O objetivo dessa pesquisa foi analisar a maneira pela
qual a doutrina espírita, por meio da crença na reencarnação
e na imortalidade do espírito, explica a diversidade sexual.
A análise teve por foco a especificidade pela qual a homossexualidade
é compreendida e explicada. Para tanto, comparou-se as representações
sobre a homossexualidade em duas dimensões do espiritismo:
o institucional e a base religiosa.
A consideração no plano institucional
se deu a partir de algumas obras a respeito do tema e, sobretudo,
nos argumentos de Andrei Moreira, presidente da Associação
Médico-Espírita de Minas Gerais (AME-MG), em seu livro:
A Homossexualidade sob a ótica do espírito imortal.
Posteriormente, a pesquisa se voltou à maneira pela qual os
membros de dois centros espíritas paulistas, Centro Espírita
Amor e Caridade (CEAC) e Centro Espírita Casa do Caminho (CECC),
situados respectivamente nas cidades de Bauru e São Carlos,
lidam com a questão da sexualidade.
Partindo da hipótese de que a maioria dos brasileiros, inclusive
os espíritas, não é receptível a indivíduos
LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e
transgêneros), esta investigação tem como cerne
a abordagem do contraste entre o discurso de tolerância no plano
institucional e a aceitação dessas sexualidades no contexto
espírita do interior paulista.
Amparada nas contribuições de Michel Foucault e nas
propostas dos estudos queer, tomou-se por base da explicação
espírita sobre a sexualidade, além do livro de Andrei
Moreira, as seguintes obras: Homossexualidade, reencarnação
e vida mental, de Walter Barcelos; Vida e Sexo, de Francisco Cândido
Xavier ditado pelo espírito Emanuel, Sexo e destino, também
de Francisco Xavier ditado pelo espírito de André Luiz,
Além do azul e do rosa: recortes terapêuticos sobre a
homossexualidade à luz da doutrina espírita, escrito
por Gibson Bastos e Sexo e consciência, de Divaldo Franco, Encontro
com a paz e a saúde e Constelação familiar, psicografados
por Divaldo Franco e ditados pelo espírito Joanna Ângelis
e Sexo e sexualidade de Regis de Moraes.
Posteriormente, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com
algumas lideranças espíritas em plano nacional e internacional.
Tais dados foram cruzados com os obtidos por meio de entrevistas semi-estruturadas
com representantes de ambos os centros junto dos dados obtidos em
trabalho de campo. Por fim, em termos de conclusão, o trabalho
apresenta a maneira pela qual as crenças na reencarnação
e na imortalidade do espírito possibilitam a compreensão
da homossexualidade como normal e natural, ademais foi possível
contribuir para maior compreensão da dinâmica de funcionamento
do movimento espírita.
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GUIMARÃES, Fernando Augusto de Souza. Corpo e
espírito: representações da homossexualidade no
espiritismo. 2018. Dissertação (Mestrado em Sociologia)
– Universidade Federal de São Carlos, São Carlos,
2018. Disponível em: https://repositorio.ufscar.br/handle/ufscar/10464.