Esta rara obra foi lançada
em abril de 1966 pelo escritor espírita da Venezuela, David
Grossvater.
Nascido em Cracóvia, na Polônia, em 16 de outubro de
1911, Grossvater emigrou para o Brasil na adolescência. Morou
em Porto Alegre-RS, onde tomou contato com o Espiritismo, tendo
frequentado centros espíritas daquela cidade. Ao ter idade
para servir o exército, transferiu-se para a Venezuela, em
1930.
Na Venezuela, tomou contato com o movimento espiritualista criado
pelo intelectual e escritor espírita espanhol Joaquín
Trincado Mateo (1866-1935), radicado em Buenos Aires, Argentina.
Assim como o revolucionário nicaraguense Augusto César
Sandino, Grossvater se aproximou do chamado Trincadismo, mas logo
rompeu com este singular movimento espiritualista por discordar
de suas teorias sobre a origem do homem e do espírito. Entusiasmou-se
com a obra Evolução em Dois Mundos, do espírito
André Luiz, psicografada pelo médium mineiro Chico
Xavier (1910-2002) e com A Grande Síntese, a principal obra
do filósofo espiritualista italiano Pietro Ubaldi (1886-1972).
Em função da discordância com as ideias de Joaquín
Trincado e a rejeição à feição
cristã imprimida por Allan Kardec em sua obra, Grossvater
desenvolveu uma forma peculiar de ver a Doutrina Espírita,
que denominou de Espiritismo Laico, em contraposição
ao Espiritismo Cristão e ao Espiritismo Trincadista. Em seu
pensamento, pode-se notar a marcante influência das ideias
do cientista espírita francês Gabriel Delanne (1857-1926),
da Metap-
síquica, de André Luiz/Chico Xavier e de Pietro Ubaldi.
Grossvater influenciou várias lideranças espíritas
da Venezuela e outros países da América Latina. O
movimento laico, criado por ele, que chamava de evolucionismo anticriacionista,
atravessou fronteiras.
Em uma das palestras de Grossvater no CIMA, o futuro presidente
da Confederação Espírita Pan-Americana (CEPA)
e escritor espírita, Jon Aizpúrua, na plateia, então
adolescente, ateu e bastante influenciado pelo marxismo, aceitou
o desafio proposto pelo palestrante em ler e debater com ele O Livro
dos Espíritos, a principal obra do fundador do Espiritismo,
Allan Kardec: nunca mais parou de estudá-la. Sua iniciação
espírita começou a partir deste episódio. Aizpúrua
herdou o legado de Grossvater e assumiu a liderança do CIMA,
no entanto, com uma visão mais kardecista do que a de seu
mestre, sem todavia romper com a concepção laica,
filosófico-científica e livre-pensadora, marcas registradas
do movimento criado por Grossvater.
A síntese de seu pensamento se encontra nesta obra, Espiritismo
Laico, muito combatida e pouco lida. Nela podemos vislumbrar o poder
de suas profundas reflexões e o confronto do pensamento espírita
com outras áreas do conhecimento, especialmente a biologia,
a psicologia e a metapsíquica. De valor histórico
inestimável e, apesar de datado em muitos aspectos, este
livro, há muito tempo esgotado, influenciou o chamado movimento
laico no
Brasil, nos anos 1960, especialmente o Movimento Universitário
Espírita (MUE) e vários espíritas brasileiros.