Allan Kardec afirma que os homens
atuais são Espíritos que vieram para se aperfeiçoar
em novos corpos. E o estado de infância é relevante para
o Espírito desenvolver novos hábitos, novos comportamentos,
novos valores, e uma inteligência emocional, para que ele possa
de uma forma consciente aprender a lidar primeiramente consigo mesmo
e depois com os outros. A base de tudo isso é a capacidade
de lidar com as emoções, pois a mente emocional é
muito mais rápida que a racional, agindo irrefletidamente,
sem parar para pensar, ou seja, a ação vem antes do
pensar, por isso que muitas atitudes e comportamentos nos fazem sofrer,
porque não pensamos antes. E por que não pensamos antes?
Porque não aprendemos desde criança a perceber o que
sentimos e administrar positivamente antes de reagir. Emoção
é qualquer agitação ou perturbação
da mente. Saber lidar com as emoções é essencial
para viver de forma saudável.
A criança desde o nascimento,
necessita de estímulos para desenvolver habilidades emocionais
importantes para crescer com autoestima, autoconfiança, se
respeitando-se para depois respeitar o outro. Os pais e educadores
podem estimular as crianças a se perceberem, ou seja, a observarem
a si mesmas, saber o que estão sentindo e exteriorizarem através
da verbalização; estimular as crianças a ouvirem,
a usarem a criatividade e confiarem em si mesmas, estimulando-as a
fazer coisas que não acreditavam ter capacidade; estimular
as crianças a valorizarem o esforço cooperativo, a compartilhar,
a enfrentar o medo do fracasso, mostrando as possibilidades de ganhar
e perder como normalidade na vida de todos. Estimular o humor para
minimizar a dor e o desconforto. O humor dá à criança
uma variedade de formas de lidar com o estresse e a ansiedade.
A capacidade de humor começa
na primeira semana de vida. Por volta das seis semanas de idade, a
mãe pode colocar um lenço no rosto e rapidamente retirá-lo
e receber um sorriso do bebê.
Ensinar as crianças a praticarem
ações gratuitas de amabilidade, como agradecer às
pessoas, telefonar para um amigo adoentado, perguntar: como vai você?
Enfim, estimular a criança a praticar ações altruístas.
É extremamente importante envolver
as crianças em serviços comunitários adequados
a elas, pois irão aprender a se preocuparem mais com os outros,
irão aprender a importância da cooperação,
o valor da perseverança, etc.
Algumas atividades que as crianças
poderão interagir: ajudar a preparar sopa para servir aos carentes,
filiar-se a uma organização para salvar espécies
ameaçadas de extinção, engajar-se em projetos
de limpeza do bairro, ler para idosos em asilos, dar aulas a crianças
menores, etc. Acredito que os trabalhos comunitários devem
fazer parte da vida de todos nós, principalmente na infância,
onde as crianças irão estimular a prática da
caridade e do respeito ao planeta e a tudo que foi criado por Deus.
Para termos uma sociedade mais justa,
lares harmoniosos, segurança nas ruas e a integridade dos valores
éticos e morais, precisamos estimular o desenvolvimento moral,
que significa emoções e comportamentos que reflitam
preocupação com os outros: compartilhar, ajudar, cuidar,
ser tolerante e ter disposição em seguir regras sociais.
O desejo de cuidar dos outros faz
parte do nosso código genético. Podemos observar exemplos
de comportamento moral em animais. As formigas operárias se
expõem frequentemente ao perigo para chamar a atenção
dos outros quando suas colônias são atacadas. Pássaros
fêmeas foram observadas simulando estarem feridas e se mudando
do ninho como tentativa de distrair um inimigo de seus filhotes.
Se iniciarmos o trabalho em prol de
nós mesmos, dos animais, das aves, cuidando do ar, da água,
da terra, entraremos novamente em harmonia com as leis universais
e assim estaremos interligados positivamente sem culpas ou remorsos,
pois a lei de causa e efeito é um fato e precisamos recuperar
o que desarmonizamos e as crianças precisam desde já
aprender a respeitar tudo que existe no planeta, pois outros seres
irão reencarnar para usufruir de tudo, como nós também
usufruímos para evoluirmos.
A educação das crianças
para valorizarem o esforço durante toda sua vida deve iniciar
o mais cedo possível. As crianças precisam ser preparadas
para enfrentar situações difíceis, frustrantes
ou até traumáticas, como: perda de entes queridos, separação
dos pais, doença na família, mudanças em geral.
Elas precisam, enfim, ser estimuladas a viver de forma otimista, mas
realista, onde aprendem que os problemas fazem parte da nossa vida
e eles muitas vezes nos mostram novos caminhos, até a força
interna que temos para enfrentá-los.
As crianças precisam ser informadas
mas também preparadas para viverem a vida de forma adequada
com menos culpas, remorsos, medos, etc., enfim, é importante
que elas sejam trabalhadas para viverem livres de sentimentos negativos
e se aproximarem de sentimentos positivos como a fé, confiança,
respeito, carinho, alegria, otimismo, autoconfiança e dignidade,
que fazem as crianças crescerem dignas, com estima suficiente
para lidar com a vida, sem buscar caminhos de fuga pelas drogas, comportamentos
agressivos, violência, etc.
É o respeito, as crianças
precisam ser bem tratadas, dignamente; os pais precisam aprender a
ouví-las, aceitarem suas ideias (mesmo as mais esdrúxulas)
depois conversar e mostrar outras ideias, com amor, carinho, respeito
ao que elas dizem, pois sabemos que trazem bagagens espirituais boas
e ruins que precisam ser trabalhadas adequadamente, sem espantos ou
desesperos, pois são Espíritos que reencarnaram exatamente
para serem auxiliados em suas necessidades morais e intelectuais.
Respeitar as crianças não
quer dizer deixá-las sem limites ou sem rumo. Existem três
estilos de pais:
1- Pais autoritários
- aqueles que estabelecem regras rígidas e esperam que elas
sejam obedecidas, mandam nos filhos, desencorajando-os de expressar
suas emoções, sentimentos, ideias, opiniões,
etc.. Os filhos se tornam extremamente inseguros, frustrados com autoestima
bem baixa, tendem a ser infelizes, retraídos e desconfiam dos
outros.
2- Pais liberais
- aqueles que buscam ser o mais aberto e tolerante possível,
mas tendem a ser passivos quando se trata de estabelecer limites ou
reagir a uma desobediência. Não fazem maiores exigências,
nem têm objetivos claros para seus filhos, acreditando que devem
permitir que se desenvolvam de acordo com suas inclinações
naturais. Um grande perigo, pois os filhos precisam de limites e sem
eles fica difícil fazerem boas escolhas, principalmente porque
não se sabe quais as inclinações do Espírito
reencarnante. Os filhos agem exatamente conforme o que trazem de tendências
e ficam completamente sem rumo, sentem-se desvalorizados, agressivos,
arrogantes, orgulhosos e se acham os donos de si e dos outros.
3- Pais com autoridade
- conseguem estabelecer equilíbrio e limites claros em um ambiente
protetor e educativo. Eles orientam, mas não controlam, explicam
o que fazem e ao mesmo tempo permitem que os filhos participem de
decisões importantes. Valorizam a independência dos filhos,
mas exigem deles um alto padrão de personalidade para com a
família, amigos e a comunidade. Os filhos são confiantes,
seguros, decididos, buscam vencer na vida, sem prejudicar a ninguém.
Respeitam a si e aos outros.
A religião desempenha um papel
importante na formação moral e cultural da criança,
principalmente quando dá uma visão da imortalidade,
da reencarnação, do amor a si mesmo e ao próximo.
Edifica a personalidade quando os fundamentos são dignos, sem
puritanismo, sem preconceito, sem hipocrisia, sem castração.
Ensina o ser humano a ter respeito a si e ao outro e a tudo que Deus
criou. Tem como fundamento maior ligar o homem a Deus com todo amor
possível. É o grande encontro na mais pura harmonia.
Allan Kardec mais uma vez nos chama
à reflexão quanto à questão do progresso
do homem na Terra. Fala sobre o orgulho e o egoísmo como sendo
os maiores obstáculos para o progresso moral e afirma que a
humanidade progride por meio dos indivíduos que se aperfeiçoam
pouco a pouco e se esclarecem. Então, quando eles prevalecem
em número, tomam a frente e conduzem os outros.
Léon Denis nos banha com a
luz do seu conhecimento, dizendo “O homem é o obreiro
de sua libertação. O estado completo de liberdade atinge-o
no cultivo íntimo e na valorização de suas potências
ocultas. Os obstáculos acumulados em seu caminho são
meramente meios de obrigá-lo a sair da indiferença e
a utilizar suas forças latentes. Somos todos solidários
e a liberdade de cada um liga-se a liberdade dos outros.“
Kátia Curugi Flocke é psicóloga.