“Porque se desconhece vitimado por heranças
ancestrais — de outras reencarnações —,
de castrações domésticas, de fobias que prevalecem
da infância, pela falta de amadurecimento psicológico
e outros, o indivíduo permanece fragilizado, suscetível
aos estímulos negativos, por falta da autoestima, do autorrespeito,
dominado pelos complexos de inferioridade e pela timidez, refugiando-se
na insegurança e padecendo aflições perfeitamente
superáveis, que lhe cumpre ultrapassar mediante cuidadoso
programa de discernimento dos objetivos da vida e pelo empenho em
vivenciá-lo.”
Todos os mestres
da Humanidade, que a acompanham ao longo de sua árdua ascensão
desde a animalidade à angelitude, têm apontado o caminho
do autoconhecimento como estrada inevitável a ser trilhada.
Todavia o ser humano impregnado das experiências rudes da sobrevivência
mais primitiva ainda reluta a dar início a esse processo de
responsabilizar-se por si mesmo, por suas emoções, por
suas escolhas, por seu bem ou mal-estar psicológico, mantendo
seu olhar para fora, onde imagina estão os inimigos de sua
felicidade.
Desse modo permanece muito mais em atitude defensiva contra o outro,
contra o mundo, que percebe como causa de seus sofrimentos do que
em processo de olhar para dentro de si mesmo e lá identificar
seus (nossos) verdadeiros inimigos.
Desde o Templo de Delphos com a celebre inscrição, adotada
como roteiro existencial por Sócrates “Conhece-te a ti
mesmo”; de Jesus convocando a tirarmos a trave do nosso olho
em vez de ficarmos procurando argueiros minúsculos nos olhos
dos outros; chegando a Agostinho no célebre roteiro compartilhado
nas respostas 919 e 919a de O Livro dos Espíritos
a lição é a mesma: Olhar para dentro, porque
é lá que estão todas as respostas que precisamos
conhecer para nos curarmos de nossas doenças espirituais, alavancar
nosso progresso, tirarmos o máximo proveito das oportunidades
que nos chegam, em resumo, ser mais saudável e feliz.
Carl Gustav Jung, criador da Psicologia
Analítica ou Profunda, afirmou: “Sua visão
se tornará clara somente quando você olhar para dentro
do seu coração. Quem olha para fora sonha, quem olha
para dentro desperta.”
Com Jung, na espiritualidade Joanna de Ângelis se preparou para
ditar sua série psicológica e é dela o livro
Autodescobrimento onde se encontra o texto em epígrafe.
Nesse livro precioso Joanna apresenta o Homem em sua Integralidade,
Espírito-Mente-Matéria, e nos convida a uma viagem de
resgate de nós mesmos, que somos muito mais do que o Ego, ou
personalidade criada para o aproveitamento das experiências
da presente reencarnação.
Consciente, Inconsciente Pessoal e Arquetípico (ou sagrado),
Emoções e Sentimentos, são tratados pela mentora
com vistas a dar não só um mapa da psique — tarefa
dos teóricos — mas também um roteiro sobre como
aproveitar toda essa riqueza de conteúdos e experiências
com vistas à saúde integral de cada um que se lançar
nessa viagem.
Saindo do teórico, entendo que no âmbito desse artigo
me cabe ser prática e objetiva, e para isso escolhi compartilhar
o processo que viemos desenvolvendo no grupo terapêutico Viver
em Plenitude, mais conhecido como Autocura, oferecido pelo CELD a
todos os interessados, e que tem como fio condutor das rodas de conversa
e das vivências terapêuticas o pensamento de Joanna de
Ângelis.
Vamos resumir aqui o processo em TRÊS
TEMPOS:
- Primeiro tempo: RESPONSABILIDADE.
Uma vez decididos a acolher em nossos espíritos a instrução
de TODOS os mestres da Humanidade como os já citados, iniciamos,
e nunca mais abandonamos, o caminho do autoconhecimento. E a primeira
grande mudança será essa: deixar de procurar a causa
dos nossos sofrimentos nos outros e dispormo-nos a encontrá-la
em nos mesmos.
Afirmo para mim mesmo que TODOS os meus SOFRIMENTOS têm sua
CAUSA em mim
mesmo, minhas emoções, meus pensamentos, minhas experiências.
- Segundo tempo: DIÁLOGO INTERIOR
Acredito que é possível aprender a DIALOGAR
comigo mesmo, buscando COMPREENDER minhas próprias emoções,
pensamentos e experiências.
- Terceiro tempo: MUDANÇA
Elaborarei, a partir da identificação e da compreensão
dos eventos psíquicos (emoções, pensamento e
experiências) encontrados em MIM MESMO, NOVAS ATITUDES, NOVAS
ESCOLHAS, que se mostrem mais eficazes para me darem saúde
e bem-estar psíquico a ser refletido naturalmente nas relações
sociais e no próprio corpo físico, propiciando um melhor
aproveitamento da oportunidade reencarnatória.
É isso: RESPONSABILIDADE + DIÁLOGO INTERIOR
+ MUDANÇA.
Vamos trabalhar com um exemplo?
Digamos que você que me lê, vive nesse momento um conflito
de relacionamento, seja em família, no trabalho, na casa espírita,
em sociedade.
Até aprender o AUTOCONHECIMENTO tais conflitos nos parecem
CAUSADOS pelos funcionamentos, atitudes, palavras, escolhas dos outros.
E aí nos debatemos impotentes em cenários de abuso,
desrespeito, aflição, medo, sem esboçar uma reação
que não seja falar, criticar, chorar, orar, lamentar, aguardando
que o outro se disponha a mudar, inconscientes de que a mudança,
seja ela qual for, é tão difícil para o outro
quanto o é para nós mesmos.
E aí? No caminho do Autoconhecimento qual o primeiro passo?
RESPONSABILIZAR-SE.
Primeiro tempo:
Olhar para o conflito de relacionamento, evitando o caminho já
conhecido e inútil, beco sem saída, de responsabilizar
o outro, e admitir que tenho sim, total participação
na forma como as relações se estabelecem e se mantêm.
Muitas vezes observaremos perplexos que as pessoas que se mostram
difíceis para nós não representam nenhuma dificuldade
para outrem e são até agradáveis para outras
tantas. Veremos que as regras que em nosso convívio não
são respeitadas são obedientemente seguidas em outros
ambientes de relacionamento.
Enfim, mesmo que tenha dúvidas admita para poder começar
a viagem (espécie de pedágio) que tem RESPONSABILIDADE
sobre seus relacionamentos.
Observe que estamos dando ênfase à palavra RESPONSABILIDADE
para diferenciar essa atitude produtiva daquela outra, destrutiva
que é a da CULPA que também é uma forma de não
se responsabilizar.
Responsabilizou-se? Podemos continuar?
Vamos ao segundo tempo: DIÁLOGO INTERIOR
Para dialogar com qualquer pessoa é preciso fazer-lhe perguntas,
responder as perguntas que ela nos fizer, ser bom ouvinte e contar
com a boa escuta também. E preciso ter a boa intenção
de compreendê-la sem críticas, sem acusações,
sem cansaço. É preciso confiar na pessoa.
No diálogo interior não é diferente.
Então amorosamente, mas com firmeza, me farei as perguntas
naturais que seriam feitas para alguém a quem desejo verdadeiramente
conhecer e acima de tudo acolher e compreender com suas qualidades
e defeitos, com seus erros e acertos, lembrando que estou diante de
um espírito em evolução, uma centelha divina
a caminho da luz. E me darei escuta atenta e respeitosa, sejam quais
forem as respostas.
Voltando ao nosso exemplo do conflito de relacionamento, diante daquilo
que o outro me apresenta e que me causa sofrimento trocarei as perguntas
que tenho feito para fora para perguntas para dentro.
Perguntas para fora: Por que ele (a) faz isso comigo? Por que isso
sempre acontece comigo? Por que não me compreendem? Por que
não me ajudam? Por que nunca consigo o que busco nos relacionamentos?
Perguntas para dentro (são as mesmas só que feitas para
mim mesmo) Por que faço isso comigo? O que em mim responde
por essas emoções, pensamentos e comportamentos que
me prejudicam? Por que me coloco sempre nas mesmas situações?
Como explicar o que faço para mim mesmo? Por que não
me ajudo, quer dizer não faço algo por mim, não
busco mudanças para mim mesmo? Porque não me dou aquilo
que vivo pedindo às pessoas com quem me relaciono?
Claro que no início — e o início pode levar muito
tempo porque afinal mantemos essas respostas trancadas a sete chaves
— podemos ficar paralisados no tal de “não sei”.
Ou então voltamos ao hábito de responsabilizar os outros
tipo “meus pais”; “meus irmãos”, “meus
filhos”, meus amigos e colegas de trabalho” “o dirigente
da casa espírita” “obsessores”, “este
país”, “meu cônjuge”... e por aí
vai.
Mas uma vez decididos a prosseguir no processo de Autoconhecimento,
que aliás vamos ter que encetar mais cedo ou mais tarde, ao
começar a obter respostas, teremos encontrado um tesouro.
Encontraremos uma criança ferida chorando num cantinho. Ela
tem chorado todo esse tempo, só que ficamos aguardando ser
consolados pelos adultos, os outros, esquecidos de que agora nós
mesmos somos adultos, e podemos nós mesmos
consolá-la, dar-lhe o que necessita, assegurar-lhe amor.
Uma vez consolada a criança nos retribuirá com sua inesgotável
criatividade com a qual um dia inventamos brincadeiras, construímos
brinquedos, iluminará nosso olhar com esperança e encantamento.
Dando-nos a atenção amorosa que merecemos encontraremos
um jovem que errou e sente vergonha ou culpa. Entenderemos suas motiva
ções e sua fragilidade emocional e o abraçaremos
fraternalmente em nome de Jesus.
Encontraremos alguém que acreditou quando lhe disseram que
não tinha valor. Encontraremos um espírito que ainda
sente raiva, medo da solidão. Encontraremos alguém que
foi magoado, frustrado em seus sonhos. Encontraremos, adormecido e
desacreditado, um herdeiro de Deus com todas as suas potências,
Vontade, Pensamento, Amor, e Sensibilidade, esperando ser compreendido,
perdoado, incentivado, encorajado, protegido, defendido, aceito, para
desabrochar. Enfim, encontraremos alguém que espera ser amado
como merece. Estendemos-lhe a mão em nome de Jesus.
As respostas virão e com elas o caminho da MUDANÇA
Vamos a ela:
Terceiro tempo: O sucesso desse momento vai depender do material que
conseguimos obter no segundo.
E assim, uma vez amado, aceito e aprovado, com sua criatividade desperta
e permitida, o ser irá ultrapassar as aflições,
como quer Joanna de Ângelis, porque essa é a sua missão,
o motivo ou objetivo de estar vivo e empenhado nesse propósito.
A atitude nova, ou a MUDANÇA, uma vez permitida, irá
brilhar na luz da consciência. Mas mesmo assim poderá
encontrar resistências: o hábito, a preguiça mental,
o medo, a fragilidade real ou imaginária.
É a hora de fazer a MUDANÇA acontecer, de buscar ajuda
se necessário, de correr riscos, mas riscos saudáveis,
caminhos de saúde e de renovação.
Mesmo que de uma vez se tenha fracassado é hora de tentar outra
vez. E mais uma vez ainda.
Joanna afirma, em total concordância com a Neurociência
que os bons hábitos são adquiridos do mesmo modo que
os maus hábitos, pela insistência.
Transformar esses três passos de autoconhecimento em hábito
é pois uma questão de exercício.
Uma vez iniciado, o processo de Autoconhecimento é irreversível,
mas sofre naturalmente de altos e baixos. Os baixos ocorrem principalmente
porque responsabilizar causas externas pelo que não vai bem
em nossa vida também é um hábito, hábitos
adoecidos como o de vitimizar-se, de enraivecer-se, de paralisar-se
diante das situações e que relutarão em ceder
espaço, aos novos hábitos que o Autoconhecimento irá
propor: responsabilizar-se, tranquilizar-se e motivar-se diante dos
mesmos obstáculos.
A perseverança no caso é a palavra chave. Com ela vamos
tendo resultados que nos encorajarão ao prosseguimento da ação,
pois iremos conquistando autonomia emocional, paz, produtividade e
naturalmente solucionando os conflitos antes percebidos como insolúveis.
Como já foi dito, busquemos ajuda, se for necessário.
Não como a criança que necessita que alguém resolva
seus problemas, satisfaça suas necessidades e até atenda
a seus caprichos. Mas como espírito em evolução
que assume a parte que lhe cabe, que é única, pessoal
e intransferível, e nesse lugar será sem dúvida
intuído, apoiado por um profissional, atrairá simpatias
por outros que estejam no mesmo caminho.
Quando somos apresentados a alguém, dizemos muitas vezes:
— Prazer em conhecer!
Estamos devendo esse prazer a nós mesmos.