Nos dias de hoje a reencarnação é
amplamente discutida e debatida entre todos os seguimentos da sociedade;
até mesmo as religiões não-reencarnacionistas
guardam enorme respeito aos adeptos da crença das vidas sucessivas
do espíritos
1) CONCEITO DE REENCARNAÇÃO
Encontramos no Evangelho Segundo o Espiritismo, mais
precisamente em seu capítulo IV, a definição
de reencarnação como o retorno da alma ou do espírito
à vida corporal, mas em um outro corpo novamente formado para
ela, e que nada tem de comum com o antigo. Atualmente o referido vocábulo
está presente até mesmo nos dicionários da língua
portuguesa, que definem a palavra reencarnar como a possibilidade
do espírito reassumir a sua forma material.
Reencarnar (prefixo “re” + encarnar, do latim incarnare)
é voltar à carne, ou seja, tornar o espírito
a habitar um corpo carnal com o objetivo de se burilar e se aperfeiçoar
na senda do progresso a que todos estamos predestinados.
Nos dias de hoje a reencarnação é amplamente
discutida e debatida entre todos os seguimentos da sociedade; até
mesmo as religiões não-reencarnacionistas guardam enorme
respeito aos adeptos da crença das vidas sucessivas do espírito.
É cediço que nós espíritas constituímos
o único seguimento que ainda se intitula como religião
reencarnacionista-cristã. As demais congregações
cristãs, como por exemplo o catolicismo ou o protestantismo,
admitem a imortalidade da alma, mas não compactuam com a hipótese
de o espírito ter a faculdade de renascer em um novo corpo.
Entretanto, prosélitos de outras seitas desvinculadas do cristianismo,
tais como a Seicho-No-Ie e o Budismo, as religiões afro-brasileiras
como a Umbanda e o Candomblé, aceitam a reencarnação
como forma natural do aprimoramento e amadurecimento do ser humano,
assim como outras doutrinas espiritualistas que vislumbram no Cristo
um ente iluminado, crêem na possibilidade da reencarnação,
mas não possuem característica religiosa, como é
o caso do racionalismo cristão, entre outros.
2) ESQUECIMENTO DO PASSADO
Os críticos mais pertinazes do tema em debate atribuem a não
existência da reencarnação ao fato de não
nos recordarmos das vidas anteriores. Porém, um estudo superficial
não nos daria condições de analisar com a devida
clareza as finalidades e justificativas das vidas sucessivas. Talvez
em razão disso seja a descrença encontrada no posicionamento
de cépticos e censores.
O esquecimento do passado é uma bênção.
Deus, na sua infinita sabedoria, permite aos seus filhos voltar à
Terra, novamente encarnados, reunidos em um mesmo grupo ou família.
Espíritos afins reencontram-se com o objetivo de se aprimorarem
e as lembranças de vidas pretéritas prejudicariam o
desempenho da criatura na atual existência. Ódios, rancores,
amarguras, rusgas e desentendimentos poderiam vir à tona atrapalhando
o exercício do amor fraternal no seio familiar ou no grupo
de convívio.
A providência divina se encarrega de atender todas as necessidades
do espírito encarnado na sua atual existência e as recordações
do passado poderiam prejudica-lo em sua missão. O déspota,
ao retornar à vida carnal, certamente iria envergonhar-se de
sua condição e atravancar o seu progresso em busca da
redenção. O soberbo renascido entre os miseráveis
e estropiados não admitiria ser rebaixado da posição
social em que outrora se encontrava. Inimigos e desafetos encarnados
no mesmo círculo familiar, como pais, filhos ou irmãos,
fatalmente se digladiariam na hipótese de se recordarem dos
malefícios que fizeram um ao outro.
O ato de perdoar ainda é muito difícil de ser praticado
em nossa condição evolutiva. Por isso, o esquecimento
do passado vem de encontro com às necessidades do espírito.
Algozes ferrenhos poderiam aprender o exercício do amor, da
paciência e da tolerância, desde que não se recordem
das feridas que foram provocadas e o perdão virá de
forma natural a dissolver as intrigas existentes entre as criaturas.
Eis o significado da não recordação do que fomos,
sentimos ou com quem nos relacionados em existências anteriores.
O que deve permanecer tão-somente é a consciência
imortal do espírito, que o levará a habitar moradas
mais sublimas da Casa do Pai.
3) DIFERENÇA ENTRE RESSURREIÇÃO
E REENCARNAÇÃO
A palavra ressurreição é oriunda do latim, resurrectione,
e tem como significado o ato ou efeito de ressurgir ou ressuscitar.
Nos termos trazidos pelo Evangelho Segundo o Espiritismo, a ressurreição
supõe o retorno à vida do corpo que morreu, o que a
ciência demonstra ser materialmente impossível, sobretudo
quando os elementos desse corpo estão, desde há muito,
dispersos e absorvidos.
O dogma trazido pela igreja tem o condão de fazer seus fiéis
acreditarem na possibilidade acima discutida, o que verificamos ser
algo irrealizável.
Os ensinamentos cristãos, oriundos do nosso Mestre Jesus, diziam
respeito à reencarnação e não à
ressurreição, como veremos a seguir.
4) REENCARNAÇÃO NA BÍBLIA
A bíblia possui inúmeras assertivas acerca da reencarnação,
como por exemplo aquela em que Jesus afirma ser João Batista
a reencarnação do profeta Elias.
Todavia, o trecho abaixo transcrito do evangelho de São João,
nos parece mais adequado ao estudo ora desenvolvido:
Ora, entre os fariseus, havia um
homem chamado Nicodememos, senador dos judeus - que veio à
noite ter com Jesus e lhe disse: "Mestre, sabemos que vieste
da parte de Deus para nos instruir como um doutor, porquanto ninguém
poderia fazer os milagres que fazes, se Deus não estivesse
com ele."
Jesus lhe respondeu: "Em verdade, em verdade, digo-te: Ninguém
pode ver o reino de Deus se não nascer de novo."
Disse-lhe Nicodemos: "Como pode nascer um homem já velho?
Pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, para nascer segunda
vez?"
Retorquiu-lhe Jesus: "Em verdade, em verdade, digo-te: Se um
homem não renasce da água e do Espírito, não
pode entrar no reino de Deus. - O que é nascido da carne
é carne e o que é nascido do Espírito é
Espírito. - Não te admires de que eu te haja dito
ser preciso que nasças de novo. - O Espírito sopra
onde quer e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem ele,
nem para onde vai; o mesmo se dá com todo homem que é
nascido do Espírito."
Respondeu-lhe Nicodemos: "Como pode isso fazer-se?" -
Jesus lhe observou: "Pois quê! és mestre em Israel
e ignoras estas coisas? Digo-te em verdade, em verdade, que não
dizemos senão o que sabemos e que não damos testemunho,
senão do que temos visto. Entretanto, não aceitas
o nosso testemunho. - Mas, se não me credes, quando vos falo
das coisas da Terra, como me crereis, quando vos fale das coisas
do céu?" (S. JOÃO, cap.
III, vv. 1 a 12).
Quando Jesus disse a Nicodemos que
a carne procede da carne e o espírito procede do espírito,
quis dizer que o corpo carnal nasce de um outro corpo carnal, como
o filho que cresce no ventre de sua mãe, mas enfatizou que
o espírito é imortal e a sua procedência é
divina e nascerá em um novo corpo toda vez que houver necessidade
de reparação, ajustamento ou evolução.
5) FINALIDADES E JUSTIFICATIVAS
a) Expiação
O vocábulo expiação também é oriundo
do latim, expiatione, e tem como significação
o ato ou efeito de expiar, isto é, castigo, penitência,
cumprimento de pena.
Todavia, sabemos que Deus não castiga ninguém e o sofrimento
pelo qual estamos sendo infligidos é fruto dos nossos próprios
erros. É bem verdade que a encarnação muitas
vezes constitui um aprisionamento para o espírito e poderíamos
comparar o planeta Terra, que ainda é um mundo de expiações
e provas, a um grande presídio de almas, que padecem dos mais
diversos problemas ligados às doenças, à miséria,
à violência, etc. Porém, como podemos encontrar
na apostila do Curso Básico de Espiritismo da Federação
Espírita do Estado de São Paulo, tais sofrimentos, quando
suportados com resignação, paciência e entendimento,
apagam erros passados e purificam o espírito que assim vai,
encarnação após encarnação, libertando-se
das imperfeições da matéria.
Muitas pessoas ainda ficam estupefatas quando afirmamos que o sofrimento
se faz necessário para a correção das falhas
que possuímos. Obviamente, as almas possuem a faculdade de
se melhorarem sem as dores e dificuldades infligidas na encarnação,
isto quando despertam para uma nova consciência de trabalho
em prol da reforma íntima e amor ao próximo. Entretanto,
é sabido que muitos desses espíritos ainda relutam em
se despojar dos vícios e das más inclinações.
Endurecidos e cegos pelo egoísmo e pela vaidade, não
conseguem se libertar dos sentimentos que aviltam o homem e, por isso,
carecem da expiação terrena para compreenderem melhor
os desígnios de Deus.
A expiação é, assim, a alavanca que move o espírito
estacionário ao caminho da perfeição.
b) Prova
Entendemos aqui a acepção prova como sinônimo
de aprendizado para o espírito. O Livro do Espíritos
nos ensina que, em sentido amplo, cada nova existência corporal
é uma prova para o espírito.
Prova não significa necessariamente sofrimento, como é
o caso da expiação, mas sim a aquisição
de novos conhecimentos em virtude de testes a que será submetido
o espírito encarnado.
Exemplificativamente, em uma nova existência o espírito
encarnado estará sujeito a provas de paciência, de tolerância,
de amor, de fé, de perseverança, entre outras, para
que possa se depurar e adquirir mais virtudes. É a reforma
íntima operando no espírito para que este possa um dia
atingir a perfeição.
c) Missão
Também oriunda do latim, missione, possui o sentido de encargo,
incumbência de realizar alguma coisa. Ora, todos os espíritos,
ao encarnarem, possuem uma missão pré-estabelecida que,
segundo os ensinamentos trazidos pelo Colégio Allan Kardec,
da cidade de Sacramento, em Minas Gerais, podemos denomina-la de planejamento
encarnatório.
Os espíritos mais adiantamos vislumbram quais as possibilidades
mais favoráveis ao adiantamento do espírito e, antes
deste encarnar, traçam um planejamento de toda a sua existência,
desde o nascimento até o desencarne. A família que o
receberá, as pessoas de sua convivência, o emprego, a
escola, as escolhas e as opções que deverá fazer
em sua encarnação.
Tais missões, de modo geral, enquadram-se em papéis
de maior ou menor intensidade, de acordo com a capacidade e a elevação
do espírito reencarnante. Não podemos confundir a missão
definida para cada espírito com a encarnação
de espíritos missionários, que são os avatares
incumbidos de grandes realizações no planeta, como é
o caso dos espíritos sublimes que nos trazem tantos ensinamentos
de conduta moral é ética. É por isso que preterimos
a palavra missão pelo vocábulo tarefa, pois nossas realizações
ainda são pequenas diante da grande responsabilidade assumida
por um espírito missionário.
Mas, são essas pequenas tarefas que nos ajudarão a crescer
moral e espiritualmente e que nos conduzirão ao reino de felicidade
anunciado por Jesus.
d) Cooperação
na Obra do Criador
Aprendemos no capítulo XI, item 24, da Gênese de Allan
Kardec, que o trabalho inteligente realizado pelo espírito
encarnado em seu proveito sobre a matéria, concorre para a
transformação e o progresso material do globo em que
habita; assim é que, progredindo ele mesmo, colabora na obra
do Criador, de que é agente inconsciente.
Todas as almas estão obrigadas a esta cooperação
de que fala a codificação kardequiana. Além daquilo
que temos a expiar, além das provas a que somos submetidos
e além de cumprir fielmente a missão ou tarefa a que
nos propomos, devemos colaborar com esta grande obra, que é
o alcance da perfeição humana.
Algumas almas mais preguiçosas poderiam esbravejar dizendo
o seguinte: quer dizer então que, além de sofrer (expiação),
ser submetido a testes (prova) e cumprir tarefas estipuladas em minha
vida (missão), ainda devo ajudar a Deus? E a resposta é
SIM. Obviamente que sim. Ninguém alcançará a
perfeição sozinho. Ninguém estará plenamente
feliz enquanto houver uma alma sequer sofrendo. A caridade trazida
como o caminho para a salvação é a máxima
cristã da mais pura beleza e veracidade. O capítulo
XIII do Evangelho Segundo o Espiritismo contém pérolas
de ensinamentos que trazem aos homens o real significado de uma existência:
auxiliar ao próximo em suas carências sem ostentação.
Eis a nossa verdadeira missão. A despeito da pergunta formulada
acima, Jesus fatalmente nos responderia o que segue: se desejosos
de atingires a perfeição, olhai primeiro para baixo
de vós, e vereis quantos estão a sofrer e padecer das
mais cruéis e inúmeras dificuldades da matéria.
Auxiliai primeiro estes para serdes auxiliados depois.
Trabalhando, sendo operosos e fazendo a nossa parte enquanto espíritos
encarnados, estaremos dando a nossa parcela de contribuição,
somo singelos operários a serviço do Grande Arquiteto
do Universo.
e) Ajudar
a Desenvolver a Inteligência
A encarnação também tem como escopo o desenvolvimento
intelectual do espírito. Todavia, essa gama de conhecimentos
que se adquire através das várias existências
deve servir para conduzir as inteligências retardatárias
ao Criador. Como nos ensina o Evangelho Segundo o Espiritismo, em
seu capítulo VII, a inteligência é rica de méritos
para o futuro, mas, sob a condição de ser bem empregada.
Se todos os homens que a possuem dela se servissem de conformidade
com a vontade de Deus, fácil seria, para os Espíritos,
a tarefa de fazer que a Humanidade avance.
Se o meio onde o espírito habita lhe favorece o aprimoramento
de seus conhecimentos, ele deverá reparti-lo com aqueles que
não tiveram as mesmas condições e oportunidades.
Por outro lado, cultura não é sinônimo de sabedoria.
De nada adianta a alma acumular conhecimentos de toda espécie
e não praticar o amor e a caridade em sua vida. Poderíamos
comparar essa inteligência a um automóvel muitíssimo
veloz e sofisticado, mas que não possui um hábil condutor:
fatalmente se chocaria por não estar governado por mãos
caridosas e amoráveis. Melhor seria possuir parcos recursos
intelectivos, mas conduzindo os ditames da vida com bom senso e discernimento,
auxiliando sempre aqueles menos afortunados do caminho.
6) CONSIDERAÇÕES FINAIS
Também se constitui como uma das finalidades da reencarnação
o refazimento do corpo perispiritual. É cediço que o
espírito desregrado, preso aos vícios e às paixões
que envilecem o homem, ao desencarnarem, podem chegar a perder sua
forma perispirítica. Assim como o suicida, que do mesmo modo
compromete gravemente o seu corpo fluídico, é dada a
oportunidade de uma nova existência tão-somente para
o restabelecimento desse corpo. Geralmente, essas encarnações
se dão de forma compulsória, sem a aquiescência
do espírito encarnante, mas a discussão mais detalhada
sobre esse assunto implicaria em delongar mais o nosso trabalho, o
que não é o nosso objetivo.
Desejamos aqui apenas ressaltar a importância do conhecimento
das finalidades da reencarnação para que possamos efetivamente
aplicá-las em nossas vidas, em todas as suas nuances. Expiando
nossas faltas, aprendendo com as provas a que somos submetidos, cumprindo
rigorosamente a missão (tarefa) a que nos propomos na pátria
espiritual, colaborando na grande obra da criação e
desenvolvendo nossa inteligência, estaremos dando largos passos
a caminho da evolução e, conseqüentemente, da nossa
própria felicidade.
Que o bondoso Mestre Jesus possa nos amparar diante dessa caminhada,
para que os fardos pesados se tornem mais leves e suportáveis
em nossa atual existência.