
Joaquim Duarte Murtinho (Cuiabá, 7 de
dezembro de 1848 — Rio de Janeiro, 18 de novembro de 1911) foi
um político brasileiro liberal. Estadista, ganhou fama por
restaurar as finanças republicanas no governo Campos Sales
(1898-1902). (1)
Se o homem compreendesse que
a saúde do corpo é o reflexo da harmonia espiritual,
e se pudesse abranger a complexidade dos fenômenos íntimos
que o aguardam além da morte, certo se consagraria à
vida simples com o trabalho ativo e a fraternidade legítima
por normas de verdadeira felicidade.
A escravização aos sintomas e aos remédios
não passa, na maioria das ocasiões, de fruto dos desequilíbrios
a que nos impusemos. Quanto maior o desvio mais dispendioso o
esforço de recuperação. Assim, também,
cresce o número das enfermidades à proporção
que se nos multiplicam os desacertos, e, exarcebadas as doenças,
tornam-se cada vez mais difíceis e complicados os processos
de tratamento, levando milhões de criaturas a se algemarem
a preocupações e atividades que adiam, indefinidamente,
a verdadeira obra de educação que o mundo necessita.
O homem é inquilino da carne, com obrigações
naturais de preservação e defesa do patrimônio
que temporariamente usufrui. Não se compreende que uma pessoa
instruída amontoe lixo e lama, ou crie insetos patogênicos
no próprio âmbito doméstico. Existe, no entanto,
muita gente de boa leitura e de hábitos respeitáveis
que não se lhe dá atochar dos mais vários tóxicos
a residência corpórea e que não acha mal no libertar
a cólera e a irritação, de minuto a minuto, dando
pasto a pensamentos aviltantes, cujos efeitos por muito tempo se fazem
sentir na vida diária. Sirvamo-nos ainda desse símbolo
para estender-nos em mais simples considerações. Se
sabemos imprescindível a higiene interna da casa, por que não
movermos o espanador da atividade benéfica, desmanchando as
teias escuras das idéias tristes? Por que não fazer
ato salutar do uso da água pura, em vasta escala, beneficiando
os mais íntimos escaninhos do edifício celular e atendendo
igualmente ao banho diário, no escrúpulo do asseio?
Se nos desvelamos em conservar o domicílio suficientemente
arejado, por que não respirar, a longos haustos, o oxigênio
tão puro quanto possível, de modo a facilitar a vida
dos pulmões? Quem construa uma habitação cogita
não somente de bases sólidas que a suportem, senão
também da orientação, de tal jeito que a luz
do sol a envolva e penetre profundamente. Jamais voltaria esse alguém
a situar o ambiente doméstico numa caverna de troglodita. Analogamente,
deve o homem assentar fundamentos morais seguros que lhe garantam
a verdadeira felicidade, colocando-se, no quadro social onde vive,
de frente voltada para os ideais luminosos e santificantes, de modo
que a divina inspiração lhe inunde as profundezas da
alma. Frequentemente, a moradia das pessoas cuidadosas e educadas
se exorna, em seu derredor, de plantas e de flores que encantam o
transeunte, convidando-o à contemplação repousante
e aos bons pensamentos. Por que não multiplicar em torno de
nós os gestos de gentileza e de solidariedade, que simbolizam
as flores do coração? Ninguém é tentado
a descansar ou a edificar-se em recintos empedrados ou espinhosos.
Assim também a palavra agradável que proferimos ou recebemos,
as manifestações de simpatia, as atitudes fraternais
e a compreensão sempre disposta a auxiliar constituem recursos
medicamentosos dos mais eficientes, porque a saúde, na essência,
é harmonia de vibrações. Quando nossa alma se
encontra realmente tranquila, o veículo que lhe obedece está
em paz.
A mente aflita despende raios de energia desordenada que se precipitam
sobre os órgãos à guisa de dardos ferinos, de
consequências deploráveis para as funções
orgânicas. O homem comumente apenas registra efeitos, sem consignar
as causas profundas. E que dizer das paixões insopitadas, das
enormes crises de ódio e de ciúme, dos martírios
ocultos do remorso que rasgam feridas e semeiam padecimentos inomináveis
na delicada constituição da alma? Que dizer relativamente
à hórrida multidão dos pensamentos agressivos
duma razão desorientada, os quais tanto malefício trazem,
não só ao indivíduo, mas, igualmente, aos que
se achem com ele sintonizados? O nosso lar de curas na vida espiritual
vive repleto de enfermos desencarnados. Desencarnados, embora, revelam
psicoses de trato difícil.
A gravitação é lei universal e o pensamento ainda
é matéria em fase diferente daquelas que nos são
habituais. Quando o centro de interesses da alma permanece na Terra,
embalde se lhe indicará o caminho das Alturas. Caracteriza-se
a mente também por peso específico e é na própria
massa do planeta que o homem enrodilhado em pensamentos inferiores
se demorará depois da morte no serviço de purificação.
Os instrutores religiosos, mais que doutrinadores, são médicos
do espírito que raramente ouvimos com a devida atenção,
enquanto na carne. Os ensinamentos da fé constituem receituário
permanente para a cura positiva das antigas enfermidades que acompanham
a alma, século trás século. Todos os sentimentos
que nos ponham em desarmonia com o ambiente onde fomos chamados a
viver geram emoções que desorganizam, não só
as colônias celulares do corpo físico, mas também
o tecido sutil da alma, agravando a anarquia do psiquismo. Qualquer
criatura, conscientemente ou não, mobiliza as faculdades magnéticas
que lhe são peculiares nas atividades do meio em que vive.
Atrai e repele. Do modo pelo qual se utiliza de semelhantes forças
depende, em grande parte, a conservação dos fatores
naturais de saúde. O espírito rebelde ou impulsivo que
foge às necessidades de adaptação assemelha-se
a um molinete elétrico, armado de pontas, cuja energia carrega
e, simultaneamente, repele as moléculas do ar ambiente; assim,
esse espírito cria em torno de si um campo magnético
sem dúvida adverso, o qual, a seu turno, há de repeli-lo,
precipitando-o numa "roda-viva" por ele mesmo forjada. Transformando-se
em núcleo de correntes irregulares, a mente perturbada emite
linhas de força que interferirão como tóxicos
invisíveis sobre o sistema endocrínico, comprometendo-lhe
a normalidade das funções. Mas não são
somente a hipófise, a tireóide ou as cápsulas
supra-renais as únicas vítimas da viciação.
Múltiplas doenças surgem para a infelicidade do espírito
desavisado que as invoca. Moléstias como o aborto, a encefalite
letárgica, a esplenite, a apoplexia cerebral, a loucura, a
nevralgia, a tuberculose, a coréia, a epilepsia, a paralisia,
as afecções do coração, as úlceras
gástricas e as duodenais, a cirrose, a icterícia, a
histeria e todas as formas de câncer podem nascer dos desequilíbrios
do pensamento. Em muitos casos, são inúteis quaisquer
recursos medicamentosos, porquanto só a modificação
do movimento vibratório da mente, à base de ondas simpáticas,
poderá oferecer ao doente as necessárias condições
de harmonia. Geralmente, a desencarnação prematura é
o resultado do longo duelo vivido pela alma invigilante; esses conflitos
prosseguem na profundeza da consciência, dificultando a ligação
entre a alma e os poderes restauradores que governam a vida. A extrema
vibratilidade da alma produz estados de hipersensibilidade, os quais,
em muitas circunstâncias, se fazem seguir de verdadeiros desastres
organopsíquicos. O pensamento, qualquer que seja a sua natureza,
é uma energia, tendo, conseguintemente, seus efeitos. Se o
homem cultivasse a cautela, selecionando inclinações
e reconhecendo o caráter positivo das leis morais, outras condições,
menos dolorosas e mais elevadas, lhe presidiriam à evolução.
É imprescindível, porém, que a experiência
nos instrua individualmente. Cada qual em seu roteiro, em sua prova,
em sua lição. Com o tempo, aprenderemos que se pode
considerar o corpo como o "prolongamento do espírito",
e aceitaremos no Evangelho do Cristo o melhor tratado de imunologia
contra todas as espécies de enfermidade. Até alcançarmos,
no entanto, esse período áureo da existência na
Terra, continuemos estudando, trabalhando e esperando.