“Não há
alma que não possa renascer, fazendo brotar em si novas
florescências.”
— Léon Denis —
Escrever em uma revista é ter
um espaço privilegiado para ajudar. Nunca se sabe onde as palavras,
às quais damos à luz, chegarão, e pensar que
podem chegar como um bálsamo a alguém em sofrimento
é uma possibilidade que me encanta.
Quero ajudar esse mês falando de ENTUSIASMO.
Segundo a etimologia da palavra “Entusiasmo” embora proveniente
do latim, deriva do grego ENTHUSIASMOS, quer dizer estar ENTHEOS ou
seja possuído por um deus, ou em estado de inspiração
divina.
Ter entusiasmo é estar cheio de alma, cheio de vida, cheio
de ideias e projetos em relação a situações
novas, mas também em relação às situações
ditas rotineiras.
E é tão fácil abandonar-se à rotina, à
repetição, à mesmice, ao discurso repetitivo,
aos clichês que são rotinas de pensamento. É tão
fácil abandonar a casa mental deixando-a entulhada de ideias
sem uso e sem conexão com o futuro.
Não é fácil reagir, sacudir a poeira do tempo,
e gastar alguns minutos e energia para, vencendo o medo das mudanças
ou a inércia, impormos novo ritmo de movimento às nossas
ideias, o que irá trazer o entusiasmo de volta aos nossos trabalhos,
ocupações, relacionamentos, tudo.
Mas mesmo não sendo fácil é possível e,
mais do que possível, é bom!
Se temos um trabalho a ser feito ao longo do ano reencantemo-nos com
ele.
Se somos responsáveis por grupos, transformemos esse grupo
em um novo grupo.
Se somos aqueles que participam com as mesmas falas dos conflitos
familiares, mudemos as nossas falas.
São tantas as possibilidades a nossa disposição:
Usar novas cores, conhecer outras pessoas, mudar percursos rotineiros
e descobrir construções, montanhas, árvores,
jardins, lojas, escolas, que não sabíamos existir. Mudemos
a estação de rádio e ouçamos outras músicas,
outras conversas, mesmo que haja um estranhamento inicial.
Provemos novos sabores, novos temperos, novas frutas, novos pães,
novos sucos, novos grãos, saboreando é claro.
Escolhamos novos aromas, para o banho, para a casa, para o jardim,
para o vaso de flores, para a roupa de cama.
Leiamos velhos livros outra vez e descubramos coisas que não
tínhamos visto e ousemos ler sobre assuntos nunca lidos.
Customizemos uma velha blusa, um velho casaco, uma velha calça
e vejamo-nos diferentes no espelho.
Não há alma que não possa renascer fazendo
brotar em si novas florescências, diz Denis, e nós
assim acreditamos e, vira e mexe, reativamos essa ideia-borboleta
em nossa mente e buscamos inovar no nosso dia a dia, ainda que em
pequenas coisas que acabam por se realizar.
Lembrar disso ao preparar uma aula, se você ensina, lembrar
disso ao iniciar as tarefas domésticas se você cuida
da casa, lembrar disso ao sentir-se assustado diante de alguém
que pensa diferente, que pinta um quadro diferente, que usa uma roupa
diferente e encantar-se com a diversidade que brilha em cada pequena
amostra da Natureza, em toda a Criação e que nós,
espíritos imortais, centelhas divinas, escolhemos tentar uniformizar,
plastificar, compactar num programa que logo irá se exaurir
e adoecer seu próprio criador.
Não somos Polianas brincando de jogo do contente. Conhecemos,
se não todas as dores, muitas delas. E vimos que se existe
uma força capaz de curá-las é o ENTUSIASMO, a
mesma que faz uma flor brotar entre as pedras, a incontrolável
força que gera a vida.
E, finalmente, quero lembrar que o entusiasmo é uma cura contagiosa.
Entusiasme-se e contagiará os que se perderam no marasmo da
vida, balançando, sem rumo, ao sabor das ondas da existência.
Entusiasmemo-nos!
Isso é mais do que necessário, isso é urgente!