Abrindo O Livro dos Médiuns,
deparamos logo de início, na sua introdução,
com a afirmativa de Kardec sobre as dificuldades e desilusões
encontradas na prática espírita, que decorrem da ignorância
dos princípios doutrinários. Mais adiante, ele continua
fazendo observações importantes, tais como: "A
prática espírita é difícil, apresentando
escolhos que somente um estudo sério e completo pode prevenir".
Experiências feitas com leviandade, sem conhecimento de causa,
provocam péssima impressão nos principiantes ou pessoas
mal preparadas, tendo o inconveniente de dar uma idéia bastante
falsa do mundo dos espíritos, favorecendo a zombaria e dando
motivos a críticas quase sempre bem fundadas. “É
por isso que os incrédulos saem dessas reuniões raramente
convencidos e pouco dispostos a reconhecerem os aspectos sérios
do Espiritismo”.
É evidente que Kardec não falava só para o
seu tempo. Prevendo o progresso do Espiritismo, e o aumento crescente
de interesse com relação a ele, alertava sobre a responsabilidade
dos dirigentes e médiuns das reuniões espíritas
de todos os tempos quanto aos compromissos da preservação
e defesa da pureza doutrinária.
Pelo que temos observado em visitas a um número considerável
de Centros e através de informações idôneas,
a preocupação de Kardec não era sem propósito.
Os desvirtuamentos, as invenções, as infiltrações
de idéias e práticas antidoutrinárias são
uma realidade em muitas "Casas Espíritas" do nosso
Estado, quiçá do Brasil.
Dentre as novidades que nada têm a ver com o Centro Espírita,
podemos destacar, muito embora respeitáveis em suas respectivas
áreas, a Radiestesia, a Cromoterapia,
a TVP e outras, que não devem ser consideradas
atividades do Centro.
Há ainda práticas e orientações fantasiosas
que não podem e nem devem ser incluídas como propostas
da Doutrina Espírita. Elas são frutos da falta de
conhecimento, da ignorância e até da irresponsabilidade
de dirigentes e colaboradores, muitas vezes mal intencionados, que
não visam outra coisa se não o poder, a projeção,
o destaque pessoal, colocando seus interesses particulares acima
da Causa.
É verdade que existem muitos Centros Espíritas que
desenvolvem suas atividades fundamentadas nos norteamentos Kardecistas,
com estudos sérios, atendimento fraterno, orientação
doutrinária segura, critérios corretos e aplicação
da ética espírita em todos os sentidos, mas há
inúmeros que se utilizam da denominação "Espírita",
estando, no entanto, totalmente distanciados dos postulados da doutrina.
Essa é uma realidade, dela temos que ter conhecimento. Por
exemplo: há "Centros Espíritas"
que benzem objetos, roupas e fotografias, que se dedicam em pesquisas
sobre vidas passadas com objetivos escusos, que fazem revelações
sensacionalistas de vidências, provocando desajustes em pessoas
psicologicamente despreparadas, que fazem das reuniões mediúnicas
um espetáculo, e ainda outros que são dirigidos só
por "Missionários", sem contar com outra categoria
de "Centros" que caracterizam todos que os procuram como
doentes e obsedados. Não bastassem esses, há os que
até recebem comunicações de espíritos
vindo de outras galáxias, que indicam o uso do defumador
para a solução dos problemas humanos, que introduzem
hinos em suas reuniões, que realizam batizados e casamentos,
e dão às suas reuniões um caráter eminentemente
ritualístico.
Esses "Centros", em termos de orientação,
acabam extrapolando e entrando no terreno movediço do "Achismo".
Respondem sobre tudo sem o mínimo embasamento doutrinário,
bom senso e critério. Os seus dirigentes e médiuns,
via de regra, transferem a responsabilidade de suas opiniões
aos espíritos, afirmando não serem eles os autores
das ideias e sim os mentores. São pródigos nos aconselhamentos
e orientações estapafúrdias e pueris, que conduzem
as criaturas a uma visão errônea a respeito dos fundamentos
e ensinamentos do Espiritismo, provocando com isso, em alguns casos,
processos de perturbação e obsessão.
É o ressurgimento da mágica, do mistério, da
fantasia, do maravilhoso e do sobrenatural, contrastando diametralmente
com a visão espírita a respeito dos fatos. Kardec
ainda no Livro dos Médiuns, cap.
II, observa que "o Espiritismo não aceita todos
os fatos considerados maravilhosos. Longe disso, demonstra a impossibilidade
de muitos deles e o ridículo de algumas crenças que
constituem, propriamente falando, a superstição".
Até no campo da administração do Centro Espírita
encontramos casos absurdos em que os espíritos, através
de "médiuns confiáveis do grupo",
elaboram chapas de eleição para a direção
da entidade, atestando a incompetência dos encarnados para
dirigirem a obra.
Para reforçar o nosso enfoque, passamos a relatar alguns
casos, dentre outros tantos que tivemos a oportunidade de vivenciar
ou conhecer. Retratam o triste quadro do mediunismo introduzido
como sendo prática mediúnica à luz da metodologia
espírita. Na realidade, são verdadeiros focos de mistificações
que só retardam o progresso e o crescimento espiritual de
seus participantes - médiuns, dirigentes e assistentes:
Um médium que conhecemos trabalhava numa Casa Espírita,
dedicando algumas horas de trabalho em reunião de desobsessão.
Premido pelas circunstâncias, necessitou reduzir a sua atividade
doutrinária no grupo. Recebeu, por isso, advertência
do dirigente do trabalho, de que estava sendo envolvido por atuação
dos espíritos das trevas, tornando-se, assim, candidato a
uma grave obsessão.
Será essa a atitude de espíritos responsáveis
que dirigem reuniões sérias?
O presidente de uma Casa Espírita, onde fomos recebidos,
afirmou certa feita, que o seu grupo tinha ligação
com a Espiritualidade superior através de um canal de luz,
que descia das alturas e vinha até o meio da sala do "seu"
Centro, por onde desciam e subiam espíritos superiores, achando
que esse era o único canal de ligação entre
o plano espiritual e a terra.
Onde está a lógica e o bom senso?
Temos notícia de um Centro que tem um estatuto que elegeu
o seu presidente vitaliciamente, enquanto encarnado, e "mentor"
do Centro após o seu desencarne. Tudo isso por inspiração
do Dr. Bezerra de Menezes.
Pasmem, senhores! Envolveram no esquema, até o nome desse
respeitável espírito.
Depois de realizar palestra numa Casa Espírita, falando sobre
"O que não é Espiritismo",
fomos convidados após a exposição, para assistir
à parte prática da noite. Havia vários médiuns
na mesa.
Algumas comunicações repetitivas. Ao final, o Presidente
do Centro, que também era dirigente do trabalho e "médium
de cabeceira da mesa", recebendo o "mentor",
disse que a reunião tinha sido muito bonita, mas que ele
não concordava com muita coisa que a doutrina ensinava, acrescentando
que ali somente as suas orientações eram válidas.
Segundo o citado "mentor", Kardec tem
muita coisa a aprender.
Outra coisa aconteceu num Centro Espírita da capital. Sala
super-lotada. Pessoas com senhas numeradas na mão para receber
o passe. A mesa repleta de papeletas e fotografias de todos os tamanhos.
Preparação do ambiente. Prece recitada. Em seguida,
a entrada de uma médium com postura robotizada, vestida toda
de branco, roupa estilo camisolão, cantando hinos sacros
usados nas cerimônias ritualísticas de conhecida religião.
Mas a coisa não parou por aí. À medida em que
a palestra se desenrolava, a referida senhora saía de trás
de uma cortina que separava a sala de passe do salão, e em
voz alta chamava pelo número o candidato ao passe, que não
retornava ao salão de reunião pública após
ter sido atendido, esvaziando-se, paulatinamente, o local.
Tudo muito estranho e preocupante para mim. Diante disso tudo, vejamos
o que tem a nos dizer o Prof. José Herculano Pires, no livro
de sua autoria, denominado "O Centro Espírita":
"Os dirigentes de Centros
precisam tomar conhecimento desses absurdos e lutar contra eles,
porque essas invencionices ridículas atrasam o desenvolvimento
da Doutrina e afastam dos Centros as pessoas que sabem pensar. Que
os dirigentes, por mais modestos que sejam, não se esqueçam
da bússola que lhes permitirá navegar com segurança
nas águas tumultuosas: a Codificação de Allan
Kardec. Kardec é a base e a cúpula da Doutrina, com
apoio que nunca lhe faltou do Espírito da Verdade. Se não
queremos novidades é porque os novidadeiros somente se apóiam
em suas pretensões individuais".
Os dirigentes espíritas precisam tomar conhecimento de que
não se pode misturar uma doutrina científica e filosófica
como é o Espiritismo com práticas que não se
coadunam com ela. Não se trata de um repúdio, mas
de uma questão de método e cultura.
O Centro Espírita bem dirigido por pessoas sensatas e estudiosas
é uma concha acústica em que ressoam as vozes e os
pensamentos dos Espíritos e dos homens, no diálogo
dos mundos, pois nele se encontram o mundo espiritual e o mundo
terreno, nas possibilidades abertas pelos dons mediúnicos
de que todos dispomos.
Os que deturpam a finalidade superior do Centro Espírita,
sejam dirigentes ou freqüentadores, só interessados
em vantagens imediatas, perdem a oportunidade de se elevarem a uma
visão superior do mundo, do homem e da vida. Se cada freqüentador
do Centro Espírita quiser ajudá-lo na sua missão
superior de preparar os homens para um mundo melhor, a dinâmica
do Centro intensificar-se-á para o bem de todos.