Altiva Glória F. Noronha
> Divaldo Pereira Franco e a linda vidência
de Jésus Gonçalves (espírito)
Do Livro: O Peregrino do Senhor
Altiva Glória F. Noronha
Capitulo 15
Livro "O Peregrino do Senhor" – 1ª.
edição – LEAL - 1987
Jésus Gonçalves
1902- 1947
Narraremos, neste capitulo, algumas experiências mediúnicas
de Divaldo Pereira Franco. Todas são autênticas; aconteceram
de fato e de verdade.
“Os desígnios de Deus são impenetráveis.
As suas soberanas leis estabelecem as diretrizes da vida, objetivando
o progresso e o aperfeiçoamento do ser, nas várias etapas
do seu processo reencarnacionista.
O homem em particular é o resultado das suas experiências
anteriores, programando, por conseqüência, a sua aprendizagem
futura. Em cada etapa, quando bem intencionado e adestrado para os valores
positivos, libera-se dos problemas negativos, afirmando as tendências
superiores, com objetivos de elevação.
Por isso, em momento algum, cabe ao homem o desânimo, a descrença,
a negação da vida. De instante a instante, mudam-se as
paisagens nas quais ele se encontra colocado. Modificam-se os valores
e abrem-se oportunidades, onde antes estavam problemas e impedimentos.
É Divaldo quem assim nos fala, nesta beleza de raciocínio,
prosseguindo em seguida a complementar a idéia:
“Fazendo um retrospecto da minha vida, em cada passo encontro
a mão de Deus conduzindo-me com segurança, embora a minha
rebeldia inconsciente para os objetivos relevantes da existência
planetária. A cada momento, uma interferência judiciosa,
um apontamento oportuno, uma mão amiga, constituíram-me
e constituem-me o apoio para a tarefa que reconheço pequena,
mas, para mim, muito valiosa, objetivando o meu próprio bem.
No ano de 1949, quando os tormentos obsessivos me avassalavam, porque
ainda não me adestrara no conhecimento espírita, e também
pela juventude do corpo, todas as tardes eu tinha por hábito
ir sentar-me no quintal da casa onde morava, no Bairro do Machado. O
quintal dava o fundo para as Invasões, onde centenas de casebres
sobre o lamaçal apresentavam grave problema sócio-econômico
dos que residem em tal região, em Salvador.
A minha vida íntima, sacudida por inquietações
e tormentos, por ansiedades e incertezas, era uma constante busca da
paz, uma contínua procura de Deus. Numa tarde muito especial
para mim, buscando a calma interior, eu me pus a orar. O quadro que
se me erguia à frente era de muita beleza. O Sol declinava por
sobre o pantanal e havia um silêncio exterior muito grande. Procurei,
então, mergulhar nas blandícias da prece, pedindo a Deus
a mão socorrista, assim como aos Bons Espíritos o seu
apoio e assistência, para que não viesse a resvalar pelas
rampas do desequilíbrio.
Foi nesse momento que, de súbito, eu vi chegar um ser espiritual
com características para mim até então jamais vistas:
apresentava profundas marcas na aparência física. Um dos
pés, que parecia ter os dedos amputados, estava envolto em gaze,
com uma deformidade visível. O corpo alquebrado, a cabeça
marcada por cicatrizes, o nariz deformado, sem o septo nasal, e uma
expressão de profunda melancolia, olhando-me com enternecimento
e carinho comovedores. Na minha ignorância, na minha falta de
discernimento doutrinário, pensei de imediato: apesar da prece,
eis aí a presença de um Espírito obsessor. Bem
se vê que eu confundia, então, a aparência com o
conteúdo, a realidade íntima. Foi quando o ouvir dizer
nitidamente:
- Não sou um bem-aventurado, mas tampouco
eu sou um obsessor. Sou teu irmão. Chamo-me Jésus Gonçalves,
e desencarnei, não há muito, num sanatório de
leprosos, em Pirapitingui, Estado de São Paulo.
Naquela época ainda não se usava o verbete
hanseniano. Era a palavra marcadora, quase cruel, da tradição
bíblica. E ele prosseguiu:
- Fomos amigos. Venho, de etapa em etapa, ressarcindo
a duras penas o que contraí desde os dias em que, na condição
de conquistador, disseminei a morte pela guerra, destruindo lares,
roubando vidas, deixando órfãos e viúvas a prantearem
os seus mortos. Indiferente, à alheia dor, era devorado pela
volúpia da insanidade destruidora. Mais tarde, muito mais tarde,
já conhecendo Jesus, não me foi possível fugir
daquela compulsão guerreira e, em posição relevante
na política francesa do século XVII, novamente me engalfinhei
em lutas tenebrosas, sendo um dos responsáveis pelo prosseguimento
da guerra franco-austríaca, especialmente na sua terceira fase.
- Em chegando do lado de cá, dei-me conta da alucinação
que me devorava e roguei ao Senhor, por misericórdia, me concedesse
a lepra purificadora, para o despertar dos deveres de profundidade,
aqueles que me poderiam conscientizar das finalidades superiores da
vida. Eis por que, desde então, venho no processo purificador,
havendo concluído uma etapa muito consciente, em Pirapitingui,
no Estado de São Paulo, poucos anos atrás, onde pude
integrar-me no serviço da Revelação Espírita,
entregando-me a Jesus”.
Enquanto falava, Jésus Gonçalves se metamorfoseava.
Aquela aparência lôbrega e triste se transfigurou diante
dos olhos deslumbrados de Divaldo, que pôde ver-lhe a luminosidade
interior. Esta lhe chegava como sendo pequeno sol, clareando o crepúsculo
do entardecer. E onde antes havia deformações em seu corpo,
agora estava a presença das luzes, a forme bem feita, como se
tecida de substância luminescente. Jésus Gonçalves
então disse, como a querer dar uma explicação à
surpresa de Divaldo:
- O que a lepra carcomeu ficou sublimado nas regiões
perispirituais. Mas, venho aqui, por dois motivos, falar contigo.
Na reunião doutrinaria de hoje, estará presente uma
amiga muito querida. Desejo que a informes do nosso encontro. O segundo
motivo é que eu te queria pedir visitares a colônia de
leprosos desta cidade, no subúrbio de Águas Claras.
Ante a surpresa da proposição, ainda
marcado pelo tabu e pela ignorância em torno do mal de Hansen,
Divaldo respondeu, comovido:
- Por favor, não me faça um pedido de
tal natureza. Esta doença, cujo nome nem sequer eu pronuncio,
tal o pavor que me causa, assusta-me demasiadamente e eu nunca teria
coragem de visitar o lugar onde estivessem pessoas com ela ...
Jésus Gonçalves sorriu da ingenuidade
de Divaldo e redargüiu:
- Divaldo, eu te estou pedindo que vás lá,
a fim de que não vás para lá! Preferes ir lá
ou para lá?
Divaldo, naturalmente, disse apressadamente que era
claro, ele preferia ir lá! Jésus Gonçalves então
falou que ele iria tomar as providencias compatíveis, para irem
os dois juntos, falar um pouco aos irmãos hansenianos. E diluiu-se
diante dos olhos assombrados de Divaldo, deixando-lhe, porém,
uma indefinível sensação de paz e bem-estar...
À noite, em seu grupo de trabalhos, no Centro Espírita
“Caminho da Redenção”, fundado havia já
dois anos e funcionando ainda em sala ampla, numa casa na mesma rua
onde tem hoje a sua sede definitiva, Divaldo contou esta experiência
aos irmãos e perguntou se, por acaso, alguém ali já
ouvira falar ou conhecera Jésus Gonçalves. Levantou-se
então, uma senhora portadora de grande beleza do corpo e da alma
e declarou:
- Jésus Gonçalves foi meu amigo. Quase
desencarnou em meus braços. Convivi com ele, quanto me permitiram
as possibilidades. Sou mineira do interior, e resido na capital de
São Paulo, há muitos anos, onde mantenho um serviço
de visita a várias casas de leprosos. Meu nome é Zaira
Pitt. Em companhia de Julinha Koffmann e de outros, procuramos dar
assistência aos nossos irmãos leprosos. Neste momento,
com um grande número de amigos, estamos ajudando a construção
do pavilhão para tuberculosos hansenianos, lá mesmo
no hospital de Pirapitingui.
A senhora confirmou, disse Divaldo, para a surpresa
de todos nós, a existência desse Espírito, dizendo
a ele estar vinculada, fazia muito tempo. Quando o jovem baiano disse
que Jésus Gonçalves pedira que ele visitasse a colônia
de leprosos de Águas Claras, D. Zaíra Pitti estimulou-o
muito para essa tarefa, dizendo que não havia o menor perigo
de contágio, como comumente se pensava e propalava por aí...
Jésus Gonçalves, antes de retirar-se, naquela tarde em
que se manifestara a Divaldo, aconselhara-o a ler um livro que o ajudaria
a perder o medo da lepra, intitulado “Eles Caminham Sós”,
dizendo, mais, que ele o faria chegar às suas mãos, através
de alguém. Com o pedido do Espírito comunicante e o encorajamento
dado por Zaíra Pitti, Divaldo, então, propôs aos
freqüentadores do Centro Espírita, a visita àquele
lar expurgador. Amigos mais bem relacionados na sociedade entraram em
contato com o diretor do hospital, o qual, de inicio vetou aprioristicamente
o plano da visita. Mas, a insistência de Divaldo, ante a afirmativa
de que o objetivo era apenas fazer uma visita fraterna, levando alguns
brindes e um pouco de alegria, respeitando todas as instruções
da casa, ele aquiesceu, impondo uma série de restrições.
Até aquela época, 1949, o mal de Hansen ainda gozava de
muitos tabus e preconceitos que impediam as visitas. Mas Divaldo logrou
a liberação da ordem de impedimento e o grupo fez a primeira
visita. Foi com ela que iniciou a série de excursões que
até hoje faz à colônia de hansenianos, em Águas
Claras. Isto, há 36 anos consecutivos!
D. Zaíra Pitti havia viajado a Salvador com o objetivo de conhecer
a família do Dr. Ernesto Carneiro Ribeiro, o insigne filólogo,
o qual então se comunicava em São Paulo, através
de um jovem médium por nome Moacyr, que realizava cirurgias mediúnicas,
especialmente de câncer, de que ela, Zaíra Pitti, era portadora,
com resultados excelentes. Tinha vindo para agradecer à familia
e trazer uma mensagem do Dr. Carneiro Ribeiro aos que haviam ficado
na carne. Visitando uma Instituição Espírita de
Salvador, alguém havia indicado o nome de Divaldo; por isso ela
havia ido ao Centro Espírita “Caminho da Redenção”,
naquela noite, naturalmente inspirada por Jésus Gonçalves.
Ela retornou a São Paulo, mas tornou-se grande amiga e benfeitora
de Divaldo.
Em 1950, o Sr. José Gonçalves Pereira, hoje Diretor da
Casa Transitória de São Paulo, departamento social da
Federação Espírita daquele Estado, foi fazer uma
visita a Divaldo, incumbido de um convite de Zaíra Pitti, para
que, na primeira oportunidade, ele fosse levar a Grande Mensagem à
Capital Paulista: pessoas interessadas na divulgação da
Doutrina Espírita financiaram a passagem e ele ficaria hospedado
em casa daquela mesma benfeitora dos hansenianos e dos sofredores. A
viagem aconteceu em dezembro do mesmo ano de 1950. No dia 30, o jovem
baiano ali chegou, sendo recebido por alguns corações
amigos, dentre os quais, D. Zaíra Pitti. No dia 1º. de janeiro
de 1951, o grupo foi visitar o leprosário de Pirapitingui. No
grupo estavam aquela senhora, Divaldo e o Sr. Joaquim Alves, o famoso
Jô, admirável trabalhador da Seara Espírita, desenhista
ímpar e pintor exímio, o Dr. Lauro Michielin, um dos criadores
e fundadores do Sanatório Espírita “Antonio Luiz
Sayão” (Araras, SP) e que, sob o pseudônimo de Jacques
Garnier, escreveu várias obras, relatando experiências
mediúnicas, trazendo conceitos e reflexões muito valiosos,
e que eram vendidas a beneficio do referido Sanatório (naquela
época, como vemos, já existia o sistema abençoado
da divulgação doutrinária, beneficiando uma obra
assistencial).
Chegando a Pirapitingui, o grupo teve a oportunidade de conhecer a viúva
de Jésus Gonçalves. D. Ninita, cega, mas excelente médium
vidente. Ela descreveu Divaldo tal como se o estivesse vendo! Falou
da presença espiritual do marido ali também. Mas, uma
senhora muito rica, que Zaíra Pitt levara, viúva recente,
trajando mesmo luto fechado, foi quem mais chamou a atenção
de Ninita, que lhes descreveu o esposo desencarnado e pediu-lhe para
tirar o luto, dando-lhe uma lição de imortalidade das
mais comovedoras. O grupo foi depois ao Centro Espírita “Santo
Agostinho” e, ali, Divaldo proferiu uma palestra para os internados
e visitantes. Após a alocução, todos voltaram à
Capital.
No domingo seguinte, por solicitação de D. Zaíra
Pitti, Divaldo fez uma palestra na reunião das 10 horas da manhã,
na Casa-Máter do Espiritismo em São Paulo. Naquela época,
Pedro de Camargo, o inesquecível escritor e orador Vinicius,
que mantinha uma grande assistência, havia vários anos,
ali acorrendo para ouvir-lhe a palavra fluente e evangelizadora, foi
quem apresentou o jovem baiano, assim falando:
- Muitos aí estão a perguntar quem é
esse jovenzinho e o que faz ele aqui, ao meu lado. Tenho, assim, a
imensa satisfação de apresentar Divaldo Pereira Franco
aos nossos irmãos paulistas. Este nosso amigo vindo da Bahia
traz uma mensagem de vida, com a sua mediunidade voltada para o Bem
e guiada pela Doutrina Espírita, a fim de nos estimular a marcha
e nos encorajar para a luta.
Foi dessa forma que Divaldo proferiu a suas primeira
palestra na Federação Espírita do Estado de São
Paulo, vinculando-se também àquele missionário
do bem e da luz, que era Vinicius, o emérito educador e o sacerdote,
no sentido profundo da palavra, da mensagem evangélica e espírita.
Assim, Divaldo Pereira Franco iniciou as suas pregações
na capital bandeirante. Era janeiro de 1951, o que vale dizer: há
quase 36 anos!
Capa do livro de d. Altiva Noronha
onde está narrado o episódio acima
Dois livros imprescindíveis para
quem queira conhecer a vida e a obra de Jésus Gonçalves.
Jésus Gonçalves, sentado, já
com as seqüelas da lepra em Pirapitingui.
Dona Ninita é a primeira de óculos escuro a partir da
esquerda
Julinha * é a última da direita.
Foto nos livros: Flores de Outono e A Extraordinária Vida de
Jésus Gonçalves
Jésus Gonçalves sentado dona Ninita,
companheira de Jésus Gonçalves, um visitante,
Zaíra Junqueira Pitt e Julinha Thekla Kobleisen
Foto do Livro: A Extraordinária Vida de Jésus Gonçalves
USE/Madras - Eduardo Carvalho Monteiro
Flagrante da inauguração do C.E.
Santo Agostinho. Jésus Gonçalves é o quarto da
direita
para a esquerda. Seu filho Jaime está logo à sua direita
(16/12/1945)
Do livro: A Extraordinária Vida de Jésus Gonçalves.
Eduardo Carvalho Monteiro. USE/Madras
Abaixo outras imagens de personalidades
citadas nesta homenagem a Jésus Gonçalves
Divaldo Pereira Franco por ocasião da inauguração
da Mansão do Caminho,
em Salvador, Bahia, aos 15 de agosto de 1952.
Imagem obtida em trabalho de Simoni Privato Goidanich, Quito, Equador.
* Em nossas pesquisas encontramos o nome de
Julinha citada neste trabalho grafado de duas formas: Julia Thekla Kohleisen
e Julinha Koffmann.
Fonte:
http://www.noticiasespiritas.com.br/2015/FEVEREIRO/17-02-2015.htm
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