Pai Ronaldo Linares
Em que acredita o espiritualista?
A pedra angular da Umbanda e de todo o Espiritismo (ou
espiritualismo) é a de que existirá sempre uma
vida após outra vida, ou melhor, quando nos separamos
de nosso corpo físico pela passagem (morte) para o plano espiritual,
apenas o nosso corpo físico se desfaz, nossa alma, liberta de
seu material invólucro, prossegue sua existência. A isto,
se sucede uma nova existência, um novo nascimento após
a completa triangulação, nesta ou em outras formas de
vida, neste ou em outro planeta. A cada novo nascimento, depois de um
novo período de amadurecimento, outra vez a senilidade e finalmente,
a morte, liberando o espírito, até que este possa perder
totalmente sua individualidade para fazer parte do conhecimento
total, a essência da verdade, que é Deus.
Deferindo totalmente da crença católica,
de que após a morte física, o destino da alma é
a total aventurança; um período intermediário em
que o espírito é punido por pequenos erros; e finalmente,
uma eternidade de provações e de castigos aplicáveis
àqueles espíritos considerados maus ou inferiores semeadores
do mal; em outras palavras: o Céu, o Purgatório e
o Inferno, onde os espíritos aguardarão a ressurreição.
Isto é, crêem os católicos, que um dia voltarão
a ressurgir com os mesmos aspectos físicos de antes da morte,
no dia do "Juízo Final". Seria mais ou menos como retornar
ao antigo corpo, que voltaria a ter o mesmo aspecto de antes da
morte.
Reencarnação, ao contrário,
é o renascimento dessa mesma alma, em
outro corpo preparado, ou concebido, para esse fim. Em outras palavras,
a morte é uma renovação. É preciso que se
morra para que se possa renascer.
Pelo exposto acima, vemos que, entre uma encarnação
e outra, o espírito que, em tempo algum deixou de existir, pode
de alguma forma se comunicar com os encarnados e, através
de alguns encarnados, pode até mesmo servir-se de seus corpos
físicos nessas comunicações. A estes, nós
chamamos de Médiuns.
Então, o que é Mediunidade?
É a faculdade que determinados indivíduos
possuem, de poderem captar vibrações espirituais. Ou ainda,
mais dirtamente no que se relaciona a Umbanda, mediunidade é
a faculdade que determinados indivíduos têm de poderem
até mesmo emprestar seu corpo físico a um espírito
desencarnado.
São várias as formas de mediunidade
e, no decorrer deste trabalho, nós estudaremos as principais,
mas antes, seria interessante esclarecer um problema com que se
defronta quase a totalidade dos neófitos na Umbanda, e que consiste
no fato de que muitas vezes o Médium tem pleno conhecimento do
que ocorre quando incorporado, chegando mesmo, às vezes, a criar
uma dúvida angustiante, gerando perguntas, tais como:"Como
eu posso ser médium, se eu sei tudo o que a entidade diz ou faz"?
ou ainda: "Foi a entidade, ou fui eu quem disse, ou fez algo quando
incorporado"?
Isso acontece principalmente porque criou-se, dentro
das diferentes doutrinas espíritas ou espiritualistas, um verdadeiro
tabu: o de que só é Médium (como o próprio
nome diz, o meio de que se servem os espíritos para suas comunicações),
aquele que não tem consciência do que ocorre durante a
incorporação. E isto não se resume apenas aos neófitos.
Átila Nunes, em seu livro "Antologia da Umbanda", pergunta:
"Haverá médiuns inconscientes?"
Onde está então a verdade?
Via de regra, quase todo médium passa por diferentes
estágios durante seu desenvolvimento mediúnico. Geralmente,
as primeiras manifestações ocorrem em estado de inconsciência,
depois, quando se inicia o desenvolvimento, o Médium passa por
um período de quase total consciência e, posteriormente,
à medida que a entidade se adapta e o constante exercício
da incorporação, tornam o médium melhor adaptado
às suas funções. O Médium passa primeiro
por um estado de semiconsciência, isto é, não
consegue se lembrar de detalhes, como se tudo tivesse ocorrido num sonho,
como se estivesse vendo através da névoa, ou depois de
ter abusado do álcool, para depois então, tornar-se
totalmente inconsciente. Embora conheçamos não poucos
bons Médiuns que sempre foram totalmente inconscientes,
enquanto outros, não menos eficientes, nunca conheceram em sua
plenitude a inconsciência.
Para melhor facilidade de compreensão,
vamos ilustrar da
seguinte forma:
Faça de conta que o Médium é um
automóvel e o seu espírito é o motorista (que o
conduz). Imagine agora, que um outro motorista que não tem mais
seu automóvel (o corpo físico), peça ao primeiro
para usar o seu, mas com a condição de que o primeiro
participe do passeio, ou viagem. Então, o motorista (proprietário
do automóvel) empresta seu carro para o outro e senta-se no local
destinado ao passageiro. Como o mesmo não sabe de que forma o
outro dirige, durante algum tempo até se certificar da habilidade
do outro motorista, ele viajará apreensivo, pois cada erro notado
será um arranhão em seu patrimônio. Se o segundo
motorista avança um sinal, será o primeiro quem levará
a multa, ou se arriscará a sofrer danos em seu veículo.
Todavia, se após algum tempo de viagem, o primeiro constata que
o segundo motorista é cuidadoso, que não comete imprudências
e zela pelo seu veículo, poderá até se distrair,
observar a paisagem e, ao final da viagem, embora naturalmente cheguem
juntos, o primeiro por haver se distraído, não saberá
citar com certeza todos os detalhes do caminho e, quando mais tarde,
partirem para outros passeios mais longos, fatalmente acabará
por se abandonar no banco do carro, adormecendo. Naturalmente que no
final dessa viagem, nã terá nenhuma recordação
do que aconteceu enquanto dormia, embora não houvesse, em tempo
algum, se ausentado do veículo, e tivessem chegado exatamente
juntos ao final da viagem.
O primeiro caso mencionado, é o do Médium
Consciente, que em início de desenvolvimento não consegue
se entregar por inteiro à entidade, trabalhando a maior
parte das vezes, irradiado, sem uma total e completa incorporação;
O segundo caso, aplica-se ao Médium que, depois
de alguns anos de trabalhos constantes, quando mesmo tendo sido considerado
sempre como Médium Consciente, lembra-se apenas parcialmente
dos fatos ocorridos durante o transe mediúnico, não conseguindo
fixar-se nos detalhes;
O terceiro caso citado, é do Médium
que, atingindo uma total identificação vibratória
com a entidade, pode abandonar-se, permitindo então, o mais absoluto
controle de seu corpo e de sua mente pela entidade incorporante. Resultando
disto, não conseguir lembrar-se absolutamente de nada do que
lhe aconteceu durante a incorporação.
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