O CUEE é abordado
no Item II d'O Evangelho Segundo o Espiritismo,
onde o insigne codificador Allan Kardec, na Introdução
daquela primorosa obra, faz importante explanação
sobre o CONTROLE UNIVERSAL DO ENSINO DOS ESPÍRITOS.
Considere-se ainda que, nesta lista e em algumas
outras, circulou a referência ao CUEE como critério
de análise da mensagem, sob a ótica de ser verdadeira
a fonte ou não, ou se não fora mesmo pura mistificação
do médium.
Lendo o texto de Kardec, verifica-se que o mesmo
o tomava inicialmente (o CUEE) como um mecanismo universal
de coesão dos princípios espíritas e de propagação
do ensino dos espíritos, como se pode ver:
Nessa universalidade do ensino dos Espíritos
reside a força do Espiritismo e, também, a causa de
sua tão rápida propagação. Enquanto
a palavra de um só homem, mesmo com o concurso da imprensa,
levaria séculos para chegar ao conhecimento de todos, milhares
de vozes se fazem ouvir simultaneamente em todos os recantos do
planeta, proclamando os mesmos princípios e transmitindo-os
aos mais ignorantes, como aos mais doutos, a fim de que não
haja deserdados. É uma vantagem de que não gozara
ainda nenhuma das doutrinas surgidas até hoje.
E em seguida, acrescenta a segunda finalidade,
referindo-se ao engano cometido por qualquer espírito:
Não é essa, porém,
a única vantagem que lhe decorre da sua excepcional posição.
Ela lhe faculta inatacável garantia contra todos os cismas
que pudessem provir, seja da ambição de alguns, seja
das contradições de certos Espíritos. Tais
contradições, não há negar, são
um escolho; mas que traz consigo o remédio, ao lado
do mal.
Sabe-se que os Espíritos, em virtude da diferença
entre as suas capacidades, longe se acham de estar, individualmente
considerados, na posse de toda a verdade; que nem a todos é
dado penetrar certos mistérios; que o saber de cada um deles
é proporcional à sua depuração; que
os Espíritos vulgares mais não sabem do que muitos
homens; que entre eles, como entre estes, há presunçosos
e sofômanos, que julgam saber o que ignoram; sistemáticos,
que tomam por verdades as suas idéias; enfim, que só
os Espíritos da categoria mais elevada, os que já
estão completamente desmaterializados, se encontram despidos
das idéias e preconceitos terrenos; mas, também é
sabido que os Espíritos enganadores não escrupulizam
em tomar nomes que lhes não pertencem, para impingirem suas
utopias. Daí resulta que, com relação a tudo
o que seja fora do âmbito do ensino exclusivamente moral,
as revelações que cada um possa receber terão
caráter individual, sem cunho de autenticidade; que devem
ser consideradas opiniões pessoais de tal ou qual Espírito
e que imprudente fora aceitá-las e propagá-las levianamente
como verdades absolutas.
E completa Kardec, concluindo sobre como discernir
em relação ao que ensinam os espíritos:
A concordância no que ensinem
os Espíritos é, pois, a melhor comprovação.
Importa, no entanto, que ela se dê em determinadas
condições. A mais fraca de todas ocorre quando um
médium, a sós, interroga muitos Espíritos acerca
de um ponto duvidoso. É evidente que, se ele estiver sob
o império de uma obsessão, ou lidando com um Espírito
mistificador, este lhe pode dizer a mesma coisa sob diferentes nomes.
Tampouco garantia alguma suficiente haverá na conformidade
que apresente o que se possa obter por diversos médiuns,
num mesmo centro, porque podem estar todos sob a mesma influência.
Uma só garantia séria existe para
o ensino dos Espíritos: a concordância que haja entre
as revelações que eles façam espontaneamente,
servindo-se de grande número de médiuns estranhos
uns aos outros e em vários lugares.
Vê-se bem que não se trata aqui das
comunicações referentes a interesses secundários,
mas do que respeita aos princípios mesmos da doutrina. Prova
a experiência que, quando um principio novo tem de ser enunciado,
isso se dá espontaneamente em diversos pontos ao mesmo tempo
e de modo idêntico, senão quanto à forma, quanto
ao fundo.
Outro ponto importante na análise do CUEE,
diz respeito à possibilidade que se tenha de obter informações,
de diferentes locais, médiuns e espíritos,
como demonstrado acima e referenciado por Kardec em outro parágrafo:
Na posição em que nos encontramos,
a receber comunicações de perto de mil centros espíritas
sérios, disseminados pelos mais diversos pontos da Terra,
achamo-nos em condições de observar sobre que principio
se estabelece a concordância. Essa observação
é que nos tem guiado até hoje e é a que nos
guiará em novos campos que o Espiritismo terá de explorar.
Porque, estudando atentamente as comunicações
vindas tanto da França como do estrangeiro, reconhecemos,
pela natureza toda especial das revelações, que ele
tende a entrar por um novo caminho e que lhe chegou o momento de
dar um passo para diante. Essas revelações, feitas
muitas vezes com palavras veladas, hão freqüentemente
passado despercebidas a muitos dos que as obtiveram. Outros julgaram-se
os únicos a possuí-las. Tomadas insuladamente, elas,
para nós, nenhum valor teriam; somente a coincidência
lhes imprime gravidade. Depois, chegado o momento de serem entregues
à publicidade, cada um se lembrará de haver obtido
instruções no mesmo sentido. Esse movimento geral,
que observamos e estudamos, com a assistência dos nossos guias
espirituais, é que nos auxilia a julgar da oportunidade de
fazermos ou não alguma coisa.
Para muitas pessoas isto pode parecer uma posição
inalcançável, pois perguntar-se-iam: quem e, principalmente,
quantos médiuns enviariam suas comunicações
a mim? Que referência sou no Espiritismo para que isto ocorresse?
Grande engano, pois o mercado editorial espírita proporcionou
essa privilegiada posição de análise para todos
que desejem fazê-la, bastando para isso que se leiam as obras
disponíveis, se tenha o conhecimento e o discernimento necessários
para tal, ou fazê-lo em conjunto com outros, o que seria mais
recomendado.
Tamanha a importância do CUEE, que
Kardec arrematou:
Essa verificação universal constitui
uma garantia para a unidade futura do Espiritismo e anulará
todas as teorias contraditórias. Aí é que,
no porvir, se encontrará o critério da verdade. O
que deu lugar ao êxito da doutrina exposta em O Livro dos
Espíritos e em O Livro dos Médiuns foi que em toda
a parte todos receberam diretamente dos Espíritos a confirmação
do que esses livros contêm. Se de todos os lados tivessem
vindo os Espíritos contradizê-la, já de há
muito haveriam aquelas obras experimentado a sorte de todas as concepções
fantásticas. Nem mesmo o apoio da imprensa as salvaria do
naufrágio, ao passo que, privadas como se viram desse apoio,
não deixaram elas de abrir caminho e de avançar celeremente.
É que tiveram o dos Espíritos, cuja boa vontade não
só compensou, como também sobrepujou o malquerer dos
homens.
E complementa, com imparcialidade, o Codificador:
Os princípios acima não resultam de
uma teoria pessoal: são conseqüência forçada
das condições em que os Espíritos se manifestam.
E evidente que, se um Espírito diz uma coisa de um lado,
enquanto milhões de outros dizem o contrário algures,
a presunção de verdade não pode estar com aquele
que é o único ou quase o único de tal parecer.
Ora, pretender alguém ter razão contra todos seria
tão ilógico da parte dos Espíritos, quanto
da parte dos homens. Os Espíritos verdadeiramente ponderados,
se não se sentem suficientemente esclarecidos sobre uma questão,
nunca a resolvem de modo absoluto; declaram que apenas a tratam
do seu ponto de vista e aconselham que se aguarde a confirmação.
(...)
A opinião universal, eis o juiz supremo,
o que se pronuncia em última instância. Formam-na todas
as opiniões individuais. Se uma destas é verdadeira,
apenas tem na balança o seu peso relativo. Se é falsa,
não pode prevalecer sobre todas as demais. Nesse imenso concurso,
as individualidades se apagam, o que constitui novo insucesso para
o orgulho humano.
Percebe-se no texto que Kardec não
entra nas questões do dia-a-dia das comunicações,
a respeito das personalidades dos comunicantes ou do animismo dos
médiuns.
Isto é tratado em outra obra, n'O Livro dos
Médiuns.
No Cap. XXIV desta obra, Kardec trata da IDENTIDADE
DOS ESPÍRITOS.
Quais são as Provas possíveis da identidade
dos Espíritos?
A questão da identidade dos Espíritos
é uma das mais controvertidas, mesmo entre os adeptos do
Espiritismo. É que, com efeito, os Espíritos não
nos trazem um ato de notoriedade e sabe-se com que facilidade alguns
dentre eles tomam nomes que nunca lhes pertenceram. Esta, por isso
mesmo, é, depois da obsessão, uma das maiores dificuldades
do Espiritismo prático. Todavia, em muitos casos, a identidade
absoluta não passa de questão secundária e
sem importância real.
(...)
Desde que o Espírito só diz coisas
aproveitáveis, pouco importa o nome sob o qual as diga. Objetar-se-á,
sem dúvida, que o Espírito que tome um nome suposto,
ainda que só para o bem, não deixa de cometer uma
fraude: não pode, portanto, ser um Espírito bom. Aqui,
há delicadezas de matizes muito difíceis de apanhar
e que vamos tentar desenvolver. (item 255).
À medida que os Espíritos se purificam
e elevam na hierarquia, os caracteres distintivos de suas personalidades
se apagam, de certo modo, na uniformidade da perfeição;
nem por isso , entretanto, conservam eles menos suas individualidades.
É o que se dá com os Espíritos superiores e
os Espíritos puros. Nessa culminância, o nome que tiveram
na Terra, em uma das mil existências corporais efêmeras
por que passaram, é coisa absolutamente insignificante. (...)
De outro lado, se considerarmos o número imenso de Espíritos
que, desde a origem dos tempos, devem ter galgado as fileiras mais
altas e se o compararmos ao número tão restrito dos
homens que hão deixado um grande nome na Terra, compreenderemos
que, entre os Espíritos superiores, que podem comunicar-se,
a maioria deve carecer de nomes para nós. Porém, como
de nomes precisamos para fixarmos as nossas idéias, podem
eles tomar o de uma personagem conhecida, cuja natureza mais identificada
seja com a deles. (item 256).
Mas, em que circunstância é
importante saber a identidade do Espírito comunicante?
A questão da identidade é, pois, como
dissemos, quase indiferente, quando se trata de instruções
gerais, uma vez que os melhores Espíritos podem substituir-se
mutuamente, sem maiores conseqüências. Os Espíritos
superiores formam, por assim dizer, um todo coletivo, cujas individualidades
nos são, com exceções raras, desconhecidas.
Não é a pessoa dele o que nos interessa, mas o ensino
que nos proporcionam. Ora, desde que esse ensino é bom, pouco
importa que aquele que o deu se chame Pedro, ou Paulo. Deve ele
ser julgado pela sua qualidade e não pelas suas insígnias.
Se um vinho é mau, não será a etiqueta que
o tornará melhor. Outro tanto já não sucede
com as comunicações íntimas, porque aí
é o indivíduo, a sua pessoa mesma que nos interessa;
muito razoável, portanto, é que, nessas circunstâncias,
procuremos certificar-nos de que o Espírito que atende ao
nosso chamado é realmente aquele que desejamos. (item 256).
E no caso de Dr. Ignácio,
relatado com diferentes características, em comunicações
diferentes, por médiuns diferentes? Nos itens 257 e 258 d’O
Livro dos Médiuns continuam as orientações
de Kardec: 257. Muito mais fácil de se comprovar é
a identidade, quando se trata de Espíritos contemporâneos,
cujos caracteres e hábitos se conhecem, porque, precisamente,
esses hábitos, de que eles ainda não tiveram tempo
de despojar-se, são que os fazem reconhecíveis e desde
logo dizemos que isso constitui um dos sinais mais seguros de identidade.
258. Ao passo que se recusam a responder a perguntas
pueris e extravagantes, que toda gente teria escrúpulo em
lhes dirigir, se vivos fossem, os Espíritos dão espontaneamente
provas irrecusáveis de sua identidade, por seus caracteres,
que se revelam na linguagem de que usam, pelo emprego das palavras
que lhes eram familiares, pela citação de certos fatos,
de particularidades de suas vidas, às vezes desconhecidas
dos assistentes e cuja exatidão se pode verificar. As provas
de identidade ressaltam, além disso, de um sem-número
de circunstâncias imprevistas, que nem sempre se apresentam
na primeira ocasião, mas que surgem com a continuação
das manifestações.
Convém, pois, esperá-las, sem as provocar,
observando-se cuidadosamente todas as que possam decorrer da natureza
das comunicações.
Quanto ao parágrafo anterior, penso que seja
importante considerar as relações de afinidade entre
o espírito, o ambiente da comunicação e o médium.
Basta que nos lembremos como nos comportamos, mesmo em casa, quando
temos visita. Embora sem deixarmos de ser o que somos, dependendo
da intimidade que se tenha com o visitante, nossa postura, linguagem
e modos, altera-se também, por nos sentirmos mais ou menos
à vontade. Assim também ocorre com o Espírito,
de acordo com o contexto sócio-espiritual em que ele esteja.
Recomendamos a leitura completa dos tópicos
citados neste artigo, pois neles há muitas outras orientações
e comparações indispensáveis a quem queira
aprofundar-se no tema.