Espiritualidade e Sociedade





Luciano Mancilha

>   Desmistificando a Mediunidade

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Luciano Mancilha
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"Mediunidade é uma faculdade natu ral que permite sentir e transmitir a influência dos Espíritos, ensejando o intercâmbio, a comunicação entre o mundo físico e o espiritual". Esta bela definição, contida em (Cap. 1, livro "Mediunidade", de Therezinha Oliveira), resume perfeitamente o conceito espírita sobre o tema. É uma faculdade, o que significa que pode ou não ser exercida. É natural, dado que não existe o sobrenatural e que absolutamente tudo reside em leis naturais. Permite o intercâmbio entre os dois planos da vida: o plano espiritual, onde residem os espíritos desencarnados, e o plano material, onde estes mesmos espíritos reencarnam de tempos em tempos para dar continuidade à sua evolução. O médium é o intermediário, aquele que, a partir de suas faculdades espirituais, percebe a realidade espiritual traduzindo-a para os demais que não possuem essa faculdade.

O fenômeno mediúnico faz parte dos fenômenos espíritas, sendo que estes "consistem nos diferentes modos de manifestação da alma ou Espírito, quer durante a encarnação, quer no estado de erraticidade" (Cap. XIII, item 9, livro "A Gênese", de Allan Kardec). Estes fenômenos espíritas incluem a mediunidade e o animismo. A mediunidade se diferencia do animismo, pois o primeiro fenômeno é produzido por um espírito desencarnado, através de um médium, enquanto que o segundo é produzido apenas pelo encarnado, com suas próprias faculdades espirituais e sem a presença de desencarnados.

O fenômeno mediúnico sempre existiu nos mais variados povos e épocas, culturas e religiões, porque a mediunidade é uma faculdade inerente ao ser humano. Entretanto, sua produção ao longo da história nem sempre foi bem orientada. Inicialmente o intercâmbio mediúnico era feito apenas por iniciados, isto é, por homens ou mulheres preparados especialmente para essa atividade, com treinamento exaustivo e cercado por conhecimento hermético ao vulgo. E, muitas vezes, o fenômeno era exercido com fim egoísta e material, frequentemente associado à pratica do mal. Essa é a razão pela qual Moisés chegou a proibir o intercâmbio mediúnico (Deuteronômio, Cap. 18, vs. 9-12). Interessante observar que Moisés também era médium, o que mostra que sua intenção não era a condenação da mediunidade, mas a coibição dos abusos.

A passagem de Jesus entre nós marcou a "liberação" do uso da mediunidade, já que ele, em muitas passagens, afirma, ensina e exemplifica a prática mediúnica. É interessante observar que, no Novo Testamento, não há uma única passagem em que a proibição de Moisés seja mencionada. O próprio mestre desenvolveu a faculdade mediúnica nos discípulos ("conferiu-lhes o poder"), ordenando que trabalhassem com elas ("curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios") (Mt. 10, vs. 1 e 8).

Alguns séculos depois, ignorando a postura de Jesus, grupos religiosos tentaram novamente proibir o intercâmbio mediúnico, dizendo ser obra do demônio e perseguindo os que o praticavam, sob a acusação de serem bruxos, feiticeiros.

Entretanto, não se pode proibir o que faz parte das leis naturais, da mesma forma que não se pode insistir que o Sol gira em torno da Terra, quando os fatos evidenciam o contrário... Como toda semente só germina em terra fértil e na época certa, a espiritualidade superior houve por bem esperar os séculos, até que as luzes intelectuais e científicas permitissem uma discussão menos fanática sobre o tema, sem o risco de perecer na fogueira quem quisesse investigar e estudar racionalmente o fenômeno. Foi quando um estudioso das Ciências e educador francês, Hippolyte Léon Denizard Rivail, resolveu acompanhar e estudar os fenômenos das mesas girantes, que dominavam os salões fúteis de Paris. Percebeu naqueles fatos algo muito sério e que escapava a uma análise superficial. Constatou que eram "verdadeiros e devidos a uma causa inteligente; essa mesma causa revelou que eram as almas dos homens que já viveram na Terra. Pesquisando mais, verificou que os espíritos manifestantes não eram todos iguais em conhecimento e moralidade, mas que suas informações eram valiosas, como as dos viajantes que nos relatam o que puderam ver e sentir dos países onde estiveram." (Cap. 28, livro "Iniciação ao Espiritismo", de Therezinha Oliveira).

Posteriormente Rivail adotou o pseudônimo de Allan Kardec, que segundo informações mediúnicas fora uma reencarnação antiga sua, ao tempo dos Druidas. Kardec publicaria vários livros, em especial os cinco que formam o chamado "Pentateuco Espírita": O Livro dos Espíritos (18/04/1857), O Livro dos Médiuns (1861), O Evangelho segundo o Espiritismo (1864), O Céu e o Inferno (1865) e a Gênese (1868).

Qualquer espírita sério precisa conhecer a doutrina que professa. Neste sentido, os cinco livros citados de Kardec – também conhecidos como "obras básicas" – precisam ser lidos e estudados constantemente. E, particularmente, "O Livro dos Médiuns" deve ser o manual de todo membro de qualquer reunião mediúnica.

O Espiritismo, que é a doutrina revelada pelos bons Espíritos e codificada por Allan Kardec, não se confunde com a mediunidade, posto que esta é uma faculdade humana, responsável pelo intercâmbio entre os dois planos da vida. "Também é importante distinguir a prática mediúnica espírita da não espírita, embora toda crença sincera e de bons propósitos seja respeitável" (Cap. 1, livro "Reuniões Mediúnicas", de Therezinha Oliveira). A doutrina espírita lança luz sobre a fenomenologia mediúnica; explica os diferentes tipos de mediunidade, seus escolhos, qual é o seu propósito e como deve ser corretamente exercida.

A prática mediúnica espírita é orientada pelos princípios doutrinários do Espiritismo. Portanto: a) obedece a padrões de seriedade e bom senso; b) desenvolve-se em clima de simplicidade, verdade e amor; c) objetiva o progresso espiritual de encarnados e desencarnados. As práticas espíritas não adotam: rituais, vestimentas especiais, altares, simbolismos, imagens nem quaisquer exterioridades materiais ou condicionamentos para os seus participantes; jamais colocam a mediunidade a serviço do bem-estar material imediato.

Para participar de uma reunião mediúnica espírita séria, o participante deve antes conhecer o Espiritismo, especialmente a mediunidade. Portanto, é necessário estudo prévio e sistemático da doutrina, a fim de saber como se portar na reunião, evitando os prejuízos, para si e para os demais, decorrentes de uma prática mediúnica mal orientada. Uma analogia pode ajudar neste entendimento. Leva-se um leigo a um laboratório químico, onde existem produtos inofensivos e tóxicos à saúde? Como ele irá reconhecer que um frasco com líquido incolor contém água em vez de um ácido corrosivo? Como permitir a um neófito manipular substâncias cuja combinação pode provocar danos perigosos a si mesmo e aos demais? Assim sendo, a reunião mediúnica bem conduzida deve ser privativa, formada por pessoas que conhecem a mediunidade. Além disso, é necessário que haja harmonia espiritual entre os participantes, pois isso é essencial para a boa execução dos trabalhos, mormente aqueles de auxílio a desencarnados sofredores, alguns em terrível situação de ignorância espiritual. Sem firme propósito no bem e sintonia nobre de pensamento tornam-se infrutíferas as reuniões deste jaez, uma vez que a desarmonia afasta os espíritos bondosos – chamados de mentores, atraindo no seu lugar espíritos que se afinizam com as mentes perturbadas dos encarnados presentes.

As reuniões mediúnicas geralmente têm um duplo propósito: a) auxiliar espíritos desencarnados sofredores ou ignorantes no mal; b) receber orientação e incentivo de mentores espirituais. A primeira parte realiza-se através de diálogo com os espíritos necessitados, que são trazidos à reunião pela equipe espiritual superior. Estes diálogos não têm como fim a "doutrinação" de espíritos, já que é impossível "instruir alguém em uma doutrina" naqueles breves minutos de intercâmbio mediúnico. O termo doutrinação e doutrinador, embora tendo bastante uso no movimento espírita, não traduzem a realidade. O léxico nos ensina que doutrinar significa "instruir nos princípios de alguma doutrina ou ideia" (dicionário Aurélio). Portanto, não é correto que o curto diálogo com o espírito caracterize uma "doutrinação". É muito frequente o espírito comunicante não ter sequer ideia da sua desencarnação, ou, quando o sabe, não tem condições espirituais de ser instruído em Espiritismo. Aliás, o propósito do diálogo nem é esse... O objetivo é o esclarecimento fraterno, com empatia, paciência e disposição de ouvir. O conhecimento doutrinário e evangélico é importante, mas o fundamental é a vibração no amor, posto que as palavras pouco valem se não estiverem amparadas em um sentimento verdadeiro e solidário.

A mediunidade é um tema fascinante e sua prática, bem orientada, representa uma enorme ferramenta em prol da caridade. Através dela podemos auxiliar o reestabelecimento espiritual de irmãos desencarnados, como também recebemos com a alegria as comunicações de incentivo e alento dos nossos amigos espirituais. É a prova inequívoca da imortalidade da alma, pois o Espírito humano não apenas sobrevive à morte física, mas vem nos contar sobre sua vida no além, suas dores e frustrações, sonhos e conquistas. Longe do misticismo ou da perseguição do passado, a mediunidade encontra hoje no Espiritismo um guia fiel e racional, que orienta de modo simples e seguro sua prática, contribuindo para a evolução espiritual de encarnados e desencarnados.

 

Luciano Mancilha

Departamento de Mediunidade, USE Campinas.

 

 

Fonte: http://www.alavanca.net.br/index.php/template/2014-08-12-04-52-10/item/81-desmistificando-a-mediunidade

 

 

 



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