(1) Extraído do livro de ensaios espíritas
ditadas por Erasto para seu médium Abel d’Islam - Projeto
Allan Kardec. Extraído do livro dos ensaios espíritas
ditados por Erasto ao seu médium. (Traduzido do francês
pela equipe do Geak / Ipeak).
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"Desde muito longo tempo a humanidade tem feito
um monstro horroroso dessa época da vida dos seres a que os
homens chamaram morte; é tempo de mostrar-lhes que esse símbolo
da destruição jamais existiu, exceto na imaginação
de algumas gerações imperfeitas que, até hoje
têm vindo, sucessivamente, povoar e animar a Terra. É
estranho que, por uma aberração inexplicável
da inteligência que se desenvolveu subitamente nos últimos
séculos, uma semelhante quimera tenha podido se perpetuar por
tão longo tempo e ainda hoje provocar o terror na alma dos
tímidos e dos fracos e a perturbação no coração
dos valentes e dos fortes.
A morte é o bicho-papão antigo inventado por pérfidos
Espíritos para manter sob tutela a humanidade ainda adolescente.
Porém, no presente, que a virilidade e o pensamento profundo
tomaram lugar no coração e no cérebro dos homens,
é tempo de fazer justiça a esse espantalho ridículo.
Com efeito, a morte nesse sentido que lhe é atribuído
jamais existiu, não existe e jamais existirá; e essa
horrível conclusão da vida, encarada como o fim irrevogável,
irremediável de tudo o que vive é, em definitiva, apenas
uma ficção, uma mentira odiosa, uma vez que nada acaba,
mas tudo se transforma, materialmente falando, na natureza inteira.
Espantoso! Em vão a química, com seu cortejo de alambiques,
de retortas, de cadinhos, veio provar, de maneira irrefutável,
que nada desaparece, que nada acaba ou se aniquila na matéria,
mas que ela se modifica ou se transforma segundo tais ou tais condições;
em vão a análise, exata e peremptória como um
número, veio demonstrar que, nesse caso, todos os princípios
elementares, todos os átomos moleculares se encontram exatamente
sob a segunda como sob a primeira fórmula ou combinação;
os homens, no entanto, continuam a estremecer ao pensar na morte.
Ah, como poderia ser de outra maneira, quando os cientistas que descobriram
e constataram a imutável verdade da transformação
e repeliram como falsa e mentirosa a teoria ignorante do aniquilamento
da matéria, são os primeiros a tremer com a aproximação
da pálida visitante que apenas vem abrir as portas da prisão
onde a alma deles está presa? Ah, é que esses doutores
que creem na eternidade da matéria, acreditam apenas na matéria;
eles negam a alma que os faz pensar porque ela é inacessível
aos seus instrumentos; eles desconhecem Deus, que os criou, porque
ele escapa às suas opacas lunetas. Oh! Quão ignorantes
são todos esses doutos! Estúpidos moutons de Panurge!
(2) Até quando saltareis nas
valas do absurdo e da contradição? O quê! Reconheceis
e constatais que a matéria apenas sofre transformações,
que nenhum átomo, nenhuma molécula se aniquila; que
tudo se encontra no recipiente, na balança ou no cadinho, peso
por peso, quantidade por quantidade, elemento por elemento; recomporeis
mesmo, novos Prometeus, corpos que decompusestes. Os mais adiantados
entre vós não chegaram ao ponto de dizer que se tivessem
recipientes convenientes, instrumentos melhor acabados, reativos mais
fortes e mais sutis, eles comporiam e decomporiam para recompor com
os mesmos elementos todos os compostos da matéria, inclusive
o corpo humano? Depois disso, ainda credes nesse erro lúgubre
do nada, que personificais no símbolo da Morte! Vamos, vamos,
essa comédia está sendo encenada há bastante
tempo para grande alegria dos Espíritos inferiores; cabe ao
Espiritismo, enfim, baixar a cortina sobre essa farsa de mau gosto.
Examinemos um pouco, tomando corpo a corpo, esse fantasma terrível
que se desvanece quando dele nos aproximamos, e veremos que a morte
é a condição mais essencial, mais real, mais
palpável da vida do eu psicológico, do Espírito,
da alma que constata a presença da morte e consagra a sua independência
dela. Raciocinemos um pouco: quando um militar deixa seu uniforme
para se aposentar e vestir-se com roupagem civil, ele não continua
sendo o mesmo indivíduo? Quando um magistrado é condenado
por prevaricação é despojado da toga, para sentar-se
no banco dos réus, sua individualidade se apaga? Quando um
criminoso de estado, um conspirador ou um tirano recebe pena perpétua
e é levado a outra pátria para acabar sua existência
terrestre e perde, por exemplo, sua qualidade de francês para
se naturalizar mexicano, ele perde por isso seu nome e sua identidade?
Não, incontestavelmente, não!
Pois bem! Vosso corpo é a primeira roupagem que reveste vossa
alma na encarnação, uma roupagem de mais longa duração
do que as outras, eis tudo! Por conseguinte, quando essa roupagem
está gasta, é preciso que a alma a abandone, para pedir
e receber uma vestimenta mais conforme ao seu desenvolvimento intelectual.
A alma age nessa circunstância como um oficial que sobe de posto
e que, para revestir as insígnias de sua nova dignidade, ele
forçosamente deixa a seu sucessor as do posto que abandona.
É tempo, eu o repito, de apreciar a morte em seu justo valor
e não mais temer essa fase da vida individual da alma. Um tal
temor vos assemelha a esses grosseiros burgueses que, tendo habitado
sua cidade natal por toda sua vida, acreditam que o mundo não
vai além de seu horizonte; ou ainda, a esses citadinos que,
afastando-se de sua paróquia pela primeira vez, chegam estupefatos
à beira-mar e não querem embarcar porque jamais navegaram
e temem o mal do mar, sobretudo temem naufragar. É tempo de
a razão sólida fazer tábula rasa de todas as
tolices. Ainda que vos fosse impossível sondar o mundo etéreo,
esse temor, mesmo que ridículo, poderia, até certo ponto
parecer fundamentado. Porém hoje, que nós vimos a vós
e vos dizemos: vede bem que não estamos mortos, pois vivemos,
nos manifestamos e nos comunicamos a vós por fatos tangíveis
e materiais, bem como pela irradiação de nosso pensamento,
esse medo torna-se pueril e não pode resistir por mais tempo
à lógica e ao bom senso.
Hoje, está bem estabelecido que a matéria não
perece, mas se transforma; esse é um axioma para todos os químicos,
todos os cientistas; se a matéria não perece, é
incontestável que a alma, com mais forte razão, não
perece, pois ela é superior ao corpo; é apenas a sua
natureza etérea, elementar, primitiva, indivisível,
que a torna impalpável ao olhar da ciência humana; e
esta, que tudo analisa, não tendo podido analisar a alma nem
constatá-la, ao invés de convir que foi por sua própria
impotência que nada encontrou, achou melhor negar a sua existência.
Mas então que ela negue também a existência do
fogo, visto que esse princípio impalpável escapa à
análise humana!
Portanto, não temais a morte como um destruidor horrível
que aniquila tudo, pois ela nada destrói. Esperai com paciência
a hora marcada por Deus, em que ela deverá vos visitar para
vos abrir as portas de vossa prisão terrestre; não a
apresseis voluntariamente, não precipiteis sua vinda, porque
isso seria uma perda, pois a vida interrompida precisa ser recomeçada.
Esperai a morte sorrindo; recebei-a como uma velha amiga, que ela
o é, porque ela vem vos abrir esse mundo magnífico onde
reencontrareis, não somente aqueles que vos foram caros nesta
encarnação, mas todos os que haveis amado, desde que
Deus vos lançou na grande família das almas e das inteligências!"
Abaixo - página inicial do manuscrito

OBS. Todas as páginas do manuscrito disponíveis
em:
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1 Fonte: Projeto
Allan Kardec. Extraído do livro dos ensaios espíritas
ditados por Erasto ao seu médium. (Traduzido do francês
pela equipe do Geak / Ipeak).
2 "A expressão moutons de Panurge [ovelhas
de Panurge] designa seguidor: uma pessoa que imita sem fazer perguntas,
que segue instintivamente o que a maioria faz e se integra num movimento
coletivo sem exercer seu espírito crítico, nem mesmo
dar prova da inteligência que se espera de um ser humano."
(https://fr.wikipedia.org/wiki/Mouton_de_Panurge_(locution)#Origine)