A religião, enquanto fenômeno
superlativo da razão, é naturalmente antiga. Aliás,
tanto quanto é antiga a humanidade e, consequentemente, o exercício
da razão.
Em poucas palavras, ao menos de um
modo geral, pode-se dizer com certa tranquilidade que a religião
tem laços diretamente associados aos desafios da consciência,
ou com os horizontes do desconhecido que fazem com que os indivíduos
estruturem seu pensamento para além da imanência. É
o resultado do exercício básico da razão e da
busca constante de respostas a toda a realidade com que o indivíduo
se depara, em especial com as circunstâncias que não
encontra respostas materiais, e que lhes apresenta “um horizonte
de futuro”, um conforto diante do desconhecido.
Em última análise, a
religião não é mais do que um fenômeno
de ligação entre o plano material e imaterial diante
do que não se tem resposta.
A religião, portanto, seria
tão antiga quanto é a compreensão racional do
ser humano. E a importância de se identificar o marco temporal
de conhecimento do exercício da religiosidade carrega muito
mais do que um repertório da história ou um episódio
do desenvolvimento da civilização, pois reconhecer e
aceitar os fenômenos da natureza sem qualquer explicação
material reflete uma noção de liberdade absoluta dos
indivíduos. O despertar das religiões é um grito
de que a prisão dos corpos não aprisiona a razão,
de que o plano físico não é maior do que o plano
metafísico, e de que a liberdade da razão não
encontra limites em correntes ou barras de ferro.
É preciso reconhecer que o
exercício livre da razão é a última fronteira
da liberdade, e que as religiões exercem um papel fundamental
em termos de direitos e garantias fundamentais quando se trata do
tema da liberdade, pois é melhor dos espelhos do exercício
livre da razão.
Em 21 de janeiro de 2022, celebramos
o “Dia Mundial das Religiões”, e no Brasil em especial,
ainda festejamos o “Dia Nacional de Combate à Intolerância
Religiosa”, em homenagem a saudosa Mãe Gilda, do terreiro
Ilê Abassá de Ogum (BA). É, sim, dia de celebrar
as religiões, a tolerância e o respeito ao próximo.
Importante recordar sempre, como feito
por São João Paulo II, quando ainda Papa da Igreja Católica
Apostólica Romana, que as vezes a verdade pode estar em outro
lugar, orientando que é necessário conferir a todos
o direito ao exercício livre da sua religiosidade, pois que
ao criar limites à liberdade de um, estar-se-á sendo
criado um limite à própria liberdade, pois tanto no
próximo quanto ti o exercício da razão é
o mesmo, igual, humano.
Viva as religiões, viva a liberdade.
*João Paulo de C. Echeverria, sócio
da Covac Sociedade de Advogados e doutor em Direito e Religião