Este artigo apresenta um exame preliminar de dois
cultos religiosos populares que ocorrem atualmente no Nordeste do
Brasil. Em dois cemitérios, no Rio Grande do Norte, o cangaceiro
Jararaca e o ladrão homicida Baracho (espécie de ‘serial
killer’, conhecido como ‘matador de motoristas’),
são objetos de devoção religiosa por parte de
crentes que afirmam ter alcançado milagres por seu intermédio
ou que acreditam que virão a alcançá-los por
meio de promessas que então, à beira de seus túmulos,
não hesitam em fazer. A fé em seus milagres convive
com a memória dos feitos dos bandidos que foram em vida, narrados
com um misto de admiração e reprovação
moral.
O tradicional modelo do bandido social, que
rouba para dar aos pobres, vem então em seu socorro, de modo
a permitir uma continuidade entre o passado criminoso e o presente
‘santificado’. Dentre os fatores centrais nesse processo
de ‘santificação’ do bandido, segundo o
discurso dos entrevistados, estão a morte violenta e o sofrimento
físico e moral a ela associados.
O quadro esboçado aqui mostra-nos que se trata
de santos muito especiais, isto é, santos precários,
posto que sua santidade é objeto de constante controvérsia
e contestação mesmo por aqueles que acreditam em seu
poder de operar milagres. E parece ser mesmo isso o que os torna tão
interessantes, mesmo do ponto de vista dos seus adeptos.
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Eliane Tânia Martins de Freitas
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Brasil