Os acontecimentos que vêm marcando o primeiro ano do terceiro
milênio parecem indicar, numa análise menos aprofundada,
que a Humanidade está regredindo moralmente. O incremento da
violência no cenário mundial, o fanatismo em nome de
uma equivocada axiologia religiosa, a indiferença ante as carências
de muitos e o vazio existencial, fornecem elementos que poderiam anular
as aspirações de fraternidade e de paz entre os homens.
Em nome do Criador anunciam-se as "Guerras Santas",
com o propósito de eliminar os que não vivem em conformidade
com as regras que correspondem à vontade de Deus. Citam-se
livros, ditos sagrados, que impõem preceitos e normas de viver,
ao sabor das interpretações vinculadas às culturas,
respaldando o fanatismo inconseqüente. Interpretações
distorcidas pelo radicalismo induzem as criaturas a matar, matando-se,
como forma de desfrutar, com pompa e circunstância, as glórias
do paraíso.
"Para que na Terra sejam felizes os homens, preciso
se faz que somente a povoem Espíritos bons, encarnados e desencarnados,
que unicamente ao bem aspirem. Como já chegou esse tempo, uma
grande emigração nesse momento se opera entre os que
a habitam."
Aprendemos com o Espiritismo, em O Livro dos Espíritos,
que a todos os homens facultou Deus os meios de conhecerem a Lei Natural.
Afirmam os benfeitores que todos os homens podem conhecê-la,
mas nem todos a compreendem. Os homens de bem e os que se decidem
a investigá-la são os que melhor a compreendem. Todos,
entretanto, a compreenderão um dia, porquanto forçoso
é que o progresso se efetue.
O papel fundamental das religiões, fundadas
pelos homens à luz das revelações de Deus, é
semelhante ao dos pais: aproximar do Criador os seus filhos. Podemos
ter uma religião e nada acrescentar aos valores ético-morais
que devem caracterizar o homem de bem, assim como não professar
nenhuma e viver em harmonia com os princípios do bem, do amor,
da justiça e da verdade.
"Nenhuma concepção religiosa, nenhuma
forma cultural é imutável. Dia virá em que os
dogmas e os cultos atuais irão reunir-se aos destroços
dos antigos cultos; o ideal religioso, porém, não há
de perecer, os preceitos do Evangelho dominarão as consciências,
como a grande figura do Crucificado dominará o fluxo dos séculos."
A História comprova que ao longo do tempo os
homens têm interpretado Deus conforme o grau de evolução
a que chegaram. Mesmo com o advento do Cristo, atos de guerra marcaram
a vida do homem, como as Cruzadas, cujo objetivo inicial era a retomada
de Jerusalém que, no século XI, havia caído sob
o poder dos turcos após a expulsão dos cristãos.
Na Irlanda do Norte, protestantes e católicos travam verdadeiras
batalhas, permeadas por atos de terrorismo até contra crianças.
No Oriente Médio, judeus e palestinos, abastecidos por ódio
milenar, buscam, pela destruição do inimigo, preservar
os conhecidos lugares sagrados, como "questão de honra"
para uma falsa dignidade.
Hoje assistimos, de um lado, a "Guerra Santa",
travada contra a "Liberdade Duradoura", do outro, envolvendo,
direta ou indiretamente, toda a Humanidade. Recursos materiais de
larga monta, suficientes para suprir as reais necessidade do homem
na Terra, são carreados para fomentar, em uma vertente, o ódio
e o fanatismo religioso, financiando o terrorismo, e na outra, a contrapartida
para eliminar seus efeitos, anulando a causa, porém ampliando
a destruição.
A dinâmica das Leis Divinas mostra-nos, sob
a lúcida ótica da Doutrina Espírita, que o progresso
é inexorável. Dar-se-á no tempo previsto e cumprirá
sua finalidade histórica. Como espírito e matéria
evoluem simultaneamente, infere-se que cada mundo, de tempos em tempos,
apresentará transformações tanto nas condições
físicas que o constituem, quanto na moralidade dos Espíritos
que o habitam.
"A Terra, no dizer dos Espíritos, não terá
de transformar-se por meio de um cataclismo que aniquile de súbito
uma geração. A atual desaparecerá gradualmente
e a nova lhe sucederá do mesmo modo, sem que haja mudança
alguma na ordem natural das coisas.
Tudo, pois, se processará exteriormente, como
sói acontecer, com a única, mas capital diferença
de que parte dos Espíritos que encarnavam na Terra aí
não mais tornarão a encarnar. Em cada criança
que nascer, em vez de um Espírito atrasado e inclinado ao mal,
que antes nela encarnaria, virá um Espirito mais adiantado
e propenso ao bem."
A angústia e a aflição que vêm
ocupando espaço em nossas mentes marcam os tempos difíceis
que parecem prenunciar o início de uma nova era para a Humanidade.
O temor, o medo, a insegurança, grassam de
forma acelerada. Viajar em avião, entrar em uma lanchonete,
ligar o motor de um veículo ou receber uma simples carta pelo
correio tornam-se motivo de incerteza e apreensão.
"Infelizmente, a maioria, desconhecendo a Voz
de Deus, persistirá na sua cegueira e a resistência que
virá a opor mascarará, por meio de terríveis
lutas, o fim do reinado dos que a constituem. Desvairados, correrão
à sua própria perda; provocarão destruições
que darão origem a um sem número de flagelos e de calamidades,
de sorte que, sem o quererem, apressarão o advento da era de
renovação."
Jesus, o Cristo de Deus, trouxe para a Humanidade
a mensagem renovadora, conclamando os homens a amarem-se uns aos outros,
premissa para a manifestação do amor ao Pai. Somente
então poderemos compreender a presença da Divindade
em nós. Essa conquista ocorrerá "quando o arado
substituir o carro suntuoso dos triunfadores, nas exibições
públicas de grandeza coletiva; o livro edificante absorver
o lugar da espada no espírito do povo; a bondade e a sabedoria
presidirem as competições das criaturas, para que os
bons sejam venerados; o sacrifício pessoal em proveito de todos
constituir a honra legítima da individualidade, a fim de que
a paz e o amor não se percam dentro da vida – então
uma Nova Humanidade estará no berço luminoso do Divino
Reino."
Como essa conquista é inevitável, por
força da regeneração em curso, a leitura dos
sinais sugere a reflexão sobre os momentos que vivemos para
concluir que seja lá como for, pelo amor ou pela dor, o progresso
é inevitável, podendo o homem, quando muito, embaraçar
sua marcha, porém jamais paralisá-la.
1) Kardec, Allan, Obras Póstumas, ed. FEB, pág
322
2) Kardec, Allan, O Livro dos Espíritos, ed. FEB, Q 619
3) Denis, Léon, Cristianismo e Espiritismo, ed. FEB, pág
254
4) Kardec, Allan, A Gênese, ed. FEB, pág 418
5) Kardec, Allan, Obras Póstumas, ed. FEB, pág 325
6) Xavier, F. C., Jesus no Lar, pelo Espirito Neio Lúcio, ed.
FEB, pág 09