Espiritualidade e Sociedade





Márcio Rogério Horii; Vania Mugnato de Vasconcelos

>    A polêmica dos Espíritas

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Márcio Rogério Horii; Vania Mugnato de Vasconcelos
>  A polêmica dos Espíritas

 

Não é novidade ter recentemente nascido uma polêmica que envolve espíritas, a partir de resposta de Divaldo Pereira Franco em recente congresso no qual ele opinou sobre diversos temas espíritas.

Um dos questionamentos pediu a apreciação de Divaldo quanto a ideologia de gênero, o que ele comentou segundo seu conhecimento e reflexões acerca desse complexo assunto, cuja totalidade de compreensão e consequências ainda nos escapa, tanto no sentido científico, sociológico, quanto espiritual.

Qualquer parecer nesse sentido, proveniente de qualquer pessoa, por enquanto não retratará a visão espírita e sim uma visão particular de quem o emitir e que pode ou não estar em sintonia com a verdade.

O fato é que suas palavras geraram reação de pessoas que se intitulam “espíritas progressistas” e que assinaram o que foi chamado de “manifesto”, contendo fortes críticas ao pronunciamento do orador.

Divaldo tem críticos e admiradores. É um ser humano como todos, com virtudes, imperfeições, conhecimento doutrinário e opiniões pessoais, cuja obra fala por ele. Usá-lo para “salvar” ou “perder” a imagem do Espiritismo, é algo que precisa ser comentado. Eis o que nos traz aqui.

O Espiritismo tem apenas um lado, e os espíritas deveriam ter apenas o lado da doutrina codificada por Allan Kardec como roteiro de moral, filosofia, ciência e conduta. Sendo indivisível, os seguidores do Espiritismo se intitulam “espíritas”, não existindo doutrinariamente falando “espíritas laicos, progressistas, kardecistas” ou outros nomes incabíveis desviados do objetivo doutrinário.

O Codificador, em O Livro dos Médiuns, faz uma referência a alguns “tipos” de espíritas no tocante a compreensão teórica e prática da Terceira Revelação. São eles: espíritas sem o saberem, espíritas experimentadores, espíritas imperfeitos, verdadeiros espíritas ou espíritas cristãos e espíritas exaltados. Sugerimos a leitura da referida obra para conhecimento de cada um. Assim, os rótulos que extrapolam o título “espírita”, sugerindo existência de subdivisões doutrinárias, pregam por si só a divisão, a segregação, a classificação de pessoas as quais, na prática, são definidas por sua conduta e nada mais.

Sendo uma filosofia com consequências morais, o Espiritismo está inserido em no cotidiano e em todas as relações humanas, pois tudo envolve moral; desse modo, não existe espírita que o seja apenas dentro do centro espírita. O espírita é, igualmente, cidadão do mundo, submetido a direitos e deveres perante as leis.

Entre seus direitos e, porque não dizer, deveres, está o de possuir posicionamento político. Portanto, o problema não está em pensar diferente ou igual a Divaldo, Haroldo Dutra ou qualquer outro divulgador da doutrina, esteja ele encarnado ou desencarnado. E nesse sentido vale lembrar o Espírito Erasto que alertou ser melhor “recusar 10 verdades a aceitar uma única mentira”!

Portanto, não é a crítica “em si” que coloca em risco a unicidade da doutrina e sim o de “falar em nome da doutrina”, equívoco de ambos os lados na mencionada polêmica.

Pensamos que o mais grave problema gerado nas críticas ao posicionamento de Divaldo começa com o rótulo “progressista”. Repita-se, não existe nada mais que “espírita”! Além disso, todos deram pontos de vista, mas enquanto Divaldo o fez num evento específico, questionado de forma direta, os tais “progressistas” armaram um palco, subiram em cima e atiraram suas conclusões ao mundo leigo, ou seja, entre os que não conhecem a doutrina espírita, desse modo e inadvertidamente estimulando posicionamentos menos filosóficos e mais ideológicos, os quais geraram respostas infelizes em comentários depreciativos por todas as redes sociais.

Nasceu, assim, aliás, clarificou-se assim a grande ruptura que o Movimento Espírita vem experimentando e que, de certo modo, permanecia discretamente velada. Divide-se, tristemente, o movimento e este passou a se confundir aos olhos leigos com a própria doutrina, devido a opiniões pessoais. No entanto, frise-se, o Espiritismo permanece em pé, inabalado em sua essência!

Nesse ponto há de esclarecer que há diferença entre Espiritismo (a doutrina) de Movimento Espírita (o que os espíritas entendem e fazem dela). E a partir dessa compreensão é inegável que existem pontos levantados por ambos os lados merecedores de consideração e cuidadosas reflexões. Entre eles, entendemos que não deve existir jamais a idolatria de “vivos”, sejam oradores, palestrantes ou médiuns, nem “mortos”, independente dos nomes que assinem as comunicações espirituais. O Espiritismo tem voz coletiva (a dos espíritos superiores) e não individual, seja encarnada ou desencarnada.

Por outro lado, não existe República de Curitiba, denominação meramente política. Existe, tão somente, a República Brasileira com um sistema judiciário operando por todo o país e não concentrado apenas em uma localidade, seja qual for.

Quanto ao conceito de identidade de gênero, é um estudo que exige uma visão sistêmica, ou seja, de várias áreas do saber humano, inclusive a espírita. O que não é razoável é associá-la tão simplesmente a uma visão política. Lembrando que ao falar desse tema estamos falando de seres humanos com sentimentos e direitos, não objetos inanimados, independente de gostarmos ou aceitarmos seu status de gênero. Assim, minimizar sua existência é maximizar nossa ignorância, enquanto sociedade.

O Espiritismo não tem partido, cor ou ideologia. Espíritas não deveriam colocar cor, partido e ideologias nele, ferindo sua lógica fraternal, solidária e universal. Dessa forma, dentre tantos pontos de vista que existem, nós que assinamos esse artigo, afirmamos não coadunar, não aceitar ver a filosofia que admiramos virar “assunto do dia” por consequência da insatisfação política de pessoas que não gostam que falem por elas, mas se posicionam como se falassem por todos.

Igualmente, levantamos alerta para aqueles que acabam, de algum modo, tornando-se referência dentro do movimento espírita para que deixem claro quando sua manifestação se trata de um posicionamento pessoal ou doutrinário. Lembrando que podemos ter diferentes opiniões, mas, o objetivo é caminharmos em igual direção: Deus e a perfeição.

“O Espiritismo será aquilo que os homens fizerem dele", disse o grande pensador Leon Denis. Não ampliemos a polêmica, que já foi suficientemente debatida, mas reflitamos porque ela nasceu. E redescubramos o Espiritismo como luz que clareia os passos dos seus mais honestos seguidores.

 

Fonte: http://www.noticiasespiritas.com.br/2018/FEVEREIRO/22-02-2018.htm

 



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