Espiritualidade e Sociedade





Luzia Mathias

>   Autodescobrimento

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Luzia Mathias
>   Autodescobrimento

 

 

“Porque se desconhece vitimado por heranças ancestrais — de outras reencarnações —, de castrações domésticas, de fobias que prevalecem da infância, pela falta de amadurecimento psicológico e outros, o indivíduo permanece fragilizado, suscetível aos estímulos negativos, por falta da autoestima, do autorrespeito, dominado pelos complexos de inferioridade e pela timidez, refugiando-se na insegurança e padecendo aflições perfeitamente superáveis, que lhe cumpre ultrapassar mediante cuidadoso programa de discernimento dos objetivos da vida e pelo empenho em vivenciá-lo.”

 

Todos os mestres da Humanidade, que a acompanham ao longo de sua árdua ascensão desde a animalidade à angelitude, têm apontado o caminho do autoconhecimento como estrada inevitável a ser trilhada.

Todavia o ser humano impregnado das experiências rudes da sobrevivência mais primitiva ainda reluta a dar início a esse processo de responsabilizar-se por si mesmo, por suas emoções, por suas escolhas, por seu bem ou mal-estar psicológico, mantendo seu olhar para fora, onde imagina estão os inimigos de sua felicidade.

Desse modo permanece muito mais em atitude defensiva contra o outro, contra o mundo, que percebe como causa de seus sofrimentos do que em processo de olhar para dentro de si mesmo e lá identificar seus (nossos) verdadeiros inimigos.

Desde o Templo de Delphos com a celebre inscrição, adotada como roteiro existencial por Sócrates “Conhece-te a ti mesmo”; de Jesus convocando a tirarmos a trave do nosso olho em vez de ficarmos procurando argueiros minúsculos nos olhos dos outros; chegando a Agostinho no célebre roteiro compartilhado nas respostas 919 e 919a de O Livro dos Espíritos a lição é a mesma: Olhar para dentro, porque é lá que estão todas as respostas que precisamos conhecer para nos curarmos de nossas doenças espirituais, alavancar nosso progresso, tirarmos o máximo proveito das oportunidades que nos chegam, em resumo, ser mais saudável e feliz.




Carl Gustav Jung, criador da Psicologia Analítica ou Profunda, afirmou: “Sua visão se tornará clara somente quando você olhar para dentro do seu coração. Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta.”

Com Jung, na espiritualidade Joanna de Ângelis se preparou para ditar sua série psicológica e é dela o livro Autodescobrimento onde se encontra o texto em epígrafe. Nesse livro precioso Joanna apresenta o Homem em sua Integralidade, Espírito-Mente-Matéria, e nos convida a uma viagem de resgate de nós mesmos, que somos muito mais do que o Ego, ou personalidade criada para o aproveitamento das experiências da presente reencarnação.

Consciente, Inconsciente Pessoal e Arquetípico (ou sagrado), Emoções e Sentimentos, são tratados pela mentora com vistas a dar não só um mapa da psique — tarefa dos teóricos — mas também um roteiro sobre como aproveitar toda essa riqueza de conteúdos e experiências com vistas à saúde integral de cada um que se lançar nessa viagem.

Saindo do teórico, entendo que no âmbito desse artigo me cabe ser prática e objetiva, e para isso escolhi compartilhar o processo que viemos desenvolvendo no grupo terapêutico Viver em Plenitude, mais conhecido como Autocura, oferecido pelo CELD a todos os interessados, e que tem como fio condutor das rodas de conversa e das vivências terapêuticas o pensamento de Joanna de Ângelis.

Vamos resumir aqui o processo em TRÊS TEMPOS:

- Primeiro tempo: RESPONSABILIDADE.

Uma vez decididos a acolher em nossos espíritos a instrução de TODOS os mestres da Humanidade como os já citados, iniciamos, e nunca mais abandonamos, o caminho do autoconhecimento. E a primeira grande mudança será essa: deixar de procurar a causa dos nossos sofrimentos nos outros e dispormo-nos a encontrá-la em nos mesmos.

Afirmo para mim mesmo que TODOS os meus SOFRIMENTOS têm sua CAUSA em mim
mesmo, minhas emoções, meus pensamentos, minhas experiências.

- Segundo tempo: DIÁLOGO INTERIOR

Acredito que é possível aprender a DIALOGAR comigo mesmo, buscando COMPREENDER minhas próprias emoções, pensamentos e experiências.

- Terceiro tempo: MUDANÇA

Elaborarei, a partir da identificação e da compreensão dos eventos psíquicos (emoções, pensamento e experiências) encontrados em MIM MESMO, NOVAS ATITUDES, NOVAS ESCOLHAS, que se mostrem mais eficazes para me darem saúde e bem-estar psíquico a ser refletido naturalmente nas relações sociais e no próprio corpo físico, propiciando um melhor aproveitamento da oportunidade reencarnatória.

É isso: RESPONSABILIDADE + DIÁLOGO INTERIOR + MUDANÇA.

Vamos trabalhar com um exemplo?

Digamos que você que me lê, vive nesse momento um conflito de relacionamento, seja em família, no trabalho, na casa espírita, em sociedade.

Até aprender o AUTOCONHECIMENTO tais conflitos nos parecem CAUSADOS pelos funcionamentos, atitudes, palavras, escolhas dos outros. E aí nos debatemos impotentes em cenários de abuso, desrespeito, aflição, medo, sem esboçar uma reação que não seja falar, criticar, chorar, orar, lamentar, aguardando que o outro se disponha a mudar, inconscientes de que a mudança, seja ela qual for, é tão difícil para o outro quanto o é para nós mesmos.

E aí? No caminho do Autoconhecimento qual o primeiro passo? RESPONSABILIZAR-SE.

Primeiro tempo:

Olhar para o conflito de relacionamento, evitando o caminho já conhecido e inútil, beco sem saída, de responsabilizar o outro, e admitir que tenho sim, total participação na forma como as relações se estabelecem e se mantêm.

Muitas vezes observaremos perplexos que as pessoas que se mostram difíceis para nós não representam nenhuma dificuldade para outrem e são até agradáveis para outras tantas. Veremos que as regras que em nosso convívio não são respeitadas são obedientemente seguidas em outros ambientes de relacionamento.

Enfim, mesmo que tenha dúvidas admita para poder começar a viagem (espécie de pedágio) que tem RESPONSABILIDADE sobre seus relacionamentos.

Observe que estamos dando ênfase à palavra RESPONSABILIDADE para diferenciar essa atitude produtiva daquela outra, destrutiva que é a da CULPA que também é uma forma de não se responsabilizar.

Responsabilizou-se? Podemos continuar?

Vamos ao segundo tempo: DIÁLOGO INTERIOR

Para dialogar com qualquer pessoa é preciso fazer-lhe perguntas, responder as perguntas que ela nos fizer, ser bom ouvinte e contar com a boa escuta também. E preciso ter a boa intenção de compreendê-la sem críticas, sem acusações, sem cansaço. É preciso confiar na pessoa.

No diálogo interior não é diferente.

Então amorosamente, mas com firmeza, me farei as perguntas naturais que seriam feitas para alguém a quem desejo verdadeiramente conhecer e acima de tudo acolher e compreender com suas qualidades e defeitos, com seus erros e acertos, lembrando que estou diante de um espírito em evolução, uma centelha divina a caminho da luz. E me darei escuta atenta e respeitosa, sejam quais forem as respostas.

Voltando ao nosso exemplo do conflito de relacionamento, diante daquilo que o outro me apresenta e que me causa sofrimento trocarei as perguntas que tenho feito para fora para perguntas para dentro.

Perguntas para fora: Por que ele (a) faz isso comigo? Por que isso sempre acontece comigo? Por que não me compreendem? Por que não me ajudam? Por que nunca consigo o que busco nos relacionamentos?

Perguntas para dentro (são as mesmas só que feitas para mim mesmo) Por que faço isso comigo? O que em mim responde por essas emoções, pensamentos e comportamentos que me prejudicam? Por que me coloco sempre nas mesmas situações? Como explicar o que faço para mim mesmo? Por que não me ajudo, quer dizer não faço algo por mim, não busco mudanças para mim mesmo? Porque não me dou aquilo que vivo pedindo às pessoas com quem me relaciono?

Claro que no início — e o início pode levar muito tempo porque afinal mantemos essas respostas trancadas a sete chaves — podemos ficar paralisados no tal de “não sei”. Ou então voltamos ao hábito de responsabilizar os outros tipo “meus pais”; “meus irmãos”, “meus filhos”, meus amigos e colegas de trabalho” “o dirigente da casa espírita” “obsessores”, “este país”, “meu cônjuge”... e por aí vai.

Mas uma vez decididos a prosseguir no processo de Autoconhecimento, que aliás vamos ter que encetar mais cedo ou mais tarde, ao começar a obter respostas, teremos encontrado um tesouro.

Encontraremos uma criança ferida chorando num cantinho. Ela tem chorado todo esse tempo, só que ficamos aguardando ser consolados pelos adultos, os outros, esquecidos de que agora nós mesmos somos adultos, e podemos nós mesmos consolá-la, dar-lhe o que necessita, assegurar-lhe amor.

Uma vez consolada a criança nos retribuirá com sua inesgotável criatividade com a qual um dia inventamos brincadeiras, construímos brinquedos, iluminará nosso olhar com esperança e encantamento.

Dando-nos a atenção amorosa que merecemos encontraremos um jovem que errou e sente vergonha ou culpa. Entenderemos suas motiva ções e sua fragilidade emocional e o abraçaremos fraternalmente em nome de Jesus.   

Encontraremos alguém que acreditou quando lhe disseram que não tinha valor. Encontraremos um espírito que ainda sente raiva, medo da solidão. Encontraremos alguém que foi magoado, frustrado em seus sonhos. Encontraremos, adormecido e desacreditado, um herdeiro de Deus com todas as suas potências, Vontade, Pensamento, Amor, e Sensibilidade, esperando ser compreendido, perdoado, incentivado, encorajado, protegido, defendido, aceito, para desabrochar. Enfim, encontraremos alguém que espera ser amado como merece. Estendemos-lhe a mão em nome de Jesus.

As respostas virão e com elas o caminho da MUDANÇA

Vamos a ela:

Terceiro tempo: O sucesso desse momento vai depender do material que conseguimos obter no segundo.

E assim, uma vez amado, aceito e aprovado, com sua criatividade desperta e permitida, o ser irá ultrapassar as aflições, como quer Joanna de Ângelis, porque essa é a sua missão, o motivo ou objetivo de estar vivo e empenhado nesse propósito.

A atitude nova, ou a MUDANÇA, uma vez permitida, irá brilhar na luz da consciência. Mas mesmo assim poderá encontrar resistências: o hábito, a preguiça mental, o medo, a fragilidade real ou imaginária.

É a hora de fazer a MUDANÇA acontecer, de buscar ajuda se necessário, de correr riscos, mas riscos saudáveis, caminhos de saúde e de renovação.

Mesmo que de uma vez se tenha fracassado é hora de tentar outra vez. E mais uma vez ainda.

Joanna afirma, em total concordância com a Neurociência que os bons hábitos são adquiridos do mesmo modo que os maus hábitos, pela insistência.

Transformar esses três passos de autoconhecimento em hábito é pois uma questão de exercício.

Uma vez iniciado, o processo de Autoconhecimento é irreversível, mas sofre naturalmente de altos e baixos. Os baixos ocorrem principalmente porque responsabilizar causas externas pelo que não vai bem em nossa vida também é um hábito, hábitos adoecidos como o de vitimizar-se, de enraivecer-se, de paralisar-se diante das situações e que relutarão em ceder espaço, aos novos hábitos que o Autoconhecimento irá propor: responsabilizar-se, tranquilizar-se e motivar-se diante dos mesmos obstáculos.

A perseverança no caso é a palavra chave. Com ela vamos tendo resultados que nos encorajarão ao prosseguimento da ação, pois iremos conquistando autonomia emocional, paz, produtividade e naturalmente solucionando os conflitos antes percebidos como insolúveis.

Como já foi dito, busquemos ajuda, se for necessário.

Não como a criança que necessita que alguém resolva seus problemas, satisfaça suas necessidades e até atenda a seus caprichos. Mas como espírito em evolução que assume a parte que lhe cabe, que é única, pessoal e intransferível, e nesse lugar será sem dúvida intuído, apoiado por um profissional, atrairá simpatias por outros que estejam no mesmo caminho.

Quando somos apresentados a alguém, dizemos muitas vezes:

— Prazer em conhecer!

Estamos devendo esse prazer a nós mesmos.

 

Fonte: Revista CELD de Estudos Espíritas
https://celd.xyz/wp-content/uploads/08-Revista_CELD_Agosto-2018.pdf

 

 

 

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