A “Visita da Velha Senhora” é baseada no texto
do dramaturgo suíço Friedrich Dürrenmatt, escrito
em 1955. A peça traz um olhar irônico sobre a fragilidade
dos valores morais, da justiça e da esperança. (1)
A genialidade do texto abre o caminho para reflexões sobre
o que é a justiça, a verdade e como a linha ética
se embaça com discursos coerentes sofistas que parecem justos,
mas contém interesses inconfessáveis.
Denise Fraga, atriz protagonista, em entrevista diz que “numa
sociedade que foi construída dando valor excessivo ao dinheiro
as relações afetivas estão ameaçadas".
Com o entrelaçamento entre um assunto sério e o humor
irônico, Denise acha que “as pessoas saem do teatro diferentes,
com o risco de pensar em ter novas escolhas na vida".
Relata o prazer de poder trazer assuntos reflexivos através
do humor e entretenimento. "Se há coisa que me deixa feliz
é quando consigo fazer alguém rir ao mesmo tempo em
que faço esta pessoa pensar".
O leitor concorda que a morte é tema que faz pensar? Teria
a morte a capacidade de fazer rir e fazer mergulhar em profunda reflexão?
Não há dúvidas de que o humor passa pelo domínio
cognitivo e é poderoso instrumento para também fazer
refletir.
Levei três netinhas ao teatro. No espetáculo uma menina
passou perto da morte, mas com a injeção do antibiótico
ela sobreviveu. Isto foi num musical infantil. “A Menina que
Mofou nas Férias.”(2)
Quando li o título, voltei ao laboratório na universidade.
Um dos personagens apresentava forte sotaque lusitano e outro o “uai”
dos mineiros do Brasil. Fiz regressão de memória. Meu
pai era português, minha mãe das Minas Gerais e os fungos
da Micologia. Estava me sentindo em casa.
A menina mofou nas férias, presa em casa, sem poder brincar
com as outras crianças na rua. Eu brinquei muito na rua. Naquela
época o Rio de Janeiro não era violento.
Sem pegar sol, aconteceu o inevitável, a pele da menina se
tornou esverdeada.
O médico, tendo nas mãos aquela seringa para pessoa
gigante, declarou: “minha senhora, sua filha mofou”. Podia
ter morrido!
Por falar em morte, o ator Renato Prieto (2)
explica porque ela é uma piada, num espetáculo espírita
de humor e reflexão.
![](../Artigos_img_03/Luiz_Formiga_Renato_Prieto.jpg)
Renato Prieto
Teatro é cultura. Cultura é
herança e transformação.
Na saída do teatro, depois que “a menina mofou nas férias”,
os atores se deixaram fotografar com as crianças. Pensei e
comentei: isso é que é um dinheiro bem gasto! Educação
para ser feliz. “Aquela que sabe o valor das coisas e não
o seu preço.”
Temos medo da morte. O que acontece depois dela? (3)
Para o espírita, o ser vai readquirir novas energias e reestudar
novos procedimentos. Chegará à fase de planejamento
de nova reencarnação, dentro dos limites das possibilidades,
dos seus méritos e das leis das probabilidades.
No aqui e agora, diante da morte, a experiência pode conduzir
a pessoa a se perceber única, impulsionando a própria
transformação. Ela, enquanto angustiada, se singulariza,
uma vez que, diante da prova final só ela pode ser o que ela
é. Isso aconteceu com os apóstolos, diante da crucificação
de Jesus.
Qual a conduta espírita diante da cultura? (4)
“Repelir, sem crítica azeda, as expressões artísticas
torturadas que exaltem a animalidade ou a extravagância. O trabalho
artístico que trai a Natureza nega a si próprio.”
Temos visto “coisa ruim” divulgada, mas “a arte
enobrecida é aquela que estende o poder do amor.”
Miguel Vives (5) lembra-nos que o espírita
tem o dever de instruir-se, de integrar-se na cultura do seu tempo.
Advoga que o Espírito da Verdade trouxe-nos um mandamento novo:
“Espíritas, amai-vos, eis o primeiro ensinamento;
instruí-vos, eis o segundo.”
No entanto, há espíritas que ainda não compreenderam
quase nada do Espiritismo, e apesar de Nele se encontrarem há
vinte, trinta ou mais anos, continuam a pensar que não precisam
instruir-se. “Para mim, basta a fé”, dizem e fecham
os olhos diante da luz da Nova Revelação.
A fé espírita, como a definiu Kardec, é a raciocinada,
ou seja, a iluminada pela razão.
De que luzes disporá a razão, para com ela iluminar
a fé, se não tivermos instrução?
O espírita não precisa ser sábio, mas também
não deve ser ignorante. Como vai sustentar a sua fé
e com ela auxiliar os que sofrem a cegueira do ateísmo, do
materialismo? Não há lugar para beatos no Espiritismo.
Como amar o próximo sem ajudá-lo a instruir-se, a esclarecer-se,
a libertar-se das superstições, das mentiras, dos falsos
juízos?
Hoje, a instrução se difunde na Terra por todos os meios,
e o espírita só não se instruirá se não
quiser. As instituições espíritas devem tornar-se
casas de instrução, de cultura geral. (6)
Jesus nunca disse que seria fácil. As escolas do mundo ensinam
o materialismo, ao lado do dogmatismo religioso. Difundem conhecimentos
e superstições em mistura, semeando o ateísmo.
“Se sabeis essas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes”
disse Jesus em João, 13:17. (7)
A essa cultura que leva à cegueira espiritual é que
os espíritas devem confiar os seus filhos e as gerações
futuras?
A enorme facilidade de difusão da cultura, que caracteriza
o nosso tempo, pode ser um meio de envenenar e perverter gerações.
Teremos o direito de deixar que se processe o envenenamento coletivo?
Miguel Vives conclui que o espírita não tem o direito
de acomodar-se na poltrona da fé ingênua e simplória:
seu dever é estudar e esclarecer-se quanto aos princípios
da sua própria doutrina.
Reencarnação existe? (8)