Há um vídeo circulando nas redes
sociais que tenta desconstruir o conceito de gênero e insinua
que reconhecer a existência de famílias homoafetivas
seria “destruir a família”.
É bom esclarecer essa questão sob uma perspectiva
espírita.
De fato, menino já nasce menino, menina já nasce menina,
mas não existem apenas essas duas possibilidades. Há
espíritos em trânsito entre uma e outra experiência
que já trazem consigo outras definições de gênero
mediante as quais se afirmarão nesta vida. E é melhor
os pais já saberem disso antes de acharem que só existem
essas duas opções. Caso contrário correm o risco
de se decepcionarem.
Há muitos pais sofrendo porque durante
toda a vida compraram roupinhas cor-de-rosa e bonecas Barbie para
a sua “menina”, ou bolas e carrinhos de controle remoto
para o seu “menino”, e que mais tarde tiveram que reformular
inteiramente os seus conceitos porque descobriram que a natureza não
se guia pelos seus caprichos.
O vídeo afirma que os meios científicos estão
promovendo um “absurdo” ao tirar a base familiar que “Deus
criou”. É preciso esclarecer que não há
nenhum absurdo em reconhecer que existem famílias que simplesmente
não se encaixam nesse modelinho idealizado de “papai
e mamãe”, e que as crianças são felizes
quando se sentem amadas, valorizadas e respeitadas, independente de
serem filhas de um casal hétero, de duas mães, dois
pais ou de um casal transgênero.
Quando se examina o bebê ainda no útero materno,
ou mesmo no ato do nascimento, e se estabelece com base na sua conformação
biológica que ele será “menino” ou “menina”,
já se sabe que existe um risco de que essa expectativa não
se confirme. Tudo bem se os pais querem afirmar para si mesmos que
seu filho será isso ou aquilo, mas para a felicidade de todos
será muito bom se eles não criarem tanta expectativa,
e deixarem que a própria criança vá lhes mostrando
ao longo dos anos qual é a experiência para a qual ele
veio nesta vida. Há muitos pais sofrendo e fazendo sofrer os
seus filhos porque eles não se desenvolveram conforme suas
falsas expectativas.
Afirmar que só existem “meninos” e “meninas”,
ou que só existem “homens” e “mulheres”
é preconceito, sim. As pessoas nascem com sexo biológico
masculino ou feminino, mas o seu gênero se afirma desde cedo
conforme as suas necessidades espirituais. E já está
mais do que comprovado que até mesmo os genes desse novo corpo
e a sua condição hormonal já expressam as necessidades
do Espírito nesse instante especial da sua experiência.
Tentar impor o contrário é negar a riqueza, a flexibilidade
e a diversidade da Criação Divina.
Organizações e empresas, ao assumirem esse novo entendimento,
na verdade estão é lutando contra o preconceito. Sempre
houve quem negasse os avanços da Ciência, desde Galileu
Galilei, a quem quase queimaram vivo naquela época. Ainda hoje
há religiões que insistem em ensinar criacionismo nas
Escolas, em que pese o consenso científico em torno dessas
questões.
Quanto a se incluir na programação dos conteúdos
e na prática escolar esse novo entendimento a respeito do ser
humano e do modo como ele se afirma no mundo, isto não é
mais que um dever institucional. Até porque a Escola deve ser
laica e ensinar o que é próprio da Filosofia e da Ciência,
e não um espaço de doutrinação baseada
nessa ou naquela crença religiosa. Já passou o tempo
em que a Bíblia era a medida da “verdade”; hoje
cabe a essas duas áreas do conhecimento descortinar novos horizontes
para a religião.
O mundo evolui, o progresso é inexorável. Na época
de Kardec os espíritos já esclareceram que haveria resistência
a essas novas ideias, mas que todos esses obstáculos não
seriam mais que pequenos pedregulhos colocados à frente de
um enorme comboio.
Lutar pelas nossas crianças, hoje, significa lutar para que
elas tenham a liberdade de expressar sua condição espiritual
sem qualquer tipo de constrangimento de nossa parte, ou da parte da
sociedade, sem nenhuma pressão para que assumam este ou aquele
figurino pré-determinado. Lutar pelas nossas crianças
significa criar meios de garantir que elas não sofrerão
nenhum tipo de violência, seja na família, na escola
ou na sociedade, e que desde a infância elas terão respeitadas
as suas necessidades mais íntimas, que se traduzem no seu modo
de ser e de se expressar neste mundo.
Até porque a “Palavra
de Deus” é o amor, e qualquer manifestação
que não seja a mais pura expressão de amor não
está em sintonia com a Vontade Divina, que deseja que todos
nos amemos como irmãos, independente de qualquer apresentação
exterior.