(trecho inicial)
INTRODUÇÃO
Dona Teresa estava louca. Além de há muito tempo não
realizar mais as tarefas domésticas, quando tinha seus acessos
assumia atitudes muito estranhas: no meio da noite saía seminua
a provocar os homens em bares, fazia as necessidades fisiológicas
por toda a casa, entrava em supermercados, onde enchia o carrinho
de mercadorias e, na hora de pagar, atirava-os para o alto, aos
gritos. Não conseguia mais dormir e perdera a memória:
não reconhecia nem mesmo os próprios filhos.
Seus familiares tinham experimentado de tudo, sem sucesso. Internada
em diversos hospitais psiquiátricos, onde fora submetida
aos tratamentos habituais, apresentava ainda sinais e feridas causados
pelas ataduras com que era sujeitada, cada vez que entrava em estado
de agitação. Já sem esperança, marido
e filhos resolveram, então, seguir a indicação
de um conhecido e a levaram ao terreiro de umbanda "Tenda de
Umbanda Caboclo Trovejeiro" da mãe-de-santo "madrinha"
Lourdes, localizado em Pirituba, bairro de periferia na zona oeste
da cidade de São Paulo.
Como este, são incontáveis os casos de pessoas que,
por motivo de doença, conflitos familiares, questões
afetivas, problemas econômicos e distúrbios psíquicos,
recorrem aos cultos denominados afro-brasileiros - entre os quais
se enquadra a Umbanda - em busca de alívio para as mazelas
do corpo e aflições da alma. As dimensões deste
fenômeno - para muitos, indicativo do grau de atraso, abandono
e ignorância das camadas mais baixas da população
- podem ser avaliadas pelo número de casas de culto: só
no município de São Paulo, e contando apenas os devidamente
registrados, existem atualmente cerca de 18.000 terreiros de umbanda,
candomblé e centros espíritas.
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