Certa vez, após uma palestra
de um conhecido palestrante espírita, um amigo, também
expositor, me confessou não ter gostado da mesma, algo normal,
afinal de contas, impossível agradar a todos, e mesmo tal palestrante
sendo muito querido por muitos, é um direito de qualquer um
não gostar. Mas o que me chamou a atenção foram
as justificativas deste meu amigo.
Primeiro ele disse que o palestrante provocou risos no público,
e que centro espírita não é circo. Não
ficaria preocupado se apenas ele pensasse assim, mas muitos acham
que o estudo sério da Doutrina significa ser mal humorado ao
falar de Espiritismo; confundem seriedade na condução
de uma casa espírita com sisudez no trato com as pessoas.
Entreter o público durante a palestra, com algum caso não
apenas engraçado, mas também edificante, é uma
técnica que mantém os ouvintes mais despertos, e, portanto,
mais atentos aos ensinamentos que se quer transmitir, evitando que
o expositor fale quase que apenas aos desencarnados, que não
dormem.
A outra justificativa é de que o renomado palestrante quase
não citou o nome de Jesus. Resolvi perguntar no que o expositor
contrariou o Evangelho, e ele afirmou que em nada, mas que sentiu
falta de ouvir passagens evangélicas na exposição,
e emendou uma série de elogios pomposos ao Galileu, que o credenciaria
a líder de fã clube.
Aqui estamos diante de uma situação que cabe algumas
reflexões. Nada contra quem tenha capacidade e o hábito
de citar o Cristo ao longo de sua fala, mas não podemos julgar
a qualidade de uma palestra pela quantidade de citações
que se faz do Nazareno ou de passagens narradas ou vividas por ele,
mas sim pelo conteúdo e elevação moral da mensagem.
Cada orador tem um estilo, que, por sua vez, pode ter relação
com suas últimas encarnações, e essa diferença
se torna um ponto positivo na divulgação doutrinária,
atendendo aos diferentes anseios dos que assistem uma palestra espírita.
Para alguns Jesus é salvador, para os espíritas
é guia e modelo, um irmão mais velho, que tem mais experiência,
e por isso, é em quem devemos nos inspirar diante das dúvidas
e desafios da vida.
Cristo não precisa de bajuladores que o enchem de elogios,
de palavras bonitas e difíceis, mas sim de imitadores, que
conduzam suas vidas da maneira mais cristã possível.
A tarefa do Cristo é imensa, governar e dirigir o planeta,
como afirmou, primeiramente, Léon Denis no livro Cristianismo
e Espiritismo:
“A passagem de Jesus pela
Terra, seus ensinamentos e exemplos deixaram traços indeléveis;
sua influência se estenderá pelos séculos vindouros.
Ainda hoje, ele preside os destinos do globo em que viveu, amou
e sofreu. Governador espiritual deste planeta veio, com seu sacrifício,
encarreirá-lo para a senda do bem, e é sob sua direção
oculta e com o seu apoio que se opera essa Nova Revelação”
(...)
Saber que um dia seremos como o Cristo
é inspirador, mas, não chegaremos lá apenas exaltando-o,
citando-o ou narrando suas passagens, mas vivenciando, cada dia um
pouco mais, as lições que ele legou para a eternidade.
A proposta do Evangelho é nos tornar membros ativos na construção
de uma sociedade mais
justa, amorosa e pacífica, e as palestras espíritas,
não importa se com muitas ou poucas citações
a Jesus, desde que apoiadas na moral evangélica, têm
o papel de nos auxiliar a atingir nosso objetivo.