47. Médiuns inspirados — Nestes médiuns,
muito menos aparentes são do que nos outros os sinais exteriores
da mediunidade; é toda intelectual e moral a ação
que os Espíritos exercem sobre eles e se revela nas menores circunstâncias
da vida, como nas maiores concepções. Sobretudo debaixo
desse aspecto é que se pode dizer que todos são médiuns,
porquanto ninguém há que não tenha Espíritos
protetores e familiares a empregar todos os esforços por lhe
sugerir salutares idéias. No inspirado, difícil muitas
vezes se torna distinguir as idéias que lhe são próprias
do que lhe é sugerido. A espontaneidade é principalmente
o que caracteriza esta última.
Nos grandes trabalhos da inteligência é onde mais se evidencia
a inspiração. Os homens de gênio, de todas as categorias,
artistas, sábios, literatos, oradores, são sem dúvida
Espíritos adiantados, capazes, por si mesmos, de compreender
e conhecer grandes coisas; ora, precisamente porque são considerados
capazes, é que os Espíritos que visam à execução
de certos trabalhos lhes sugerem as idéias necessárias,
de sorte que na maioria dos casos eles são médiuns sem
o saberem. Têm, contudo, vaga intuição de uma assistência
estranha, porquanto aquele que apela para a inspiração
nada mais faz do que uma evocação. Se não esperasse
ser atendido, por que exclamaria, como tão amiúde sucede:
Meu bom gênio, vem em meu auxílio!
48. Médiuns de pressentimentos — Pessoas
há que, em dadas circunstâncias, têm uma imprecisa
intuição das coisas futuras. Essa intuição
pode provir de uma espécie de dupla vista, que faculta se entrevejam
as conseqüências das coisas presentes; mas, doutras vezes,
resulta de comunicações ocultas, que fazem de tais pessoas
uma variedade dos médiuns inspirados.
49. Médiuns proféticos — É
igualmente uma variedade dos médiuns inspirados. Recebem, com
a permissão de Deus e com mais precisão do que os médiuns
de pressentimentos, a revelação das coisas futuras, de
interesse geral, que eles recebem o encargo de tornar conhecidas aos
homens, para lhes servir de ensinamento.
De certo modo, o pressentimento é dado à maioria dos homens,
para uso pessoal deles; o dom de profecia, ao contrário, é
excepcional e implica a idéia de uma missão na Terra.
Todavia, se há verdadeiros profetas, maior é o número
dos falsos, que tomam os devaneios da sua imaginação como
revelações, quando não são velhacos que
por ambição se fazem passar como profetas.
O profeta verdadeiro é um homem de bem, inspirado por Deus; pode
ser reconhecido pelas suas palavras e pelas suas ações.
Não é possível que Deus se sirva da boca do mentiroso
para ensinar a verdade. (O Livro dos Espíritos, nº 624.)
50. Médiuns escreventes ou psicógrafos
— Essa denominação é dada às pessoas
que escrevem sob a influência dos Espíritos. Assim como
um Espírito pode atuar sobre os órgãos vocais de
um médium falante e fazê-lo pronunciar palavras, também
pode servir-se da sua mão para fazê-lo escrever. A mediunidade
psicográfica apresenta três variedades bem distintas: os
médiuns mecânicos, os intuitivos e os semimecânicos.
Com o médium mecânico, o Espírito
lhe atua diretamente sobre a mão, impulsionando-a. O que caracteriza
este gênero de mediunidade é a inconsciência absoluta,
por parte do médium, do que sua mão escreve. O movimento
desta independe da vontade do escrevente; movimenta-se sem interrupção,
a despeito do médium, enquanto o Espírito tem alguma coisa
a dizer, e pára desde que este último haja concluído.
Com o médium intuitivo, à transmissão
do pensamento serve de intermediário o Espírito do médium.
O outro Espírito, nesse caso, não atua sobre a mão
para movê-la, atua sobre a alma, identificando-se com ela e imprimindo-lhe
sua vontade e suas idéias. A alma recebe o pensamento do Espírito
comunicante e o transcreve. Nesta situação, o médium
escreve voluntariamente e tem consciência do que escreve, embora
não grafe seus próprios pensamentos.
Torna-se freqüentemente difícil distinguir o pensamento
do médium do que lhe é sugerido, o que leva muitos
médiuns deste gênero a duvidar da sua faculdade.
Podem reconhecer-se os pensamentos sugeridos pelo fato de não
serem nunca preconcebidos; eles surgem à proporção
que o médium vai escrevendo e não raro são opostos
à idéia que este previamente concebera. Podem mesmo estar
fora dos conhecimentos e da capacidade do médium.
Há grande analogia entre a mediunidade intuitiva e a inspiração;
a diferença consiste em que a primeira se restringe quase sempre
a questões de atualidade e pode aplicar-se ao que esteja fora
das capacidades intelectuais do médium; por intuição
pode este último tratar de um assunto que lhe seja completamente
estranho. A inspiração se estende por um campo mais vasto
e geralmente vem em auxílio das capacidades e das preocupações
do Espírito encarnado. Os traços da mediunidade são,
de regra, menos evidentes.
O médium semimecânico, ou semi-intuitivo participa dos
outros dois gêneros. No médium puramente mecânico,
o movimento da mão independe da sua vontade; no médium
intuitivo, o movimento é voluntário e facultativo.
O médium semimecânico sente na mão uma impulsão
dada mau grado seu, mas ao mesmo tempo tem consciência do que
escreve, à medida que as palavras se formam. Com o primeiro,
o pensamento vem depois do ato de escrever; com o segundo, precede-o;
com o terceiro, acompanha-o.
51. Não sendo o médium mais do que um instrumento que
recebe e transmite o pensamento de um Espírito estranho, que
obedece à impulsão mecânica que lhe é dada,
nada há que ele não possa fazer fora do campo de seus
conhecimentos, se possui a maleabilidade e a aptidão mediúnica
necessárias.
Assim é que há médiuns desenhistas, pintores,
músicos, versejadores, embora estranhos às artes
do desenho, da pintura, da música e da poesia; médiuns
iletrados, que escrevem sem saber ler, nem escrever; médiuns
polígrafos, que reproduzem escritas de diversos
gêneros e, algumas vezes, com perfeita exatidão, a que
o Espírito tinha quando encarnado; médiuns poliglotas,
que escrevem ou falam em línguas que lhes são desconhecidas,
etc.
52. Médiuns curadores — Consiste a mediunidade
desta espécie na faculdade que certas pessoas possuem de curar
pelo simples contacto, pela imposição das mãos,
pelo olhar, por um gesto, mesmo sem o concurso de qualquer medicamento.
Semelhante faculdade incontestavelmente tem o seu princípio na
força magnética; difere desta, entretanto, pela energia
e instantaneidade da ação ao passo que as curas magnéticas
exigem um tratamento metódico, mais ou menos longo. Todos os
magnetizadores são mais ou menos aptos a curar, se sabem proceder
convenientemente; dispõem da ciência que adquiriram. Nos
médiuns curadores, a faculdade é espontânea e alguns
a possuem sem nunca ter ouvido falar de magnetismo.
A faculdade de curar pela imposição das mãos deriva
evidentemente de uma força excepcional de expansão, mas
diversas causas concorrem para aumentá-la, entre as quais são
de colocar-se, na primeira linha: a pureza dos sentimentos, o desinteresse,
a benevolência, o desejo ardente de proporcionar alívio,
a prece fervorosa e a confiança em Deus; numa palavra: todas
as qualidades morais. A força magnética é puramente
orgânica; pode, como a força muscular, ser partilha de
toda gente, mesmo do homem perverso; mas, só o homem de bem se
serve dela exclusivamente para o bem, sem idéias ocultas de interesse
pessoal, nem de satisfação de orgulho ou de vaidade. Mais
depurado, o seu fluido possui propriedades benfazejas e reparadoras,
que não pode ter o do homem vicioso ou interesseiro.
Todo efeito mediúnico, como já foi dito, resulta da combinação
dos fluidos que emitem um Espírito e um médium. Pela sua
conjugação esses fluidos adquirem propriedades novas,
que separadamente não teriam, ou, pelo menos, não teriam
no mesmo grau. A prece, que é uma verdadeira evocação,
atrai os bons Espíritos sempre solícitos em secundar os
esforços do homem bem-intencionado; o fluido benéfico
dos primeiros se casa facilmente com o do segundo, ao passo que o do
homem vicioso se junta ao dos maus Espíritos que o cercam.
O homem de bem, que não dispusesse da força fluídica,
pouca coisa conseguiria fazer por si mesmo, só lhe restando apelar
para a assistência dos Espíritos bons, pois quase nula
seria a sua ação pessoal; uma grande força fluídica,
aliada à maior soma possível de qualidades morais, pode
operar, em matéria de curas, verdadeiros prodígios.
53. A ação fluídica, ao demais,
é poderosamente secundada pela confiança do doente, e
Deus quase sempre lhe recompensa a fé, concedendo-lhe o bom êxito.
54. Somente a superstição pode emprestar qualquer virtude
a certas palavras e unicamente Espíritos ignorantes ou mentirosos
podem alimentar semelhantes idéias, prescrevendo fórmulas.
Pode, entretanto, acontecer que, para pessoas pouco esclarecidas e incapazes
de compreender as coisas puramente espirituais, o uso de uma fórmula
de prece ou de determinada prática contribua a lhes infundir
confiança.
Nesse caso, porém, não é na fórmula que
está a eficácia e sim na fé que aumentou com a
idéia ligada ao emprego da fórmula.
55. Não se devem confundir os médiuns curadores
com os médiuns receitistas, que são simples médiuns
escreventes, cuja especialidade consiste em servirem mais facilmente
de intérpretes aos Espíritos para as prescrições
médicas; absolutamente mais não fazem que transmitir o
pensamento do Espírito, sem exercerem, de si mesmos, nenhuma
influência.
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