À medida que a história se desenrola
nos palcos da Terra, a conquista de conhecimentos sucede-se em vagas
sucessivas. E onde a ciência pára com receio de errar,
o Espiritismo avança…
Às vezes, conhecimento parece uma cidade com edifícios
que ameaçam ruir e carecem de rectificação. É
quase como se se voltasse a ouvir a voz do poeta, «mudam-se
os tempos, mudam-se as vontades».
O conhecimento dito científico é algo muito recente
na história milenar da humanidade. Ainda gatinha, como um bebé.
Esta forma de conhecimento só surge quando muitos outros patamares
de apreensão do saber – empíricos, técnicos
e quejandos – proporcionaram às mais diversas sociedades
recursos para sobreviverem e depois progredirem. Por vezes até
surgem por revelação, quando os Espíritos sopram
idéias renovadoras nas comunidades humanas a muitos níveis
de actividade. Como não querem saber de direitos de autor,
passam despercebidos. Posto isso, não há dúvida
de que “A Ciência tem por missão descobrir
as leis da Natureza”, conforme diz Allan Kardec em «A
Génese». E como essas leis são obra de Deus, a
ciência em última instância vai dando recursos
ao ser humano para perceber melhor o funcionamento deste grande e
complexo relógio.
Como a descoberta das leis da natureza se faz passo a passo, por vezes
até em terreno escorregadio, o que acontece é que há
“verdades” científicas de hoje que o não
são amanhã.
Por isso, o conhecimento científico, como construção
humana, procura uma forma de avançar sem erros, o que faz com
que siga devagar e segundo as regras ditadas por quem o controla.
O cientista e a ciência
Entra aqui o papel do cientista que é apenas um homem ou uma
mulher, não é um robot mecanizado, sem paixão,
nem sentimentos, nem convicções. Por isso, vemos cientistas
– e outros que dizem sê-lo e não o são –
que argumentam afirmando por exemplo que a vida não continua
após a morte do corpo físico e que a reencarnação
não faz sentido.
E encontramos outros cientistas credenciados que realizam trabalhos,
publicam-nos, sustentam-nos no universo da seriedade e até
criam escola de investigação científica a dizerem,
só com factos, sem palavras especulativas, que a reencarnação
faz sentido e logicamente, por consequência, a continuidade
da vida após a morte, indo até à comunicação
dos espíritos.
Isto liga-se a uma afirmação de Allan Kardec, quando
deixa escrito no livro «A Génese»,
Cap. X: “O Espiritismo marcha ao lado do materialismo, no
campo da matéria; admite tudo o que o segundo admite; mas,
avança para além do ponto onde este último pára.
O Espiritismo e o materialismo são como dois viajantes que
caminham juntos, partindo de um mesmo ponto; chegados a certa distância,
diz um: «Não posso ir mais longe.» O outro prossegue
e descobre um novo mundo.”
Para a doutrina espírita, só faz sentido pensar com
fé se esta for raciocinada, ou seja, se se sustentar em factos.
Como é impossível neste momento da evolução
palmilharmos quilómetros na estrada do conhecimento em pouco
tempo, há aquilo que cada um por si considera “verdades
adquiridas” – as que derivam directamente dos factos
– e as “verdades temporárias”, reunindo-se
aqui as lucubrações menos próximas da realidade.
As mais distantes dos factos geralmente redundam em disparate.
Estes pontos oscilam de acordo com cada um, de forma mais realista
ou menos consistente. É a “maturidade do senso moral”
que determina isso.
O homem-macaco
Por altura de 1859, o protagonista da teoria da evolução
das espécies, Charles Darwin, era ridicularizado nos jornais
ingleses com uma caricatura de homem-macaco. E isso apenas porque
percebeu que todas as espécies de seres vivos podiam ter uma
ligação evolutiva, como hoje se sabe através
de estudos filogenéticos de laboratório.
Esta ligação entre toda a vida está patente em
várias obras de Allan Kardec. Fará sentido perceber
nessa expressão a interacção entre o corpo físico
e o corpo espiritual dos seres vivos, em cuja embarcação
o princípio inteligente evolui como o molde e a forma, na descrição
do espírito André Luiz em «Evolução
em dois mundos», psicografado pelo médium
Francisco Cândido Xavier.
As mudanças evolutivas terão sido impulsionadas, diz
o autor, por modificações no corpo espiritual que vieram
a repercutir no desenvolvimento do corpo físico, complementando
as mutações genéticas referidas pela teoria ensinada
nas escolas e que justificarão as adaptações
dos organismos aos meios favoráveis à sua sobrevivência.
É evidente que a condicionante genética de cada ser
existe, e faz parte do programa da evolução. Nesse percurso,
o princípio inteligente, o rudimento do Espírito que
anima o ser humano, dotado de livre-arbítrio, exercita a sua
escassa liberdade de acção guiado na sua sobrevivência
pelos instintos.
Os instintos diferem da inteligência em muitos pontos. Eles
são automáticos, certeiros, enquanto o exercício
do intelecto tem de ser arquitectado e é falível. Se
o primeiro não engloba senão escassa margem de liberdade
de acção, esta na inteligência é muito
maior.
Uma cegonha a construir o ninho fá-lo por instinto, mas um
orangotango se não aprender com a mãe a fazer uma cama
de ramos dobrados, ou um guarda-chuva de folhas largas em plena floresta,
jamais colherá benefícios dessa prática, pois
não a saberá executar.
Aquela ideia de que os animais não raciocinam hoje sabe-se
que está errada. Tudo se encadeia na natureza, do átomo
ao arcanjo, dizem as entidades espirituais. E esses seres vivos estão
bem mais próximos do nosso estado do que geralmente gostamos
de imaginar.
Nesta pista de aprendizado geral, é como se o ADN, responsável
pela hereditariedade, criasse linhas de conduta que orientassem o
princípio inteligente a enriquecer a sua experiência
de vida. Veja-se também o exemplo das galinhas-de-água,
animais selvagens que vivem nos charcos e nas margens de ribeiros.
Reproduzem-se na Primavera, altura em que podem criar meia dúzia
de juvenis. Como crescem depressa, no Verão já poderão
estar com a dimensão dos pais, mais acinzentados do que negros,
e tratam da segunda geração do ano, ajudando a alimentá-los.
Uma outra ave parecida, o galeirão-comum, no mesmo ambiente,
tem uma estratégia semelhante, só que está orientada
para ter ninhadas maiores. A pressão das crias, por vezes 15
ou mais, que pedem constantemente alimento aos progenitores faz com
que a dada altura estes distribuam algumas bicadas. Por fim, uma ou
outra cria adoece e perde a vida.
No caso, a tendência é genética, mas numa certa
medida cada ser ganha experiência de vida, alcança patamares
superiores na espiral de evolução em que todos estamos
matriculados, ainda que não acredite nisso.
E a liberdade de agir cresce, cada vez mais à medida em que
se reúnam mais condições de a usar como ferramenta
capaz de angariar mais afecto e sabedoria no imo do ser.
Com ou sem conhecimento científico, a vida sobe mais alto e
as estrelas a tudo assistem como se um dia fôssemos capazes
de iluminar tão longe quanto elas o sabem fazer.
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