No dia 18
de abril, deste ano, de 2017 comemoramos os 160 anos da publicação
da obra que deu origem ao Espiritismo: O Livro dos Espíritos.
O autor, professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, muito conhecido
e respeitado no meio científico, cultural e educacional de Paris,
preferiu assinar a obra com o pseudônimo de “ALLAN KARDEC”.
Com essa escolha a obra não receberia o aval do seu conhecido
nome, mas sim a futura consagração do público a
partir apenas do seu próprio conteúdo. O que aconteceria
num tempo muito curto.
Ao longo de 13 anos, ainda durante a vida de Kardec, saíram 17
edições do livro. Foram vendidos centenas de exemplares
para todos os continentes, o que fez com que o Espiritismo se tornasse
a doutrina filosófica que mais crescia em todo o mundo, principalmente
na classe mais culta da sociedade.
Na sua obra Revista Espírita, do mês de janeiro
de 1869, Kardec publica uma estatística na qual ele estima o
número dos espíritas do mundo inteiro em seis ou sete
milhões. Sobre esse número ele afirma: “a História
não oferece nenhum exemplo de uma doutrina que em menos de quinze
anos tivesse reunido tal número de adeptos disseminados por toda
a superfície do globo”.
O sucesso do Espiritismo no século 19 se deveu, principalmente,
à qualidade dos livros de Kardec, sua clareza e profundidade.
Kardec era um exímio escritor, comparável aos maiores
escritores de todos os tempos. É muito difícil resistir
aos seus textos, com um estilo didático, lógico, argumentativo
e profundo, demostrando um grande domínio das ciências
e das filosofias de sua época.
São muitos os autores que escrevem de forma clara. Há,
também, um bom número dos que escrevem com profundidade.
No entanto, autores que escrevem de forma clara e, ao mesmo tempo, profunda
são raros. O grande escritor e filósofo materialista Nietzsche
expressou de forma provocativa essa característica rara dos grandes
escritores:
“Quem se sabe profundo se esforça
para ser claro; quem gostaria de parecer profundo à multidão
se esforça para ser obscuro”.
(Nietzsche, A Gaia Ciência, III, 173.)
Kardec não desperdiçava
palavras, nem as economizava. Sabia combiná-las na medida certa,
em textos precisos, ricos e agradáveis. Ao estudá-los,
aprendemos ao mesmo tempo uma nova filosofia e uma nova forma de escrever
filosofia. Ele escrevia para todos. Não apenas para os especialistas.
Seu exemplo de escritor de filosofia ainda hoje precisaria ser imitado.
A filosofia acadêmica se distanciou muito das pessoas comuns.
Com Kardec, temas filosóficos profundos, como Deus, alma, liberdade,
livre-arbítrio, vontade, virtude, etc., puderam ser aprendidos
por todos. Daí sua didática e clareza.
Seus textos também seriam admirados pelos especialistas em filosofia,
por mais exigentes que sejam. Sua riqueza é inesgotável.
Ele responde com profundidade e clareza às mais importantes questões
sobre o Homem, questões que têm sido abordadas pelos filósofos
de todos os tempos, dos pré-socráticos aos pós-modernos.
Na história do pensamento humano a alma foi investigada de forma
especulativa na área da filosofia denominada metafísica
ou nas religiões. Os pensadores, religiosos e filósofos
usavam apenas dos recursos da imaginação e da razão.
Não se conhecia nenhuma forma de se estudar empiricamente a alma.
A especulação metafísica era o único recurso
disponível. Cada um propunha o seu sistema. As discussões
eram intermináveis. Os cientistas ficavam de fora, pois não
se concebia a possibilidade de um estudo científico da alma.
Com o grande sucesso das ciências no século
19, principalmente com o desenvolvimento das ciências do cérebro,
o materialismo ganha força entre os cientistas. As questões
sobre a alma foram deixadas para os metafísicos e religiosos.
Os espiritualistas não encontravam espaço nas academias
de ciência. O materialismo parecia ter vencido definitivamente
a batalha.
Mas, a Providência Divina, conforme já havia sido previsto
pelo Cristo ao anunciar a vinda futura do Espírito de Verdade,
o consolador que ficaria eternamente conosco, veio em socorro
da Humanidade. Fazendo com que os espíritos, ou as almas dos
que morreram, se manifestassem, em intensidade jamais vista na história
humana, em todas as partes do mundo.
Os chamados fenômenos espíritas tomam conta do
planeta. Despertando a atenção das classes esclarecidas
da sociedade. E, em Paris, as mesas girantes ocupam os salões
de teatros e restaurantes.Todos queriam assistir àquilo que ficou
conhecido como as danças das mesas.
Kardec, ou melhor, Hippolyte é convidado por um amigo a conhecer
o novo fenômeno. Suas primeiras experiências, em maio de
1855, estimulam o seu espírito de cientista e filósofo
que viu ali a solução dos mais graves problemas humanos:
“Eu entrevia, naquelas
aparentes futilidades, no passatempo que faziam daqueles fenômenos,
qualquer coisa de sério, como que a revelação
de uma nova lei, que tomei a mim estudar a fundo”.
(Obras Póstumas)
Foi o que ele fez. Dedicou-se com todas as suas forças
e competências neste que foi o projeto de sua vida: a construção,
junto com os Espíritos, do Espiritismo.
Com os fenômenos espíritas, a possibilidade de uma
ciência da alma se torna real.
Aparece o elemento que faltava para a construção dessa
ciência: as observações e as experiências.
Toda ciência é construída com o uso combinado da
razão, da observação e da experiência. A
razão sozinha não é suficiente. Um conjunto de
fenômenos por si mesmo não constitui uma ciência.
Uma ciência de observação é um programa de
pesquisas com leis gerais obtidas pelo uso da razão, com apoio
e confirmação das observações e experiências.
Sem os fenômenos espíritas não seria possível
uma genuína ciência da alma.

Por isso, o Espiritismo só pôde surgir no século
19, quando as observações e as experiências ficaram
disponíveis para todos e em todos os lugares.
Foi nesse contexto dos fenômenos espíritas que Hippolyte
escreveria a sua obra monumental: O Livro dos Espíritos.
Obra que contém os princípios fundamentais da ciência
e da filosofia espíritas.
Com a publicação dessa obra, em 18 de abril de 1857, nasceu
Allan Kardec. A partir daí não mais veríamos na
literatura o nome Hippolyte. Allan Kardec passa a ocupar o lugar na
história das ciências e das filosofias.
O Espiritismo pôde, por ele, ser definido da seguinte maneira:
“O Espiritismo é, ao
mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina
filosófica. Como ciência prática ele consiste nas
relações que se estabelecem entre nós e os espíritos;
como filosofia, compreende todas as consequências morais que dimanam
dessas mesmas relações”. (O
Que é o Espiritismo? Preâmbulo.)
Com esta definição, Kardec deixa clara a abrangência
dessa sua principal obra.
O Livro dos Espíritos, ao estabelecer os princípios
de uma ciência de observação, deve estudar as leis
fundamentais que regulam as relações entre os espíritos
e os homens, ou entre o mundo dos espíritos e o mundo corporal.
Aí está a sua parte de ciência prática.
E, como filosofia, O Livro dos Espíritos estuda as consequências
morais que surgem a partir da
compreensão das leis que regulam essas relações
entre os dois mundos.
A filosofia espírita não é assim uma filosofia
puramente especulativa, como os sistemas filosóficos tradicionais.
Sua filosofia é baseada na própria ciência espírita.
O uso da razão e da imaginação na filosofia espírita
deve ser sustentado nos resultados da ciência espírita.
Por isso, pôde afirmar Kardec que O Livro dos Espíritos
estabelece “os fundamentos de uma filosofia racional,
isenta dos preconceitos do espírito de sistema” (Prolegômenos).
Não é um sistema filosófico para competir com os
já existentes. É uma filosofia que se apoia numa genuína
ciência da alma. Saímos do terreno da metafísica
para adentrarmos no espaço moderno de uma filosofia de uma ciência.
No mesmo sentido em que hoje se faz uma filosofia da física ou
da mecânica quântica.
Para fazer filosofia espírita é imprescindível
conhecer a ciência espírita. Não há filosofia
espírita sem a ciência espírita. Não se pode
aprofundar uma sem a outra.
Em 1857, uma nova era para a Humanidade começou a surgir.
Pela primeira vez na história é apresentada, em linguagem
clara e profunda, a primeira e genuína ciência da alma.
Construída com o que há de mais moderno em metodologia
científica.
Talvez seja por isso que o Espírito de Verdade escreveu:
“Deus dirige um supremo apelo aos vossos
corações, por meio do Espiritismo. Escutai-o.”
(O Evangelho..., cap.VI, item 7.)
Um “supremo apelo” pode significar que não haveria
um novo tipo de revelação espiritual para a Humanidade.
Por que deveria haver?
Uma revelação científico-filosófica já
é o bastante.
O Espiritismo faz uso desta forma especial de construção
do conhecimento que demorou tanto tempo para ser elaborada e aperfeiçoada
pelos maiores pensadores de todos os tempos: a Ciência.
Essa forma rica e profunda para o homem se aproximar da verdade, por
meio do bom uso da razão, da observação e da experiência.
Não esperemos uma quarta revelação!
Quem não se convencer por meio de uma ciência e de suas
consequências filosóficas, tem orgulho demais.
Só Deus saberia dizer o que seria necessário para quebrar
tanto orgulho e teimosia. Provavelmente não seria neste nosso
planeta que esse homem tão orgulhoso encontraria algo mais convincente.
Para facilitar a aprendizagem para todos os homens, independente de
seu nível intelectual, não dando motivos para que estes
pudessem alegar incapacidade de compreensão, Deus escolheu um
Espírito com a habilidade de expressar essa ciência com
tanta clareza e profundidade.
Kardec foi o Espírito escolhido que melhor soube expressar o
pensamento do Cristo e dos Espíritos Superiores, incumbidos por
Deus de trazer a verdade para todos. Esses Espíritos do Senhor,
que são as virtudes dos céus, espalham-se por toda a superfície
da Terra, para iluminar os caminhos e abrir os olhos aos cegos.
Foram e são chegados os tempos.
Allan Kardec e O Livro dos Espíritos marcaram o início
de uma nova era de progresso espiritual.
Não mais o predomínio da ciência materialista num
campo que não lhe pertence.
As ciências da matéria continuarão no seu progresso
e desenvolvimento, mas dentro do seu objetivo específico de estudar
o mundo corporal. Cabe ao Espiritismo o papel de ciência e filosofia
da alma.
Com Allan Kardec e O Livro dos Espíritos, o Espiritismo ganha
o seu merecido lugar ao lado das grandes construções da
ciência e da filosofia.
Salve Allan Kardec!
Salve O Livro dos Espíritos!
Muito obrigado por esse legado eterno de luz e verdade
Fonte:
https://celd.xyz/wp-content/uploads/04-Revista_CELD_Abril-2017.pdf

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