No dia 2 de outubro de 1949, no auditório
da Sociedade de Medicina e Espiritismo do Rio de Janeiro, na avenida
Rio Branco, 4-15° andar, realizou-se a abertura do II Congresso
Espírita Pan-americano. Tendo cabido a presidência do
I CEPA, realizado em Buenos Aires, ao representante do Brasil, o coronel
Delfino Ferreira, foi, num gesto diplomático, conferida a presidência
do II CEPA ao médico argentino Luís Di Cristóforo
Postiglione, que convidou para secretariar os trabalhos os jornalistas
Francisco Klörs Wemeck, da antiga Liga Espírita do Brasil
e Deolindo Amorim, fundador do Centro Espírita 18 de abril
e, posteriormente, do Instituto de Cultura Espírita do Brasil.
Dante Culzoni e Roberto Rosselini
integraram a representação portenha, tendo este último,
mais tarde, desposado uma das jovens internas da Casa de Lázaro,
fundada por Ruth Santana, participante também do Congresso,
e que ofereceu uma recepção aos congressistas naquele
educandário.
Participaram do II CEPA quase todos
os países da América Latina, bem como dos Estados Unidos.
À frente da representação cubana, veio o médico
José de Santo Esteban, que teve papel de destaque no certame.
No plenário estavam os jornalistas
Amadeu Santos, Olívio Novaes e J.A. de Oliveira, ambos do Jornal
do Comércio e, naturalmente, espíritas.
O ambiente, de fraternal alegria,
foi surpreendido quando, após proferida a prece, o representante
da Federação Espírita Brasileira, Arnaldo Claro
de São Thiago, solicitando a palavra, exigiu que fosse aprovado
desde logo “que no Brasil o Espiritismo é religião”.
Ante a recusa da maioria dos participantes, sob a alegação,
inclusive, de que tal omissão significava respeito às
convicções do país hospedeiro, declarou São
Thiago, peremptoriamente, que a FEB não participaria daquele
Congresso por haver Jesus Cristo dele ter sido afastado.
E assim fez, não obstante os
apelos para que permanecesse. Não sabemos se aquela atitude
foi inserida em ata.
Mas estará insculpida na lembrança
de quantos a assistiram, mesmo a maioria dos participantes brasileiros
já estando desencarnada.
A tônica dos discursos nas sessões
que se seguiriam foram de lamentos e tristeza pela atitude impensada
e antifraterna do representante da FEB que, assim, mais uma vez, concorria
para desunir a família espírita, já agora pan-americana.
Paralelamente, reuniram-se na sede
da entidade da avenida Passos renomados espíritas de São
Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, tendo concertado
um acordo dito de unificação do Espiritismo , crismado
depois por Arthur Lins de Vasconcelos Lopes, de pacto áureo
de unificação.
Como a FEB mantivera a oferta anterior
à atitude do seu representante na abertura do II CEPA, o encerramento
deste ocorreu na sede da avenida Passos, com a ausência, porém,
de diretores daquela entidade, que utilizou de Lins de Vasconcelos
para representa-la, dando seu espírito fraterno acima das questiúnculas
individuais.
Recordamos, por oportuno, que procedimento
mais ou menos idêntico tivera a FEB para com o professor Leopoldo
Machado, quando da realização do I Congresso de Mocidades
Espíritas do Brasil, de 18 a 25 de julho de 1948, também
na sede da Sociedade de Medicina e Espiritismo.
O educador baiano, radicado em Nova
Iguaçu-RJ, pugnara sempre pela renovação dos
quadros de continuadores do Movimento Espírita, desenvolvendo
para isso não só naquele município fluminense,
mas por onde andava, a criação nos centros espíritas
de departamento de Mocidades. Na sua experiência de educador,
considerava o termo juventude limitativo ao período da infância
à adolescência, enquanto o termo mocidade abrangia a
idade adulta, ou mesmo a ancianidade.
A concepção ganhou corpo
e, dentro de algum tempo, quase todas as entidades espíritas
do País possuíam seu Departamento de Mocidade, suscitando
então entre os moços a ideia da realização
de um congresso de âmbito nacional, visando a consolidação
e estruturação desses departamentos nos centros, que
os haviam criado.
Decidida a realização
do Congresso, foi Leopoldo Machado, por justiça, investido
na condição de líder. Com o prestígio
que desfrutava, convocou confrades de sua confiança a fim de
atender às aspirações dos moços dos diversos
Estados.
Elaborado o regulamento e marcada
a data da realização,— o período das férias
escolares — não obstante seu reconhecido prestígio,
foi Leopoldo Machado, humildemente, oferecer a iniciativa à
Federação Espírita Brasileira.
Esta, porém, recusou alegando,
dentre outras razões, já possuir seu departamento de
juventude. Talvez fosse mais aconselhável a união ou
fusão das duas denominações na mais conveniente.
Ante tal recusa, o fundador do Lar de Jesus e do Colégio, Leopoldo,
assumiu a responsabilidade pelo evento que, contado com a ajuda de
Lins de Vasconcelos, o êxito foi total, sob todos os aspectos.
A abertura foi no Teatro João
Caetano e o encerramento na sede da FEB, que se fez representar pelo
próprio Lins de Vasconcelos.
Essas rememorações vêm
a da realização, de 1 a 3 de outubro de 1999, do I Congresso
Espírita Brasileiro, pela Federação Espírita
do Estado de Goiás, com o patrocínio da Federação
Espírita Brasileira.
Alguns espíritas, por combaterem
o roustainguismo, não foram, compreensivelmente, convidados.
Dentre estes, o combativo Gélio Lacerda da Silva fez-se presente
e em frente à entrada do Centro Cultural e de Convenções,
viam-se seis jovens empunhando faixas de quatro metros de comprimento,
onde se liam: “O Amor de Jesus e a verdade de Kardec”-
Bezerra de Menezes e “Fora de Kardec não há Espiritismo”.
Graças ao denodo de combatentes
como Gélio Lacerda, Nazareno Tourinho e outros, os ensinamentos
trazidos pelos Espíritos Superiores e codificados por Allan
Kardec jamais serão conspurcados.