Há curas que se verificam
com surpreendente facilidade e rapidez, dando às vítimas
de graves perturbações e às suas famílias
a impressão de um socorro divino especial. Nosso povo,
de formação geralmente católica, está
sempre disposto a se deslumbrar com milagres. Não há
privilégios numa estrutura orgânica perfeita, como
a do Universo, regida por leis infalíveis e teleológicas,
ou seja, leis que dirigem tudo no sentido de fins previstos.
A cura fácil e rápida decorre de méritos
pessoais do doente, de compensações merecidas
por esforços despendidos por ele no seu desenvolvimento
espiritual e em favor da evolução humana em geral.
O objetivo da vida é o desenvolvimento das potencialidades
que trazemos em nós como sementes de angelitude e divindade
semeadas na imperfeição humana. Os que compreendem
isso, se procuram conscientemente trabalhar para que essas sementes
germinem mais depressa, adquirem créditos que lhes são
pagos no momento exato das necessidades. Quando Jesus dizia
a um doente: “Perdoados foram os teus pecados”,
não era porque ele fizesse um milagre naquele instante,
mas porque o doente vencera a sua prova graças aos seus
méritos.
As doenças revelam desajustes
da nossa posição existencial. Esses desajustes
decorrem da liberdade de que dispomos em face das exigências
evolutivas. A dor, a angústia, as inibições
são como campainhas de alarme prevenindo-nos de abusos
ou descuidos. Sem a liberdade de errar não poderíamos
desenvolver as nossas potencialidades espirituais. A ideia do
castigo divino, do juízo de Deus condenando os que erram
é uma maneira humana, antropomórfica, de interpretarmos
os acidentes de nossa viagem na astronave planetária
que nos faz rodar em torno do Sol.