Espiritualidade e Sociedade





Luzia Mathias

>   Em que posso ajudar? Ficar triste não é ser triste. Como viver o tempo da tristeza.

Artigos, teses e publicações

Luzia Mathias
>   Em que posso ajudar? Ficar triste não é ser triste. Como viver o tempo da tristeza.

 

É melhor ser alegre que ser triste,
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração.
Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não
Vinícius de Morais

 

Claro que ninguém escolhe a tristeza. Mas os acontecimentos tristes fazem parte da vida e é preciso vivê-los.

Algumas pessoas escolhem a negação da tristeza adotando uma máscara de indiferença ou de ironia diante desses acontecimentos ou situações.

Outras tantas desmontam-se, desarvoram-se, perdem o rumo de si mesmas, como se a alegria nunca mais fosse voltar, como se as trevas da noite nunca mais fossem ser expulsas do céu pelo sol nascente.

Algumas sentem-se culpadas ou ingratas por não estarem sempre em estado de felicidade em virtude de cobranças descabidas de que por serem espíritas, por exemplo, devem tudo aceitar com um sorriso nos lábios.

Entendimento equivocado da Nova Revelação, que não nega o sofrimento mas aponta justamente a sua função pedagógica e não punitiva.

Não virá tampouco a Doutrina Espírita, enquanto filosofia, nos propor a insensibilidade aos reveses da vida, já tentadas pelos estóicos, do mesmo modo que não nos propõe alegrias alucinantes e exageradas como sugere o hedonismo.

Dentre as tantas lições que o sofrimento nos oferece ao espírito rebelde e infantil escolho relembrar uma antiga lição: TEMPO.

Na voz atribuída ao sábio rei Salomão, em Eclesiastes 3 (1) extraí algumas reflexões.

Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.

Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;

Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;”

- 1 - O título “Eclesiastes” é uma transliteração da tradução grega do termo hebraico Kohelet (ou Qohelet), que significa “aquele que reúne”, mas que é tradicionalmente traduzido como “professor” ou “pregador”. (fonte: Wikipedia)

Quer dizer esse sábio professor cuja voz atravessou os séculos: A tristeza, como tudo o mais tem seu tempo. Nada impõe um estado de tristeza permanente ou onipresente ocupando todos os momentos e espaços de atuação do espírito infinito em suas possibilidades e conexões. Fazer de um tempo de tristeza uma condição permanente é escolha do espírito.


Contra esse estado de onipresença e onipotência da tristeza sempre se pode, e se deve, reagir dando à tristeza o espaço maior ou menor dependendo da situação, mas sempre restrito e transitório.

Viver e tristeza não é o mesmo que tornar-se infeliz, permitindo que ela polua todas as atividades, relacionamentos, bloqueando a experiência do sonho, de fazer projetos para o futuro, semente dos momentos felizes que certamente virão... a seu tempo.

De um amigo espiritual ouvi, num momento de tristeza, a recomendação: “Por hora, resiste e faze o teu melhor.”

Resistir é manter-se ativo, operante, preservando os núcleos saudáveis da vida não atingidos pela dor, pela perda, pela angústia, pelo medo, pela mágoa, ou seja lá o que estejamos vivenciando como tristeza.

É ser um atleta paraolímpico do espírito. Resiste e faze o teu melhor!

Não nos entregando à tristeza, apenas vivendo-a em sua transitoriedade, como tempo que passa, como tempo que trará outros tempos, podemos nos tornar mais sensíveis, e talvez esse seja o seu papel em nosso processo de amadurecimento psicológico, daí a citação do poeta Vinícius que coloquei em epígrafe. A tristeza pode nos sensibilizar e uma vez sensibilizados, mas não infelizes, poderemos criar nossa arte, olhar para nossos irmãos que também sofrem com mais compaixão, valorizarmos mais a beleza à nossa volta, a palavra do amigo, a página doutrinária, ... a vida em si mesma.

Isso também passa, é a mensagem de Maria de Nazareth para Chico Xavier, que sim, estava se sentindo triste.

Mesmo vivendo um momento de dor, podemos e devemos não nos tornamos infelizes. Não precisamos permitir que a tristeza ocupe todos os espaços de nossa vida, relacionamentos, trabalho, imobilizando-nos pensamentos e emoções em seus calabouços.

Caetano Veloso compôs uma Oração do Tempo, na qual coloca um vislumbre daquilo que, por enquanto, chamamos de Eternidade:

“E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo, tempo, tempo, tempo
Não serei nem terás sido
Tempo, tempo, tempo, tempo.

Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo, tempo, tempo, tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo, tempo, tempo, tempo.

Se o que aconteceu nos deixou tristes, resistamos e façamos o nosso melhor e nos surpreenderemos mais sábios, mais fortes, e portanto mais felizes logo mais, logo ali, quando for o tempo de ser feliz, e depois tristes, e depois felizes de novo, até que possamos perceber que tudo é apenas beleza e amor sob o olhar de Deus.

Tempo, tempo, tempo...

 

 

 

Fonte: Revista CELD de Estudos Espíritas
https://celd.xyz/wp-content/uploads/09-Revista_CELD_Setembro-2018.pdf

 

 

 

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