Patologias
Com uma freqüência irritante venho me pegando envolto
em maus pensamentos. Me vejo coberto por aquela nuvem negra que
sufoca a todos os que se deixam levar, por descuido ou por vontade.
Nesses momentos, passo a ouvir as conversas ao meu redor e a sentir
enjôo. E fico mais e mais irritado. Me perturba a negatividade
dos conversantes, a passividade de alguns ou a atividade
exacerbada de outros. Me irrita a intolerância, ou a tolerância
excessiva de outros. Em suma; tudo me irrita. Percebo então
que uma coisa está levando a outra e que quem escurece meu
céu não é ninguém a não ser eu
mesmo. Paro e penso, tentando resgatar o momento preciso em que
essa fúria enrustida nasceu. Uma topada na guia que quase
me fez cair, um olhar torto de alguém, uma palavra rude na
rua. Tento pensar, então, qual é o real motivo daquilo,
as vezes a vida nos prega peças. Humm... alguém foi
grosseiro comigo... será isso mesmo? Ou ele só não
correspondeu às minhas expectativas? O que o levou a ser
assim, a tomar uma atitude tão seca comigo? Quase sempre
a resposta nos trás o sentimento de frustração.
Foi isso?
A frustração é um sentimento
que é quase patológico nos dias globalizados e egoístas
de hoje, e age como um vírus, é transmitido pelo ar.
Cada um age de uma certa forma, que é decidida
através de uma série de variantes que, por sua vez,
são implantadas em nosso subconsciente durante o que
chamamos de “infância”. Como cada um tem uma vida
única, ou seja, uma linha de experiências e sensações,
objetivos e caminhos únicos, é praticamente impossível
que duas pessoas tenham as mesmas ações para um mesmo
evento, pelo menos inconscientemente.
Mas não é ai que está o problema.
A tragédia acontece quando esperamos que uma pessoa tenha
a mesma reação que nós teríamos naquele
caso. A frustração acontece quanto alguém não
atua conforme o script que redigimos e que, sem querer, não
o entregamos para que fosse ensaiado.
Essa frustração logo é transformada
em ira e, sem pensarmos, passamos o agente patogênico adiante.
Sim, porque não importa o que queremos em nossas vidas, não
importa o script que escrevemos, nunca ninguém colocaria
raiva nas palavras que deseja escutar. E é exatamente assim
que agimos quando contraímos esse vírus, pois como
qualquer vírus ele tende a se reproduzir e se alastrar.
Começo a achar graça de mim mesmo.
Lembro de alguns casos que ouvi sobre esse tipo de coisa. Casais
que vivem verdadeiras histórias de terror, as vezes com um
terceiro envolvido, as vezes com um quarto, as vezes só entre
os dois. Histórias de brigas seculares, causadas
unicamente por uma exposição prolongada ao vírus-ira.
No escritório, na sala de aula, no trem. E ele não
é transmitido unicamente pelo toque, basta você
respirar o mesmo ar sem as devidas proteções que já
pode ser contaminado. Duvido que você nunca tenha ficado nervoso
após ter presenciado uma discussão acalorada,
mesmo que você não tenha nada a ver com o assunto.
É como ficar resfriado. E como o resfriado, abre suas defesas
para uma série de outros males, enfraquece seu “sistema
imunológico espiritual” para os chamados “verdugos”
se aproximarem, ou para outras energias baixas se somatizarem ao
seu campo energético. Uma coisa leva a outra e logo você
nem sabe mais por onde começou. E o vírus já
nem é mais o mesmo, é uma mutação muito
mais poderosa e perigosa.
Mas calma! Não se desespere! Existem remédios
e se você se tratar desde o início é capaz que
nem restem seqüelas. O diagnóstico é difícil,
depende de fatores que, as vezes são externos a nós.
Um amigo sincero, por exemplo: aconteceu alguma coisa? Você
está nervoso.
Mas é possível, também, o
auto-diagnóstico. Será que estou abalado? Aquilo que
aconteceu mexeu com os meus nervos? Sinceridade também é
importante. Enxergar em si mesmo o problema é o primeiro
passo para a cura. Ora, ninguém toma remédio se não
souber que está doente!
A partir daí, ou seja, detectado o vírus-ira
em si próprio, temos que tratar de expulsá-lo. Às
vezes é difícil, às vezes vergonhoso. Às
vezes sai em forma de longas conversas, às vezes em forma
de lágrimas, mas sempre é um ato solitário.
Mesmo dialogando com alguém, a escolha entre deixar o vírus
sair ou não é feito de si para si mesmo. Caso contrário
ele pode ficar até mais forte e mais perigoso.
Assim que a extração for decidida,
deixe-se levar. Deixe-se sentir o vírus escoando para fora
de seu corpo. Chore se for o caso. E deixe-se amparar pois, nesse
momento mágico, sempre haverá alguém de coração
aberto ao seu lado.
Carta de João de Deus – 13/02/2007
por - Médium - Nino Denani -