Antônio Maspoli de Araújo Gomes *
> As Representações Sociais
do Corpo e da Sexualidade no Protestantismo Brasileiro
* Teólogo, e psicólogo
e professor da pós-graduação em Ciências
da Religião (Mackenzie)
Resumo
Esta pesquisa busca explicitar as representações
sociais sobre o corpo e a sexualidade veiculadas no protestantismo
brasileiro através da literatura publicada sobre este tema
para o consumo dos membros de igrejas. Inicialmente foram traçados
dois objetivos:
a) Explicitar as representações sobre
o corpo e a sexualidade na patrística, bem como no protestantismo
de Martinho Lutero e João Calvino; e
b) Demonstrar como as representações do corpo e da
sexualidade têm sido representadas na produção
editorial e acadêmica na pedagogia sexual do Protestantismo.
_____________________
“Pra entender a asserção
de Rabi Shimon, devemos observar sua ênfase: não encontrei
nada melhor para o (corpo do) homem do que o silêncio’;
para assuntos relativos ao corpo, para temas físicos, quanto
menos conversa, melhor”
Irving M.BUNIN, A ética do Sinai. Ensinamentos
dos sábios do Talmud, p. 62.
1. Introdução
O corpo humano é construído
socialmente e historicamente determinado: tem uma história
e conta uma história. A história do corpo confunde-se
com a história da filogênese humana, isto é,
com a história do desenvolvimento da espécie. E reflete,
de certo modo, a história social da humanidade. Neste sentido,
repercutem também sobre o corpo as contribuições
das representações sociais construídas a partir
das crenças e idéias religiosas. Esta assertiva é
absolutamente válida quanto às representações
do corpo no Cristianismo, que foram edificadas a partir da teologia
cristã. Já a história contada pelo corpo, na
ontogênese, no desenvolvimento do indivíduo, reproduz
de certo modo a história da filogênese e incorpora
o repertório de representações coletivas oriundas
de uma determinada cultura num determinado intervalo de tempo, isto
é: o corpo é histórico. Ele carrega consigo,
na história do corpo individual de um determinado indivíduo,
a história do corpo da humanidade, do corpo da espécie.
Esta afirmação torna-se válida também
quanto à sexualidade humana. O homem exerce a sexualidade
num espaço de tempo determinado e perpassado pela economia,
política, teologia e, em certo sentido, pela religião.
Estes fatores, combinados, determinam suas crenças sobre
o corpo humano e sua práxis sexual.
O tema do corpo no Cristianismo protestante tem
despertado pouco interesse dos pesquisadores no Brasil. Aqueles
que pesquisam este assunto ainda são, em sua maioria, ligados
às denominações protestantes, e, por esta razão,
dedicam seus estudos mais aos verbetes da enciclopédia teológica
do que propriamente à formulação de uma teologia
do corpo. Uma teologia do corpo parece não encontrar lugar
nesta enciclopédia. E a tentativa de inserir o corpo nas
pesquisas teológicas ocorre pela via da teologia adjetivada,
da teologia pastoral. No Protestantismo brasileiro, a teologia prática
reflete a praxis do pastor e vincula-se à tradição
denominacional e ao discurso oficial de uma determinada confissão
protestante. Isto, certamente, contribui para desestimular os estudos
e pesquisas sobre o corpo e a sexualidade. Estas considerações
trazem algumas questões à baila: quais as origens
cristãs das representações do corpo e da sexualidade
na Igreja primitiva? De que forma o corpo e a sexualidade foram
representados pelos pais da Igreja? Que lugar ocupa o corpo e a
sexualidade na produção editorial veiculada na comunidade
evangélica brasileira? Que relação existe entre
as representações sobre o corpo e a sexualidade no
Protestantismo brasileiro e aquelas da teologia clássica
do Protestantismo? De que forma estas representações
podem incluir as representações oriundas da cultura
brasileira? Quais as implicações das representações
sobre e o corpo e a sexualidade sobre a consciência individual?
Quais as implicações das representações
sobre e o corpo e a sexualidade sobre a saúde mental?
O termo representações sociais, neste trabalho, será
utilizado na mesma acepção dada por Durkheim,
[2] Moscovici, [3] Jodelet,
[4] e Berger, [5] Geraldo Paiva
e Welligton Zangari, [6] isto é,
aquelas representações coletivas geradas pelas crenças
de um determinado grupo, no contexto de uma cultura e que servem
para organizar o conhecimento do senso comum responsável
pela dinâmica da vida cotidiana. Tais representações
podem ser geradas pelas crenças religiosas, pelas crenças
científicas, através da mídia, por meio da
empresa, por intermédio da família e até nas
relações face to face. Nesta pesquisa trabalharemos
com aquelas representações veiculadas nos livros sobre
o corpo e a sexualidade que circulam no Protestantismo brasileiro.
Destacamos, neste trabalho, as contribuições para
o estudo do corpo e da sexualidade, numa perspectiva protestante,
dos pesquisadores Zenon Lotufo Júnior [7],
(Corpo e dimensão espiritual); Prócoro Velasques
Filho [8] (Sobre comportamento
protestante); Jaci C. Maraschin [9]
(Fragmentos, harmonias e dissonâncias do corpo);
Tolentino Rosa [10] (Religião
e sexualidade); e, mais recentemente, o trabalho de Robinson
Cavalcanti [11] (Libertação
e Sexualidade).
Inicialmente, foram traçados dois objetivos para este trabalho:
a) - explicitar as representações sobre o corpo e
a sexualidade na patrística bem como no protestantismo de
Martinho Lutero e João Calvino e; b) - demonstrar como as
representações do corpo e da sexualidade têm
sido representadas na produção editorial e acadêmica
sobre o tema no Protestantismo brasileiro, especialmente na chamada
Pedagogia Sexual do Protestantismo.
2. O Corpo nas Representações
dos Pais da Igreja do I ao IV Século
Jean Pierre Vernan [12]
apresenta o corpo do cidadão grego como legítimo representante
do ideal da virtude que traduzia, na beleza das formas perfeitas,
o sentimento produzido pela alhetéia, a verdade
revelada pela natureza. O corpo grego era considerado o principal
instrumento de construção e defesa da polis
e, por esta razão, deveria ser modelado pela prática
dos esportes e pela arte da guerra. Este corpo, todavia, era considerado
neutro em relação à sexualidade, posto que
o homem grego não conhecia o conceito de pecado sexual tal
como formulado pela teologia cristã. Com algumas modificações,
as representações sobre o corpo na sociedade grega
foram incorporadas pelo Império Romano.
A conversão do corpo helênico, moldado nos padrões
de beleza grego romano, no corpo judaico cristão, obedeceu
a um processo de transformação que durou mais de quatro
séculos, do século I ao IV século d.C. O historiador
Peter Brown [13] realizou um mapeamento
desta transformação utilizando como pedra de toque
o que ele denominou de "princípio da renúncia
sexual permanente" - a continência, o celibato e a virgindade
perene – que se desenvolveu nos círculos cristãos
deste período.
O corpo no Cristianismo século I é marcado por dois
fatores: a esperança escatológica dos primeiros cristãos
e a teologia do apóstolo Paulo. Os cristãos aguardavam
a segunda vinda de Cristo com a conseqüente manifestação
visível do reino de Deus. Esta esperança messiânica
compungiu-os a deixar tudo: bens, família, trabalhos, lazer
etc. na expectativa da parussia: a volta triunfante de Cristo. Outro
aspecto que marcou o imaginário cristão reporta-se
à teologia paulina sobre o corpo. Paulo apresenta o corpo
como um objeto paradoxal. Se, por um lado, é alçado
à condição de templo do Espírito Santo,
por outro é marcado pela carne, a natureza adâmica
decaída. Este dualismo paulino moldou o pensamento da patrística
e se faz presente até hoje nas imagens que o Protestantismo
cunhou sobre este tema. São Paulo afirma: “Eu sei
que o bem não mora em mim, isto é, na minha carne.
Pois o querer o bem está ao meu alcance, não, porém
o praticá-lo. [...] Infeliz de mim! Quem me libertará
deste corpo de morte? Graças seja dada a Deus por Jesus Cristo
Senhor nosso.” [14] O grande
problema sobre o qual se debruçaram os exegetas da Igreja
Primitiva foi definir o que significava carne neste trecho
das Sagradas Escrituras. Para alguns, que seguiam a interpretação
literal, a carne significava o corpo humano; para outros,
que utilizavam a interpretação metafórica,
poderia significar a natureza humana decaída. Até
Santo Agostinho, no século IV, prevaleceu a interpretação
literal na qual a carne estava identificada com o corpo
humano. Somente a partir da exegese realizada por Agostinho e pelo
teólogos que o sucederem a palavra carne que aparece
em Romanos [15] recebeu a conotação
de natureza humana. No entanto, o problema da "maldade
da carne" apontada por Paulo neste texto ainda não
estava resolvida: o corpo está incluído na natureza
humana pecaminosa. A interpretação corrente no universo
protestante afirma que aqui aparece uma antítese espírito-carne.
O espírito humano estaria ligado às suas origens celestiais
e o corpo humano umbilicalmente preso às suas origens terrestres
conforme Gênesis: “Então Iaweh Deus modelou
o homem com argila do solo, insuflou em suas narinas o hálito
da vida, e o homem se tornou um ser alma vivente.”
[16]
Por outro lado a carne, em Paulo, foi cumulada de uma superabundância
de noções superpostas, tornando-se cada vez mais complexa
à compreensão do homem comum, do senso comum, que
fora atraído pelo Cristianismo. A imagem carregada de sua
linguagem confrontou todas as eras posteriores como um teste projetivo:
é possível aquilatar, na exegese repetida de algumas
simples centenas de palavras das epístolas de Paulo, o rumo
futuro do pensamento cristão sobre a pessoa humana. Na época,
Paulo reuniu associações que um pensador menos impetuoso
talvez mantivesse separadas. A guerra do espírito contra
a carne e da carne contra o espírito, no pensamento do apóstolo,
expressando a imagem da resistência humana à vontade
de Deus, da desobediência de Adão e Eva. Paulo não
postulava o corpo humano em si como causa única desse mal
tão terrível. A causa encontrava-se na natureza humana
decaída do casal primevo. Convém lembrar que Paulo
era um mestre instruído, tendo sido reconhecido como Rabi
antes da sua conversão e seu encontro pessoal com o Cristo
na Estrada de Damasco, tal como consta do relato em Atos Capítulo.
[17]
Qualquer que fosse sua causa, o doloroso conflito entre o corpo
e a alma era uma realidade da vida - muitos dos pecados que lhe
eram mais repugnantes – em particular a luxúria, como
expressão de uma sexualidade desregrada e a embriaguez –
provinham, obviamente, da rendição às exigências
do corpo. Esses pecados não esgotavam a sua complexa idéia
da carne. Por mais que a teologia cristã queira abrandar
o pensamento de Paulo sobre o corpo, como fez Karl Barth em seu
Comentário aos Romanos, o corpo paulino já havia sido
estigmatizado pela Igreja como habitação da maldade
humana. Karl Barth observa: “Lembremos-nos o que ‘a
carne’ significa: mundanalidade desqualificada; (vista justamente
pela criatura religiosa) carne é a definitiva e inqualificável
mundanalidade. ‘Carne’ quer dizer relatividade, nulidade,
contra-senso, falta de sentido.” [18]
Cabe registrar que a melhor solução para a interpretação
do sentido da carne no pensamento do apóstolo Paulo
continua sendo aquela formulada por Santo Agostinho, Bispo de Hipona,
para quem a carne foi interpretada de forma holística para
significar o homem em sua totalidade:
“De acordo, porém,
com o sentido da Escritura, uns e outros vivem segundo a carne.
Com efeito, não chama carne apenas ao corpo do animal,
terrestre e mortal, como quando diz: Nem toda carne é a
mesma carne, mas uma é a carne do homem, outra a da besta,
outra a das aves e outra a dos peixes, mas a essa palavra dá
outras muitas acepções. Algumas vezes chama carne
ao homem, quer dizer, à natureza humana, tomando o todo
pela parte ” [19]
Nunca foi simples para o homem comum,
que fora atraído para as comunidades cristãs pela
mensagem dos evangelhos de Cristo, apreender tão complexa
construção teológica. Para ele, se o corpo
era em si mesmo uma natureza fraca, pecaminosa, estava aprisionado
à sombra de uma força poderosa, o poder da carne.
Todavia, a fragilidade física do corpo, sua propensão
à morte e o inegável pendor de seus instintos para
o pecado representado pela sexualidade serviram a Paulo como uma
metáfora da natureza humana pecaminosa rebelada contra a
obediência exigida por Deus:
“Nas cartas de Paulo, o
corpo humano nos é apresentado como numa fotografia batida
contra o sol: trata-se de uma silhueta negra cujas bordas estão
inundadas de luz. Perecível, fraco, ’semeado na desonra’,
’carregando sempre a morte de Jesus’ em sua vulnerabilidade
aos riscos físicos e à amarga frustração,
o corpo de Paulo era realmente um ‘vaso de argila’.
No entanto, já refulgia com certa dose do mesmo espírito
que erguera da sepultura o corpo inerte de Jesus: ’para
que a vida de Jesus possa manifestar-se em nossa carne mortal”.
[20]
Paulo escreveu sobre o casamento
e a sexualidade em diversos textos de suas Epístolas. Destaca-se
aqui I Coríntios 7. [21] Nesta
passagem, ele apresenta a sexualidade como uma concessão
divina no casamento, porém estabelece a igualdade entre os
sexos nas relações sexuais. Paulo:
“Passemos aos pontos sobre
os quais me escrevestes. É bom ao homem não tocar
em mulher. Todavia, para evitar a fornicação, tenha
cada homem a sua mulher e cada mulher o seu marido. O marido cumpra
o dever conjugal para com a esposa; e a mulher faça o mesmo
em relação ao marido. A mulher não dispõe
do corpo; mas é o marido que dispõe. Do mesmo modo,
o marido não dispõe do seu corpo; mas é a
mulher quem dispõe. Não vos recuseis um ao outro,
a não ser de comum acordo e por algum tempo, para que vos
entregueis às orações; depois disso, voltai
a unir-vos, a fim de que Satanás não vos tente mediante
a vossa incontinência. Digo isso como concessão e
não como ordem”. [sic!] [22]
O Apóstolo Paulo, um celibatário
por opção voluntária, coloca o casamento como
concessão divina. E, por outro lado, afirma não haver
restrições para a prática da sexualidade no
leito conjugal. No entanto, o cerne e a novidade deste texto é
a igualdade sexual na relação entre os sexos. Marilena
Chauí: “O Apóstolo introduz uma inovação
sem precedentes, face à antiguidade: a igualdade sexual.
Embora diga que a mulher deve obediência ao marido, no tocante
ao sexo, a igualdade é a regra.” [23]
Fica evidente no pensamento de Paulo que a sexualidade entre marido
e mulher é algo que deve ser resolvido entre iguais, sem
a interferência de terceiros. A regra de ouro estabelecida
pelo "Apóstolo dos Gentios" para nortear a prática
da sexualidade é o respeito mútuo a integridade, as
necessidades e limites do parceiro (a).
O século II foi pródigo na representação
do corpo humano e da sexualidade. Estes foram considerados como
representantes da maldade inerente à natureza humana em sua
luta insana contra Deus. Dentre os autores que mais influenciaram
o pensamento cristão sobre o corpo e a sexualidade neste
período destacam-se Hermas, o pastor, Orígenes e Valentino.
Com algumas variações, eles construíram seu
pensamento a partir da concepção do corpo como mau
e, conseqüentemente, como a genuína habitação
do pecado. O pecado passou a ser representado pela prática
do ato sexual, inclusive no casamento abençoado por Deus
e pela própria Igreja. Estes patriarcas vislumbraram nas
concepções paulinas do corpo como templo do Espírito
Santo um objetivo a ser alcançado nesta vida pela abstinência
e elegeram a renúncia sexual como método supremo nesta
tarefa.
Transformar-se no templo do Espírito Santo torna-se o objetivo
do cristão. Para atingir esta consecução, o
corpo deve ser sacrificado pela abstinência, pela renúncia
sexual, pela pobreza voluntária e pela penitência.
Para tanto, o corpo deve ser privado de qualquer atividade sexual:
o beijo, o abraço, o ato sexual, o toque de mãos e
até a visão do próprio corpo foram proibidos.
Estas concepções foram cristalizadas no Gnosticismo
e, posteriormente, no Maniqueísmo. O primeiro pregava a salvação
através do conhecimento. Para conhecer, isto é, alcançar
a gnose, o homem deve trilhar o longo caminho da purificação
espiritual. A via da purificação deve começar
pelo próprio corpo, que é considerado mau. O Gnosticismo
se constituiu numa dissidência do Cristianismo e influenciou
profundamente as concepções do corpo do século
II. Na representação dos gnósticos, especialmente
de Valentino, o corpo passa a ser considerado como o mal necessário
para equilibrar a bondade do espírito que nele habitava.
O corpo era um elemento absolutamente estranho ao verdadeiro Eu.
Os gnósticos não viam oposição entre
a luz e as trevas. O gnosticismo acreditava, contudo, na supremacia
da luz sobre as trevas, do macho sobre a fêmea e do espírito
sobre o corpo. Daí pregarem, também, sobre a necessidade
da superação dos desejos sexuais pela abstinência
como forma de purificação espiritual e santificação.
Ainda no século II, Clemente de Alexandria apresenta o corpo
como um mal necessário e a sexualidade cristã como
uma concessão no casamento. Clemente produziu uma vasta obra:
Exortação aos pagãos; do Paidagogos;
do Stromateis; Miscellanies; A salvação
do homem rico; Contra os judaizantes. Do Paidagogos
é um livro de boas maneiras que dá inicio a pedagogia
sexual no Cristianismo. Descreve minuciosamente como deve ser o
comportamento do cristão à mesa e, especialmente,
à cama. O autor detalha o que deveria ser permitido ao casal
cristão no ato sexual. Peter Brown: “O Paidagogos
foi escrito para dizer como cada um de nós, devemos nos conduzir
em relação ao corpo, ou melhor, como regular o próprio
corpo”. [24]
Século III. Orígenes relacionou sua doutrina da abstinência
sexual com a teologia paulina do corpo como templo do Espírito
Santo e do cristão como membro do "corpo vivo"
de Cristo. Em sua concepção, aqueles que subjugam
a carne ganham como prêmio a morada de Deus em seus corações,
tornam-se o templo do Espírito Santo e, nesta condição,
membros do corpo vivo de Cristo. Orígenes:
“Vede agora como tendes
progredido desde a condição de ínfimas criaturas
humanas sobre a face da terra. Tendes progredido para vos transformardes
num templo de Deus, e vós, que éreis mera carne
e osso, chegastes tão longe que sois um membro do corpo
de Cristo”. [25]
Século IV - Do final do século
III ao início do século IV temos o surgimento dos
"Padres (ou Pais) do Deserto". A sexualização
do pecado e o controle da Igreja sobre o corpo havia chegado ao
auge com o Maniqueísmo. Mani, seu fundador, teve aos doze
anos de idade em Ctésifon, às margens do Rio Tigre,
em 228-229, a primeira de uma série de visões que
dariam sustentação a sua doutrina. O cerne da sua
doutrina é uma visão dualista radical: o Bem, representado
pela luz, em luta permanente contra o Mal, representado pelas trevas.
A aplicação do Maniqueísmo sobre o corpo afirma
que o espírito é bom e o corpo é mau.
Um número cada vez maior de cristãos acreditava que
só o deserto era neutro e capaz de domar os desejos pecaminosos
do corpo; para lá, portanto, afluíam. Nos lugares
montanhosos fixavam suas moradas. Celas simples e parca alimentação,
beirando à miséria, só com o necessário
para manter a vida do corpo. O ideal do sofrimento e do sacrifício
no Cristianismo foi levado ao extremo. Dentre os padres do deserto
que mais contribuíram para o desenvolvimento de uma tecnologia
para a mortificação e glorificação do
corpo destaca-se Pacômio. Este, na realidade, desenvolveu
os rituais de controle do corpo e dos desejos carnais a fim de chegar
à perfeição adâmica, como demonstra o
Paralipomena de Pacômio:
“Assim irmãos, deixai
que a alma ensine a sabedoria a este corpo obtuso todos os dias,
ao nos deitarmos à noite, e que diga a cada membro do corpo:
’Oh pés, enquanto tendes o poder de vos firmar e
locomover, antes que sejais prostrados e fiqueis imóveis,
erguei-vos animadamente para vosso Senhor.’ Às mãos,
que ela diga: ’chegará o momento em que ficareis
frouxas e imóveis, atadas a uma à outra (cruzadas
sobre o peito), [...] e assim, antes que pendais nessa hora, não
cesseis de vos estender para o Senhor”. [26]
Registra-se, todavia, que o resultado
esperado é a absoluta domesticação do corpo
humano, como demonstra o chamado Tratamento de Desabituação,
mediante o qual o asceta arrancava do corpo todos os desejos representados
pela sua excessiva dependência anterior dos alimentos e da
satisfação sexual. A pulsão sexual era domada
e, às vezes, extirpada. No final do processo, o monge adquiria
o aspecto gerado pela repressão dos desejos da carne - alimentar-se,
copular, divertir-se ou mesmo rir. O monge ficava domesticado, obediente,
manso, auto-centrado, com domínio sobre todas as suas emoções,
todos os desejos. A técnica adotada neste processo de santificação
aparece com toda força na Carta a um Amigo de Filoxeno,
de Mabug:
“Aumentai-lhe, se vos aprouver,
o jejum, dos sabás, ou a vigília da noite, ou a
leitura ininterrupta, e o corpo não adoecerá, pois
ter-se-á acostumado a eles. O estômago ter-se-á
reduzido [...] as vias sanguíneas ter-se-ão estreitado
e só terão exigências moderadas. Os rins terão
adquirido sua saúde natural e não necessitarão
de muito calor. O muco terá sido retirado de todos os ossos,
e em decorrência da pequenez do corpo, eles não serão
enfraquecidos ou prejudicados pela vigília excessiva”.
[27]
O quarto século da era cristã
é marcado pelo pensamento teológico de Santo Agostinho,
Bispo de Hipona. Este não só constrói as bases
para a sistematização da teologia cristã em
sua obra, como reformula as concepções sobre o copo
e a sexualidade. A obra teológica de Agostinho é monumental:.
A teologia do corpo e da sexualidade aparece em quase todas e As
Confissões [28], A
Cidade de Deus [29], Comentário
Literal Sobre Gênesis [30]
e Do Bem Conjugal e da Santa Virgindade [31],
destacam-se entre outras. Sua obra contem as bases da teologia cristã.
Dentre os inúmeros assuntos ventilados por ele destacamos
em nosso trabalho aqueles aspectos relacionados ao corpo e a sexualidade.
O corpo e a sexualidade foram tratados por Agostinho especialmente
nos textos supra citados.
Em Agostinho, o corpo deixa de ocupar o lugar de "lobo mau"
da espécie, onde o tinham colocado as concepções
gnósticas e maniqueístas, para tornar-se parte indissolúvel
e importante da pessoa humana. Agostinho percorre um longo caminho
de reflexão sobre o corpo, rompe com a tradição
dos Pais do Deserto - que considerava o corpo e a sexualidade intrinsecamente
maus - e culmina com o ensinamento segundo o qual o cristão
deve amá-lo e não odiá-lo. Agostinho:
“Deixai que eu vos expresse
isso ainda mais intimamente. Vossa carne é como vossa mulher
[...]. Amai-a, repreendei-a; deixai que ela componha um só
vínculo de corpo e alma, um vínculo de concórdia
conjugal [...]. Aprendei agora a dominar o que recebestes como
um todo uno. Deixai que ela sofra a escassez agora, para que então
possa desfrutar da abundância”. [32]
Agostinho reformula a noção
de pecado original. Ele desvincula o sexo do pecado original e coloca
a vontade humana como o centro da rebelião contra Deus. O
que o homem deve controlar é a sua vontade, esta é
a fonte de todas as virtudes e todos os males. O pecado original
consistiu na desobediência a uma ordem divina: o homem e sua
mulher não deveriam comer do fruto da árvore do conhecimento
do Bem e do Mal, conforme disposto em Gênesis: “E Iaweh
Deus deu ao homem este mandamento: Podeis comer de todas as árvores
do jardim. Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal
não comerás, porque no dia em que dela comeres terás
que morrer” [33].
Agostinho escreveu sobre a vida sexual dos cristãos e deslocou
o foco da abstinência sexual obrigatória, inclusive
no casamento, para a abstinência voluntária própria
da vocação religiosa. Além da necessidade de
procriação, a sexualidade ganha outra função:
das relações sociais. Ela deveria pavimentar a estrada
da amizade e do companheirismo entre os sexos e servir de modelo
para as relações interpessoais. Para o Bispo de Hipona,
o ato sexual é anterior à queda. Neste ponto, Agostinho
rompe com a tradição patrística e estabelece
as condições necessárias para que a cristandade
passasse a ver a sexualidade como natural, inerente ao próprio
corpo humano e sujeita às leis biológicas próprias.
Agostinho:
“É verdade haver
muitas classes de libido; quando, porém, se diz simplesmente
libido, sem mais nada, é costume quase sempre entender-se
a que excita as partes sexuais do corpo. E é tão
forte, que não apenas domina o corpo inteiro nem só
de dentro para fora,mas também põe em jogo o homem
todo, reunindo e misturando entre si o afeto e o ânimo e
apetite carnal, produzindo desse modo a voluptuosidade, que é
o maior dos prazeres corporais. Tanto assim, que, no momento preciso
em que a voluptuosidade chega ao cúmulo, se ofusca por
completo quase toda a razão e surge a treva do pensamento”.
[34]
Agostinho foi o primeiro a formular
uma psicologia sexual da libido quando escreveu sobre a autonomia
psíquica da libido como causa da impotência e da frigidez.
Com esta proposição, a sexualidade foi efetivamente
retirada do eixo puramente espiritual da literatura teológica
e posta no âmbito dos fenômenos psicossomáticos.
Tanto na impotência, quanto na frigidez, a vontade era escarnecida
pelo corpo com a mesma sem-cerimônia do gozo incontrolável
do orgasmo - a libido não serve a libido e volta-se contra
si mesma num movimento de introversão. Santo Agostinho:
“Assim, coisa estranha,
a libido não somente se recusa a obedecer ao desejo legítimo
de gerar, mas também ao apetite lascivo. Ela, que de ordinário
se opõe ao espírito que a enfreia, às vezes,
se resolve contra si mesma e, excitado o ânimo, se nega
a excitar o corpo”. [35]
3. As Representações do
Corpo e da Sexualidade em Lutero e Calvino
A Reforma Religiosa do Século
XVI, considerada a face religiosa do Renascimento, privilegiou a
leitura dos clássicos: As Sagradas Escrituras do Velho
e do Novo Testamento, alçados pelos reformadores à
categoria de Palavra de Deus, o registro seletivo dos atos de Deus
na História do seu povo, portanto, a única regra de
fé e prática. Em última instância, os
reformadores Martinho Lutero e João Calvino elegeram São
Paulo e Santo Agostinho como divisores de águas para a solução
dos problemas teológicos, e, mormente, àqueles relacionados
ao corpo e a sexualidade.
O pensamento de Lutero [36] sobre o
corpo e a sexualidade encontra-se em seus sermões e suas
cartas pastorais e fundamentam-se, sobretudo, na interpretação
da I Epístola de Paulo aos Coríntios. Quanto ao corpo
e a sexualidade, pode-se dizer que Lutero foi generoso na comparação
com outros homens de sua época. O corpo é considerado
o templo do Espírito Santo, a morada de Deus. Não
existe conflito entre o corpo e o espírito humano: ambos
são faces de uma mesma realidade, unos e indivisíveis.
Martinho Lutero: “Que é o templo de Deus? Acaso
pedras e madeira? Não diz Paulo: É santo o templo
de Deus que sois vós?” [37]
Na concepção luterana, a santificação
é considerada uma obra da graça de Deus através
do Espírito de Cristo. As penitências não são
apenas combatidas, são consideradas uma afronta à
Pessoa e à Obra do próprio Cristo.
Martinho Lutero escreveu sobre a sexualidade a partir da teologia
de Paulo e de Santo Agostinho. Seus escritos destinavam-se a orientar
o rebanho protestante que nasceu em torno de suas idéias;
contudo, demonstram um avanço nesta questão: a) Não
existe uma pedagogia sexual em Lutero. A questão da praxis
sexual, isto é, sobre o que deve ser praticado no leito conjugal,
deve ser resolvido pelo casal; b) Lutero não apresenta nenhuma
relação entre o sexo e o pecado original, portanto,
não há nenhuma correlação entre a sexualidade
e a culpabilidade humana original; c) A sexualidade é vista
como inerente à própria identidade do ser humano.
Martinho Lutero:
“Por isso, cada qual tem
que aceitar o corpo tal como Deus lho criou, e não está
em meu poder transformar-me em mulher, e não está
em teu poder transformar-te em homem. Tal como fez a ti e a mim,
assim somos: eu um homem, tu uma mulher”. [38]
d) O sexo é considerado como
natural e necessário para homens e mulheres, a sexualidade
é decorrente da vontade de Deus para a pessoa humana:
“Por conseguinte, assim
como não está em meu poder deixar de ser homem,
também não estar em meu poder ficar sem mulher.
Analogicamente, assim como não estar em teu poder deixar
de ser mulher, também não está em teu poder
ficar sem homem. Pois aí, não se trata de livre
escolha ou decisão, mas de algo necessário e natural:
quem é homem tem que ter uma mulher, e quem é mulher
tem que ter um homem”. [39]
e) Homens e mulheres devem se respeitar
mutuamente no relacionamento sexual. Martinho Lutero:
“E Deus quer que essas boas
criaturas sejam honradas e respeitadas como obra divina, e não
permite que o homem despreze ou ridicularize a mulher ou a moça.
Nem tampouco, a mulher, o homem, mas cada qual honre a pessoa
e o corpo do outro como boa obra de Deus, que agrada ao próprio
Deus”. [40]
f) O sexo como obrigação,
no casamento, deve preservar seu caráter de ato voluntário
e altruísta tanto pelo homem quanto pela mulher: “Aqui
S. Paulo instrui os cônjuges sobre seu comportamento em relação
aos deveres conjugais e fala do dever de atender aos desejos do
parceiro. É portanto dever e, ao mesmo tempo, deve acontecer
de boa vontade.” [41] g)
O marido é obrigado, pelo matrimônio, a garantir e
manter o prazer sexual da mulher no leito conjugal e; h) A mulher
é igualmente compungida a garantir e manter o prazer sexual
do marido; i) Também a mulher tem os mesmos direitos e privilégios
sexuais do homem, portanto, deve ser tratada como igual; j) A relação
sexual do casal deveria ser mantido inclusive com arranjos e combinações
consentidas para garantir o prazer do parceiro no caso de impedimento
grave [42]; k) Deus é misericordioso
para com os pecados sexuais cometidos no leito conjugal: “Esse
dever é a razão por que Deus faz concessões
ao estado matrimonial e lhe perdoa coisas que em outras circunstâncias,
castiga e condena.”[43]
l) a reafirmação de que o pecado original não
foi de natureza sexual abriu novas possibilidades para a sexualidade
no casamento.
João Calvino pouco escreveu sobre o corpo e a sexualidade.
A teologia calvinista, profundamente influenciada pelos escritos
de Santo Agostinho, postula que Deus é soberano sobre todo
o universo e toda a criação e que o homem foi criado
à sua imagem e semelhança. Imagem e semelhança
entendidas aqui em sentido espiritual, ético e moral. O homem
reflete em sua natureza, embora decaída, aqueles atributos
de Deus ligados à ética e a moralidade tais como o
amor, a justiça, a santidade e a auto-determinação.
Calvino formulou a doutrina da predestinação segundo
a qual Deus escolheu, antes da fundação do mundo,
alguns homens para a salvação eterna e outros para
a danação. O homem predestinado para a vida eterna
é livre para fazer a vontade de Deus. Esta servidão
voluntária é o sinal e o pressuposto da eleição.
Nesta condição de eleito de Deus, o corpo humano transforma-se
no templo do Espírito Santo. No entanto, ao postular o corpo
como morada de Deus, a teologia calvinista, longe de resolver o
problema do corpo, cria para o cristão um paradoxo ainda
maior: como resolver o conflito gerado pelos instintos de um corpo
naturalmente animal com a necessidade de preservar este corpo como
morada de Deus? Só resta ao cristão calvinista a saída
pela ética da via negativa: o corpo torna-se a clausura do
cristão, o seu deserto é o mundo, seu corpo, a cela.
Talvez seja esta a forma mais vigorosa de repressão que o
ser humano engendrou. O cristão calvinista é chamado
do mundo pela palavra de Cristo - Mateus 11:28 Vinde a mim.
[44] E em seguida é enviado
ao mundo pela mesma palavra - Marcos 16:15: Ide e pregai.
[45] No mundo, o cristão deve
provar a sua predestinação e sua eleição
pela rejeição de todas as formas de prazeres mundanos.
O sinal da sua santificação é a clausura em
seu próprio corpo, pois seu corpo é seu mosteiro.
João Calvino:
“Por esta razão São
Paulo conclui que somos templos de Deus, por seu Espírito
que habita em nós (I Coríntios
3; 17; 6:19; II Cor. 2. (...) E o mesmo apóstolo
com idêntico sentido, algumas vezes, nos chama templos de
Deus e outras templos do Espírito Santo”. [46]
Neste contexto, a sexualidade ganha
um papel secundário na vida do homem e da mulher: o sexo
é permitido, no casamento, como uma concessão divina,
um remédio contra a luxúria. Somente no casamento
a sexualidade ganha o favor de Deus, sua benevolência:
“Agostinho trata do assunto,
e por, muito bem, em seu livro das Vantagens do Matrimônio,
e às vezes, em outras partes. Pode-se sumariá-lo
como segue: o ato sexual entre esposo e esposa é algo puro,
é legítimo e santo; porque é uma instituição
divina. A paixão incontrolável com que os homens
são inflamados é um vício oriundo da corrupção
da natureza humana; mas, para os crentes, o matrimônio é
um véu que cobre essas falhas, de modo que Deus não
mais as vê”. [47]
O calvinismo é levado de
Genebra, na Suíça, para a Escócia por John
Knox e posteriormente, chega à Inglaterra. A Inglaterra aderiu
ao movimento protestante para resolver os problemas políticos
e sexuais de Herinque VIII. Este percebeu no movimento reformado
a oportunidade que lhe faltava para se livrar do domínio
de Roma e legitimar suas atrocidades sexuais contra as mulheres,
suas esposas. A Inglaterra purgou os seus pecados por meio da criação
da versão mais radical de que se tem notícia do protestantismo:
o Puritanismo. O século XVII viu surgir, a partir da vertente
escocesa do Calvinismo, o movimento puritano. A característica
central deste movimento foi o conversionismo que deu origem as missões
modernas. O pregador puritano acredita na necessidade da conversão
do pecador a Jesus. A conversão é definida nesta expressão
religiosa como o abandono do mundo e a volta para Deus. Servir a
Deus, viver para a sua glória, torna-se o único objetivo
do cristão nesta vida. A conversão deve ser marcada
por uma profunda e radical mudança de vida da parte do convertido
para expressar a consecução deste objetivo.
O Calvinismo ensina que a Queda afetou a natureza humana como um
todo, comprometendo especialmente a volição. A vontade
humana tornou-se o centro do conflito espiritual: de um lado, o
espírito querendo voltar para Deus, do outro, o corpo rebelando-se
e voltando-se para o mundo. O mundo é entendido como a ordem
de coisas que se rebelou contra Deus. I João:
“Nós sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro
está sob o poder do Maligno.” [48]
Para solucionar este conflito, o movimento puritano identificou
a mente humana como o centro da vontade e o corpo como templo do
Espírito Santo. E postulou que “A mente vazia é
a oficina de Satanás”. “(Ad tempora)”.
Ou, dizendo de outra maneira, é preciso ocupar a mente humana
para fugir à tentação pelo Diabo. Para ocupar
a mente, o homem deve gastar todas as suas energias no trabalho:
trabalhar, trabalhar, trabalhar... Trabalhar até a exaustão,
para a glória de Deus. Este é o caminho da santificação
puritana. Só resta ao corpo o ideal da ascese para se chegar
a este destino: Marilena Chauí, (1991):
"Ascese quer dizer: limpar-se,
purificar-se por meio de exercícios físicos, morais
e espirituais que liberam a alma das impurezas e imundícies
do corpo, particularmente daquela que está na origem de
todas as outras: o sexo.” [49]
Nas colônias da Nova Inglaterra,
o Protestantismo puritano criou raízes e produziu seus frutos:
o corpo como templo do Espírito Santo de São Paulo,
Santo Agostinho, Martinho Lutero e João Calvino se transforma
pelo espírito puritano em mero instrumento de trabalho; a
mente humana, centro de atuação do Espírito
Santo na vontade do cristão, transmuta-se em oficina de Satanás;
a sexualidade como expressão da identidade humana e das bençãos
de Deus converte-se em um mal necessário, perigoso, a ser
purificado pelo trabalho e o mundo, palco da atuação
de Deus, vira o lugar privilegiado de atuação do demônio.
A santificação já não mais significa
viver para Deus e sim fugir do demônio e do mundo, o lugar
da sua habitação. Evitar o demônio é
deixar para trás todos os prazeres mundanos e buscar somente
aqueles prazeres espirituais permitidos pela pregação
puritana: o serviço divino, o jejum, a oração,
a evangelização e, é claro, o trabalho, como
observou Max Weber [50], em a Ética
Protestante e o Espírito do Capitalismo.
4. As Representações do Corpo e da Sexualidade no
Protestantismo Brasileiro
Boanerges Ribeiro [51] (1979) e Antonio
Gouvêa Mendonça [52] (1995)
observaram que o Protestantismo brasileiro, em suas origens históricas,
vem de duas matrizes: a) O Protestantismo de imigração
formado por imigrantes alemães e ingleses de confissão
luterana e anglicana, especialmente nos estados do Rio Grande do
Sul e Santa Catarina; b) O Protestantismo de matriz puritana, de
missões, de natureza conversionista, que abrange os presbiterianos,
metodistas, congregacionais, batistas etc. Este autor acrescenta
uma outra vertente, ainda não pesquisada no Brasil, e que
se encontra de igual modo na gênese do Protestantismo brasileiro:
é aquele "Protestantismo de Exílio", no
qual se inclui o presbiteriano sulista norte-americano, vindo para
Campinas, Santa Bárbara do Oeste e Americana após
a Guerra da Secessão. [53]
Boanerges Ribeiro e Antonio Gouvêa Mendonça consideram
como constituintes do Protestantismo brasileiro aquelas denominações
formadas pelo chamado Protestantismo histórico: luteranos,
presbiterianos, anglicanos, congregacionais etc. É necessário
considerar, todavia, que a partir do primeiro quartel do século
XX este Protestantismo ganha novos atores com o advento do Pentecostalismo,
a versão moderna e emocional do Protestantismo. Já
o Neopentecostalismo surge na segunda metade do século XX
como dissidência do primeiro. À semelhança de
Pierre Bastian [54] e Willian Read
[55], este autor considera que o termo
"Protestantismo brasileiro" deve ser bastante
elástico para abarcar os pentecostais e neopentecostais,
posto que considera que são todos oriundos de um mesmo útero:
o Protestantismo puritano norte-americano.
Este Protestantismo é hegemônico na constituição
do Protestantismo brasileiro. E, em solo pátrio, produziu
uma religião formal, legalista, tristonha, depressiva, cuja
maior característica é a importação
de paradigmas comportamentais do modelo cultural dos Estados Unidos.
The way of life torna-se o paradigma do ideal a ser atingido
pelo crente (como é reconhecido o protestante no Brasil)
e produz, como conseqüência, aqueles comportamentos estereotipados,
como por exemplo, a ética da via negativa, quando o crente
se torna conhecido exatamente pela lista de coisas que ele não
faz: não bebe, não fuma, não dança,
não joga etc. E o ódio e rejeição, quase
que absoluta, a todas as expressões da cultura brasileira,
como observado por Antonio Mendonça e Prócoro Velasques
Filho. [56] E a total condenação
de toda e qualquer expressão corporal nos cultos e fora destes
e, particularmente, o anátema daqueles aspectos ligados ao
corpo e a sexualidade brasileira, tais como a sensualidade, o erotismo,
o chamego e o xodó.
4.1 O corpo como templo do Espírito
Santo
A teologia do corpo como templo do Espírito Santo e suas
implicações para uma ética da sexualidade e
mesmo da saúde é praticamente desconhecida dos arraiais
protestantes. Simei de Barros Monteiro realizou uma pesquisa sobre
os conceitos fundamentais expressos nos cânticos das igrejas
evangélicas no Brasil. Nas letras compiladas por esta pesquisadora,
nas trocas lingüísticas da hinologia cantada pelas grandes
denominações evangélicas nacionais, encontra-se
apenas um hino que apresenta o corpo como templo do Espírito
Santo numa perspectiva que a autora classificou como libertadora.
Simei Monteiro:
“Tu nos deste este corpo
que é teu templo,
Não queremos destruí-lo;
É tão bom senti-lo livre assim,
Sem amarras e mazelas, [...]
Tu nos deste este corpo para a vida,
Não o queremos para a morte, [....]
Tu nos deste este corpo para a glória
E a perfeita plenitude;
Não permita que ele seja
Negação da humanidade
Mas que em Cristo restaurado
Nos revele a tua imagem”.
(Novo canto da Terra 187).[57]
Este cântico, único
em todos os sentidos e não apenas pela expressão do
seu conteúdo, pode significar uma mudança de paradigma
na compreensão do corpo nas comunidades protestantes. Está
evidente que este hino canta a libertação do corpo
que foi destinado por Deus para vida e não para a morte
(v. 5 e 6); para a glória; e a perfeita
plenitude (v. 7 e 8). Estes versos parecem traduzir em sua
essência o sentido do corpo como templo do Espírito
Santo. Registra-se, contudo, que ainda se não tem notícia
de estudos sobre as implicações deste postulado teológico
para a expressão da sexualidade. Este cântico, todavia,
se constitui numa exceção. Na prática, o que
se encontra é um silêncio absoluto sobre o corpo e
a sexualidade humana na produção musical e teológica
do protestantismo brasileiro. Este vazio é preenchido com
a importação de uma ideologia sobre o corpo e a sexualidade
cuja tônica tem sido apresentar o corpo como mau e perigoso
para a vida espiritual.
4.2. O corpo como habitação
do Mal e do pecado
No esforço de demonstrar a maldade que habita o corpo humano,
Michael Bitchmaya, autor de uma obra intitulada O Crente,
apresenta o modelo moral do que considera como o espelho ético
do comportamento do crente: não poupou nem mesmo o corpo
de Cristo, considerado humano e perfeito por toda a cristandade
ocidental e o apresenta, a partir de uma visão gnóstico-maniqueísta,
como paradigma da maldade que habita o corpo humano. Bitchmaya:
“Deus formou o homem do
pó da terra. Com sua sabedoria e amor Deus deu forma ao
homem, porque por si mesmo o pó nada poderia formar. O
pecado deformou o homem de tal modo que quem o tivesse visto antes,
vendo-o agora julgaria ser impossível tratar-se do mesmo
homem. Isaias 52:14. Mesmo o Filho de Deus, quando se fez homem,
diz a Escritura que Ele era o mais belo de todos os filhos dos
homens. Mas este homem tão belo foi deformado, desfigurado
de tal maneira que a mesma Escritura diz que Ele não tinha
beleza, nem formosura. Porque o pecado caiu sobre Ele, e foi desfigurado
mais do que todos os homens”. [58]
À semelhança dos Padres
do deserto, este autor, após apresentar o corpo humano como
a verdadeira habitação do pecado, prescreve uma série
rituais de purificação tais como o jejum, o sofrimento
e a prática das boas obras como forma de transformar a maldade.
A conseqüência natural da representação
do corpo como pecaminoso é a sexualização do
pecado. Isto leva a crer que a sexualidade é a única
expressão de transgressão que restou ao Protestantismo.
Este fato pode levar ao empobrecimento do conceito de santificação
e da espiritualidade nas comunidades protestante e mesmo uma certa
alienação em relação à ética
cristã considerada em sua totalidade, como paradigma do relacionamento
do cristão com a realidade, como observou Jaci Maraschin:
“A localização
do pecado (ou alienação) no corpo humano, mais especialmente
no prazer sexual, vem do empobrecimento do conceito de concupiscência
significa o desejo de possuir a realidade toda para si. É
a perda (alienação) de mim mesmo (portanto, de meu
corpo) na busca da posse do que não me pertence. Esse desejo
de perdição (pois me anulo, afinal, no todo) refere-se
à realidade toda e não apenas a uma parte dela”.
[59]
4.3 O
corpo como morada do Diabo
Em 1976, Mary Baxter [60], norte americana,
membro da National Church of God com sede em Washington,
DC, afirmou ter sido levada por Jesus Cristo até o inferno,
onde recebeu revelações inefáveis sobre a habitação
do demônio e seus seguidores. Em 1995 sua obra foi lançada
mundialmente com o título sugestivo de A Divina Revelação
do Inferno. No Brasil, a primeira edição deste
livro foi lançada em 1995 e já se encontra na 16ª
reimpressão. O livro é uma espécie de "anti-apocalipse"
- enquanto João, o Evangelista, foi levado por Cristo até
o Céu, e narrou sua experiência no Livro do Apocalipse,
livro que integra o Cânon Católico e Protestante, Baxter
foi levada até o inferno, e descreve sua experiência
subjetiva com riqueza de detalhes.
A novidade é que, nesta obra, o corpo humano é apresentado
como morada do demônio. Segundo a autora, o inferno foi construído
tomando-se como modelo arquitetônico o próprio corpo
humano: “Jesus falou novamente: O inferno tem um corpo
(semelhante ao corpo humano) deitado de costas no centro da terra.
O inferno é como um corpo humano – muito grande e com
muitos aposentos de sofrimento.” [61]
Aqui a autora destaca que o corpo humano é um espaço
destinado ao sofrimento em larga escala. O prazer está diretamente
relacionado ao pecado, mormente os prazeres de ordem sexual: “Jesus
virou-se para mim e disse: ‘Essa mulher teve relações
com muitos homens, levando muitos lares a serem desfeitos. [...]
Satanás entrou nela, e ela ficou fria, amarga e não
perdoava os outros”. [62]
O Pentecostalismo e o Neopentecoslismo, versões emocionais
e contemporâneas do Protestantismo, nutrem-se das práticas
de exorcismos. É por meio do exorcismo que se encontra e
recrutam-se seus adeptos. Já é folclórica a
expressão utilizada pelos pastores e obreiros nos ritos de
expulsão de demônios nos cultos de libertação:
“Sai deste corpo que não te pertence”
(ad tempora). Agora, na visão de Mary Baxter, é
o inferno que se alimenta do corpo humano:
“Vi espantada, como os lindos
corpos daquelas mulheres começaram a ficar cinzentos, e
a se transformarem em carne queimada do inferno. O que antes era
perfeito em beleza, agora ficaram nojentos de tanta feiúra.
Os lindos corpos se desfizeram até que só ficou
uma forma repugnante de morte. Suas formas eram cheias de demônios
e de espíritos malignos, serpentes grandes e compridas
saiam para fora dos seus estômagos”. [63]
As idéias de Mary Baxter
expressam uma importante faceta da subjetividade pentecostal e neopentecostal:
o corpo como habitação do demônio. É
importante considerar que no Novo Testamento existem relatos
de possessão demoníaca, mas jamais o corpo foi tratado
como habitação do demônio pela Igreja Primitiva
ou mesmo pelos pais da Igreja. Já os reformadores firmaram-se
na doutrina do corpo como templo do Espírito Santo. A caracterização
do corpo como morada do Diabo parece estar relacionado ao ressurgimento
do Maniqueísmo. Konya:
“Além disso, o uso
indica que as pessoas endemoninhadas foram habitadas corporalmente
por pelo menos um demônio. A expressão de, do demônio
entrando, ‘saindo’ ou sendo ‘expulso’
é empregada consistentemente com respeito a pessoas endemoninhadas
(Mateus. 8:16, 32; 9:33; 12:22-24; Marcos
1:34; 5:8, 13). Se estes termos sugerem algo, sugere a
idéia de um demônio realmente fazer uma residência
soberana dentro do corpo da pessoa endemoninhada”. [64]
As conseqüências da idéia
do corpo como habitação do demônio sobre a sexualidade
humana são previsíveis: a homossexualidade, o lesbianismo,
a masturbação, o adultério e até aquelas
expressões próprias do namoro, como o beijo e o abraço
são tratados como manifestações do demônio.
No livro O Eros redimido, conheça as estratégias
de satanás em relação aos pecados sexuais e
a redenção maravilhosa de Deus para quem o busca,
John White apresenta a sexualidade como sendo um pecado de caráter
único e demoníaco:
“Sociólogos e psicólogos
oferecem teorias descritivas sobre o domínio exercido pelo
pecado, mas só vão até aí - a descrição.
São incapazes de explicar a verdade. Para isso, temos que
nos voltar para as Escrituras. Para começar a entender,
é necessário ter claro na mente o fato de que o
caráter do pecado sexual é único”.
[65]
A atribuição de atos
puramente humanos ao demônio libera a consciência de
suas responsabilidades ética e moral e subordina esta consciência
a um terceiro sujeito, aquele que tem efetivo poder sobre o demônio
e, conseqüentemente, sobre o endemoniado. Além de estabelecer
uma nítida estrutura de poder e dominação sobre
o corpo do possesso, o exorcista torna-se o elo central desta importante
cadeia de alienação humana. O ex-endemoniado, agora
liberto, torna-se refém do obreiro que o libertou. A alternativa
ao rompimento com esta dominação é cair novamente
nas garras do diabo, é dantesco. O sujeito fica, portanto,
preso numa teia de duplo vínculo, cuja saída só
poderá ocorrer pela via da alienação e, ou,
da loucura.
5. A Pedagogia Sexual do Protestantismo
Brasileiro
Desde René Descartes, com a proposição do paralelismo
cartesiano, de modo geral, a filosofia e a ciência consideram
o corpo e o espírito como duas realidades distintas. O corpo
é considerado em seu aspecto físico e biológico,
por isso mesmo, mecânico e orgânico, submetido às
leis das ciências biomédicas, desprovido de liberdade,
e, o espírito, enquanto consciência, com características
imateriais, que se constituem naquilo que se convencionou chamar
sujeito, com capacidade de autodeterminação, de pensamento,
com vontade própria e autônoma, isto é, com
a capacidade de escolha entre o bem e o mal.
O pensamento cartesiano liberou o corpo do domínio da Igreja
para o jugo da ciência. Sobre o corpo e a sexualidade debruçaram-se
alguns ramos da ciência na tentativa de domesticá-lo
e potencializar suas possibilidades de produção do
prazer. A sexologia não pretende apenas levar o corpo a produzir
aquele prazer que lhe é inerente e, sim, fabricá-lo
em quantidade e qualidade capazes de mensuração.
Guido Mantega afirma que as ciências médicas e psicológicas,
através da psiquiatria, da psicanálise e mesmo do
behaviorismo, assim como das terapias corporais, assumem, às
vezes, um papel ambíguo na pedagogia sexual, que posa ora
como agente de controle, de repressão da sexualidade humana,
e ora postula o papel de agente educador e libertador do prazer
sexual. Guido Mantega critica esta postura da pedagogia sexual e
afirma que a liberação do prazer pode não significar
necessariamente a liberação da sexualidade e da culpa;
ele cita como exemplo a indústria da pornografia, que se
alimenta essencialmente da repressão:
“O espectador consome simbolicamente
uma sexualidade que não consegue vivenciar, a não
ser em seu imaginário. Além disso, os filmes mostram
o sexo sob uma óptica técnica na valorização
do capaz contra o incapaz, com soluções ocorrendo
ao nível individual”. [66]
A sexologia combina os conhecimentos
da medicina e psicologia cognitiva comportamental com parte do estudo
das doenças sexualmente transmissíveis. O sexólogo
propõe um tratamento rápido (mínimo de uma
semana e máximo de uns seis meses) e promete o orgasmo perfeito.
Para tanto, relativiza todos os outros fatores envolvidos na relação
sexual, tais como a cultura, a religião, as condições
sócio-econômicas do sujeito, suas condições
históricas concretas (o que pode significar o simulacro da
realidade sexual):
“Tenta-se modernizar a idéia
de sexo como pecado, como garantia São Tomás de
Aquino, na Suma Teológica, mesmo sob o beneplácito
do matrimônio o sexo não deixava de ser pecado. Não
era mais mortal e sim venial apenas – a partir de uma embalagem
atraente. Impossível! O terapeuta apenas substitui o padre
e, ao invés de distribuir penitências, ele avaliza
culpas, traumas, comportamentos neuróticos, etc”.
[67]
A pedagogia sexual do Protestantismo
brasileiro segue o modelo apontado por Marilena Chauí e Guido
Mantega, acrescido de outros fatores próprios do Protestantismo
puritano. Neste caso, é exercida por profissionais da fé,
pastores, missionários - geralmente norte-americanos ou formados
nos Estados Unidos -, o que lhes concede uma aura de especialistas
em sexualidade humana. O status que lhes confere o papel clerical
os coloca como sexólogos acima de qualquer suspeita, portadores
de poderes capazes de resolver os problemas sexuais humanos.
Destacam-se as representações do corpo e da sexualidade
nas principais obras publicadas nesta área, de Frank Lawes
e Stephen Olford; [68] Jaime Kemp [69];
Nacy Pelt [70]; Ed Wheat e Gaye Wheat
[71]; LaHaye e Beverly LaHaye [72];
Carl Brecheen e Paul Faulkner [73];
Débora Evans [74]; Tim Lahaye
e LaHaye [75]; John White [76];
Estes se constituem todos em manuais de sexologia, norte-americana,
traduzidos no Brasil e divulgados na comunidade evangélica
brasileira. Dentre estes, destaca-se: O ato conjugal, orientação
sexual equilibrada, clara e sem rodeios. Um Manual completo
para o casal e, O ato conjugal depois dos 40, orientação
prática para melhorar ainda mais o relacionamento sexual
dos casais, não importa se já passaram dos 40, 50,60.
O primeiro livro foi publicado no Brasil em 1978 e o segundo em
2002, como se observa pelos títulos dos mesmos. O casal,
Tim e Beverly LaHaye, pretendem acompanhar a vida sexual dos seus
leitores em todas as fases da vida, da juventude à idade
madura. Nestas obras, a metáfora da máquina é
largamente utilizada pelos autores na compreensão do corpo
e das funções sexuais deste. Seus autores ainda não
utilizam o modelo computacional mais moderno, derivado da psicologia
cognitiva, a nova ciência da mente, utilizados pelos modernos
sexólogos. Utiliza-se do carro como modelo para a compreensão
da sexualidade humana. LaHaye e LaHay: “Perguntaram
a um marido realizado, se já se sentira tentado a experiências
extraconjugais, ao que ele respondeu resumidamente, mas de maneira
muito clara: Quando se tem um Cadillac na garagem, quem iria tentar
roubar um ‘fusca’ na rua? [sic!] [77]”.
A metáfora do carro é apropriada para o corpo humano
nestes manuais de sexologia. Trata-se de guias no estilo self
made man.
Estes autores fazem um esforço sério para fundamentar
os procedimentos sexuais sugeridos na Bíblia Sagrada, contudo
o corpo é tratado como uma máquina que deve ser manipulada
a fim de produzir prazer. Ao longo da leitura, tem-se a impressão
de que é possível alcançar o máximo
de prazer apenas aplicando a tecnologia sexual proposta. Palavras
como desejo, erotismo, sensualidade, xodó, chamego,
comunhão de corpos, de almas e de mentes são desconhecidas;
e o ato sexual apresentado ganha contornos mecânicos.
Nestas obras, a sexualidade encontra-se dissociada da identidade
do sujeito, portanto fragmentada e compreendida somente como praxis.
É bom lembrar que mesmo na Bíblia a identidade sexual
é inerente ao ser. No relato de Gênesis: “Deus
criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o
criou, homem e mulher ele os criou. Deus os abençoou, e lhes
disse: sede fecundos, multiplicai - vos, enchei a terra e submetei-a.”
[78] Nesta narrativa da criação,
quando Deus criou o homem à sua imagem, ele os criou macho
e fêmea. Esta expressão refere-se à identidade
do homem e da mulher e, como observa João Calvino, [79]
a identidade sexual é o primeiro elemento abençoado
por Deus quando das obras da criação.
Observa-se que, nesta literatura, os autores utilizam-se daqueles
tipos ideais observados por Weber [80]
no Protestantismo puritano. Estes modelos foram estendidos para
compreender não só à prática sexual,
mas aquele tipo de familiar nuclear rural da primeira metade do
século XX, sem nenhuma contextualização ou
aculturação. Na aplicação dos tipos
ideais supracitados, o homem ainda é apresentado como o provedor
do lar, o cabeça da família a quem a mulher deve obediência
e subordinação num evidente alheamento às transformações
impostas à família a partir das mudanças do
mercado de trabalho e da substituição no mundo globalizado
da ética do trabalho pela ética do consumo. Tim Lahaye
e Bervely LaHaye:
“Deus determinou que o homem
fosse o agressor, o provedor, e o chefe da família. Por
alguma razão, isto está ligado ao seu impulso sexual.
A mulher que desgosta do impulso sexual do marido, embora admire
sua liderança agressiva, faria bem se encarasse o fato
de que não pode haver uma sem o outro”.
[81]
A mulher apresentada nestas obras
também é referenciada apenas ao lar, como boa dona-de-casa,
mãe de família, aquela mulher que deve viver apenas
em função de seu marido e colocar sua sexualidade
com o objetivo de manter o lar funcionando. O homem deve receber
todo o prazer sexual da mulher. Só resta à esposa
oferecer seu corpo no altar do leito conjugal como sacrifício
pelo bem-estar da família, um objeto de desejo do marido.
Tim Lahaye e Beverly Lahaye:
“Uma esposa é mais
que mãe ou dona-de-casa. Ela também é a parceira
sexual do marido. Como o homem, se não obtiver sucesso
no leito, ela fracassa em outras áreas, por duas razões:
primeiro poucos homens aceitam um fracasso sexual sem reagirem
carnalmente, ficarem irritados e insultarem a esposa; segundo,
quando o marido não aprecia a união com ela, ele
o demonstra claramente. A mulher obtém grande parte de
sua auto-estima do marido. Aliás, ainda não encontramos
uma só mulher com boa imagem própria, que não
apreciasse a si mesma como esposa”. [82]
Robinson Cavalcanti, bispo anglicano,
publicou algumas obras sobre este tema. Nestas, faz um resumo da
moral sexual apresentada pela sexologia protestante. E apresenta
aquilo que deve ser objeto do ato sexual. Observa-se que a expressão
fere esse padrão aparece em todos os aspectos considerados
desviantes. Robinson Cavalcanti:
“Parâmetros básicos
e alvos éticos construtivos. Diferentemente de meros costumes
e tradições esses padrões, quando rompidos
possuem uma dimensão patológica, de riscos, de danos,
de negatividade, em si mesmos. Como tudo na vida, há uma
permanente tensão entre os alvos éticos de Deus
na ordem da criação e antiética representada
pelo pecado na desordem da queda. Há certo consenso na
ética cristã de que: a) Por certo Deus destinou
o ser humano a buscar a realização sexual com outros
seres vivos. A necrofilia ou atração sexual por
cadáveres fere esse padrão; b) Deus destinou o ser
humano à realização sexual com outro ser
da mesma espécie. A zoofilia, ou atração
sexual por irracionais fere esse padrão; c) Deus destinou
o ser humano à realização com o sexo oposto.
O homossexualismo fere esse padrão; d) Deus destinou o
ser humano a se realizar sexualmente por livre manifestação
da vontade. O estupro ou relação sexual à
força, fere esse padrão; e) Deus destinou o ser
humano à realização sexual por amor. A prostituição
fere esse padrão; f) Deus destinou o ser humano a relacionamentos
estáveis que crescem e se aprofundam. A fornicação,
ou relacionamentos sexuais efêmeros e sucessivos fere esse
padrão; g) Deus destinou o ser humano a relacionamentos
na amplitude da espécie. O incesto ou relacionamento sexual
com parentes próximos fere esse padrão; h) Deus
concebeu a atividade sexual como um ato de comunicação
interpessoal. A masturbação, ou auto-realização
sexual solitária, quando opção permanente
fere esse padrão. i) Deus criou o ser humano a incumbência
e a capacidade de reprodução da espécie.
Ele é a fonte da vida e condena a morte. O aborto, ou destruição
do ser enquanto ainda no útero, fere esse padrão;
j) Destinou deus o ser humano a fazer da atividade sexual um ato
construtivo de afeto. O sadismo, ou prazer em fazer sofrer, e
o masoquismo, ou prazer no sofrer, ferem esse padrão”.
[83]
A pedagogia sexual do Protestantismo
brasileiro reproduz as formas apresentadas pelo Protestantismo puritano
norte-americano: a sexualidade da norma, sem nenhum referencial
à identidade do sujeito e sem nenhuma referência ao
prazer. Trata-se, na verdade, de uma sexualidade ascética,
cujo objetivo central é a funcionalidade do matrimônio
e a geração de filhos. A dimensão do corpo,
nesta expressão sexual, é aquele da máquina
que deve funcionar apenas para atingir os objetivos propostos sem
nenhuma consideração pela liberdade, autodeterminação
e criatividade do sujeito envolvido. O corpo é tratado como
um objeto que não tem existência em si mesmo; ele deve
funcionar a partir de princípios externos e alheios ao sujeito.
A análise da literatura revista aponta algumas direções
para as possíveis conseqüências da pedagogia sexual
do Protestantismo: o tratamento da Bíblia Sagrada como caixa
de pandora da sexualidade humana; a produção
da ética protestante do trabalho; a descaracterização
do sexo do outro e a ingenuidade no tratamento de tema tão
complexo; a clandestinidade e a promiscuidade.
O Protestantismo, via de regra, reconhece a Bíblia como a
Palavra de Deus, isto é a revelação dos atos
de Deus na história de forma seletiva, suficiente para dar
ao cristão os conhecimentos necessários sobre Deus
e sobre os meios de graça para a salvação.
A elevação das Sagradas Escrituras à condição
de manual de sexualidade humana parece não se coadunar com
a intenção de seus autores, considerados órgãos
da revelação especial de Deus, e, portanto, preocupados
em apontar os atos de Deus na história da salvação
e o sentido destes para o homem. Porquanto alguns livros sagrados
tratem explicitamente do erotismo - como é o caso dos Cânticos
dos Cânticos de Salomão [84]
-, as Sagradas Letras não se apresentam como compêndio
de psicopatologia sexual, como fazem pensar os manuais de pedagogia
sexual apontados nesta pesquisa. A Bíblia Sagrada
não é uma caixa de pandora para a solução
de problemas sexuais humanos. No âmbito do Cristianismo, a
ética sexual desta limita-se, no mais das vezes, a explicitar
aquilo que não se deve praticar nas relações
sexuais no contexto da religião e da cultura judaico-cristã.
Firmados na ética da via negativa, isto é, apenas
naquilo que se não deve praticar, os manuais de pedagogia
sexual publicados no Brasil excluem todas as formas de manifestação
corporais: o vestuário, a dança, a prática
de esportes, o teatro, a coreografia nos cultos, etc. Marilena Chauí
observa que o resultado da repressão puritana sobre o corpo
e a sexualidade é a produção da ética
protestante do trabalho, pesquisada e caracterizada por Max Weber.
[85]
“O trabalho é o grande
purificador daquilo que o puritanismo chama de vida suja. Nesta,
o sexo é central e os puritanos defendem para todos os
seres humanos aquela disciplina e contenção que
a Igreja Católica havia reservado para a vida monacal.
Com a ética puritana é como se o mundo todo virasse
um imenso mosteiro. E as idéias sobre o casamento retomam
as dos Primeiros Padres da Igreja: freio, remédio e castidade,
após a procriação. O trabalho é a
finalidade da vida e a vida em estado de graça é
a vida operosa. Lutando contra o catolicismo e contra o anglicanismo
dos reis ingleses, os puritanos condenavam as leis que instituíam
os divertimentos populares: os bailes, os esportes e as representações
teatrais.” [86]
Evidencia-se nesta literatura, um
total desprezo e descaracterização da sexualidade
do outro, do diferente, considerada promíscua e responsável
por patologias psicossociais. De outra feita, os textos pesquisados
apresentam certa ingenuidade na abordagem de assunto tão
complexo: tudo o que contraria os modelos apresentados na literatura
da pedagogia sexual do Protestantismo é pecaminoso e mal;
já os modelos apontados nesta literatura são sempre
considerados santos, cristãos e suficientes para dar conta
dos problemas sexuais humanos.
Débora Evans comparou o que considera como os modelos sexuais
Humanista, Hedonista e Judaico-cristão.
Segundo a autora, a adesão aos modelos Humanista e Hedonista
produz como conseqüêncianecessariamente “Relaçõess
em série que levam a: fragmentação do eu; alianças
divididas; adulteração da aliança do casal
pela formação de múltiplas alianças”
[87]. E produz como resultados sociais:
“Filhos indesejados descartados
pelo aborto; coabitação vista como algo natural;
divórcio visto como algo normal; ampla distribuição
de pornografia; prostituição vista como algo comum;
maior aceitação de estilos de vida alternativos
como casamento em grupo, homossexualidade, troca de casais. Epidemia
de doenças sexualmente transmissíveis. Maior tolerância
com a vitimização sexual de outras pessoas; aumento
do índice de ataques e abusos sexuais [sic!]” [88]
Já para aqueles que adotarem
os preceitos sexuais contidos no referido manual, é prometido
o paraíso ainda nesta vida, no casamento: Debora Evans (2001):
“Propósito do sexo:
O sexo é visto como um meio para um fim: O meio pelo qual
se tornam os dois uma só carne; para frutificar a terra
para Deus; fim da solidão e do isolamento social; Formas
aceitáveis de expressão sexual: Atividade sexual
entre um homem e uma mulher somente dentro do casamento; Conseqüências:
Um vínculo para toda a vida que leva a: Libertação
do pecado; viver em harmonia consigo mesmo e com o próximo;
viver em harmonia com Deus. Resultados sociais: A continuação
da herança familiar: filhos, netos e bisnetos; respeito
pela dignidade e pelo valor de cada pessoa criada à imagem
de Deus; rejeição de todas as formas de pecados
sexuais - resultando na saúde e estabilidade de nossa cultura.[sic!]”
[89]
No artigo Sexualidade - o prazer
que liberta, o bispo anglicano Robinson Cavalcanti apresenta
algumas teses sobre a sexualidade humana e conclui que a clandestinidade
torna-se a alternativa para aqueles que não se enquadram
nos modelos de sexualidade veiculados pela literatura recorrente
no Protestantismo brasileiro:
“A clandestinidade, contudo,
pode se constituir, muitas vezes, no único caminho possível
para os pioneiros, os inovadores e os dissidentes, diante da rigidez
da repressão e do desrespeito à privacidade de parte
dos sistemas, inclusive os religiosos. O preço da busca
da felicidade e da sanidade e da democratização
da libido que transforma a História pode requerer, em nossos
dias, a silenciosa via das catacumbas”. [90]
Considerações Finais
Reina o silêncio sobre o corpo
e a sexualidade no Protestantismo brasileiro. Quase nenhuma pesquisa
foi publicada até hoje sobre este tema. As obras publicadas
são, em sua grande maioria, traduções de títulos
norte-americanos. Estes são oriundos daquela vertente do
Protestantismo vinculada ao movimento puritano. Convém destacar
que a pedagogia sexual veiculada nesta literatura não é
apenas lida pelos protestantes, é utilizada, principalmente,
como ferramenta de trabalho pelos chamados conselheiros cristãos.
Estes são geralmente clérigos e leigos bem-intencionados,
porém sem nenhum preparo nas ciências medico-psicológicas
para atuar nesta área. A tônica destes livros e seus
conselheiros é a confissão. Estes conselheiros são
elevados à categoria de novos confessores do Protestantismo.
Daí a escassez de pesquisas e publicações que
apontem algumas questões relevantes, tais como: qual a relação
da aplicação destes procedimentos com a produção
de ansiedade, de angústia, e mesmo de doenças mentais?
Qual a relação entre estes procedimentos e os resultados
prometidos pelos gurus da sexualidade protestante? Quais as relações
da ética puritana adotada nestes manuais para a potencialização
da culpabilidade humana? Etc. Rosa:
“Há diversos tipos
de vida religiosa: alguns regressivos e patológicos e outros
mais progressivos e formadores de personalidades sadias. Há
doentes em que os delírios de obsessão do pecado
servem para condenar definitivamente todos os atos de origem sexual
(mulher que se sente prostituta se obter prazer sexual; homem
que transforma a esposa em prostituta). Há, basicamente,
três tipos de concepção da vida religiosa:
a legalista, que é essencialmente proibitiva e que corresponde
a uma estrutura neurótica de perfeccionismo em ligação
com o rigor do superego bíblico; a religião de dependência,
que corresponde a uma estrutura neurótica de medo da liberdade
e de conflitos com tendências negativistas e compulsivas;
e, por fim, a religião do espírito, em que a crença
religiosa, longe de ser sufocante ou dissociadora, unifica, todavia
as tendências, os sentimentos, as idéias e centraliza
a atitude do indivíduo no amor pelo próximo”.
[91]
Na literatura pesquisada o corpo
é fragmentado, dissociado do espírito e da identidade
humana. A sexualidade é mecânica. O fazer sexual
sobrepuja-se ao ser sexual. Palavras como erotismo, chamego,
xodó, carinho são desconhecidas.
E mesmo aquelas palavras próprias do Cristianismo, tais como
comunhão de corpos, de mentes e de espíritos não
são encontradas. O corpo ainda é considerado como
máquina. A melhor metáfora utilizada para o corpo
feminino é o do Cadillac.
O corpo como templo do Espírito Santo foi substituído
pelas concepções do corpo como a morada do demônio
e, no mais das vezes, como um mero instrumento de trabalho. A sexualidade
como expressão da identidade humana e das benções
de Deus é representada como um mal necessário a ser
domesticado. Observa-se que, na literatura pesquisada, aquelas representações
de algumas correntes dissidentes do Cristianismo que surgiram entre
II e o IV séculos, tais como o Gnosticismo e o Maniqueísmo,
encontram-se vivos e ativos nestas representações.
À guisa de conclusão, o presente trabalho demonstra
que se faz necessário desenvolver e aprofundar pesquisas
sobre o corpo e a sexualidade no Protestantismo brasileiro, com
vistas a apontar caminhos que considerem a sexualidade como própria
do ser humano, sem desvincular a prática sexual desta identidade.
Também com vistas a representar o homem em sua totalidade
no contexto da cultura brasileira, que incorpora nas relações
sexuais palavras como erotismo, xodó, chamego,
carinho, comunhão de espíritos, de corpos e de mentes.
A fim de atingir este objetivo, é necessário pesquisar
também as representações sociais dos crentes
e compará-las com aquelas veiculadas na literatura protestante
sobre o assunto.
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Notas
[1] Irving M.BUNIN, A ética do Sinai. Ensinamentos
dos sábios do Talmud, p. 62.
[2] E. DURKHEIM. As formas elementares da vida religiosa.
[3] S. MOCOVICI. As representações sociais
da psicanálise.
[4] D. JODELET. Représentations sociales: phénomènes,
concept et theórie In: MOSCOVICI, S. Psycologie Sociale.
[5] P. BERGER. O dossel sagrado.
[6] G.J. PAIVA E W. ZANGARI et alli. A representação
na religião, perspectivas psicológicas.
[7] Z. LOTUFO JÚNIOR, Corpo e dimensão
espiritual. In: Religião e psicologia. São Bernardo do
Campo, SP: UMESP, 1985.
[8] P. VELASQUES FILHO, O comportamento protestante.
In: Religião e psicologia. São Bernardo do Campo, SP:
UMESP, 1985.
[9] J.C. MARASCHIN, Fragmentos das harmonias e das
dissonâncias do corpo. In: Religião e Psicologia. São
Bernardo do Campo, SP: UMESP, 1985.
[10] T. ROSA, Religião e expressão da
sexualidade. In: Religião e psicologia. São Bernardo do
Campo, SP: UMESP, 1985.
[11] R. CAVALCANTI, Libertação e sexualidade.
[12] J.P. VERNAT. Entre mito e política.
[13] P. BROWN. Corpo e sociedade, o homem, a mulher
e a renúncia sexual no início do Cristianismo.
[14] S. PAULO. Romanos, capítulo 7:18; 25
[15] Ibidem, capítulo 7:5; 14; 18; 28.
[16] GÊNESIS, capítulo 2:7.
[17] LUCAS. Atos do Espírito Santo através
dos Apóstolos, capítulo 9.
[18] K. BARTH, Carta aos Romanos, p.408.
[19] S. AGOSTINHO, A cidade de Deus contra os pagãos
p. 132.
[20] Ibidem, p. 49.
[21] S. PAULO. I Conríntios 7:1-6.
[22] Ibidem.
[23] M. CHAUÍ, A repressão sexual essa
(des) conhecida, p. 91.
[24] Ibidem, pp. 113
[25] ORÍGENES, apud P. BROWN. Ibidem, p.155.
[26] PACÔMIO, apud P. BROWN, Ibidem, p. 189.
[27] MABUG. Apud, P. BROWN. Ibidem, p.191.
[28] S. AGOSTINHO. As confissões.
[29] S. AGOASTINHO. A cidade de Deus contra os pagãos.
[30] S. AGOSTINHO. Comentário literal sobre
Gênesis.
[31] S. AGOSTINHO. Do bem conjugal, da viuvez e da
santa virgindade.
[32] S. AGOSTINHO, apud P. BROWN, p. 350.
[33] Gênesis, capítulo 3:16-17.
[34] Ibidem, p.156.
[35] Ibid.
[36] M. LUTERO. Ética, fundamentos, oração,
sexualidade, educação e economia, p.160-193.
[37] M. LUTERO. Debates e controvérsias I, p.55.
[38] Ibidem, p.161.
[39] Ibidem, p.162.
[40] Ibidem, p.161-161.
[41] Ibidem, p.192-193.
[42] Ibidem, pp.163-173.
[43] Ibidem, pp.192-193.
[44] S. MATEUS, capítulo 11:28.
[45] S. MARCOS, capítulo 16:15
[46] J. CALVINO. Institución de la religión
cristiana. Volume II, p. 80
[47] J. CALVINO. Comentário às Sagradas
Escrituras, Exposição de I Coríntios, p.204.
[48] I JOÃO, capítulo 5:19.
[49] Ibidem, pp. 149-150.
[50] M. WEBER. A ética protestante e o espírito
do capitalismo.
[51] B. RIBEIRO. Protestantismo no Brasil monárquico.
[52] A. G. MENDONÇA. O celeste porvir.
[53] F. P. GOLDMAN. Os pioneiros americanos no Brasil,
(educadores, sacerdote, covos e reis).
[54] J.P.BASTIAN. Protestantismos e modernidade latino americana. História
de uma minoria religiosa activa em América latina.
[55] W. READ. O fermento religioso nas massas do Brasil.
[56] A.G. MENDONÇA E P. VELASQUES FILHO. Introdução
ao protestantismo brasileiro.
[57] S.B. MONTEIRO. O cântico da vida. Análise
dos conceitos fundamentais expressos nos cânticos das Igrejas
Evangélicas Brasileiras, p. 161.
[58] M. BITCHMAYA. O crente, pp.406.
[59] J.C. MARASCHIN, Ibidem, p. 201.
[60] M. BXTER. A divina revelação do
inferno, p. 12.
[61] Ibidem, p.32
[62] Ibidem, p.40.
[63] Ibidem, p.64.
[64] A. KONYA. Demônios, uma perspectiva baseada
na Bíblia, p. 17.
[65] J. WHITE. O Eros redimido, conheça as estratégias
de Satanás em relação aos pecados sexuais e a redenção
maravilhosa de Deus para quem o busca, p.59.
[66] G. MANTEGA. Sexo e poder, p. 84.
[67] Ibidem, pp. 86.
[68] F. LAWES. A Santidade do sexo.
[69] J. KEM. Respostas francas a perguntas honestas.
[70] N. V. PELT. Felizes para sempre.
[71] E. WHEAT. E G. WHEAT. Sexo e intimidade, prazer
sexual no casamento.
[72] T. LAHAYE E B. LAHAYE. O ato conjugal.
[73] C. BRECHEEN. E P. FAULKNER. O que toda família
precisa.
[74] D. EVANS. Guia da sexualidade da mulher cristã.
[75] T. LAHAYE E B. LAHAYE. O ato conjugal depois dos
40.
[76] J. WHITE. Ibidem.
[77] Ibidem, pp32.
[78] GÊNESIS, capítulo 1:27-28.
[79] J. CALVINO, Ibidem.
[80] M. WEBER, Ibidem.
[81] Ibidem, p. 75.
[82] Ibidem, p. 41.
[83] R. CAVALCANTI. Libertação e sexualidade,
apud A. H. LISBOA. Sexo: desnudando o mistério, p. 41.
[84] SALOMÃO. Cânticos dos cânticos
ou Cantares de Salomão.
[85] Ibidem, p. 150.
[86] Ibidem.
[87] Ibidem, p.289-294.
[88] Ibidem, p. 290.
[89] Ibidem, p. 294.
[90] “Sexualidade - o prazer que liberta”,
In: Revista Exclusividade, CEA – Ano I - Nº 2., Publicação
on line: http://www.ejesus.com.br.
[91] Ibidem, p. 189.
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http://www.pucsp.br/rever/rv1_2006/t_gomes.htm
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