Bruce
Greyson
> Experiências de quase-morte: implicações
clínicas
Bruce Greyson
- Division of Perceptual Studies,
Department of Psychiatry & Neurobehavioral Sciences, University
of Virginia School of Medicine
Resumo
Contexto: Quando algumas pessoas vivenciam um estado
próximo da morte, elas referem uma experiência profunda
de transcender o mundo físico, o que freqüentemente
as conduz a uma transformação espiritual. Estas “experiências
de quase-morte” (EQMs) são relevantes para os clínicos
pois produzem mudanças nas crenças, nas atitudes e
nos valores; podem ser confundidas com os estados psicopatológicos,
embora tenham conseqüências diferentes necessitando terapêuticas
diferentes; e, por fim, porque podem ampliar a nossa compreensão
em relação ao fenômeno da consciência.
Objetivos: Esta revisão de literatura examina
as evidências relacionadas às explicações
que têm sido propostas para o fenômeno das EQMs, incluindo
expectativa, memórias do nascimento, alterações
nos gases sangüíneos, alucinações tóxicas
ou metabólicas e modelos neuroquímicos e neuroanatômicos.
Métodos: A literatura sobre EQM dos últimos
30 anos foi revisada de modo abrangente, incluindo bases de dados
médicas, de enfermagem, psicológicas e sociológicas.
Resultados: As EQMs tipicamente produzem mudanças positivas
em atitudes, crenças e valores, mas também podem levar
a problemas interpessoais e intrapsíquicos. Esses problemas,
embora tenham sido comparados a vários transtornos mentais,
diferem desses quadros psicopatológicos. Várias estratégias
terapêuticas têm sido propostas para ajudar indivíduos
que apresentam conseqüências problemáticas de
uma EQM, mas tais intervenções ainda não foram
testadas.
Conclusões: A consciência mística
e o funcionamento mental intensificado durante uma EQM, quando o
funcionamento cerebral está gravemente prejudicado, são
um desafio para os modelos atuais sobre a interação
cérebro/mente e podem, eventualmente, levar a modelos mais
completos para o entendimento da consciência.
Greyson, B. / Rev. Psiq. Clín.
34, supl 1; 116-125, 2007
Introdução
Quando algumas pessoas vivenciam
um estado próximo do da morte, elas referem uma experiência
profunda, na qual acreditam deixar seus corpos e ingressar em alguma
outra esfera ou dimensão, transcendendo os limites do ego
e as fronteiras convencionais do tempo e do espaço. Tais
experiências foram descritas esporadicamente na literatura
médica desde o século XIX (Greyson, 1998a) e foram
identificadas como uma síndrome distinta a mais de um século
atrás (Heim, 1892). Moody (1975) introduziu o termo experiências
de quase-morte (EQM) para nomear esse fenômeno e delineou
características específicas, comumente referidas pelos
americanos que sobreviveram a uma EQM. Essas características,
que definem uma experiência de quase-morte, tanto no meio
acadêmico como na linguagem popular, incluem inefabilidade,
ouvir o anúncio da própria morte, envolventes sentimentos
de paz, ouvir um ruído, ver um túnel, sentir estar
fora do corpo, encontrar-se com seres não-físicos,
um “ser de luz”, realizar uma revisão da vida,
retornar à vida, passar pela experiência de contar
aos outros sobre essa vivência, os efeitos dessa vivência
sobre a vida da pessoa que vivenciou uma EQM, ter novas visões
da morte e a comprovação de conhecimentos não
adquiridos por meio da percepção normal (Moody, 1975).
Pesquisas recentes sugerem que experiências
de quase-morte são referidas por 12% a 18% dos sobreviventes
de paradas cardíacas (Greyson, 2003a; Parnia et al., 2001;
van Lommel et al., 2001). Experiências de quase-morte são
importantes para os médicos por três razões.
Primeiro, as EQMs desencadeiam mudanças abrangentes e duráveis
em relação a crenças, atitudes e valores dos
pacientes. Segundo, podem ser confundidas com estados psicopatológicos,
embora acarretem conseqüências muito diferentes das geradas
nas experiências psicopatológicas e, por essa razão,
requerem diferentes abordagens terapêuticas. Terceiro, o melhor
entendimento dos mecanismos da EQM pode ampliar a nossa compreensão
em relação ao fenômeno da consciência
e da sua relação com a função cerebral
(Greyson, 1998b; Parnia e Fenwick, 2002).
Um dos problemas das pesquisas
sobre EQM é que, com algumas exceções notáveis,
quase todos os estudos foram retrospectivos, o que implica dúvidas
sobre a confiabilidade nas memórias relatadas (French, 2001).
Se os relatos das EQMs forem adornados ou pouco fiéis ao
ocorrido, isto diminuirá sua importância. Observa-se
que as memórias autobiográficas estão sujeitas
a distorções ao longo dos anos e as memórias
de eventos incomuns ou traumáticos podem ser particularmente
não confiáveis em conseqüência das influências
emocionais. Para testar a confiabilidade dos relatos dos pacientes
que passaram por uma EQM, Greyson (2007) administrou a escala de
EQM, uma medida quantitativa, aos mesmos indivíduos em duas
ocasiões, com um intervalo de aproximadamente 20 anos; no
início da década de 1980 e, então, outra vez
em 2000. Não foram encontradas evidências de que os
indivíduos que passaram por uma EQM romantizam seus relatos
com o passar do tempo. Os resultados mostraram justamente o contrário:
não se verificou nenhuma diferença estatística
significativa entre as pontuações da escala de EQM
nos dois momentos de aplicação da escala. As mudanças
observadas nas pontuações da escala não foram
associadas significativamente com o intervalo do tempo decorrido
desde a EQM. Essa evidência de que os relatos das experiências
de EQM são confiáveis ao longo de um período
de duas décadas sustenta a validade dos estudos em que a
EQM ocorreu em anos anteriores à investigação.
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Fonte:
http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/
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