Introdução
O aparecimento e desenvolvimento dos indicadores
sociais está intrinsicamente ligado à consolidação
das atividades de planejamento do setor público ao longo
do século XX (Bauer 1967, Bustelo 1982). Embora se possa
citar algumas contribuições importantes para a construção
de um marco conceitual sobre os Indicadores Sociais nos anos 20
e 30, o desenvolvimento da área é recente, tendo ganhado
corpo científico em meados dos anos 60 no bojo das tentativas
de organização de sistemas mais abrangentes de acompanhamento
das transformações sociais e aferição
do impacto das políticas sociais nas sociedades desenvolvidas
e subdesenvolvidas.
Neste período começaram a se avolumar evidências
do descompasso entre Crescimento Econômico e melhoria das
Condições Sociais da população em países
do Terceiro Mundo. A despeito do crescimento do Produto Interno
Bruto (PIB), persistiam altos os níveis de pobreza e acentuavam-se
as desigualdades sociais em vários países. Crescimento
econômico não era, pois, condição suficiente
para garantir o Desenvolvimento Social. O indicador PIB per capita,
até então usado como proxy de nível de Desenvolvimento
Socioeconômico pelos países, mostrava-se cada vez menos
apropriado como medida representativa do bem-estar social. Nos países
centrais, tal medida tampouco prestava-se aos objetivos de monitoramento
efetivo da mudança social em seus múltiplos aspectos
e de formulação de políticas sociais de cunho
redistributivo ou compensatório nas diversas áreas
(Miles 1985).
Face a este quadro, empreendeu-se um imenso esforço conceitual
e metodológico para desenvolvimento de instrumentos de mensuração
do bem estar e da mudança social, sob os auspícios
das instituições multilaterais como OCDE, UNESCO,
FAO, OIT, OMS, UNICEF e Divisão de Estatística das
Nações Unidas. A publicação dos livros
Social Indicators e Toward a Social Report, elaborados sob encomenda
do governo americano em meados dos anos 60, representaram marcos
importantes no processo, inaugurando o que viria se chamar de “Movimento
de Indicadores Sociais” na época. Os sistemas nacionais
de produção e disseminação de Estatísticas
Públicas passaram a incorporar novas dimensões investigativas
e produzir Relatórios Sociais de forma sistemática.
Depositavam-se grandes esperanças de que, com a organização
de sistemas abrangentes de indicadores sociais, os governos nacionais
pudessem orientar melhor suas ações, proporcionando
níveis crescentes de bem estar social, redistribuindo melhor
as riquezas geradas e superando as iniquidades do desenvolvimento
econômico acelerado (Bauer 1966).
(...)
Sem dúvida, conhecimento do significado, dos limites e potencialidades
dos indicadores sociais pode ser de grande utilidade para os diversos
agentes e instituições envolvidos na definição
das prioridades sociais e na alocação de recursos
do Orçamento Público. Se bem empregados, os Indicadores
Sociais podem enriquecer a interpretação empírica
da realidade social e orientar de forma mais competente a análise,
formulação e implementação de políticas
sociais. Na negociação das prioridades sociais, os
indicadores sociais podem contribuir no apontamento da magnitude
das carências a atender nas diversas áreas de intervenção.