Aula 5 :
Contribuições da Matemática : Periódicos
espíritas
1.
CONTRIBUIÇÕES DA MATEMÁTICA
Na aula anterior, iniciamos a falar
sobre alguns tópicos de pesquisa multidisciplinar entre a
Ciência e o Espiritismo. Hoje, comentaremos sobre uma interessante
pesquisa na área de Matemática.
MATEMÁTICA:
Recentemente, dois artigos de nossa autoria foram publicados na
revista Fidelidade ESPÍRITA [1,2]
onde comentamos os resultados interessantes de alguns trabalhos
na área de Matemática Aplicada. Trata-se de uma divulgação
dos resultados de pesquisas com a chamada Teoria de Jogos. Essa
teoria foi desenvolvida para, entre outras coisas, estudar o comportamento
de grupos sociais com aplicações na área de
Economia. Veremos uma relação entre os resultados
das pesquisas acima e alguns conceitos morais.
Um tipo de “jogo”
é conhecido como o jogo dos bens públicos. Nesse jogo,
os participantes recebem uma determinada quantia inicial para investirem
em uma atividade rentável comum. Segundo as regras, a soma
de todo o valor investido é dobrada e depois repartida igualmente
entre todos os participantes. O máximo lucro que o grupo,
como um todo, pode obter ocorre se todos investirem tudo o que tem.
O mínimo lucro ocorre quando ninguém investe nada.
A decisão de investir algum valor é considerada como
sendo uma atitude cooperativa dentro do jogo e a de não investir
como não-cooperativa. Existe, neste jogo, uma tentação:
não investir nada e receber os lucros do investimento dos
outros jogadores. Apesar da soma total dos lucros do grupo ser menor
nesse caso, o jogador que não investe mas recebe parte do
lucro, às custas dos outros, termina a rodada do jogo com
mais dinheiro do que se ele tivesse investido algum valor (faça
as contas para ver!).
No entanto, uma atitude não-cooperativa
motiva os outros jogadores a não-cooperarem e o grupo, após
algumas rodadas, tende para o lucro mínimo. Os cientistas
decidiram fazer uma análise computacional de estratégias
diferentes para verificar qual delas leva a um maior lucro do grupo.
A simulação numérica consiste em considerar
um grupo elevado de indivíduos que, a cada rodada, decidem
se cooperam ou não-cooperam de acordo com a estratégia
adotada pela maioria dos vizinhos mais próximos. Alguns exemplos
de estratégias são só-cooperar, só-não-cooperar,
cooperar se os outros cooperarem, etc. O resultado obtido mostra
que a atitude de somente cooperar favorece o progresso do grupo
enquanto que não-cooperar leva ao prejuízo total.
Esse resultado é bastante lógico mas não corresponde
à realidade já que as pessoas são diferentes
e adotam estratégias diferentes. Os cientistas, então,
testaram a estratégia de cooperar se os outros cooperarem.
Ela só funciona se ninguém não-cooperar. Basta
que um indivíduo não-coopere para que todos passem
a não-cooperar. Essa situação parece um pouco
mais real por considerar a reação perante as estratégias
dos outros, mas ainda não corresponde à realidade.
Curiosamente, os cientistas testaram a seguinte estratégia:
cooperar algumas vezes mesmo que o outro não-cooperar. O
resultado obtido foi que o grupo evolui para uma situação
em que os lucros são maximizados beneficiando a todos. Isso
ocorre pois as pessoas desejam obter lucros e até aceitam
algum equívoco por parte de um vizinho e só decidem
parar de colaborar quando percebem que o grupo realmente não
está ajudando. Mas o detalhe que é de interesse para
nós é o fato de que se reagirmos cooperando mesmo
diante de algumas não-cooperações, o grupo
progride. Esse resultado verificado matematicamente ilustra
o que o Evangelho ensina: retribuir o mal com o bem. Mesmo
que isso pareça prejuízo para nós, num primeiro
momento, a atitude de perdoar, esquecer e, se possível, ajudar
aquele que nos “persegue e calunia” certamente resultará
em progresso espiritual para nós e para ele.
Existe um outro tipo de jogo chamado
jogo do ultimato, onde dois indivíduos são chamados
para dividir uma quantia de R$100,00, por exemplo. Pelas regras
do jogo, um dos jogadores faz a proposta de divisão da quantia
e o outro decide se a aceita ou não. Se o outro jogador aceitar
a proposta de divisão, ambos ficam com o dinheiro conforme
proposto; se ele recusar a proposta, ambos saem com nada. Analisando
esse jogo do ponto de vista puramente racional, o jogador que faz
a proposta de divisão deve fazer a oferta de menor valor
possível enquanto que o outro jogador deve aceitá-la
pois receber qualquer valor, mesmo que baixo, é melhor do
que não receber nada.
No entanto, pesquisas realizadas
com pessoas no mundo inteiro (ver artigo da referência [3])
mostraram que a maioria daquelas que fazem a proposta, oferece valores
próximos de 50% da quantia inicial, e a maioria das pessoas
na posição dos que aceitam ou não uma proposta,
rejeita ofertas menores que 30%. Esse resultado é considerado
pelos cientistas, sem teor pejorativo, como irracional. Uma das
explicações para isso considerada pelos cientistas
é que as pessoas, durante a vida, interagem mais de uma vez
umas com as outras fazendo com que aqueles que rejeitam ofertas
menos justas adquiram uma reputação que favorece o
recebimento de ofertas mais justas no futuro.
O que é digno de nota, é
que esse resultado demonstra cientificamente que a Humanidade
já progrediu no ponto de vista moral. A vida em
sociedade levou a Humanidade a buscar formas mais justas de interação
entre os seus membros. Isso demonstra a afirmativa dos espíritos
nas questões 766 e 767 do Livro dos Espíritos,
de que os homens foram feitos para a vida em sociedade e que todos
devem concorrer para o progresso.
Nas próximas aulas comentaremos
sobre as contribuições e dificuldades no relacionamento
entre a Física e o Espiritismo.
2. PERIÓDICOS ESPÍRITAS
O movimento espírita dispõe
de muitos periódicos espíritas. Jornais e revistas,
impressos em papel ou hospedados em bonitas e modernas “homepages”,
divulgam o conhecimento espírita em todo o nosso país
e no mundo.
Nesta aula, vamos discutir como
os periódicos espíritas podem contribuir para o desenvolvimento
de estudos espíritas de caráter científico,
identificando alguns problemas e fazendo algumas sugestões.
Vejamos, primeiro, a importância da criação
da Revista Espírita pelas próprias palavras de Kardec
(ref. [4], pág. 2):
“Seria desnecessário
contestar a utilidade de um órgão especial, que ponha
o público a par do progresso desta nova Ciência e a
premuna contra os exageros da credulidade, tanto quanto do cepticismo.
É uma tal lacuna que nos propomos preencher com a publicação
desta Revista, com o fito de oferecer um meio de comunicação
a todos quantos se interessam por estas questões e de ligar,
por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita
sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem
e a caridade evangélica para com todos.” (Grifos
nossos) Mais adiante, na mesma referência anterior,
Kardec diz: “O exame raciocinado dos
fatos e das consequências deles decorrentes é, pois,
um complemento, sem o qual nossa publicação seria
de medíocre utilidade e apenas ofereceria um interesse secundário
a quem reflete e quer dar-se conta do que vê.”
(grifos nossos)
Vemos que Kardec apresenta e define
os objetivos da Revista Espírita de uma forma que podemos
considerar como científica não só porque nasceu
dedicada ao aprimoramento e progresso desta nova Ciência,
mas porque os periódicos científicos possuem as características
acima destacadas. Podemos dizer que, de uma certa forma, toda a
comunidade científica está ligada através das
publicações em periódicos especializados. Hoje
em dia, todas as ciências (e mesmo áreas ainda não
científicas) dispõem de periódicos específicos
através dos quais os trabalhos de pesquisa são divulgados.
Nenhuma ciência ou área do conhecimento humano progrediu
sem o concurso desse tipo de publicação e o movimento
espírita, desde à época de Kardec, não
prescindiu dessa importante ferramenta de divulgação
e desenvolvimento.
Hoje, os periódicos espíritas
têm contribuído com muita eficiência para que
sejam criados e mantidos os laços entre os espíritas.
De vários anos pra cá, o interesse do movimento espírita
no aspecto científico do Espiritismo cresceu bastante em
decorrência do desenvolvimento natural das ciências
ordinárias. Cresceu, também, a preocupação
de vários companheiros espíritas em buscar concordâncias
entre os conceitos espíritas e aqueles oriundos das novas
teorias como, por exemplo, os da Física.
Entretanto, o processo editorial
atual de publicação de artigos e livros espíritas
não permite que os editores e responsáveis pelas publicações
possam avaliar, com segurança, a parte técnica do
conteúdo das mesmas, se limitando a verificar o aspecto doutrinário.
O exame raciocinado dos novos fatos e teorias (como Kardec recomendou
no trecho acima) não está ocorrendo pois é
impossível, nos dias de hoje, que um editor tenha formação
em diversos campos do conhecimento.
Assim, sugerimos que os periódicos
espíritas que publiquem artigos e matérias de teor
científico, adotem o chamado processo de análise
por pares, explicado na aula anterior. Isso permitiria
que o exame raciocinado de todo material científico pudesse
ser realizado prevenindo o Movimento Espírita contra possíveis
excessos de credulidade e de cepticismo (parafraseando
Kardec) com relação aos conteúdos de ordem
técnicos e científicos. O Boletim do GEAE,
de forma informal (e inédita no Movimento Espírita),
já vem realizando esse tipo de processo, seja através
da análise que os membros do Conselho Editorial podem realizar,
de acordo com a especialidade de cada um, seja através de
pedidos de análise junto a companheiros espíritas
com formação e experiência em determinada área
específica do conhecimento.
Estamos vivendo um momento na História
onde os conhecimentos estão muito desenvolvidos e crescem
de forma muito rápida e especializada. Somente os profissionais
de uma determinada área podem realizar um exame raciocinado,
como mencionado e recomendado por Kardec, de uma proposta ou idéia
nova que relacione o Espiritismo a tal área.
É preciso lembrar que o
trabalho de divulgação do Espiritismo e do desenvolvimento
de idéais e conceitos novos está constantemente sendo
avaliado pela sociedade e os olhos da crítica são
altamente especializados. É preciso que o Movimento Espírita
tenha mais certeza sobre tudo aquilo que diz e publica. O próprio
progresso no conhecimento requer que cada pesquisador e estudioso
espírita busque as informações necessárias
para assegurar a validade dos resultados de suas pesquisas. O
Movimento Espírita não pode prescindir do exame raciocinado
a que Kardec se referia e o método de análise por
pares é um importante auxiliar para que editores e editoras
espíritas realizem esse exame raciocinado e ofereçam
aos leitores mais certeza sobre o conteúdo divulgado.