Resumo
Este texto tem por objetivo demonstrar a correlação
histórica e teológica entre a busca da unidade cristã
e a promoção e defesa dos direitos humanos. Desde
suas primeiras inflexões na história eclesiástica
europeia a preocupação do movimento ecumênico
com a humanização da vida foi um marco decisivo no
processo de constituição e consolidação
do Conselho Mundial de Igrejas.
Zwinglio Mota Dias
* Doutor em teologia pela Universidade de
Hamburgo. Professor no Programa de Pós-Graduação
em
Ciência da Religião da Universidade Federal de Juiz
de Fora.
Introdução
Podemos afirmar que vivemos num mundo que viola
insistentemente os direitos da pessoa humana. Guerras e violência,
fome e exclusão social, doenças e desastres ecológicos
fazem parte de nosso cotidiano. As violações dos direitos
humanos são impedimentos para a realização
das necessidades humanas de que padecemos, e que construímos
historicamente. Dentre estas podemos destacar a necessidade de um
meio social seguro e não ameaçador à sobrevivência
humana digna; a necessidade de segurança alimentar e de estruturas
que garantam condições de trabalho humanizadoras e
que respeitem o direito de acesso a uma atividade com dignidade
para mulheres e homens em igualdade; a necessidade de um sistema
de saúde pública preventivo que assegure uma vida
saudável e de um meio ambiente seguro e não ameaçador
à toda forma de vida.
A construção histórica das garantias sociais
e jurídicas para essas necessidades conduziu a humanidade
a um processo que gerou a Declaração Universal dos
Direitos Humanos (ONU, 1948). Após duas guerras deflagradas
no Continente europeu, que envolveram uma boa parte dos países
do mundo, foi necessário construir um instrumento capaz de
possibilitar, pelo menos, um vislumbre de maior humanização
na convivência entre os seres humanos.
A Declaração, promulgada pelas Nações
Unidas em 1948, com o propósito de constituir-se num “ideal
comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações”
(ONU, Preâmbulo, 1948), ainda está muito longe de ter
seus artigos observados com o rigor necessário e merecido
pela grande maioria das nações do planeta. Depois
de mais de meio século de vigência esta declaração
tem gerado mais discursos de boas intenções do que
realmente inspirado e induzido governos e autoridades regionais
e internacionais a tomarem medidas concretas capazes de, verdadeiramente,
humanizar o convívio entre os seres humanos no planeta. É
por isso que ainda vivemos tempos de incertezas e muitas ameaças
reais à sobrevivência da humanidade, quando não
apenas os direitos dos humanos são violados, ignorados ou
ameaçados, mas a vida de milhões de pessoas é
cada vez mais posta em grande perigo.