Naturalmente, os 150 anos de O Livro dos Espíritos,
suscitam em nós, seus beneficiários, justas homenagens
e comemorações; não devemos esquecer, todavia,
de enfatizar a importância da contribuição desse
legado à renovação de todas as áreas do
conhecimento humano. De nossa parte, gostaríamos de rememorar,
sobretudo, algumas questões ligadas ao campo do pioneirismo científico.
Antes de tudo, é preciso relembrar que Kardec
situou toda sua pesquisa em bases experimentais, procurando não
somente estabelecer a veracidade fática, mas também submeter
a controle os ensinos coletados pelos Espíritos, desde que pôde
observar divergência de opiniões entre eles debitável
às diferenças de conhecimento intelectual e estado moral.
A primeira edição de O Livro dos Espíritos
foi lançada em 1857, com 501 itens. Em março de 1860,
já publicava ele a 2a edição consideravelmente
aumentada, com 1018 itens, além de notas, abrangendo questões
científicas , filosóficas e religiosas.
O Livro dos Espíritos não é uma
obra científica, mas nele encontramos, referências a distintos
ramos do saber. Anotemos algumas: na 2a edição, há
revelações sobre a evolução que possuem
uma amplidão maior que a suscitada pela obra de Darwin –
A Origem das Espécies, de 1859, na qual confirmou os dados expostos
na Royal Society juntamente com Wallace em 1858. Darwin não incluiu,
porém, o homem na teoria evolucionista; somente no ano de 1871
veio a fazê-lo (veja-se Sobre a Descendência do homem),
estimulado pelas publicações de Haeckel em 1866 e 1868.
O conceito exposto em O Livro dos Espíritos é
mais amplo: nos itens 540, 560, 604,606 e 607, Kardec colecionou referências
à evolução , abrangendo os reinos do mineral ao
hominal bem como o próprio espírito, demarcando assim
uma evolução biológica e espiritual dos seres,
todos eles emergentes do mundo atômico. Isto indica a necessidade
de se levar em conta o espírito humano numa descrição
do universo pela Física, como postulava Teilhard de Chardin,
posicionamento que vai adquirindo seguidores como se pode verificar
pelos trabalhos do físico francês Jean Charon, no qual
o homem é visto como um participante ativo no processo de criação.
Como se vê, desde 1860, os espíritas não
são criacionistas, pelo menos, não no sentido literal
dado a este termo, e que tanta polêmica tem causado entre cientistas
e religiosos em geral. Somos evolucionistas de primeira hora, embora
de uma maneira muito especial, porque colocamos Deus no princípio
de tudo e o princípio espiritual como uma de Suas criações,
evoluindo do “átomo ao arcanjo”, através de
encarnações sucessivas.
No item 36, negam os Espíritos a existência
de um vácuo absoluto, por estar o espaço ocupado por uma
“substância invisível”, algo como um campo
quantizado dos físicos, do qual surge a matéria visível,
sempre que ocorrem condensações no meio. Na questão
n.39, ensinavam os Espíritos que a formação das
partículas nucleares, que dão lugar ao surgimento do universo,
resultaria da condensação de uma substância cósmica
primitiva, disseminada no espaço. Os itens 39 e 41 referem-se
ao nascimento, envelhecimento e dissolução dos astros
com a disseminação da matéria pelo espaço.
O sentido da unidade de todas as coisas encontra-se nos itens 23 e 33:
“Tudo está em tudo”.
Do conceito de que a substância cósmica
é imponderável, Kardec deduziu que a gravidade era uma
propriedade relativa e que, fora da ação dos mundos, não
haveria peso, conforme se tem comprovado pelas pesquisas espaciais.
A afirmativa de John Gribbin de que “a gravidade é a força
que mantém unido o universo” corresponde à idéia
enunciada no item 27: o fluido cósmico seria o princípio
sem o qual a matéria estaria em estado contínuo de divisão
e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá”.
Em última análise, é o fluido cósmico que
mantém unido o universo.
Na questão 36, que reproduz a de n. 16 da 1a
edição, os Espíritos afirmaram que “existe
mesmo infinito em todas as coisas”. Ressalta da assertiva o princípio
de não-separabilidade a unidade de todos os seres e coisas a
partir de uma origem única: eles estão de tal modo relacionados
entre si que podem ser ditos infinitos, sem separações,
ao contrário do que se apresentam à nossa percepção.
Essas idéias científicas pioneiras terão,
neste ano de 2007, pelo menos em parte, excelente oportunidade de serem
testadas, uma vez que, no 2o semestre, entrará em funcionamento
o Grande Colisor de Hádrons (LHC) no CERN, famoso centro de pesquisas
científicas no campo da Física, em Genebra, Suíça,
quando será testado pelo menos um dos fundamentos da Teoria das
Supercordas - a supersimetria. Esta Teoria, além da supersimetria
– existência de uma família de partículas
desconhecidas - prevê a existência de 11 dimensões,
além das conhecidas, como também a da existência
de uma quinta força no Universo, com a qual nós somente
entraríamos em conexão , através da gravidade.
Para nós, seria o nosso conhecido e decantado fluido cósmico
universal ou matéria cósmica primitiva.
É preciso ressaltar ainda que O Livro dos Espíritos
foi um marco na difusão da reencarnação no Ocidente.
E foi graças ao estudo da reencarnação que se abriram
portas para múltiplas investigações, inclusive
terapêuticas.
Ainda como decorrência natural de O Livro dos
Espíritos, Kardec continuou suas pesquisas, lançando,
em seguida, O Livro dos Médiuns, um verdadeiro tratado para a
prática do paranormal. Neste livro, ao pesquisar os estados alterados
de consciência , o Codificador defrontou-se , antes de Freud,
com o inconsciente, no estudo dos fenômenos mediúnicos:
sujeitos existiam capazes de recepcionar campos informacionais extrafísicos
sem terem consciência do fato; outros, dotados de energia singular
, eram capazes de, por eles mesmos, produzirem efeitos físicos
(pessoas elétricas , torpedos humanos).
Com os inquéritos a que submeteu os Espíritos
comunicantes, a partir da elaboração do livro basilar
que ora completa 150 anos, Kardec credenciou-se como o criador de uma
sociologia do mundo espiritual.
Certamente, ainda existem muitos outros avanços
a serem respigados nessa obra renovadora: as idéias de responsabilidade
social, previdenciárias, educacionais, etc. Sem dúvida,
um campo aberto a mais amplos estudos e pesquisas.
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