J. Herculano Pires
no livro O Homem Novo
Editora Espírita Correio Fraterno do ABC
junho de 1983
Dos grupos primitivos ao universalismo cristão
Porção de fermento numa medida de farinha
Construção de um mundo sem barreiras
O sectarismo religioso, como todo sectarismo, não é mais
que um resíduo das fases primitivas da evolução
humana. Porque a humanidade se desenvolveu através de formas
grupais, fechadas em seus sistemas próprios egoístas e
isolacionistas. Grupos humanos como a família, o clã,
a tribo, e posteriormente as cidades, as nações, eram
organismos que se fechavam em si mesmos, hostis aos demais, apegados
a sistemas de defesa que o instinto de conservação originava
e aguçava. Esse mesmo espírito egoísta, que se
baseava na natureza animal e na estreiteza mental dos homens, caracterizou
as religiões, as linhagens familiares, os agrupamentos políticos,
e ainda em nossos dias ofereceu-nos o doloroso espetáculo do
racismo nazista.
A proporção, porém, em que a humanidade evolui,
o espírito humano se alarga, superando barreiras e destruindo
fronteiras. O homem se universaliza. Sua mente se abre a uma compreensão
mais ampla do mundo. Seu coração, como um botão
de flor que desabrocha, distende as fibras no sentimento universal do
amor. Para o homem tribal, somente os da sua tribo eram gente, todos
os demais não passavam de "inimigos". Para o racista,
só os da sua raça têm valor. Para o sectarista,
só os da sua seita prestam, só eles estão certos
e merecem proteção de Deus. No Cristianismo, concepção
universalista do mundo, esse resíduo de épocas primitivas
ainda conseguiu medrar, provocando os terríveis morticínios
religiosos que enegrecem a história humana. Porque a natureza
do homem não cede com facilidade às influências
renovadoras. Já no Espiritismo, porém, não é
possível permitirmos a continuidade desses sentimentos negativos.
O espírito sectário é a negação dos
pricípios cristãos, e por conseguinte a negação
dos princípios espíritas, que revivem no mundo moderno
os ensinos de Jesus e da era apostólica. Fazer do Espiritismo
uma seita é asfixiar os princípios doutrinários.
Foi por isso, e tendo em vista o universalismo da ciência que
Kardec insistiu na natureza científica da doutrina. Apresentar
o Espiritismo como uma religião equivaleria a atirá-lo
imediatamente nas lutas sectárias da época. Apresentando-o
como ciência, Kardec o tornava acessível a todos. Como
vemos, entretanto, nos seus livros, e particularmente em "O que
é o Espiritismo", "A Gênese" e "O Evangelho
Segundo o Espiritismo", a concepção de Kardec era
muito mais ampla, entendendo o Espiritismo como uma revelação
de tríplice aspecto: cientifica, filosófica e religiosa.
O Cristianismo é lento, grandioso e profundo processo de reforma
do mundo. Jesus definiu a sua função ao se referir à
porção de fermento que colocamos numa medida de farinha,
para fazê-la levedar. Durante quase dois mil anos o fermento cristão
levedou a pesada farinha do mundo, misturando-se a ela, penetrando-a,
absorvendo-a. Mas chegaria o momento decisivo desse processo, em que
o fermento cristão revelaria a sua verdadeira natureza. Esse
momento está anunciado no Evangelho de João: é
o do Consolador, do Espírito da Verdade, e chegou com o Espiritismo.
A era espírita, em cujo segundo século nos encontramos
agora, é a continuidade natural da era cristã. A farinha
do mundo, dominada pelo fermento cristão, vai perdendo seu antigo
sabor, para adquirir outro. Uma das tonalidades desse antigo sabor,
que tem que desaparecer o quanto antes, é exatamente o sectarismo,
a atitude mental estreita, que escraviza o homem ao seu ponto de vista
exclusivo.
O mundo que o Espiritismo está construindo na Terra, com base
nos princípios fundamentais do Cristianismo, é essencialmente
universalista, e portanto anti-sectário. O Espiritismo não
se proclama o único meio de salvação humana, nem
se diz o detentor exclusivo da verdade. Do ponto de vista espírita,
todas as religiões são formas de interpretação
da suprema verdade, e todas conduzem o homem a Deus, quando praticadas
com sinceridade. O que importa, como dizia Kardec, não é
a forma, mas o espírito. De uma vez por todas, os espíritas
precisam libertar-se dos resíduos sectaristas, não respondendo
no mesmo tom às agressões sectárias de que são
vitimas a todo momento. Somente praticando a fraternidade e a tolerância
poderemos ajudar a construção do mundo sem barreiras que
será o Reino de Deus na Terra.
--------------------------------------------------------------------------------
A ÁGUA DO PARAÍSO
Havia um beduíno que ia de um lugar para outro
do deserto, vivendo de tâmaras, animais e águas salobras.
Um dia descobriu um novo manancial no areal e, conquanto fosse desagradavelmente
salgada a outras pessoas, pareceu-lhe ser a própria água
do paraíso, comparada com as que conhecia.
- Vou levar a quem possa apreciar!
Rumou, pressuroso, ao palácio de Harun el-Raschid,
levando um odre para ele beber e outro para o Califa. Admitido em audiência,
falou:
- Ó Comendador dos Crentes. Conheço todas
as águas do deserto e acabo de descobrir esta água do
Paraíso, digna de vossos lábios!
Harun provou da água, agradeceu, mandou que lhe
dessem mil moedas de ouro e recomendou que o levassem imediatamente
de volta ao deserto, sem que pudesse provar da água do palácio.
E acrescentou ao beduíno:
- Sê o guardião da “água do
paraíso” e distribui-a gratuitamente a todos, em meu nome!
(Sabedoria sufi)
--------------------------------------------------------------------------------
A água é a verdade.
Todos os níveis de verdade são úteis,
como numa escola, para atender às necessidades dos diferentes
graus das pessoas. É impiedade desviar alguém de sua fé
ou ridicularizar a limitada verdade que pode alcançar.
topo
Leia também de José Herculano Pires:
100
anos de "O Livro dos Espíritos"
Ação
Espírita na Transformação do Mundo
Agonia
das Religiões
Analítica
de Deus
Arigó:
vida, mediunidade e martírio
Biografias
e bibliografia
O
Centro e a Comunidade
Centro
Espírita
O
Centro Espírita
Ciência
Espírita e suas implicações terapêuticas
Ciência
e Superstição
Conceito
de mediunidade
Concepção
Existencial de Deus
Conteúdo
Resumido das Obras de J. Herculano Pires
A
Criação do Homem
Curso
Dinâmico de Espiritismo - O Grande Desconhecido
Da
Serenidade Humana
Das
necessidades das sessões espíritas e das condições
para a sua realização
Desaparece
o Sectarismo à medida que se desenvolve o Cristianismo
O
Desenvolvimento Científico
A
Desfiguração do Cristo
O
Despertar da Existência
DEUS
Educação
para a Morte
Epistemologia
Espírita
O
Espírita e o Mundo Atual
Espiritismo
Dialético
O
Espírito e o Tempo
Evolução
Espiritual do Homem - Na perspectiva da Doutrina Espírita
Filosofia
e Espiritismo
Filosofia
viva e racional, sem o espírito de sistema
O
homem no mundo como ser na existência
O
Homem Novo
O
Infinito e o Finito
Introdução
à Filosofia Espírita
Irrefutáveis
as provas da sobrevivência humana
Kardec
e a evolução do Espiritismo
A
Lenda do dilúvio
Mediunidade
O
Menino e o Anjo
O
Método de Kardec
O
Mistério do Bem e do Mal
O
Mistério do Ser ante a Dor e a Morte
Motivos
de dificuldades nas curas
Na
Hora do Testemunho
Nascimento
da Educação Espírita
No
Limiar do Amanhã - (Lições de Espiritismo)
Obsessão
- o Passe – a Doutrinação
Parapsicologia
e Interpretações Pessoais
Parapsicologia
Hoje e Amanhã
Pedagogia
Espírita
A
Pedagogia de Jesus
A
Pedra e o Joio
Pesquisa
sobre o Amor
O
Problema da violência
Que
Ciência é essa?
O
Reino
Restabelecendo
o equilíbrio nas relações corpo-espírito
Revisão
do Cristianismo
O
Sentido da Vida
Os
Sonhos de Liberdade
Os
Três Caminhos de Hécate
Uma
tomada de consciência
Vampirismo
Visão
Espírita da Bíblia
José Herculano Pires & Júlio Abreu
Filho
O
Verbo e a carne
José Herculano Pires, (Irmão Saulo);
Maria Dolores; Chico Xavier
A
Dor e o Tempo / Elevação
José Herculano Pires; Marcelo Henrique
Pereira
A
Gnosis Espírita
veja também sobre Herculano Pires:
Mariotti, Humberto
& Ramos, Clóvis
Filósofo
Herculano Pires e Poeta
Rizzini, Jorge
J.
Herculano Pires, o Apóstolo de Kardec - o Homem, a Vida, a Obra
J.
Herculano Pires, o fiel tradutor de Kardec
Mollo, Elio
José
Herculano Pires - pequena biografia
topo