Trecho do capítulo I do livro
"Porque Sou Espírita", em que Américo
Domingos refuta os argumentos contrários a Doutrina Espírita
do D. Estevão Bittencourt no livro "Porque Não
Sou Espírita"
"O autor do opúsculo católico
começa a introdução da obra dizendo que ««o
Espiritismo seduz muitos fiéis católicos, seja por
causa dos «fatos prodigiosos» que lá ocorrem,
seja pela promessa de comunicação com os defuntos,
seja porque o Espiritismo às vezes se reveste de capa católica,
adotando nomes de santos para seus centros e louvando Jesus Cristo»».
Primeiramente, o reverendo atesta que «muitos
fiéis católicos» aderem a Doutrina Espírita.
Realmente, está com toda a razão, já que as
pesquisas recentes indicam um crescimento acentuado dos profitentes
espíritas, a expensas de um Catolicismo que se esvai consideravelmente,
diminuindo acentuadamente a vocação sacerdotal e o
número de pessoas que assistem às missas. Exasperada
com a situação e tentando reverter a situação
desesperadora, a Igreja começou a estimular os cultos carismáticos,
porquanto são muito parecidos com os rituais de denominadas
seitas pseudo-evangélicas, que alcançaram um ótimo
desempenho nas estatísticas.
É importante ressaltar que os maiores índices
de crescimento do Espiritismo se verificam na classe média
mais culta, contrastando acentuadamente com as seitas que receberam
maior participação das pessoas menos esclarecidas.
O padre se engana, concluindo que a causa da evasão dos católicos
para as fileiras espíritas se dê 'por causa dos fatos
prodigiosos que lá ocorrem, e pela promessa de comunicação
com os defuntos'. De início é necessário frisar
que nos trabalhos práticos da Doutrina Espírita não
existem fatos miraculosos. Inclusive, o que o Catolicismo denomina
de milagres, são explicados pelo Espiritismo como fenômenos
normais, conhecidos sob à ótica mediúnica.
Inteiramente discordante da realidade é o pensamento clerical
de que existe 'promessa de comunicação' com os desencarnados
nos centros espíritas. O intercâmbio mediúnico
é realizado espontaneamente, nunca de forma forçada.
O estimado sensitivo mineiro, Francisco Cândido Xavier, certa
feita, relatou que «o telefone sempre toca de lá (Mundo
Espiritual) para cá (Mundo Físico) e nunca de cá
para lá». Na grande maioria das comunicações
mediúnicas não há manifestação
mediante evocação dos desencarnados. O que o eclesiástico
ignora ou finge desconhecer é que «fato prodigioso»
é o que acontece rotineiramente no Espiritismo, onde se verifica
a verdadeira prática da fraternidade. Realmente, é
extraordinário constatar os ensinamentos do Cristo sendo
exemplificados pelos espíritas. Gratuitamente, sem auferir
nenhum rendimento monetário, os seguidores de Kardec fazem
do amor ao próximo um lema: «Fora da Caridade Não
Há Salvação». «Fato prodigioso»
é observar pessoas, representando todos os segmentos da população
reunidas e irmanadas, iluminadas pela luz da concórdia. Ricos
e pobres, são e doentes, cultos e incultos sem distinção
de cor, destituídos de qualquer preconceito, juntos sob as
bênçãos da fraternidade.
Maravilhoso é visitar uma colônia de
hansenianos e observar grupos de espíritas, empenhados na
tarefa assistencial aos que lá se encontram, distribuindo,
concomitantemente com um sorriso nos lábios, bens alimentícios,
roupas, produtos de higiene e sapatos. Aos incapacitados, dando
na boca a sopa deliciosa e apetitosa que preparam com o devido carinho.
Importante ressaltar que todas as tarefas são realizadas
após uma rápida reunião de congraçamento
em torno de uma passagem reconfortante do Evangelho e de uma fervorosa
oração.
Certa feita, visitando a Colônia de Hansenianos
de Curupaiti, observei um interno, cabisbaixo, bem abatido, portador
de deformidades marcantes (não possuía os membros
inferiores, as mãos desprovidas de dedos, a face desfigurada
e sem expressão devido à cegueira). Logo que o interpelei
e lhe dei alguns petiscos, sorriu e me interrogou se eu era espírita.
Imediatamente o questionei: – Por que me pergunta isso? Ele
prontamente respondeu-me: "– Só os espíritas
fazem o que você está fazendo. Vocês são
humanos, conversam comigo e me perguntam se estou precisando de
alguma coisa." Então, indaguei a respeito da visita
de simpatizantes de outros credos religiosos. Imediatamente, afirmou
que raramente grupos católicos para lá se dirigiam
e quanto aos que se diziam evangélicos, pediam dinheiro para
suas igrejas, e insistiam na prática da unção
(passar «óleo benzido» na testa da pessoa). Constatei
mais uma vez a importância da minha religião e lembrei-me
das palavras amorosas de Jesus: «Estava enfermo e
tu me visitastes» (Mateus 25:36). É verdadeiramente
um «fato prodigioso» saber que pessoas, em nome do Cristo,
sem nenhum interesse pecuniário, sacrificam seus momentos
de prazer ou mesmo de repouso em favor do próximo, que pode
estar acamado em um leito de dor, recluso em uma prisão,
vivendo em um asilo ou internato, ou mesmo abandonado em uma via
pública. O Mestre ensinou que eleitos são aqueles
que praticam a fraternidade, pondo o amor em ação:
«Vinde, benditos do meu pai! Entrai na posse do reino que
vos está preparado desde a fundação do mundo.
Por que tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de
beber; era forasteiro e me hospedastes; estava nu e me vestistes;
enfermo e me visitastes; preso e fostes ver-me» (Mateus 25:34-36).
Para mim, é uma das mais significativas passagens do Evangelho,
desde que Jesus não alude ao seu sacrifício na cruz,
nem faz menção a qualquer religião. Reafirma
que «sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos,
a mim o fizestes» (Mateus 25:40)"
Trecho do Capítulo V, do mesmo livro:
"Não satisfeito em atacar a Doutrina
Espírita, através de um dos seus princípios
básicos, a Mediunidade, agora o sacerdote
mira as suas armas em outro alvo, a Reencarnação.
Mais uma vez o padre não foi feliz nas suas declarações
antiespíritas. Começa, na sua já costumeira
agressão, dizendo: «A reencarnação vem
a ser tese arbitrária, para a qual não há fundamento
objetivo...» A afirmativa do clérigo é baseada
em conceitos dogmáticos, frutos da mente humana compromissada
com crenças religiosas, alicerçadas em valores terrenos.
Assim como afirmo na obra O Consolador Entre Nós,
Editora O Clarin, Matão/São Paulo, nas pags. 52 e
53, «sem a explicação sensata da palingenese,
o mundo passa a ser o caos, presidido pelo acaso, sendo o ateísmo
seguido por todos aqueles que não aceitam a futilidade e
a fragilidade dos argumentos dogmáticos oferecidos pelas
religiões tradicionais».
Ainda hoje não se fala na criação
do mundo em seis dias? Não se crê até agora,
num Deus antropomórfico, que se arrependeu de ter criado
o homem e de ter elevado Saul ao trono?
Um ser que cria as almas sabendo que definharão,
em sua grande maioria, por todo o sempre no famigerado inferno?
O Novo Testamento ensina que Deus é
Amor (Primeira Epístola de João 4:8); portanto,
a doutrina das vidas sucessivas é a única que preenche
o vazio da alma humana a procura de um esclarecimento a respeito
de si mesmo. Quem é o homem? O que faz na Terra? Qual é
o seu porvir? 'Perguntas somente respondidas tendo a reencarnação
como modelo e guia. Sem a palingenese não haveria evolução,
nem progresso.
O que representam pouquíssimos anos de vida,
numa única existência? O homem é viajor do Universo
e, dentro da eternidade, aufere recursos e aptidões, desenvolve
potencialidades, até chegar a posição de um
arcanjo (Espirito Superior que segundo ensino da Codificação,
também começou por ser átomo – O Livro
dos Espíritos, no 540, Allan Kardec).
«Sem o princípio da pluralidade
das existências nunca se entendera o porquê das coisas».
A Igreja ensina que o Ser Espiritual é criado
no momento de formação do seu corpo somático
e viverá apenas na existência física, na Terra.
O Espiritismo é fé raciocinada. De imediato, o profitente
da Doutrina Consoladora de Jesus, codificada pelo sábio Kardec,
questionará, baseando seu pensamento na negação
da reencarnação, a causa espiritual do nascimento
de seres monstruosos, alguns vindo ao mundo sem cérebro (anencefalos),
outros trazendo, já no berço, deficiências mentais.
Sem a Doutrina da Reencarnação, Deus parece, ao olhar
perquiridor, muito pouco criativo; inclusive, fazendo lembrar uma
vulgar personalidade sado-masoquista, divertindo-se ao formar seres
sem nenhuma possibilidade de crescimento evolutivo espiritual.
Afinal, para que, então, Deus cria a imperfeição?
Certamente, os dogmáticos religiosos tentarão uma
resposta, baseado no chamado «pecado original», dizendo
que o sofrimento entrou no mundo por causa do erro do primeiro homem,
Adão. Outros, alegarão «mistério»,
ou então, «não se pode discutir os desígnios
divinos». Todavia não são justificações
plausíveis. Seria extremamente injusto que alguém
passe por um sofrimento muito intenso, por exemplo, decorrente de
deformidades congênitas, por causa do deslize de um antepassado,
chamado Adão, ao qual nem chegou a conhecer. É necessário
considerar, também, sem fundamento, o fato dos sofrimentos
dos descendentes do «primeiro homem» serem diferentes,
alguns nascendo aleijados, outros cegos, outros com malformações
consideráveis e a maior parte verificando-se com recém-nascidos
normais."
Mais a frente, no mesmo capítulo do livro:
Continuando na sua arenga antiespírita, o
sacerdote dá mais um exemplo dos «argumentos aduzidos
pelos reencarnacionistas», acompanhada da sua primária
refutação:
«...2) A desigualdade das sortes humanas só
se explicaria como conseqüência de atos bons ou maus
praticados numa encarnação anterior – Respondemos
que Deus é livre para criar os homens como Ele os quer; a
cada qual Deus dá a graça para que se santifique e
chegue à vida eterna; às vezes uma pessoa tida como
pobre ou doente no plano material e passageiro pode ser extraordinariamente
rica e sadia no plano dos valores definitivos. Ademais, segundo
os princípios reencarnacionistas, quem atualmente é
doente e pobre é um pecador que está expiando pecados
da vida passada, ao passo que os ricos e sadios são pessoas
virtuosas que estão recebendo o prêmio dos atos bons
praticados em encarnação anterior. Ora, tais conclusões
são absurdas».
Realmente o religioso alude a argumentos muito absurdos,
os quais nada têm a ver com o Espiritismo.
É uma pena que o padre não tenha tido
pelo menos o honesto propósito de, primeiramente, se instruir
a respeito da Doutrina Espírita, antes de arvorar-se em destruidor
e ceifador da Terceira Revelação Divina à Humanidade.
Os seguintes ensinamentos esclarecedores são
encontrados a respeito do tema em tela, em O Livro dos Espíritos
(questões 814 a 816) – As provas de riqueza e de miséria:
814. Por que Deus a uns concedeu as riquezas
e o poder, e a outros, a miséria?
“Para experimentá-los de modos diferentes. Além
disso, como sabeis, essas provas foram escolhidas pelos próprios
Espíritos, que nelas, entretanto, sucumbem com freqüência.”
815. Qual das duas provas é mais
terrível para o homem, a da desgraça ou a da riqueza?
“São-no tanto uma quanto outra. A miséria provoca
as queixas contra a Providência, a riqueza incita a todos
os excessos.”
816. Estando o rico sujeito a maiores tentações,
também não dispõe, por outro lado, de mais
meios de fazer o bem?
“Mas, é justamente o que nem sempre faz. Torna-se
egoísta, orgulhoso e insaciável. Com a riqueza, suas
necessidades aumentam e ele nunca julga possuir o bastante para
si unicamente.”
NOTA DE ALLAN KARDEC: – A
alta posição do homem neste mundo e o ter autoridade
sobre os seus semelhantes são provas tão grandes e
tão escorregadias como a desgraça, porque, quanto
mais rico e poderoso é ele, tanto mais obrigações
tem que cumprire tanto mais abundantes são os meios de que
dispõe para fazer o bem e o mal. Deus experimenta o pobre
pela resignação e o rico pelo emprego que dá
aos seus bens e ao seu poder.
A riqueza e o poder fazem nascer todas as paixões
que nos prendem à matéria e nos afastam da perfeição
espiritual. Por isso foi que Jesus disse: “Em verdade vos
digo que mais fácil é passar um camelo por um fundo
de agulha do que entrar um rico no reino dos céus.”
(266)
Mais a frente, mesmo capítulo:
A seguir, o quinto argumento e sua rudimentar refutação,
transcrita, como de hábito, integralmente:
«5) O reencarnacionismo atribui ao homem o
poder de salvar a si mesmo mediante sucessivas existências
na carne, durante as quais o indivíduo mesmo se aperfeiçoa
por seus esforços. Ao contrário, o bom senso e a fé
mostram que o homem é, por si só, incapaz de se libertar
do pecado e necessita da graça de Deus para se salvar. Somente
numa perspectiva panteísta (ver Cap. VI, a seguir) é
que se pode admitir a auto-salvação do homem (pois,
no caso ele é parcela da Divindade); contudo numa perspectiva
monoteísta, segundo a qual Deus é distinto do mundo
e do homem, é lógico que o homem limitado e falho
como é, necessita de Deus para se auto-realizar plenamente.»
O poder atribuído pelo sacerdote ao reencarnacionismo
de salvar o homem por si mesmo vem de Deus e foi muito bem ensinado
por Jesus. Na discussão da refutação anterior
(no 4), coloquei várias referências bíblicas,
anatematizando a doutrina dogmática do inferno. Portanto,
não existindo o suplício eterno e havendo chance de
sair-se da prisão, a reencarnação surge como
a luz da alvorada, afastando, com seus primeiros clarões,
as trevas, a escuridão da noite. O eclesiástico, após
revelar uma crença confusa e absurda («o homem é
incapaz de se libertar do pecado...»), refere-se a uma «perspectiva
panteísta», como de aceitação por parte
dos espíritas. Desde o início da refutação
da obra do autor católico, constato, da sua lavra, afirmações
primárias, elementares, destituídas de embasamento,
muito mal fundamentadas. O livro Por que não sou espírita?
revela-se como uma verdadeira colcha de retalhos, tentando encobrir
uma secular sujeira eclesiástica, armazenada nas vetustas
e bolorentas sacristias, utilizando o processo psicológico
de transferência. Tenta enquadrar a Doutrina Espírita
como fiel proprietária das impurezas religiosas, chegando
ao ponto de atacar os seguidores de Kardec e macular o Consolador
prometido por Jesus, denominando-os de panteísta."
Capítulo VII do mesmo livro:
O escritor católico faz a seguinte observação:
«O Espiritismo apregoa em alta voz a prática da caridade,
sem a qual não há salvação. Tem razão
ao afirmar a importância da caridade. Todavia os espíritas
chegam a relativizar a verdade, como se esta fosse algo de secundário,
que não se teria de levar em consideração.
Ora, observamos que o ser humano foi feito para aprender a verdade
com a sua inteligência e praticar o bem e o amor em seu comportamento.
Por isto não se pode dizer que basta a caridade para a salvação
eterna. Em nome da caridade mal entendida (ou mal iluminada pela
razão e a fé), podem-se cometer autênticas aberrações;
a caridade desorientada pode tornar-se mero rótulo que dê
aparência legítima ao egoísmo e a exploração
do próximo – De resto, a prática da caridade
não é apanágio do Espiritismo, pois a Igreja
Católica durante toda a sua história (portanto já
muito antes de Allan Kardec) sempre se empenhou pela sorte dos carentes
tanto do corpo como de alma; muitos e muitos Santos foram, e são,
verdadeiros heróis do serviço ao próximo.»
De forma nenhuma, os espíritas «chegam
a relativizar a verdade». O Mestre afirmou: «Conhecereis
a verdade e ela vos libertará» (João 8:32).
O profitente da Terceira Revelação tem um manancial,
constituído dos cinco livros básicos, denominado Pentateuco
espírita, contendo ensinamentos profundos, transmitidos por
Entidades Superiores, não nos deixando órfãos
(João 14:18), e trazendo-nos a verdade que liberta.
A caridade legítima foi exemplificada pelo
Cristo. O próprio Mestre fez do amor ao semelhante um impositivo
maior para que o «Reino de Deus em nós» cada
vez mais cresça e evolua, diante da eternidade. No chamado
«sermão profético», Jesus alude aos eleitos
como aqueles que O seguem na pessoa do próximo, não
fazendo referência a nenhuma crença religiosa, nem
mesmo ao seu sacrifício na cruz: «Vinde, benditos do
meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado
desde a fundação do mundo. Porque tive fome e me destes
de comer; tive sede e me destes de beber; era forasteiro e me hospedastes;
Estava nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; preso e fostes
ver-me. Então perguntarão os justos: Senhor, quando
foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te
demos de beber. E quando te vimos forasteiro e te hospedamos? Ou
nu e te vestimos? E quando te vimos enfermo ou preso e fomos te
visitar? O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo
que sempre que fizestes a um destes pequeninos irmãos, a
mim o fizestes». (Mateus 25:34 a 40).
Portanto, o lema espírita «Fora
da Caridade não há salvação» é
essencialmente cristão, correspondente ao ensinamento
de Jesus. Já o Catolicismo negando o Sermão Profético
afirma que «Fora da Igreja não há salvação»,
sentença completamente antagônica a razão e
ao progresso, necessitando de urgente retificação.
Quanto ao «cometer aberrações,
em nome da caridade mal entendida», o padre não precisa
olhar para a frente, buscando anestesiar-se, fugindo da realidade
interior de sua crença, quando milhares de assassinatos foram
cometidos pelos clérigos, em nome de Deus e de Jesus, através
da Inquisição. Sendo um ministro católico,
deveria ter mais respeito com a religião de outrem, não
esquecendo que as bases do Catolicismo, há milênios,
se encontram minadas pelo absolutismo clerical aliado ao poder temporal,
responsáveis pela degeneração do Cristianismo
puro e autêntico, dos tempos primevos. («Conhecereis
a árvore pelos seus frutos», Mateus 7:20). Afirmou
o prelado que «muitos e muitos Santos foram, e são
verdadeiros heróis do serviço ao próximo».
Como já foi dito anteriormente, os Espíritos santificados
não são propriedade exclusiva do Catolicismo. Pelo
contrário, do Plano Extrafísico, tiveram o infeliz
ensejo de observar as ignominiosas ações da abjeta
«Santa Inquisição» e, certamente, ampararam
os espíritos vitimas de tal barbaridade.
Inferno
Trecho do Capítulo V do livro Porque Sou Espírita,
de Américo Domingos,
com refutações as acusações do
padre Estevão Bittencourt ao Espiritismo no livro "Por
que não sou espírita?":
O quarto argumento trata-se de “O
Conceito de inferno...”. O padre diz o seguinte:
“Muitas vezes a má compreensão do que seja o
inferno leva a rejeitá-lo em favor do reencarnacionismo.
Na verdade, o inferno não é um tanque de enxofre fumegante
atiçado por diabos munidos de tridentes, mas é um
estado de alma, no qual o indivíduo se projeta por dizer
NÃO a Deus: após a morte, a pessoa que morre consciente
e voluntariamente avessa a Deus, é respeitada em sua opção
definitiva, mas não pode deixar de reconhecer que Deus é
o Sumo Bem... e o Sumo Bem que continua a amá-la irreversivelmente.
É o fato de que Deus ama uma vez por todas, mas foi conscientemente
preterido em favor de bagatelas, que causa o tormento do réprobo.
Se Deus desviasse do réprobo o seu amor, ele não sofreria
o inferno; mas Deus não pode deixar de amar, porque Ele não
se pode contradizer. É precisamente nisto que está
o princípio do inferno. Vê-se assim que o inferno,
longe de contradizer o amor de Deus, decorre, de certo modo, da
grandeza divina desse amor”.
Se o Sumo Bem que é Deus ama irreversivelmente
aos seus filhos, sabendo da ignorância de que se acham revestidos
os que se encontram avessos a ELE, não pode de forma alguma
respeitar a “opção definitiva da negação”,
deixando a grande esmagadora maioria da Sua criação
ser condenada por todo o sempre. Exatamente por não poder
deixar de amar, Deus concede a todos a eternidade do perdão.
O “tormento do réprobo” é a consciência
do espírito remoendo no Plano Extrafísico, oprimindo-o,
recriminando-o. Devido a aparência de prolongar-se indefinidamente,
o sofrimento do autojulgamento é denominado de “fogo
eterno”. Na realidade, é o “fogo do remorso”.
O Mestre Jesus antecipadamente, pôs por terra esse conceito
dogmático, com os seguintes ensinamentos, contidos nos versículos
a seguir:
1) Certa feita, um discípulo de Jesus
perguntou ao Mestre: “Senhor, até quantas vezes meu
irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até
sete vezes? Respondeu-lhe o Cristo: Não te digo
que até sete vezes, mas até setenta vezes sete”.
(Mt. 18:21-22)
Incomensurável é o amor de Deus, perdoando
sempre o filho infrator às suas leis;
2) “Qual dentre vós é
o homem que se porventura o filho lhe pedir pão, lhe dará
pedra? Ou se lhe pedir peixe, lhe dará uma cobra? Ora
se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos
vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos Céus...”
(Mt. 7:9-11)
Se um pai não castiga eternamente ao seu
filho, como pode Deus punir um fruto da Sua criação
por todo o sempre?
3) Em Mateus 5:25-26: “Entra
em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto estás
com ele a caminho, para que o adversário não te entregue
ao juiz, o juiz ao oficial de justiça e sejas recolhido à
prisão. Em verdade te digo que não sairás dali
enquanto não pagares o último centavo.”
O Mestre, peremptoriamente, arrasa com o
conceito do inferno, dizendo que a prisão é transitória,
a pena não é perpétua. Através
do “nascer de novo”, as dívidas serão
resgatadas, pagando-se o último ceitil. Daí o Cristo
ter dito a Nicodemos que todos teriam que reencarnar: “Importa-vos
nascer de novo” (João 3:7)
4) “Jesus visitou e pregou aos espíritos
em prisão” (1 Pedro 3:19)
Este versículo liquida inteiramente com o
chamado “Suplício Eterno”, porquanto o Mestre
foi visitar aos que estavam em sofrimento desde o tempo de Noé
(1 Pedro 3:20). O ato de visitar e pregar, explicitamente derruba
a possibilidade de existência do inferno, porquanto o Cristo
foi às regiões inferiores do Plano Espiritual para
pregar, isto é, difundir uma doutrina, propagar idéias
virtuosas, preconizar a melhoria espiritual de outrem. Certa feita,
quando jovem, praticante do protestantismo, abordei o pastor da
igreja que freqüentava, a respeito desse versículo.
O reverendo teve a petulância de dizer-me que o Mestre foi
ao inferno mostrar a Sua glória para os que lá estão
definhando por todo o sempre. Com assaz infelicidade, o “pastor
de almas” enquadrou Cristo como um vulgar sado-masoquista,
felicitando-se com o sofrimento alheio. Anteriormente, no meu tempo
de infância, professava o Catolicismo. Lembro-me que quando
indaguei, do sacerdote que ministrava as aulas de Catecismo, o seguinte:
– Padre, se eu for para o céu e minha genitora para
o inferno, como me comportarei no paraíso, sabendo que minha
mãe está sofrendo? O prelado foi muito infeliz e cruel
na resposta, dizendo-me que os eleitos esquecem o que foram na Terra.
De imediato, redargüi, afirmando-lhe não acreditar que
Deus possa fazer uma lavagem cerebral nos que entram no Éden
eterno.
Logo me afastei dessa religião, que prega
existir nenhum sentimento de piedade e de caridade, subsistindo
naqueles que se encontram na beatitude celestial. Inclusive a Summa
Theologia de S. Tomás de Aquino; suplemento da parte III,
quest. 95, arts 1, 2 e 3, edição de Lião, 1685,
T-II, pag. 425, traz a seguinte aberração:
“Os eleitos, no céu, não conservam
sentimento algum de amor e amizade pelos réprobos; não
sentem por eles compaixão alguma e até gozam do suplício
de seus amigos e parentes. Os eleitos o gozam no sentido de que
se sentem isentos de torturas, e que, por outro lado, neles terá
expirado toda compaixão, porque admirarão a justiça
divina” (Retirado do livro Cristianismo e Espiritismo, pag.
247, 6.a edição, FEB).
5) No Antigo Testamento, no livro de Isaías,
capítulo 57, versículo 16, está bem claro que
não existe condenação eterna: “... não
contenderei para sempre, nem me indignarei continuamente, porque,
do contrário, o espírito definharia diante de mim
e o fôlego da vida que eu criei”.
6) A seguinte passagem do Evangelho nos revela que
o sofrimento, após a morte física, é padecido
com diferenciação e tem finalidade corretiva: “Aquele
servo, porém, que conheceu a vontade de seu senhor e não
se aprontou, nem fez segundo a sua vontade, será punido com
muitos açoites. Aquele, porém, que não soube
a vontade de seu Senhor e fez coisas dignas de reprovação,
levará poucos açoites” (Lc. 12:47-48)
O “inferno”, além de
não ser eterno, não é o mesmo para todos os
pecadores. O próprio Jesus esclarece esta questão,
em continuação ao versículo 48: “Mas
àquele a quem muito foi dado muito mais lhe pedirão”.
Portanto, os espíritos, que reencarnam com conhecimentos
espirituais, ou que os adquirem na presente existência, já
não sendo mais “porcos para quem não devam ser
lançadas pérolas, nem cães para os quais as
coisas santas não devam ser dadas” (Mt. 7:6), têm
grande responsabilidade e são mais culpados, diante do insucesso
na existência física, levando ao “inferno do
remorso” (muitos açoites), que os outros espíritos
que falharam, sem o conhecimento prévio das coisas espirituais,
com o remorso remoendo menos (poucos açoites), já
que não tinham idéia precisa do mal em que incorreram.
'Na verdade, existem inúmeros estados de sofrimentos, como
inúmeros são nossos erros, porém os erros de
uma única existência, jamais poderiam justificar o
sofrimento por toda a Eternidade. Se o ser está lesado em
seu espírito, devido ao mau procedimento em vida passada,
vivendo intenso sofrimento espiritual (fogo eterno), é necessário
que reencarne, marcando no corpo físico a sua deficiência,
tendo a oportunidade da cura total, através do seu procedimento
diante do resgate, expurgando do corpo espiritual a chaga que o
maltratava. No decurso de existências sucessivas, o espírito
se vai aprimorando e tornando-se apto, através da evolução
espiritual, de compreender e habitar o Universo. A Espiritualidade,
por intermédio das Escrituras, nos revela a grandiosidade
da lei da reencarnação, que permite o nosso aprimoramento,
em época certa, quando já teremos “olhos para
ver” e “ouvidos para ouvir”, (Mt 11:15). Tudo
realmente tem uma causa e fomos criados para a ventura eterna. Com
o pensamento voltado para o oceano de galáxias, revelando
a grandiosidade da criação, ouvimos, no nosso íntimo,
as palavras do representante maior da Divindade, em nosso planeta:
“Na casa de meu Pai há muitas moradas...” (Jo.
14:2). O Universo espelha a eternidade de nossos espíritos
e nos mostra que o seu Autor, sendo Onisciente e, produzindo uma
obra tão gigantesca e maravilhosa, não erraria ao
ponto de permitir o “inferno eterno” e deixar que o
fruto de Sua Criação, “feito à sua imagem
e semelhança” – (Gênesis 1:27), perecesse
para todo o sempre. Sem reencarnação só
restam o caos e a desesperança