Espiritualidade e Sociedade





Elias I. Moraes

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Há um vídeo circulando nas redes sociais que tenta desconstruir o conceito de gênero e insinua que reconhecer a existência de famílias homoafetivas seria “destruir a família”.

É bom esclarecer essa questão sob uma perspectiva espírita.

De fato, menino já nasce menino, menina já nasce menina, mas não existem apenas essas duas possibilidades. Há espíritos em trânsito entre uma e outra experiência que já trazem consigo outras definições de gênero mediante as quais se afirmarão nesta vida. E é melhor os pais já saberem disso antes de acharem que só existem essas duas opções. Caso contrário correm o risco de se decepcionarem.

Há muitos pais sofrendo porque durante toda a vida compraram roupinhas cor-de-rosa e bonecas Barbie para a sua “menina”, ou bolas e carrinhos de controle remoto para o seu “menino”, e que mais tarde tiveram que reformular inteiramente os seus conceitos porque descobriram que a natureza não se guia pelos seus caprichos.

O vídeo afirma que os meios científicos estão promovendo um “absurdo” ao tirar a base familiar que “Deus criou”. É preciso esclarecer que não há nenhum absurdo em reconhecer que existem famílias que simplesmente não se encaixam nesse modelinho idealizado de “papai e mamãe”, e que as crianças são felizes quando se sentem amadas, valorizadas e respeitadas, independente de serem filhas de um casal hétero, de duas mães, dois pais ou de um casal transgênero.

Quando se examina o bebê ainda no útero materno, ou mesmo no ato do nascimento, e se estabelece com base na sua conformação biológica que ele será “menino” ou “menina”, já se sabe que existe um risco de que essa expectativa não se confirme. Tudo bem se os pais querem afirmar para si mesmos que seu filho será isso ou aquilo, mas para a felicidade de todos será muito bom se eles não criarem tanta expectativa, e deixarem que a própria criança vá lhes mostrando ao longo dos anos qual é a experiência para a qual ele veio nesta vida. Há muitos pais sofrendo e fazendo sofrer os seus filhos porque eles não se desenvolveram conforme suas falsas expectativas.

Afirmar que só existem “meninos” e “meninas”, ou que só existem “homens” e “mulheres” é preconceito, sim. As pessoas nascem com sexo biológico masculino ou feminino, mas o seu gênero se afirma desde cedo conforme as suas necessidades espirituais. E já está mais do que comprovado que até mesmo os genes desse novo corpo e a sua condição hormonal já expressam as necessidades do Espírito nesse instante especial da sua experiência. Tentar impor o contrário é negar a riqueza, a flexibilidade e a diversidade da Criação Divina.

Organizações e empresas, ao assumirem esse novo entendimento, na verdade estão é lutando contra o preconceito. Sempre houve quem negasse os avanços da Ciência, desde Galileu Galilei, a quem quase queimaram vivo naquela época. Ainda hoje há religiões que insistem em ensinar criacionismo nas Escolas, em que pese o consenso científico em torno dessas questões.

Quanto a se incluir na programação dos conteúdos e na prática escolar esse novo entendimento a respeito do ser humano e do modo como ele se afirma no mundo, isto não é mais que um dever institucional. Até porque a Escola deve ser laica e ensinar o que é próprio da Filosofia e da Ciência, e não um espaço de doutrinação baseada nessa ou naquela crença religiosa. Já passou o tempo em que a Bíblia era a medida da “verdade”; hoje cabe a essas duas áreas do conhecimento descortinar novos horizontes para a religião.

O mundo evolui, o progresso é inexorável. Na época de Kardec os espíritos já esclareceram que haveria resistência a essas novas ideias, mas que todos esses obstáculos não seriam mais que pequenos pedregulhos colocados à frente de um enorme comboio.

Lutar pelas nossas crianças, hoje, significa lutar para que elas tenham a liberdade de expressar sua condição espiritual sem qualquer tipo de constrangimento de nossa parte, ou da parte da sociedade, sem nenhuma pressão para que assumam este ou aquele figurino pré-determinado. Lutar pelas nossas crianças significa criar meios de garantir que elas não sofrerão nenhum tipo de violência, seja na família, na escola ou na sociedade, e que desde a infância elas terão respeitadas as suas necessidades mais íntimas, que se traduzem no seu modo de ser e de se expressar neste mundo.

Até porque a “Palavra de Deus” é o amor, e qualquer manifestação que não seja a mais pura expressão de amor não está em sintonia com a Vontade Divina, que deseja que todos nos amemos como irmãos, independente de qualquer apresentação exterior.

 

 

Fonte: http://espiritismo-fronteiras.blogspot.com.br/2017/10/meninos-meninas-e-outros-mais.html

 



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