Allan
Kardec - Revista Espírita
> Aparecimento de um filho vivo à sua mãe
REVISTA ESPÍRITA
Jornal de Estudos Psicológicos
publicada sob a direção de ALLAN KARDEC
Janeiro de 1858 – Janeiro de 2008
150 anos
------------
Tradução: SALVADOR GENTILE
Março de 1869
--------------------------------------------------------------------------------
O fato seguinte é contado por
um jornal de medicina de Londres, e reproduzido pelo Journal
de Rouen, de 23 de dezembro de 1868:
"Na última semana o
Sr. Samuel W..., um dos principais empregados do Banco, teve que
deixar em boa hora de ir a uma reunião para a qual tinha
sido convidado com sua mulher, porque se achou muito indisposto.
Ele reentrou em sua casa com uma febre altíssima. Enviou-se
à procura do médico; este tinha sido chamado numa
cidade vizinha, e não deveria reentrar senão muito
tarde na noite.
"A Senhora Samuel decidiu esperar
o médico na cabeceira de seu marido. Se bem que preso a uma
febre ardente, o doente dormia tranqüilamente. A Senhora Samuel,
um pouco tranqüilizada, vendo que seu marido não sofria,
não lutou contra o sono e ela adormeceu, o seu turno.
"Pelas três horas, ela
ouviu ressoar a campainha da porta de entrada, do lado dos senhores
e das visitas. Deixou com precipitação sua poltrona,
pegou um castiçal e desceu ao salão.
"Lá, ela esperava ver
entrar o médico. A porta do salão se abriu, mas em
lugar do doutor ela viu entrar seu filho Edouard, o menino de doze
anos, que está num colégio perto de Windsor. Ele estava
muito pálido e tinha a cabeça cercada de uma grande
venda branca.
"- Tu esperavas o médico
para papai, não é? fez ele abraçando sua mãe.
Mas papai está melhor, isso não é mesmo nada;
ele se levantará amanhã. Sou eu que tenho necessidade
de um bom médico. Trate de chamá-lo em seguida, porque
o do colégio disso não entende grande coisa...
"Agarrada, assustada, a Senhora
Samuel teve a força de soar a campainha. A camareira chegou.
Ela encontrou sua patroa no meio do salão, imóvel,
o castiçal na mão. O barulho de sua voz despertou
a Senhora Samuel. Ela tinha sido o joguete de uma visão,
de um sonho, chamemo-lo como quisermos. Ela se lembrava de tudo
e repetia à sua camareira o que havia acreditado ouvir. Depois
ela gritou chorando: "Uma infelicidade deverá chegar
ao meu filho!"
"O médico tão
esperado chegou. Ele examinou o Sr. Samuel. A febre tinha quase
desaparecido; ele afirmou que isso não havia sido senão
uma simples febre nervosa, que segue seu curso e acaba em algumas
horas.
"A mãe, depois dessas
palavras tranqüilizantes, narrou ao doutor o que lhe havia
ocorrido uma hora antes. O homem da arte - por incredulidade, ou
talvez pelo desejo de ir repousar - aconselhou a Senhora Samuel
a não ligar nenhuma importância a esses fantasmas.
No entanto, ele teve que ceder aos pedidos, às angústias
da mãe e acompanhá-la a Windsor.
"Ao amanhecer, eles chegam
ao colégio. A Senhora Samuel pergunta por notícias
de seu filho; é-lhe respondido que estava na enfermaria desde
a véspera. O coração da pobre mãe oprimiu-se;
o doutor tornou-se cuidadoso.
"Breve, visitaram a criança.
Ela se fez uma grande ferida na fronte, brincando no jardim. Foram-lhe
dados os primeiros cuidados, só que se lhe havia mal curado.
No entanto, a ferida nada tinha de perigosa.
"Eis o fato em todos os seus
detalhes; temo-lo de pessoas dignas de fé. Dupla vista ou
sonho, deve-se sempre considerá-lo como um fato pouco comum."
Como se vê, a idéia da
dupla vista ganha terreno; ela se recomenda fora do Espiritismo, como
a pluralidade das existências, o perispírito, etc.; tanto
é verdade que o Espiritismo chega por mil caminhos, se implanta
sob todas as espécies de formas, pelos próprios cuidados
daqueles que não o querem.
A possibilidade do fato acima é
evidente, e seria supérfluo discuti-la. É um sonho ou
um efeito de dupla vista? A Senhora Samuel dormia, e, em seu despertar,
lembrou-se do que viu; era, pois, um sonho; mas um sonho que traz a
imagem de uma atualidade tão precisa, e que é verificado
quase imediatamente, não é um produto da imaginação:
é uma visão bem real. Há, ao mesmo tempo, dupla
vista, ou visão espiritual, porque é muito certo que não
foi com os olhos do corpo que a mãe viu seu filho. Houve, de
parte a parte, desligamento da alma; foi a alma da mãe que foi
até o filho, ou a do filho que veio até a mãe?
As circunstâncias tornam este último caso o mais provável,
porque na outra hipótese a mãe teria visto seu filho na
enfermaria.
Alguém que não conhece senão superficialmente o
Espiritismo, mas admite perfeitamente a possibilidade de certas manifestações,
perguntou-nos a esse respeito como o filho, que estava em sua cama,
pudera se apresentar á sua mãe com as suas roupas. “Eu
concebo, dizia ele, a aparição pelo fato do desligamento
da alma; mas não compreendo porque os objetos puramente materiais,
como as vestes, tenham a propriedade de transportar para longe uma parte
quintessenciada de sua substância, o que suporia uma vontade”.
Também, respondemos-lhe, as roupas, tão bem quanto o corpo
material do jovem, ficaram em seu lugar. Depois de uma curta explicação
sobre o fenômeno das criações fluídicas,
acrescentamos: O espírito do jovem se apresentou na casa de sua
mãe com o seu corpo fluídico ou perispiritual. Sem ter
tido o desejo premeditado de se vestir com as suas roupas, sem ter feito
este raciocínio: "Minhas roupas de tecido estão
lá; eu não posso vesti-las; é preciso, pois, fabricar
as roupas fluídicas que delas me darão a aparência,"
bastou-lhe pensar em sua roupa habitual naquela que teria tomado em
circunstâncias comuns, para que este pensamento desse ao seu perispírito
as aparência dessa mesma roupa; pela mesma razão, teria
podido se apresentarem roupa de dormir, se tal tivesse sido seu pensamento.
Essa aparência era tornada por ele mesmo uma espécie de
realidade; não havia senão uma consciência imperfeita
de seu estado fluídico, e, do mesmo modo que certos Espíritos
não se crêem ainda desse mundo, ele acreditava vir à
casa de sua mãe em carne e em osso, uma vez que a abraça
como de hábito.
As formas exteriores que revestem os Espíritos que se tornam
visíveis são, pois, verdadeiras criações
fluídicas, freqüentemente inconscientes; a roupa, os sinais
particulares, as feridas, os defeitos do corpo, os objetos dos quais
se faz uso, são o reflexo de seu próprio pensamento no
envoltório perispiritual.
- Mas, então, disse nosso
interlocutor, é toda uma ordem nova de idéias; há
ali todo um mundo, e esse mundo está em nosso meio; muitas coisas
se explicam; as relações entre os mortos e os vivos se
compreendem.
- Sem nenhuma dúvida, e é
ao conhecimento desse mundo, que nos interessa por tantos títulos,
que o Espiritismo conduz. Esse mundo se revela por uma multidão
de fatos que se negligencia por falta de compreender a causa.
REVISTA ESPÍRITA
Jornal de Estudos Psicológicos
publicada sob a direção de ALLAN KARDEC
Janeiro de 1858 – Janeiro de 2008
150 anos
------------
Tradução: SALVADOR GENTILE
Março de 1869
topo
|