figura do Mestre, daquele que se sacrificou por nós, não para nos salvar ou levar pela mão, mas para nos ensinar os caminhos da evolução que devemos percorrer com nossos próprios pés, sob as bênçãos do Pai de todos nós.

Estas minhas reflexões refletem a preocupação de que esse ritual instituído em muitos centros espíritas, de se abrir e encerrar os trabalhos em nome de Jesus, venha a manietar o pensamento dos freqüentadores à Sua figura, impedindo que possa expandir-se em amplitudes maiores, universais, cósmicas, a procura do Pai, do Criador, de Deus.

Deixamos ainda à sua reflexão outra observação digna de nota, feita por Nazareno Tourinho no livro já citado:

Uns poucos oradores espíritas famosos, sobretudo, espalharam em nosso meio um modelo de prece tão afetada, tão espasmódica, tão piegas, tão prenhe de exagerada e ridícula eloqüência, enfim, tão falsa e vazia de honestidade sentimental que raramente assistimos os companheiros de crença, em assembléias publicas, buscarem a comunhão com Deus, ou mesmo com Jesus, em termos razoáveis."



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Por Elio Mollo

Caminhai, crescei e tornai-vos um auxiliar, ao invés de permanecerdes sempre precisando de auxílio.
Krishnamurti


O Universo necessita:

De pessoas que possuam discernimento.

Daqueles que são capazes de trabalhar com suas próprias mãos.

De colaboradores que são capazes de distinguir o que tem importância e o que não tem.

Da energia mental capaz de produzir eletricidade suficiente para movimentá-lo.

Daqueles que sabem decidir por si mesmo.

Daqueles que sabem o que devem fazer.

Daqueles que querem aprender e desenvolver os conhecimentos.

Daqueles que tem boa vontade.

Daqueles que possuem fé.

* * *

É necessário possuir uma fé inabalável.

Fé difere muito de obediência cega.

Onde houver dúvida, existirá a vacilação, e onde houver vacilação existirá o sofrimento.

Possuímos a intuição — dote Divino —, para nos guiar. Porém, possuímos a inteligência para desenvolver qualidades.

Fé é conhecimento — e devemos crescer em sabedoria e compreensão.

Deus e todos os seus Emissários, estarão sempre conosco, se seguirmos as Leis Divinas.

Deus estará conosco em todos os trabalhos altruísticos destinados a ajudar os nossos semelhantes.

Quando O chamarmos, Ele vira, e derramará o Seu Amor e nos fortalecerá. E poderemos prosseguir a nossa caminhada rumo a perfeição sem nos desencorajarmos.

A fonte da força está em nossa fé, porque fé é força.

Porém, para confiar em Deus, temos que confiar em nós mesmos. É necessário aprender a confiar em nós mesmos. Não podemos caminhar ao sabor das opiniões e pensamentos alheios eternamente. Temos que caminhar com as nossas próprias pernas.

Confiando em Deus e em si próprio, o homem é mais alegre, possui mais ânimo, é mais positivo e transmite aos seus semelhantes segurança.

É necessário conseguir desenvolver completamente a nossa independência de pensar e de agir, para que possamos com segurança discernir cuidadosamente, antes de falar, agir ou pensar.

Quando procedemos com discernimento em todas as coisas, nunca haverá excessos, ao contrário, a nossa vida fluirá naturalmente.

Meditemos sobre este assunto, pois Deus necessita de cada um de nós para desenvolver o progresso geral, mas é preciso que nos encontre com boa disposição para o trabalho.

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Saara Nousiainen


Fonte: http://www.cooperativaespirita.org/artigos.em.nome.de.jesus.htm

 




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