Burro, ninguém é. O que existe são pessoas
que não sabem usar a inteligência. Esta informação
alentadora é do professor Luiz Machado,
inspirador da Cidade do Cérebro, uma instituição
instalada recentemente em Campinas para desenvolver o potencial
de inteligência e criatividade.
Mesmo que a maioria das pessoas ainda não alcance o significado
da análise de Machado, ela lança um luz curiosa sobre
a interpretação do processo de desenvolvimento da
inteligência humana, pavimentando caminhos para que as pessoas
de aproximem dos gênios como Albert Einstein. Ou, pelo menos,
tentem.
Imagine um cidadão normal. Seu cérebro é uma
complexa estrutura do sistema nervoso central, responsável
pelo pensamento e coordenação neural, ou seja, é
ele que recebe estímulos dos órgãos sensoriais
e controla as atividades vitais. A inteligência é resultado
disto.
Num primeiro momento, a inteligência emocional
do indivíduo é basicamente o seu instinto de preservação,
responde por ações básicas como comer, beber,
procriar. A fase mais avançada pode ser explicada como a
inteligência racional, a que colhe informações,
combina e tira conclusões. A fusão destes dois estágios
é a base da Emotologia, ciência criada
por Machado que é o conjunto de conhecimentos sobre o Sistema
de Autopreservação e Preservação da
Espécie (Sape). Para o professor, chegar ao estágio
de inteligência plena está ao alcance de todos. “Não
inventei nada, apenas reuni informações que existem
e explico para as pessoas como funciona o processo inteligente”,
resume.
Segundo ele, quando as pessoas estabelecem objetivos práticos
para a vida, normalmente é a inteligência racional
que tenta realizá-los. Pelo seu método, o segredo
é transformar estes objetivos racionais em “objetivos
emotivados”. Algo tão necessário como comer,
beber, procriar, autopreservar-se.
Como atingir este estágio é outra questão.
Para isto, o professor Machado inaugurou em Campinas o núcleo
da Cidade do Cérebro, criado em 1978 no Rio de Janeiro. Seu
público-alvo são professores, empresários,
médicos, psicólogos e educadores, a quem serão
repassadas informações sobre o seu Sistema de Aprendizagem
Acelerativa, por meio de cursos, seminários e palestras,
além de consultas a ampla bibliografia.
A tese de Machado, desenvolvida nos 26 anos em que atuou como coordenador
do Projeto Especial do Desenvolvimento da Inteligência
e Criatividade na Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(Uerj), foi apresentada em 1984 em um congresso na Suécia
e documentada no livro O Cérebro do Cérebro,
em 1985. Segundo o autor, suas idéias inspiraram o livro
Inteligência Emocional, de Daniel
Goleman, de repercussão internacional na década
de 1990.
Para Gilberto Silva de Souza, diretor de desenvolvimento do núcleo
de Campinas da Cidade do Cérebro, a Emotologia
“reúne um conjunto de conhecimentos para promover o
desenvolvimento das potencialidades humanas”. A aplicação
no processo de ensino deu origem ao que Souza chama de Emotopedia,
um sistema de aprendizagem acelerativa. Administrador de empresas,
Souza garante que o tempo de treinamento nas empresas podem ser
estreitados. E apregoa: “Este estudo é revolucionário.
A auto-ajuda busca motivar as pessoas mas não explica como.
Nós apresentamos o como e o porquê”. A Cidade
do Cérebro fica na Rua 1º de Março, 105, Jardim
Guanabara. O telefone é (19) 3243-8848.
Múltiplos fatores definem níveis e limites
Inteligência é um conceito difícil de entender.
Dependendo do contexto, os especialistas terão explicações
as mais diversas para esta capacidade do ser humano, tão
desejada quanto incompreendida.
Na Psicologia, onde o assunto tem amplo espaço de discussões,
há vários enfoques possíveis. A psicoterapeuta
Maria Luiza Lattes Romeiro prefere definir inteligência
como a capacidade de resolver situações novas com
sucesso. “A inteligência tem um forte componente afetivo,
emocional. É importante a pessoa viver em equilíbrio
no lar, que representa a segurança para a criança
se desenvolver intelectualmente, desenvolver instrumentos básicos
de aprendizagem.”.
Quanto aos limites individuais, Maria Luiza tem visão diferente
da teoria do professor Luiz Machado. “A inteligência
tem componentes hereditários. Por isto, há vários
níveis e limites de inteligência, que ainda conta com
fatores psicossociais. Entendo que o potencial intelectual é
definido por fatores como maturidade afetiva, estimulação
do ambiente familiar e cultural”, diz. Para ela, as formas
diferentes de inteligência podem ser determinadas até
mesmo por afinidades, capacidade de abstrair ou interesses específicos.
Maria Luiza defende que inteligente não é a pessoa
que usa sua capacidade para ser bem-resolvida na vida. Os fatores
que levam a isto não dependem da capacidade de raciocínio.
“Em nossa experiência, tivemos contato com pessoas com
muita dificuldade para abstrair, são pessoas limítrofes.
Mas isto não tem a ver com escala social ou acesso à
informação. Muitas vezes, o desenvolvimento afetivo
sobrepuja a dificuldade do ambiente.” A psicopedagoga insiste
que, infelizmente, há pessoas com mais facilidade de aprender
que outras e que há vários diagnósticos e tratamentos
possíveis.