Mário H. de Luna

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Mário H. de Luna
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Muito freqüentemente queixam-se os companheiros que militam na Casa Espírita acerca dos distúrbios que se operam nas engrenagens administrativas da Instituição, impondo a deserção de vários tarefeiros e a abertura de áreas de guerra intestina, em que a maledicência e a revolta surda, o azedume e o melindre surgem por colheita infeliz, fruto da sementeira invigilante dos trabalhadores envolvidos. Aqui, aparece a discussão estéril, levando os trabalhadores a ruidosos atritos pessoais, desencadeando o malogro de idéias louváveis, e ao abortamento de projetos de crescimento da própria Casa.

Mais adiante, observa-se a frieza de corações no trato uns para com os outros, estabelecendo nevoento e propício campo para as disputas de arena e os duelos espirituais nas faixas dos sentimentos inferiores, prenunciando a ruína de tudo quanto já foi construído pelos obreiros da primeira hora.

Mais acolá, a inveja ganha espaço entre os servidores da colméia espírita, onde passa a haver disputa pelo mel das vantagens imediatas e dos aplausos do mundo, ante a ânsia de se estar nos postos de comando, abandonando-se a simplicidade e a humildade que deveriam viger por bandeiras de vivência cristã na seara que se escolheu para militar.

E assim vários focos infecciosos vão minando a Instituição Espírita, sempre sob a aparência de simples divergências de pensamentos, a ocultar uma ameaça muito maior, qual seja a evidência perturbadora da inferioridade humana, buscando espaço para as alucinações do Ego e para a tirania do espírito.

Nesse meio termo, surgem os que alertam que a Casa Espírita está sob assalto da obsessão coletiva, necessitando de uma maior vigilância dos tarefeiros encarnados, a fim de se minimizar o assédio das sombras sob açodamento das paixões humanas. Recomenda-se a prece e a vigilância por antídoto a semelhante flagelo de natureza espiritual.

Certamente que têm razão os que assim se pronunciam, alertando aos demais para que não caiam mais profundamente nas malhas sutis da influência fascinatória exercida pelos Espíritos desencarnados sobre o psiquismo humano em tresvario.O próprio Codificador do Espiritismo, Allan Kardec, já nos tinha alertado que a influência obsessiva sempre se dá quando o indivíduo se coloca predisponente para que semelhante sintonia se estabeleça no campo pessoal, ameaçando soçobrar a tranqüilidade e a paz vigente na seara espiritista.

Todas as vezes que a obsessão se insinua, imperioso é reconhecer que os obsedados vulgares dão repasto a semelhante enfermidade da alma. A invigilância aos próprios sentimentos, a ausência de autocrítica, o despeito em relação aos demais companheiros de militância, a disputa por espaços de poder e de influência pessoal abrem campo para que a obsessão, seja individual ou coletiva, se instale na intimidade da Instituição qual erva daninha em solo fértil, sendo esta praga rasteira disseminada pelos próprios semeadores da Casa Espírita, ante o fascínio de poder e comando que muitos trazem de existências transatas fracassadas.

Necessário que, em vez de uma olhada simplista para a janela do invisível, ante a investigação mediúnica, que será simplesmente confirmar o que já se sabe e se suspeita, fundamental se faz que os causadores do distúrbio abram os portais da alma e se voltem para dentro de si mesmos, reavaliando suas condutas ante a doutrina lida e estudada, mas ainda evidentemente não vivida.

É o Espiritismo o mais sublime roteiro de reforma íntima e renovação moral que se conhece nos caminhos terrestres, nos convidando a abandonar os velhos mantos da vaidade milenar e do egoísmo primitivista, sendo ele poderoso antibiótico a agir nos tecidos infeccionados da alma, ensejando que façamos ainda hoje a nossa autocura através da renúncia a propósitos hegemônicos e autoritários, buscando uma postura madura e responsável diante das tarefas abraçadas livremente e dos demais irmãos de jornada, a fim de que não nos façamos instrumentos da perturbação, a introduzir no seio da Casa Espírita os pegajosos tentáculos do escândalo e da viciação, a matar as florações segadas por mãos abnegadas e dedicadas, escândalo este pelo qual responderemos mais tarde.

Que cada trabalhador se conscientize de que é importante sem ser imprescindível.

Que é útil, mas nunca indispensável.

Que mais vale ajudar do que desajudar.

Que toda crítica ao que já existe deve vir acompanhada das possíveis alternativas ou soluções de como deveria ser, e que nosso verbo, ao analisar fatos e pessoas, deve estar marcado pelo selo da mansuetude e da tolerância, ante a inequívoca constatação de que não sendo perfeitos, não podemos exigir dos demais a perfeição que eles igualmente estão a buscar.

Dessa forma, cada um vai percebendo sua real posição na Casa Espírita que elegeu para trabalhar, evitando interferências desastrosas nas lides alheias, e assim operando individualmente para o êxito da atividade coletiva, que deve sempre refletir o espírito do Cristo, que nos convida permanentemente ao combate sem tréguas às nossas paixões, nos estimulando a evoluir com a ferramenta da Doutrina Espírita e a conviver harmoniosamente no meio dos desafios por que passa periodicamente a Casa Espírita, bem como o Movimento Espírita, já que estamos cientes de que não somos melhores nem piores do que os demais que comungam conosco a seara a que nos entregamos voluntariamente: somos simplesmente pessoas diferentes umas das outras, em graus de entendimento próprio, em incessante marcha para dias melhores, depois de superadas, as refregas da Terra, que nos impõe a convivência em grupo para que nos exercitemos na arte de aceitar o companheiro que marcha conosco, aprendendo igualmente a ser feliz.

Mário H. de Luna

Página psicografada pelo médium Marcel Mariano, em 11/11/2005, em Brasília (DF), durante a Reunião do CFN/FEB.


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