Revista Reencarnação
nº 417 FERGS
1804
Nasce Hippolyte Léon Denizard Rivail, em Lion França a
03 de outubro.
1815
Passa a estudar no Instituto de Educação fundado em Iverdun,
Suiça, pelo famoso pedagogo Pestalozzi, considerado "a escola
modelo da Europa". Ali é exposto a um método avançado
de pedagogia, libertário e moralizador, que, embora sem o apoio
da atual psicologia do conhecimento, intuitivamente ia na direção
da tendência moderna, a qual leva a criança a ser o agente
do seu próprio aprendizado. É um ambiente em que convivem
diversas culturas, nacionalidades e religiões. Além de
cumprir o programa de instrução regular, é muito
provável que tenha feito os estudos superiores da instituição,
que visavam a formar professores.
1819
Pela sua competência passa a auxiliar os mestres, colaborando
nas atividades docentes.
1820
Influenciado pelas idéias de Pestalozzi (cristão que não
aceitava os dogmas e que considerava a moralidade a verdadeira religião),
testemunha dos conflitos gerados por diferenças de credo, no
Instituto, concebe o projeto de uma reforma religiosa, pela unificação
dos cultos, assunto que o ocupará por muitos anos.
1822
Transfere-se para Paris
1823
Primeiro livro didático: "Curso Prático e Teórico
de Aritmética". Revela desde já, a vocação
para a investigação cientifica de fenômenos paranormais:
inicia seus estudos do Magnetismo Animal, então em grande voga.
Este interesse se prolongaria por 35 anos.
1825
Funda e passa a dirigir uma "Escola de Primeiro Grau". A concessão
de licença correspondente significa o reconhecimento dos seus
títulos acadêmicos.
Inicio formal de uma carreira caracterizada pela busca
de técnicas que valorizassem a iniciativa e a participação
do aluno, através da motivação. E por uma impressionante
amplitude de conhecimentos (lecionou todas as disciplinas cientificas,
da classificação positivista da sua época, a única
exceção sendo a Sociologia, área que no entanto,
viria a desenvolver quando da Codificação do Espiritismo).
1826
Funda a "Instituição Rivail", um instituto técnico
moldado em Iverdun, em sociedade com um tio materno.
1834
Publica o "Plano proposto para a melhoria da educação
pública", dirigido ao Parlamento Francês, no qual
defende que a Pedagogia deve ter o tratamento de ciência e condena
os castigos corporais. Curiosamente, revela o seu ceticismo, à
época, em relação aos fenômenos espíritas,
utilizando neste texto a crença nas "almas do outro mundo"
como um símbolo de ignorância...
1830
Traduz, para o alemão, os três primeiros livros do "Telêmaco",
de Fénelon.
1831
Publica a "Gramática Francesa Clássica de acordo
com um novo plano". Escreve "Memória sobre a Instrução
Pública", para a comissão que na ocasião foi
instituída para reformar a educação. Defende maior
liberdade para as escolas privadas e a valorização de
formação moral nas instituições de ensino.
Ganha concurso promovido pela Academia de Ciências
de Arrás,com sua "Memória a respeito da questão:
Qual o Sistema de Estudos mais em Harmonia com as Necessidades da Época?".
1832
Casa-se com a professora primária, de letras e de belas artes,
Amélie Gabrielle Boudet, cuja idade superava a dele por nove
anos.
1834
Publicado "Discurso Pronunciado por Ocasião da Distribuição
de Prêmios de 14 de Agosto de 1834". O tio sócio de
Rivail, perdendo grandes quantias com sua paixão pelo jogo, termina
por impossibilitar a continuidade do Instituto. Liquida-se a escola.
A parte que cabe a Rivail, 45 mil francos, é entregue aos cuidados
de um amigo intimo da sua família, negociante, que vem a falir.
O futuro codificador vê-se, após nove anos de trabalho
na área do ensino privado, voltando à estaca zero, sem
um níquel no bolso. Emprega-se, como contabilista, em três
casas comerciais. Mas continua, à noite, a elaborar obras didáticas,
traduzir, e dar aulas em cursos privados de outros colegas
1835
Inaugura, em salão alugado por sua conta, e mantém por
cinco anos, curso gratuito de diversas matérias, com ênfase
nas ciências exatas, pelo qual passaram mais de 500 alunos sem
recursos financeiros.
1838
É editado "Programa de Estudos Segundo o Plano de Instrução
de H.-L.D. Rivail".
1843
Começa a dar aulas de Matemática e Astronomia em cursos
públicos, duas vezes por semana, rotina que se prolongará
por cinco anos.
1845
Rivail tem encenada a peça teatral "Uma Paixão de
Salão", da qual é co-autor. Provável ano da
publicação do seu "Curso de Cálculo Mental".
Sai do prelo "Manual de Exames para os Certificados de Capacidade."
Outro documento-sugestão dirigido às autoridades da Educação:
"Projeto de Reforma referente aos exames e educandários
para mocinhas". É posto à disposição
dos estudantes "Tratado de Aritmética".
Editado "Soluções dos Exercícios
e Problemas do 'Tratado Completo de Aritmética de H.-L.D.Rivail'.
1848
Após o levante operário de Paris, grandes mudanças
políticas, assinaladas pela eleição para a Presidência
de Luis Napoleão Bonaparte, mais tarde ditador sob o titulo de
Napoleão III. Neste período, pelo menos até 1860,
instala-se legislação que dificulta a manutenção
de instituições particulares de ensino que não
estejam sob a proteção da Igreja. Rivail não voltaria
a criar outros institutos nos moldes pestalozzianos. Publicado "Catecismo
gramatical da língua francesa". Enquanto isto, nos Estados
Unidos, na aldeia de Hydesville, no condado de Wayne, próximo
a New York, a família Fox consegue estabelecer comunicação
com um espírito desencarnado, através de um código
convencionado de batidas, geradas pela entidade espiritual, nas paredes
de madeira da sua habitação. Era o preambulo de uma "epidemia"
de mediunidade de efeitos físicos, que se espalharia pelo mundo,
só que as batidas, e outros fenômenos, se deslocariam das
paredes para as mesas, mais apropriadas à reunião de pessoas
em "corrente", nos salões das residências. É
a moda das "mesas girantes ou dançantes".
1849
Vêm à luz "Ditados Normais dos Exames". Rivail
é co-autor de "Gramática Normal dos Exames".
1850
É editado "Ditados da Primeira e da Segunda Idade".
1851
Começa a ditadura, com grande policiamento e restrição
de liberdades junto às atividades de ensino. Desgostoso, Rivail
se afasta ainda mais da sua vocação profissional, cessando
todas as atividades pedagógicas.
1852
Gradual perda da visão (provável crise de "amaurose
fugaz", uma espécie de problema circulatório). Os
médicos afirmam que ficará cego. Mas uma sonâmbula,
em sono magnético, lhe tranqüiliza, afirmando ser mal passageiro.
Efetivamente, em meses, recupera a saúde.
1853
Trabalha como contador na livraria religiosa de Pélagand e na
folha católica "L'Univers" (empregos que mantém
por quatro anos). As mesas girantes, a esta altura, já haviam
invadido Paris.
1854
Fortier lhe fala das mesas extraordinárias. "'É conversa
para dormir em pé" comenta o cético Rivail (que cria
hipóteses dentro das leis físicas para explicar os fenômenos
que lhe são descritos).
1855
Em maio, em casa da Sra. Plainemaison, por convite de seu amigo Carlotti,
Rivail assiste, pela primeira vez, a uma sessão das mesas dançantes.
Apesar do ceticismo, surpreende-se com as respostas inteligentes da
"mesa". Constata a revelação de uma nova lei,
que mereceria ser estudada a fundo. Passa a investigar metodicamente
os fenômenos, primeiro ali, depois em outros grupos. Freqüenta
a casa dos Baudin, onde encontraria, na mediunidade passiva das jovens
filhas do casal, inicialmente através da "cesta-de-bico"
(cestinha amarrada a um lápis), e depois na psicografia convencional,
condições mais adequadas aos seus estudos. Apesar desta
disposição favorável, no entanto, os contatos iniciais
não conseguem entusiasmar Rivail, que, em meio a problemas de
tempo, junto aos seus compromissos profissionais, quase deixa de comparecer
às sessões. É ainda Carlotti que é seu incentivador.
Deixa aos seus cuidados cerca de 50 cadernos, nos quais vinha anotando
as comunicações mediúnicas obtidas pelo seu grupo,
formado por intelectuais, entre eles o dramaturgo Victorien Sardou.
Ali, nos últimos anos, os espíritos, pela mediunidade
da Srta. Japhet, haviam vertido um conjunto de ditados filosóficos,
abrangendo as mais sérias questões humanas. O Codificador
imediatamente percebe a coerência e a relevância destes
textos, que seriam o embrião da futura Doutrina Espirita. E renova
seu animo nas pesquisas, agora centradas na revisão e sistematização
deste material, principalmente com a colaboração das meninas
Baudin. Interessante observar que muitos dos princípios defendidos
pelos benfeitores espirituais, como o da reencarnação,
eram contrários às suas concepções filosóficas.
É a época, também, em que teve
a oportunidade de conhecer a Daniel Dunglas Home, o qual o seduz pela
supreendente mediunidade de efeitos físicos, bem como pelas qualidades
humanas. Torna-se seu amigo, correspondente, e defensor, nas oportunidades
em que o médium foi criticado em sua acidentada vida pública
e pessoal.
1856
A 30 de abril, em casa do Sr. Roustan, a Srta. Japhet, utilizando-se
da "cesta", transmite a primeira revelação da
missão de Rivail. Revela-se, também, seu guia espiritual,
O Espirito "Verdade".
1857
A 18 de abril, vem à luz a primeira edição de "O
Livro dos Espíritos", financiada pelo próprio Rivail.
Também é criado o pseudônimo famoso: Allan Kardec
(nome de Rivail em antiga encarnação celta). A intenção
inicial era permanecer, mesmo, anônimo, insulado. Mas logo o movimento
formado a partir desta obra se avolumou a tal ponto, que ele foi guindado,
malgrado a preferência pessoal, à sua liderança,
ao seu posto principal, à vida pública, enfim.
Continua a assistir sessões de efeitos físicos.
1858
Funda a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas (mais tarde
também chamada "Sociedade de Estudos Espiritas de Paris",
da qual exerceria a presidência até seu desencarne, embora
sempre pondo o cargo à disposição dos associados).
Lança "Instruções Práticas sobre as
Manifestações Espiritas". Inicia a publicação
da "Revista Espirita" (que manterá, sozinho, tanto
no financiamento, como na redação, por 11 anos). Utiliza
médiuns videntes para observar as mais diversas cenas sociais,
no seu aspecto espiritual.
1859
Publicado "O Que é o Espiritismo?" Peça de Mozart,
recebida mediunicamente, é executada na Sociedade de Estudos
Espiritas de Paris. Críticos reconhecem o estilo do músico
desencarnado. Experiências com "escrita direta" e com
manifestações de pessoas vivas.Comunica aos leitores da
"Revista Espirita" que a publicação fécha
seu primeiro ano como um sucesso, com assinantes nos cinco continentes,
garantindo a continuidade do empreendimento.
Crise na Sociedade de Estudos Espíritas de Paris.
Pensa em sair e continuar seus trabalhos num nível mais informal.
Espíritos e associados o dissuadem.
1860
Nova edição, revista e consideravelmente ampliada, de
"O Livro dos Espíritos". Publica "Carta sobre
o Espiritismo". Adota, na Sociedade de Estudos Espiritas de Paris,
o sistema de submeter mensagens a exame critico. Nas férias da
Sociedade, inicia a prática de visitação às
sociedades espiritas. Vai a Sens, Macon, Lion e Saint-Étienne.
Primeiro contato com o Espiritismo de Lion, formado por operários,
menos intelectual, mas mais centrado nas conseqüências morais
da Doutrina. O codificador aprova, entusiasta. Passa a morar na nova
sede da Sociedade (aquisição tornada possível pela
doação de 10 mil francos), onde também está
o escritório da "Revista". Com mais tempo para se dedicar
ao esforço da Codificação, trabalha dia e noite.
1861
Lança "O Livro dos Médiuns". Queima de livros
espiritas, na Espanha, por ordem do Santo Oficio: o famoso auto-de-fé
de Barcelona, a 9 de outubro. Assiste, na Sociedade de Estudos Espiritas
de Paris, a uma sessão de transporte de objetos. Nova visita
a Lion, Sens e Macon. Viagem a Bordéus. A Sociedade de Estudos
Espiritas inicia uma subscrição para ajudar operários
com dificuldades financeiras.
1862
Recebe mensagem com centenas de assinaturas dos espíritas de
Lion, que o emociona muito. Retorna a esta comunidade, e visita a mais
de 20 localidades, por sete semanas, assistindo a mais de cinqüenta
reuniões. Surpreende-se com o intenso crescimento do Espiritismo
em Bordéus e Lion. Nesta cidade, uma grande reunião com
seiscentos delegados.Também viagem de estudo ao processo de obsessão
coletiva em Morzine e ao fenômeno de "Poltergeist" em
Albe. Precisa esclarecer, na "Revista", a denúncia
de que suas viagens eram financiadas pela Sociedade (na verdade, ele
as custeava). Inicia uma série de artigos, que se repetiriam
por anos, ainda, em que se defende de acusações de utilizar
o Espiritismo para enriquecer. Sua correspondência aumenta a tal
ponto que se toma materialmente impossível dar-lhe vencimento.
Responde aos temas propostos, coletivamente, na "Revista Espirita".
De forma direta, seletivamente. E indireta, por secretário. Está
recebendo, também, entre 1200 a 1500 visitas ao ano. Refuta livros
e artigos nos jornais, contra o Espiritismo. Lança a obra "O
Espiritismo na sua Expressão mais Simples", e "Resposta
aos espiritas lioneses por ocasião do ano novo".
1863
Faz um balanço das comunicações mediúnicas
já recebidas. Mais de 3600 mensagens. Três mil com moralidade
irretocável. Mas apenas 300 publicáveis. E somente cem
têm um mérito que considera excepcional. Intensifica-se
a campanha contrária à nova doutrina, principalmente no
clero. É sugerido nos púlpitos que se queimem as obras
espíritas. O Bispo de Argel proíbe aos seus fiéis
a prática do Espiritismo. Kardec refuta sermões e livros
de contra-propaganda de religiosos na "Revista".
1864
Viagem para estudar o vidente da Floresta de Zimmerwald, na Suíça.
Investiga também casos de "poltergeist" em Poitiers.
Visita aos espíritas de Bruxelas e Antuérpia, na Bélgica.
A Sociedade Espírita de Bruxelas, homenageando o visitante, finda
um leito de criança na creche de Saint Josse Tenuode. Os livros
espíritas entram no Index na Igreja Católica, a primeiro
de maio. Inicia-se novo processo de combate ao Espiritismo, na forma
de cursos ministrados por religiosos. Kardec desaconselha a continuidade
da polêmica com o clero, em nome da liberdade de opinião,
afirmando que o Espiritismo quer ser aceito por livre exame, não
por imposição ou violência.
Publica "Imitação do Evangelho Segundo
o Espiritismo".
1865
Edita "O Evangelho Segundo o Espiritismo" (edição
definitiva da obra anterior), "O Céu e o Inferno" e
"Coleção de Preces Espíritas".
1866
Num sonho, durante enfermidade, prevê, com 14 anos de antecedência,
o invento de Dunlop, o pneu de borracha.
1867
Participa do livro "Ecos poéticos do além túmulo",
com o texto "Estudo acerca da poesia medianimica".
1868
Vêm a público "Caracteres da Revelação
Espirita", e "A Gênese os milagres e as predições
segundo o Espiritismo". Assiste a uma sessão de transporte
de flores, sem se convencer muito do resultado.
1869
Redação final de "Constituição do Espiritismo"
(em que trata da sua sucessão). Faz uma estimativa dos espiritas,
em todo o mundo: seis ou sete milhões.Quando está preparando
uma nova mudança da Sociedade de Estudos Espíritas de
Paris, ao atender um caixeiro de livraria, que viera buscar a "Revista
Espirita", a 31 de março, cai pesadamente ao solo. Havia
se lhe rompido um aneurisma . Desencarna de pé, trabalhando.
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